Visão espírita - Como superar a perda de um ente querido?
Carlos Eduardo Latterza de Oliveira
O ano era 1991. Eu tinha 13 anos. Estava na sétima série do ensino fundamental. Naquela manhã, seguindo a rotina de sempre, eu assistia a mais uma aula de algum assunto qualquer. De repente, a rotina foi quebrada. Fui chamado na porta da sala de aula para me dirigir à sala da Diretoria. Sem entender, cheguei à sala e vi meu irmão menor junto com meus pais. Nesse momento recebi a notícia: meu avô materno havia falecido.
Lembro-me como se fosse hoje. Nessa hora, os sentimentos se misturaram. Incompreensão, tristeza, saudade e, sobretudo, dor. E na minha cabeça de pré-adolescente vinha ainda a indagação que todos temos um dia: Por que morremos? O que existe depois da morte? Pra onde nós vamos? Pra onde foi o meu avô?
Apesar dos sentimentos iniciais, conforme os dias foram passando a dor acalmou e a tristeza cedeu. O estranho foi o que permaneceu. A saudade se transformou num sentimento de ausência contínua, como sentimos em face daqueles que vão viajar e demoram pra voltar. "Meu avô tinha ido viajar", era o que eu sentia, apesar de não pensar assim claramente. Não me desesperava. Era só a ausência de alguém que um dia vai voltar. Era assim que eu sentia, de forma muito forte e intensa.
O outro sentimento que permaneceu por muito tempo foi a incompreensão. Como podia o meu avô morrer assim, do dia para noite? Ele, que eu admirava pela inteligência e presença de espírito, e amava pelo carinho com que me tratava, havia desaparecido. Pra onde? As mesmas perguntas que me fiz logo que ele havia morrido se mantinham constantes na minha mente. E tudo isso ficou sem resposta por muito tempo. Até eu encontrar, já na idade adulta, as respostas na Doutrina Espírita.
Nossos entes queridos se vão por muitas razões. Doenças, acidentes, crimes violentos, suicídio etc. E quando isso acontece, temos que encarar o luto pela morte de quem estava ali agora mesmo, mas um segundo depois já não mais está. E o Espiritismo nos ajuda a compreender melhor este processo, consolando-nos nas nossas dores.
Explica-nos a Doutrina dos Espíritos que a morte, assim como o nascimento, são transições entre os dois Planos da Vida: o Plano material, onde estamos, e o Plano Espiritual, de onde viemos e para onde vamos. A vida após à morte, no Espiritismo Científico, é um fato incontestável, que nos consola pela certeza da continuidade da existência. Nos ajuda a entender que a vida não acaba no túmulo, e que a morte não é o fim, mas apenas o começo de uma nova etapa. E os Espíritos nos esclarecem, na questão 289 de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que nossos parentes e amigos costumam vir ao nosso encontro quando deixamos a Terra. Ou seja, ao morrer, nós nos reencontramos com aqueles que amamos e que se foram antes de nós. Nesse ponto verificamos a mais pura expressão do amor de Deus por nós. Já pensou, o nobre leitor, se fôssemos separados eternamente daqueles que amamos? Ou se tudo acabasse por aqui? A continuidade da existência após a morte do corpo físico é uma dádiva Daquele que nos ama incondicionalmente, e o conhecimento disto nos ajuda a superar a perda (temporária!) de nossos entes queridos.
No livro "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, é-nos dito o seguinte sobre como superar a dor da perda de um familiar (item 21 do capítulo V):
“Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus."
Dessa forma, a assimilação dos conhecimentos espíritas nos ajuda a entender a transitoriedade da vida material, nos fortalecendo para superar a saudade daqueles que partiram antes de nós, mas que não desapareceram para sempre. Essa é a consolação que o Espiritismo nos concede!
Quando eu era criança, e não sabia de nada disso, no fundo, eu sentia tudo isso. Descobri mais tarde que eu tinha razão. De fato, meu avô querido havia somente feito uma viagem, pra um país distante, onde um dia poderíamos nos rever. Por isso que ao me despedir de meu avô, eu não disse "adeus". Um simples "até logo" fazia muito mais sentido pra mim..