O Jardineiro de Aruanda.
Essa é uma história longa, por isso demorei para publicar essa postagem. Ela será contada em partes, para uma melhor compreensão.
Primeira Parte
Em 1768 um navio aportou no Rio de Janeiro trazendo mais uma encomenda de escravos para o comércio. Dentre eles encontrava-se um jovem de pele bem escura e dentes muito brancos. Ficava o tempo todo calado, com os punhos cerrados e aguardando uma oportunidade para fugir. Por isso, quando ele desembarcou, seus pés e mãos estavam bem acorrentados, tinha a boca amordaçada e uma coleira de ferro prendia seu pescoço. Olhava a todos com muito ódio e era possível sentir sua raiva cada vez que um homem branco o tocava. Durante a viagem recebeu o apelido de carvão, por ser muito negro.
Em 1768 um navio aportou no Rio de Janeiro trazendo mais uma encomenda de escravos para o comércio. Dentre eles encontrava-se um jovem de pele bem escura e dentes muito brancos. Ficava o tempo todo calado, com os punhos cerrados e aguardando uma oportunidade para fugir. Por isso, quando ele desembarcou, seus pés e mãos estavam bem acorrentados, tinha a boca amordaçada e uma coleira de ferro prendia seu pescoço. Olhava a todos com muito ódio e era possível sentir sua raiva cada vez que um homem branco o tocava. Durante a viagem recebeu o apelido de carvão, por ser muito negro.
Ele foi comprado por um fazendeiro, produtor de cana-de-açúcar, café e algodão. Esse senhor possuía fazendas no interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. "Carvão" foi levado para a fazenda do interior de São Paulo, onde mudaram seu apelido para "Café" - cultura que estava começando a proliferar no Brasil. Com o tempo, Café já era um líder entre os demais negros da senzala e tramava uma rebelião. Os capatazes ficavam sempre de olho em suas atitudes, porque sabiam de sua força de persuasão junto aos demais escravos.
Café conseguiu realizar sua primeira fuga, com mais dez negros, doze dias depois de estar na fazenda. Mesmo sem falar o português, conseguiu se fazer entender em sua língua nativa através de sinais. Eles conseguiram ficar dois dias escondidos nas matas, mas foram capturados, pois ainda não conheciam perfeitamente a região. Dois negros foram para o tronco, por liderarem a fuga: Café e outro, chamado Juventino. Permaneceram 48 horas amarrados, sem água ou comida, mas a revolta deles os manteve firmes.
Dessa vez Café mudou sua estratégia, decidiu se aproximar de todos: brancos e negros, aprender seus costumes, ganhar a confiança e esperar uma nova oportunidade. Passou, então, um ano. Todos haviam esquecido a fuga e pensaram que Café havia se acostumado à nova vida. Porém, um dia, ele conseguiu capturar todos os capatazes e abriu todas as senzalas. Mais de duzentos negros empreenderam fuga! Eles se deslocaram para os Quilombos de Parateca e Pau d'Arco, onde iniciaram uma nova vida. Durante anos os negros fugidos foram procurados, mas a região era de difícl acesso e isso permitiu a criação de vários Quilombos.
Café tornou-se um Líder em seu Quilombo e com o tempo decidiu libertar outros negros de outras fazendas. Então, a cada seis meses, ele empreendia uma jornada, passando por várias fazendas e facilitando a fuga de muitos escravos. Com o tempo, muitos senhores feudais e capatazes começaram a se armar e preparar uma emboscada para aniquilar o escravo que estava provocando tudo isso. Em um dia, dez anos depois de sua chegada ao Brasil, Café foi traído por um dos escravos e capturado. Enquanto era levado para o tronco, conseguiu roubar um punhal de um dos algozes e feriu mortalmente o capataz. Os demais jagunços atiraram contra ele , que morreu ali mesmo. Aqui termina uma parte de sua história, mas ele me permitiu contar toda ela, então...
Segunda parte
Pela revolta que carregava e pela forma como morreu, Café caiu no Umbral. Seu corpo sentiu o impacto das rochas cortantes e escorregou para dentro de uma poça de lama. Alguns espíritos o cercaram e o chamaram de assassino. Mas ele revidou e disse: "Eu sou um mártir! Salvei muitos negros!" E os espíritos responderam: "Isso não exime a sua culpa, pois você falhou no mandamento que diz: Não Matarás!" Café havia ouvido falar dos mandamentos, da Bíblia, do Deus dos Católicos, pois na época do Quilombo eles foram visitados por alguns profetas do sertão e por alguns freis, que pregavam o perdão e o amor ao próximo.
