segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXV - Das evocações » Considerações gerais

 

 O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXV - Das evocações » Considerações gerais


Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou atender ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Algumas pessoas pensam que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Espírito, e que é preferível esperar aquele que queira se comunicar. Fundam-se em que, chamando um determinado Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade, pois manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco. Em nossa opinião, isso é um erro: primeiramente, porque há sempre em torno de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa assembleia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. O chamado direto de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos intrusos. Sem um chamado direto, frequentemente um Espírito nenhum motivo teria para vir a nós, a menos que seja o nosso Espírito familiar.

Essas duas maneiras de operar têm cada uma suas vantagens, e inconveniente não haveria senão na exclusão absoluta de uma delas. As comunicações espontâneas inconveniente nenhum apresentam, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não se deixar dominar pelos maus. Então, é quase sempre bom aguardar a boa-vontade dos que desejam manifestar-se, porque seu pensamento não sofre nenhum constrangimento, e dessa maneira se podem obter coisas admiráveis; entretanto, pode suceder que o Espírito por quem se chama não esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido desejado. O exame escrupuloso que temos aconselhado, é, aliás, uma garantia contra as más comunicações. Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que se faz um trabalho continuado, há sempre Espíritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das sessões. Frequentemente então tomam espontaneamente a palavra, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver uma proposição ou prescrever o que se deva fazer, caso em que são facilmente reconhecíveis, quer pela forma da linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita, quer por certos hábitos que lhes são peculiares.

270. Quando se deseja comunicar com determinado Espírito, é de toda necessidade evocá-lo. (N. 203.) Se ele pode vir, a resposta é geralmente: Sim, ou Estou aqui, ou ainda: Que quereis de mim? Às vezes ele entra diretamente em matéria respondendo de antemão às perguntas que se lhe queria dirigir.

Quando um Espírito é evocado pela primeira vez, convém designá-lo com alguma precisão. Nas perguntas que se lhe façam, devem evitar-se as fórmulas secas e imperativas, que seriam para ele um motivo de afastamento. As fórmulas devem ser afetuosas ou respeitosas, conforme o Espírito, e, em todos os casos, testemunhar a benevolência do evocador.

271. Surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. É, com efeito, o que se dá, quando com a sua evocação se preocupa de antemão aquele que o evoca. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada e, como temos sempre conosco os nossos Espíritos familiares, que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal sorte que, se nenhum obstáculo surge, o Espírito que desejamos chamar já se acha presente ao ser evocado. Quando assim não acontece, é o Espírito familiar do médium, ou o do interrogante, ou ainda um dos que costumam freqüentar as reuniões que o vai buscar, para o que não precisa de muito tempo. Se o Espírito evocado não pode vir de pronto, o mensageiro (os Pagãos diriam Mercúrio) marca um prazo, às vezes de cinco minutos, um quarto de hora e até muitos dias. Logo que ele chega, diz: Aqui estou. Podem então começar a ser feitas as perguntas que se lhe quer dirigir.

O mensageiro nem sempre é um intermediário indispensável, porquanto o Espírito pode ouvir diretamente o chamado do evocador, conforme ficou dito em o n. 282, pergunta 5, sobre o modo de transmissão do pensamento.

Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus, queremos que a nossa recomendação seja tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vejam o emprego de uma fórmula sem conseqüências farão melhor abstendo-se.

272. Frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a questões circunstanciadas. Para isto são precisos médiuns especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos e, como vimos (nº 193), estes últimos são bastante raros, pois, conforme dissemos, as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresente. Daí convir que os médiuns não se entreguem às evocações detalhadas, senão depois de estarem seguros do desenvolvimento de sua faculdade e da natureza dos Espíritos que os assistem, porque com aqueles que são mal assistidos as evocações não podem ter nenhum caráter de autenticidade.

273. Os médiuns são geralmente muito mais procurados para as evocações de interesse particular, do que para comunicações de interesse geral; isto se explica pelo desejo muito natural que todos têm de confabular com os entes que lhes são caros. Julgamos dever fazer a este propósito algumas recomendações importantes aos médiuns. Primeiramente que não acedam a esse desejo, senão com muita reserva, se se trata de pessoas de cuja sinceridade não estejam completamente seguros e que se acautelem das armadilhas que lhes possam preparar pessoas malfazejas. Em segundo lugar, que a tais evocações não se prestem, sob fundamento algum, se perceberem um fim de simples curiosidade, ou de interesse, e não uma intenção séria da parte do evocador; que se recusem a fazer qualquer pergunta ociosa, ou que sai do âmbito das que racionalmente se podem dirigir aos espíritos. As perguntas devem ser formuladas com clareza, precisão e sem segundas intenções, em se querendo respostas categóricas. Cumpre, pois, se repilam todas as que tenham caráter insidioso, porquanto é sabido que os Espíritos não gostam das que têm por objetivo pô-los à prova. Insistir em questões desta natureza é querer ser enganado. O evocador deve ferir franca e abertamente o ponto visado, sem subterfúgios e sem circunlóquios. Se receia explicar-se, melhor será que se abstenha.

Convém igualmente que só com muita prudência se façam evocações, na ausência das pessoas que as pediram, sendo mesmo preferível que não sejam feitas nessas condições, visto que somente aquelas pessoas se acham aptas a analisar as respostas, a julgar da identidade, a provocar esclarecimentos, se for oportuno, e a formular questões incidentes, que as circunstâncias indiquem. Além disso, a presença delas é um laço que atrai o Espírito, quase sempre pouco disposto a se comunicar com estranhos, que lhes não inspiram nenhuma simpatia. O médium, em suma, deve evitar tudo o que possa transformá-lo em agente de consultas, o que, aos olhos de muitas pessoas, é sinônimo de ledor da "buena-dicha".