domingo, 4 de dezembro de 2016

Cacique Pemba Branca de Aruanda..


Um Xangô Agodô no Reino da Umbanda.

Ele nasceu no oeste Africano e seu povo era formado por uma tribo nômade de coletores e pescadores, que viajavam entre as regiões de Benim, Costa do Marfim, Gâmbia, Libéria, Mali, Senegal, entre outras... E viviam dessa forma, em meio às Savanas Africanas, entre o Deserto do Saara e alguns Oásis, que encontravam pelo caminho. Costumavam usar o pó de efun para pintarem seus corpos, diminuindo, com isso, o calor abrasivo do sol sob o corpo. Cobriam-se com peles de animais, nas noites frias, dormiam em cavernas, árvores ou ao relento... Se o local fosse bom, ficavam por um bom tempo e montavam acampamento, com todos os componentes da Tribo.
O deserto do Saara era cruel em determinadas épocas e a comida ficava escassa; então, os Holandeses chegaram, com a promessa de uma nova vida em terras distantes, cheias de fartura. Ele acreditou e reuniu seus melhores homens para a viagem, pensando que um dia voltaria para buscar a mulher e os filhos. Durante a viagem, eles conheceram e perceberam a armadilha: eram escravos, juntamente com outras tribos e nativos de outras regiões da África. No porão do navio, além de sua gente, haviam mulheres e crianças viajando, todos desnutridos e esquálidos. Muitos morreram durante a viagem e seus corpos eram lançados às águas profundas do Oceano. Ele, sempre calado, somente observava. Ninguém sabia que ele era o Cacique da Tribo e seus comandados acharam melhor preservá-lo assim. Devido ao costume de sua tribo, onde usavam o Efun (pó branco), para pintarem-se ao sair no sol, seu nome era "Cacique Pemba Branca" (ou na língua nativa: Tata owo Efun-Efun).
Os dias arrastavam-se e tornaram-se semanas e meses, depois de uma longa viagem. Muitos haviam morrido, durante o trajeto. Quando acostaram o navio na nova terra e foram obrigados a desembarcar viram uma exuberante natureza, toda verde e frondosa e muitas pessoas diferentes os observavam. Haviam pessoas brancas, mas haviam alguns nativos índios, como eles, mas de outra cor. Pemba Branca olhou e olhou... E percebeu que nada conhecia do mundo. Pela primeira vez, sentiu-se impotente perante Olorum e lembrou-se de sua Aldeia, de sua mulher e de seus filhos. Uma lágrima escorreu de seus olhos e ele sentiu uma chibata em suas costas! Foi quando virou-se bruscamente e agarrou o seu agressor, puxando-o bem junto a si e pronunciou: "-Tata Iku, Iku... Nhá Egungun, Kaô Kaô, Ma Epa Babá!" (Senhor dos Mortos e Senhora da Morte, faça Justiça, Meu Pai Maior!)
Os olhos do agressor estalaram, pois ele sabia da fama de "feiticeiros" que os negros carregavam. Acercaram-se dele e o levaram a uma senzala, com os outros negros. Alimentaram-nos e separaram-nos. No outro dia seriam comercializados em Praça Pública, na cidade de Cabo Frio no Rio de Janeiro. A noite caiu e Pemba Branca demorou a dormir ouvindo o lamento das mulheres e das crianças. Uma dor muito grande atravessou a sua alma e Ele queria entender o que Zambi queria Dele... Levantou seus olhos e pediu que o guiassem: - Qual era a sua missão nessa terra?
No dia seguinte, ele foi um dos primeiros a ser comprado por um fazendeiro, pois era um negro forte e valente! Foi levado às terras de Minas Gerais, para trabalhar em lavouras e minas de carvão. Com o tempo, ele nunca mais falou uma palavra de sua língua... Ele só ouvia e olhava. Os outros o temiam, porque homem muito calado é arrisco! Somente um dia o viram ajoelhado em terra, com um punhado de lama nas mãos dizendo: "-Odwdwa Dadá Orunmilá... Odwdwa ê!" Quem era nativo sabia que ele clamava à Mãe Terra e ao Pai Céu; mas, os demais, nada entenderam...