Café ficou quinze anos no Umbral, porque não conseguia perdoar o homem branco e nem esquecer o que passou em seu pouco tempo de escravidão. Um dia, cansado de tanto sofrer, ele lembrou da história de um Beato negro, que estava para ser santificado. O nome dele era Benedito e diziam que ele era muito bom e fiel a Deus. Então, Café começou a rezar em sua língia nativa, chamou por Oxalá e pediu se aquele "Santo Negro" podia tirá-lo dali. De repente, uma luz o envolveu e ele acordou em outro lugar... Parecia que estava em uma epécie de Quilombo, só que maior, mais limpo e mais brilhante. Um senhor negro de olhos cor de mel o observava e sorria. E lhe perguntou: "- Então, meu filho, acordou?" A pergunta tinha duas conotações. Quem conversava com ele era "Pai Benedito de Aruanda" e lhe perguntou: "- Sua revolta passou, meu filho? Está pronto para saber a verdade, trabalhar e evoluir?" Café respondeu que sim com a cabeça. E Pai Benedito lhe disse: "Então, por hora, descanse."
Após uma semana, Café já estava melhor e começou a andar pelo local. Percebeu um jardim de rosas próximas dali e ficou encantado. Foi até o roseiral e começou a cavocar a terra, mexer nas roseiras e brincar com as borboletas e pássaros. Todas as manhãs, ele se levantava, se asseava, bebia seu caldo quente energizante e ia até o roseiral. Assim, passou dois anos. Um dia, Pai Bendito lhe disse: "- Agora você precisa evoluir. Me acompanhe." Café acompanhou o velho que começou a andar para fora do local. Então, ao observar melhor, percebeu uma cidade, com muitas construções, diversos bosques e outras vilas. Café nem sabia que era assim fora do vilarejo. Então, Pai Benedito lhe disse:"- Essa é Aruanda, meu filho. A morada de todos aqueles que querem trabalhar e evoluir."
Terceira parte
Café acompanhou Pai Benedito e chegou a um local enorme, cheio de construções, com pessoas entrando e saindo. Eles se dirigiram a uma sala, que possuía na porta uma placa, onde estava escrito: Orientador. Entraram, sentaram-se em frente a um senhor que parecia uma mistura de médico e índio. Ele se apresentou: "Muito prazer, aqui sou conhecido por Caboclo Cobra Coral, ou simplesmente, Dr. Luiz. Depois lhe contarei minha história. Mas, nesse momento, você precisa recordar sua trajetória na terra e escolher seu trabalho." Dr. Luiz apontou uma parede branca na sala onde apareceram imagens de um tempo distante... "Nas terras do Egito, um Faraó aniquilava todos os que se oposussem a ele. Ele era cruel e déspota. A tela se fechou e abriu-se novamente. Depois disso ele teve duas encarnações como líder de tribos africanas, onde praticou boas ações. E a terceira onde foi levado ao Brasil e vendido como escravo." Quando as telas se fecharam, Dr. Luiz lhe perguntou: "- Entendeu por que tudo isso lhe aconteceu?" Diante da afirmativa de Café, Dr. Luiz continuou:
"- Temos uma missão para você. Gostaríamos que você iniciasse sua jornada evolutiva como espírito mesmo, em solo brasileiro, trabalhando para o surgimento de uma nova religião. Como você ainda possui uma dívida de morte na sua última encarnação, gostaríamos que você trabalhasse como guardião ou, como dizem na África: Exu. Você protegerá todas as pessoas que trabalham na religião dos seus ancestrais e atenderá onde mais for solicitado. Você será um "Exu Sete Porteiras", pois poderá ir a qualquer lugar. Como Exu você terá a Lei da Dualidade, mas use-a com sabedoria, porque uma nova queda impedirá seu retorno para essa Colônia. Entendido?" Café confirmou e abaixou a cabeça. Iniciou, assim, uma nova etapa em sua vida espiritual.
