domingo, 4 de dezembro de 2016

Pai Cipriano das Almas


O feiticeiro do terreiro!

Esse mestiço africano, nasceu no Brasil Colônia, do amor entre um escravo e uma sinhazinha. Sua mãe o entregou aos cuidados de seu pai assim que ele nasceu e foi criado por sua avó paterna. Nunca descobriram de quem ele era filho, por isso seu pai nunca pagou por esse crime de amor. Tudo foi feito no mais absoluto sigilo pelos administradores da fazenda, enquanto os pais da moça viajavam pela Europa. Ao retornarem, nada desconfiaram e como a sinhazinha estava prometida em casamento, todo o restante foi realizado conforme combinado. A moça mudou-se para a Europa e nunca mais retornou ao Brasil, provavelmente para não ver seu próprio filho entregue à escravidão. O menino, de olhos verdes, recebeu o nome de Etelvino e cresceu em meio aos seus irmãos de descendência africana; mas conviveu com os sinhozinhos da fazenda, por ser um menino inteligente e perspicaz. Aprendeu os costumes de uns e de outros.
Ao crescer, descobriu sua origem verdadeira e revoltou-se; quis vingança. Seu pai o aconselhou, mas de nada adiantou. Usou conhecimentos ancestrais de sua linhagem paterna e seus dons para a mandinga em magia negra. Era exímio no que fazia. Sabia curar, mas também sabia a arte de matar. Conhecia tudo o que se podia conhecer sobre a magia, dos negros e dos brancos. E seus dons científicos de outras vidas lhe davam conhecimento suficiente sobre qualquer tema. Queria ter sido criado entre os brancos, não entendia a discriminação. Revoltou-se mais ainda ao descobrir quem era sua mãe de verdade e porque ela o abandonou... Tornou-se um carrasco sem leis para os brancos e para os negros. Aos inimigos de sua causa dedicava especial atenção; aos amigos causava temor. Viveu assim quase toda a sua vida. Desposou três negras da senzala que lhe serviam com fidelidade. Teve sete filhos e os ensinou a magia, a artimanha e a fugir... Não queria filhos escravos.
Etelvino viveu na região "das Minas Gerais" (em Ouro Preto) até os 98 anos. Ao final de sua vida fez amizade com um Frei Capuchinho (Lázaro), amigo de José de Anchieta e devoto de Nossa Senhora. Esse frei lhe falou de Jesus, Maria, São Lázaro e da conversão de Cipriano. Achou a história de Cipriano muito parecida com a sua (claro, sem a escravidão). Também sentiu que Jesus parecia o Orixá Oxalá e que Maria paracia sua Mãe Iemanjá. Em São Lázaro sentiu a afinidade com Obaluaiê, seu Orixá protetor. E decidiu, por fim, deixou a magia negra de lado e começou a praticar a cura, a oração e o benzimento. Fez isso a partir dos 70 anos até morrer.
Nunca conheceu sua mãe biológica. Mas teve em seu pai e sua avó todo o amor necessário para evoluir. Deixou a revolta de lado e pediu perdão aos deuses africanos e aos deuses católicos. Quando desencarnou, foi recolhido em Aruanda e convidado a trabalhar na Falange dos pretos-velhos como "Pai Cipriano". Seria reponsável por recolher todas as almas dos escravos revoltados e feiticeiros como ele. Após recolhidos, devia aconselhá-los e encaminhá-los. Assim o fez. Hoje, trabalha com amor e dedicação. Compreendeu que perante Deus (Olorum - Zambi) todos somos irmãos e que, para evoluir, precisamos aceitar nossas dívidas de vidas passadas.