Um dia, o filho do patrão, perdeu-se da Casa de Engenho. Ele era um moleque arteiro de seus 7 anos e gostava de correr pela fazenda. O patrão desesperou-se, pois pensou em sequestro e vingança e correu as terras com seus capatazes! Quando chegou próximo à Plantação de Canavial ouviu a voz de seu menino e uma outra voz desconhecida. Apeou do cavalo e correu roça adentro... Foi quando deparou-se com Pemba Branca e seu filho sentados no chão conversando animadamente e brincando com pedrinhas. O menino puxou o pai pela mão e disse: "-Meu Amigo Pai, ele cuidou de mim!!!" E apontou para uma cobra caninana morta na beira do canavial. O homem caiu de joelhos e agradeceu ao negro que salvou a vida de seu filho!
A partir desse dia, Pemba Branca tornou-se o homem de confiança do patrão e passou a cuidar dos afazeres e dos escravos. Mas, continuava calado. Então, o patrão mandou chamá-lo e perguntou o que o entristecia e ele apontou para a esposa do patrão e para seu filho... O patrão entendeu. E pensou: como resolver essa situação? Perguntou a Pemba Branca se ele entendia sua língua e ele fez que sim com a cabeça. Então questionou: "-Você quer voltar? Ou quer buscá-los?" Pemba Branca refletiu, refletiu e por fim decidiu: gostaria de buscá-los.
Então, começaram os preparativos e Ele viajou à África para rever sua Aldeia e sua família. Mas, quando chegou não encontrou ninguém... Estava tudo deserto! Procurou por dias e nem sinal de sua tribo ou gente. Desanimou, desesperou-se e quase desistiu da vida! Mas, havia dado sua palavra ao patrão e retornou ao Brasil. Quando chegou, dedicou-se com afinco ao seu trabalho, mas tornou-se um homem sério, fechado e sisudo. Dificilmente conversava. Somente observava e fazia seu trabalho.
Passaram-se vinte anos e ele começou a adquirir os traços da maturidade. Não era somente um homem; nem ele sabia mais de sua idade... Então, um dia trouxeram um nova leva de escravos para a fazenda e dentre eles haviam 4 rapazes, com pouca diferença de idade. Ele foi encarregado de alojá-los e indicar-lhes o trabalho. Estavam maltratados, machucados e esquálidos. Cuidou deles, através da Nega Sinhá que alimentava a todos na fazenda. Nenhum deles levantou o olhar e ele os deixou assim, pois já sabia dessa dor.
Deixou passar três dias para que descansassem bem e alimentassem-se. Então, procurou-os para conversar e explicar tudo. Eles estavam sentados no canto da senzala, vestidos, lavados e alimentados. Quando ele aproximou-se, um deles o enfrentou e  encarou seu olhar. Então, aquele olhar lhe disse alguma coisa e ele falou em sua língua nativa: Nh'Yaô... (Meu Filho...) De repente, todos se acercaram dele e o abraçaram... Eram seus filhos perdidos! Conversaram, conversaram e esclareceram tudo. Ele soube que a mãe foi mordida por uma serpente do deserto e não sobreviveu. E os filhos peregrinaram por outras terras, em busca de alimento e sobrevivência. O tempo passou e os filhos pensaram que o pai havia sido assassinado por outra tribo ou por bichos selvagens.
Agora, eles esclareceram tudo e estavam juntos novamente. Pemba Branca correu contar ao patrão sobre seus filhos. Ele já havia conquistado o respeito e a admiração de todos na Fazenda e foi recebido com alegria. Então, lhe prepararam uma choça no meio da senzala, para ele morar com a família, onde poderia ter sua privacidade assegurada. Ele nunca casou-se novamente, pois ainda pensava reencontrar sua esposa. Porém, a vida lhe preparou um novo destino e ele conheceu uma africana de uma tribo vizinha, que havia chegado há poucos meses na fazenda. Desposou-a e teve com ela duas meninas gêmeas, que ele chamou de Naê e Ylá - em sua língua nativa.
Depois disso ele viveu ainda trinta anos e pode visualizar o processo de libertação dos escravos sendo elaborado por alguns abolicionistas. Seu patrão faleceu, mas o Sinhozinho que herdou a Fazenda sempre foi seu amigo e ele foi tratado com respeito. O Sinhozinho tornou-se um Abolicionista e libertou a todos os escravos, dando moradia, sustento e soldo a todos. Ele foi um homem honrado e respeitado, que ajudou no Movimento da Inconfidência Mineira. Hoje, Cacique Pemba Branca de Aruanda trabalha silenciosamente nos Terreiros de Umbanda e Candomblé pelo país afora... Ele é pouco conhecido no Plano Físico, mas muito respeitado no Plano Espiritual.