Quarta parte
O Senhor Exu Sete Porteiras trabalhou durante cem anos como guardião de muitos, de todas as raças e credos. Conseguiu cumprir sua missão com dignidade, lembrando-se sempre do que havia assistido sobre suas vidas anteriores. Um dia, foi designado para defender um Terreiro de Umbanda, a nova religião do Brasil. Ao chegar ao local, deparou-se com o capataz que ele tirou a vida como escravo... Sentiu um nó na garganta, pois agora ele trabalhava como Chefe do Terreiro e, "Café" como Exu, deveria serví-lo. Mas, ele queria evoluir e aproximando-se do médium pediu perdão e caiu de joelhos. Sentiu que o médium lhe dizia em pensamento: "- Já está perdoado!"
E assim, O Senhor Exu Sete Porteiras o serviu até o final de sua vida terrena. Quando o médium desencarnou, eles se encontraram em Aruanda e se abraçaram. Eles se reconheceram de todas as vidas: no Egito, na África, no Brasil... Sempre disputando poder e liderança. Mas, dessa vez haviam superado tudo isso.
Os dois foram chamados a sala do Orientador: "- Dessa vez tenho outra missão para vocês. Um de vocês reencarnará e prosseguirá com a missão de médium e Chefe de Terreiro, o outro permanecerá um tempo estagiando e estudando aqui na Colônia. Vocês dois serão instruídos por um tempo e depois se separarão. Aquele que ficar aqui será o Guia Espiritual e o outro será o médium."
Quinta parte - final dessa história, mas recomeço de outra...
Os dois espíritos estudaram por dez anos na Colônia de Aruanda, na Escola de Preparação de Médiuns e Mensageiros Espirituais. Depois, o antigo capataz seguiu para a Sala de Reencarnação e Café permaneceu na Colônia. Voltou a Vila dos Pretos-Velhos e cuidou de seus afazeres antigos: as roseiras. Ele reencontrou Pai Benedito de Aruanda que lhe instruiu e falou:"- Agora você inicia uma nova etapa. Seu nome será Benedito, por conta Daquele que o salvou do Umbral. Será chamado de "Pai" para honrar nosso compromisso com o Cristo Celestial, nosso Pai Maior. E receberá um segundo nome: do Roseiral, porque as rosas lhe ajudaram a evoluir." Assim surgiu Pai Bendito do Roseiral.
Pai Bendito de Aruanda (ou agora "Vô" Benedito - por ser o mais velho em hierarquia) seria seu instrutor e professor. Juntos começaram a visitar muitos lugares na Terra: Templos, Tendas, Terreiros, Roças, Igrejas, etc. E o aluno foi aprendendo com o professor a incoporar e a entender como trabalhar sua nova missão. Depois de alguns anos, ele adentrou no Terreiro daquele que seria seu assisitido e se aproximou para a primeira incorporação. Sentiu-se como uma criança que renasce na Terra e percebeu que havia quitado suas dívidas. Viu em pé ao lado do médium o Caboclo Cobra Coral, como Mentor Espiritual da casa. No altar percebeu imagens de Santos Católicos, de negros, índios, crianças e outros.
Então, Café cantou seu ponto: "Pai Bendito é preto, Saluba! E mora no Roseiral... É preto porque veio da África, para combater o mal." Agora os dois podiam evoluir como irmãos. Cobra Coral lhe sorriu e disse em pensamento: "- Até que enfim meus dois filhos voltaram a viver como irmãos!"
Café conseguiu realizar sua primeira fuga, com mais dez negros, doze dias depois de estar na fazenda. Mesmo sem falar o português, conseguiu se fazer entender em sua língua nativa através de sinais. Eles conseguiram ficar dois dias escondidos nas matas, mas foram capturados, pois ainda não conheciam perfeitamente a região. Dois negros foram para o tronco, por liderarem a fuga: Café e outro, chamado Juventino. Permaneceram 48 horas amarrados, sem água ou comida, mas a revolta deles os manteve firmes.
Dessa vez Café mudou sua estratégia, decidiu se aproximar de todos: brancos e negros, aprender seus costumes, ganhar a confiança e esperar uma nova oportunidade. Passou, então, um ano. Todos haviam esquecido a fuga e pensaram que Café havia se acostumado à nova vida. Porém, um dia, ele conseguiu capturar todos os capatazes e abriu todas as senzalas. Mais de duzentos negros empreenderam fuga! Eles se deslocaram para os Quilombos de Parateca e Pau d'Arco, onde iniciaram uma nova vida. Durante anos os negros fugidos foram procurados, mas a região era de difícl acesso e isso permitiu a criação de vários Quilombos.
Café tornou-se um Líder em seu Quilombo e com o tempo decidiu libertar outros negros de outras fazendas. Então, a cada seis meses, ele empreendia uma jornada, passando por várias fazendas e facilitando a fuga de muitos escravos. Com o tempo, muitos senhores feudais e capatazes começaram a se armar e preparar uma emboscada para aniquilar o escravo que estava provocando tudo isso. Em um dia, dez anos depois de sua chegada ao Brasil, Café foi traído por um dos escravos e capturado. Enquanto era levado para o tronco, conseguiu roubar um punhal de um dos algozes e feriu mortalmente o capataz. Os demais jagunços atiraram contra ele , que morreu ali mesmo. Aqui termina uma parte de sua história, mas ele me permitiu contar toda ela, então...
Segunda parte
Pela revolta que carregava e pela forma como morreu, Café caiu no Umbral. Seu corpo sentiu o impacto das rochas cortantes e escorregou para dentro de uma poça de lama. Alguns espíritos o cercaram e o chamaram de assassino. Mas ele revidou e disse: "Eu sou um mártir! Salvei muitos negros!" E os espíritos responderam: "Isso não exime a sua culpa, pois você falhou no mandamento que diz: Não Matarás!" Café havia ouvido falar dos mandamentos, da Bíblia, do Deus dos Católicos, pois na época do Quilombo eles foram visitados por alguns profetas do sertão e por alguns freis, que pregavam o perdão e o amor ao próximo.
Café ficou quinze anos no Umbral, porque não conseguia perdoar o homem branco e nem esquecer o que passou em seu pouco tempo de escravidão. Um dia, cansado de tanto sofrer, ele lembrou da história de um Beato negro, que estava para ser santificado. O nome dele era Benedito e diziam que ele era muito bom e fiel a Deus. Então, Café começou a rezar em sua língia nativa, chamou por Oxalá e pediu se aquele "Santo Negro" podia tirá-lo dali. De repente, uma luz o envolveu e ele acordou em outro lugar... Parecia que estava em uma epécie de Quilombo, só que maior, mais limpo e mais brilhante. Um senhor negro de olhos cor de mel o observava e sorria. E lhe perguntou: "- Então, meu filho, acordou?" A pergunta tinha duas conotações. Quem conversava com ele era "Pai Benedito de Aruanda" e lhe perguntou: "- Sua revolta passou, meu filho? Está pronto para saber a verdade, trabalhar e evoluir?" Café respondeu que sim com a cabeça. E Pai Benedito lhe disse: "Então, por hora, descanse."
Após uma semana, Café já estava melhor e começou a andar pelo local. Percebeu um jardim de rosas próximas dali e ficou encantado. Foi até o roseiral e começou a cavocar a terra, mexer nas roseiras e brincar com as borboletas e pássaros. Todas as manhãs, ele se levantava, se asseava, bebia seu caldo quente energizante e ia até o roseiral. Assim, passou dois anos. Um dia, Pai Bendito lhe disse: "- Agora você precisa evoluir. Me acompanhe." Café acompanhou o velho que começou a andar para fora do local. Então, ao observar melhor, percebeu uma cidade, com muitas construções, diversos bosques e outras vilas. Café nem sabia que era assim fora do vilarejo. Então, Pai Benedito lhe disse:"- Essa é Aruanda, meu filho. A morada de todos aqueles que querem trabalhar e evoluir."
Terceira parte
Café acompanhou Pai Benedito e chegou a um local enorme, cheio de construções, com pessoas entrando e saindo. Eles se dirigiram a uma sala, que possuía na porta uma placa, onde estava escrito: Orientador. Entraram, sentaram-se em frente a um senhor que parecia uma mistura de médico e índio. Ele se apresentou: "Muito prazer, aqui sou conhecido por Caboclo Cobra Coral, ou simplesmente, Dr. Luiz. Depois lhe contarei minha história. Mas, nesse momento, você precisa recordar sua trajetória na terra e escolher seu trabalho." Dr. Luiz apontou uma parede branca na sala onde apareceram imagens de um tempo distante... "Nas terras do Egito, um Faraó aniquilava todos os que se oposussem a ele. Ele era cruel e déspota. A tela se fechou e abriu-se novamente. Depois disso ele teve duas encarnações como líder de tribos africanas, onde praticou boas ações. E a terceira onde foi levado ao Brasil e vendido como escravo." Quando as telas se fecharam, Dr. Luiz lhe perguntou: "- Entendeu por que tudo isso lhe aconteceu?" Diante da afirmativa de Café, Dr. Luiz continuou:
"- Temos uma missão para você. Gostaríamos que você iniciasse sua jornada evolutiva como espírito mesmo, em solo brasileiro, trabalhando para o surgimento de uma nova religião. Como você ainda possui uma dívida de morte na sua última encarnação, gostaríamos que você trabalhasse como guardião ou, como dizem na África: Exu. Você protegerá todas as pessoas que trabalham na religião dos seus ancestrais e atenderá onde mais for solicitado. Você será um "Exu Sete Porteiras", pois poderá ir a qualquer lugar. Como Exu você terá a Lei da Dualidade, mas use-a com sabedoria, porque uma nova queda impedirá seu retorno para essa Colônia. Entendido?" Café confirmou e abaixou a cabeça. Iniciou, assim, uma nova etapa em sua vida espiritual.
Quarta parte
O Senhor Exu Sete Porteiras trabalhou durante cem anos como guardião de muitos, de todas as raças e credos. Conseguiu cumprir sua missão com dignidade, lembrando-se sempre do que havia assistido sobre suas vidas anteriores. Um dia, foi designado para defender um Terreiro de Umbanda, a nova religião do Brasil. Ao chegar ao local, deparou-se com o capataz que ele tirou a vida como escravo... Sentiu um nó na garganta, pois agora ele trabalhava como Chefe do Terreiro e, "Café" como Exu, deveria serví-lo. Mas, ele queria evoluir e aproximando-se do médium pediu perdão e caiu de joelhos. Sentiu que o médium lhe dizia em pensamento: "- Já está perdoado!"
E assim, O Senhor Exu Sete Porteiras o serviu até o final de sua vida terrena. Quando o médium desencarnou, eles se encontraram em Aruanda e se abraçaram. Eles se reconheceram de todas as vidas: no Egito, na África, no Brasil... Sempre disputando poder e liderança. Mas, dessa vez haviam superado tudo isso.
Os dois foram chamados a sala do Orientador: "- Dessa vez tenho outra missão para vocês. Um de vocês reencarnará e prosseguirá com a missão de médium e Chefe de Terreiro, o outro permanecerá um tempo estagiando e estudando aqui na Colônia. Vocês dois serão instruídos por um tempo e depois se separarão. Aquele que ficar aqui será o Guia Espiritual e o outro será o médium."
Quinta parte - final dessa história, mas recomeço de outra...
Os dois espíritos estudaram por dez anos na Colônia de Aruanda, na Escola de Preparação de Médiuns e Mensageiros Espirituais. Depois, o antigo capataz seguiu para a Sala de Reencarnação e Café permaneceu na Colônia. Voltou a Vila dos Pretos-Velhos e cuidou de seus afazeres antigos: as roseiras. Ele reencontrou Pai Benedito de Aruanda que lhe instruiu e falou:"- Agora você inicia uma nova etapa. Seu nome será Benedito, por conta Daquele que o salvou do Umbral. Será chamado de "Pai" para honrar nosso compromisso com o Cristo Celestial, nosso Pai Maior. E receberá um segundo nome: do Roseiral, porque as rosas lhe ajudaram a evoluir." Assim surgiu Pai Bendito do Roseiral.
Pai Bendito de Aruanda (ou agora "Vô" Benedito - por ser o mais velho em hierarquia) seria seu instrutor e professor. Juntos começaram a visitar muitos lugares na Terra: Templos, Tendas, Terreiros, Roças, Igrejas, etc. E o aluno foi aprendendo com o professor a incoporar e a entender como trabalhar sua nova missão. Depois de alguns anos, ele adentrou no Terreiro daquele que seria seu assisitido e se aproximou para a primeira incorporação. Sentiu-se como uma criança que renasce na Terra e percebeu que havia quitado suas dívidas. Viu em pé ao lado do médium o Caboclo Cobra Coral, como Mentor Espiritual da casa. No altar percebeu imagens de Santos Católicos, de negros, índios, crianças e outros.
Então, Café cantou seu ponto: "Pai Bendito é preto, Saluba! E mora no Roseiral... É preto porque veio da África, para combater o mal." Agora os dois podiam evoluir como irmãos. Cobra Coral lhe sorriu e disse em pensamento: "- Até que enfim meus dois filhos voltaram a viver como irmãos!"