domingo, 10 de junho de 2018
ROSARIUM PHILOSOPHORUM
Como na oposição Yin-Yang da filosofia oriental, a dualidade, o equilíbrio sexual, são essenciais à erudição alquímica. O rei e a rainha, símbolos humanos do sol e a lua, representam as duas propriedades opostas da Matéria Primordial: o Enxofre e o Mercúrio Filosófico. Durante as operações alquímicas, eles são unidos, destruídos, separados, purificados e reunidos.
Ao final da obra, o Rei e a Rainha se fundem num único e perfeito - o Andrógino - símbolo de equilíbrio harmônico entre os pólos masculino e feminino, o qual surge do dragão da Matéria Primordial. Uma arvore assinala a perfeição, enquanto o pássaro alimentando suas crias, sugere a capacidade de multiplicação do poder.
Sejam estes personagens interpretados como aspectos duais em sua própria personalidade ou como as dinâmicas de seus relacionamentos com outros, você descobrirá que as batalhas, reconciliações e amor apaixonado entre o Rei e a Rainha podem ser modelos úteis para seu crescimento pessoal.
“Tudo quanto buscam os sábios está no Mercúrio (Energia Sexual) ou melhor, na Pedra (sexo); a natureza é função desse Vaso (órgãos sexuais), que tanto se comenta sem saber o que é capaz de produzir; sem esse mercúrio tomado de nossa Magnésia, nos assegura Filateo, é inútil ascender a lâmpada ou Forno dos Filósofos (o chacra Mulhadara).
Qualquer profano que saiba manter o Fogo executará a Obra tão bem como um alquimista experiente; não requer perícia especial nem habilidade profissional, senão todo o conhecimento de um curioso Artifício que constitui o Secretum Secretorum, que não foi revelado; sem dúvida, os investigadores que com êxito remontaram os primeiros obstáculos e extraíram Água Viva da antiga Fonte, possuem a chave capaz de abrir as portas do laboratório hermético” (Moradas Filosofais, págs. 287, 299, 300, 302)."
Na alquimia, a doutrina do amor desempenha um papel essencial. Sendo em extremo perigoso o caminho da ascese solitária, o alquimista praticará mais freqüentemente esse caminho a dois, como o casal alquímico, no sentido humano o termo.
A história de Nicolas Flamel e de Dame Pernelle, sua esposa, ilustra perfeitamente bem esta prática concreta do casamento alquímico; está no mesmo plano da união de Jacques Coeur, outro célebre adepto dos fins da Idade Média, com sua esposa ternamente amada. A menos que queira seguir o caminho da ascese solitária (como foi o caso dos monges alquimistas), o alquimista deverá ter, portanto, uma companheira de caminhada, a qual será uma criatura que lhe será predestinada por Deus (além de ela ter recebido antes uma iniciação especial).
Não devemos deixar de estabelecer a diferença existente entre o caso muito freqüente em que a companheira do alquimista se limita a compreendê-lo e a ajudá-lo em seus trabalhos (ainda que neste casal reine a discórdia, ou um dos dois se comporte como um tirano que quer impor ao outro os seus interesses e paixões que não são as suas) e, por outro lado, o caso, infinitamente raro em que o adepto e seu par formem um casal alquímico predestinado, onde se encontram as duas metades do ser único (o andrógino primordial, dividido por ocasião da queda original que provocou o aparecimento da matéria grosseira que elas formavam.
Nesse nível da formação de um casal perfeito, o que reuniu duas criaturas magicamente predestinadas uma a outra desde toda a eternidade, descobriríamos o completo analogismo da alquimia ocidental com relação à via oriental tântrica chamada de 'esquerda', a que comporta a realização efetiva de um casal mágico.
Raras, muito raras mesmo - infelizmente - são as criaturas, homens ou mulheres, capazes de encontrar assim o verdadeiro duplo mágico, sua perfeita complementaridade, pouco numerosos mesmo são aqueles que, na falta da verdadeira metade (no sentido absoluto do termo) poderão, quando muito, unir-se a um ser magicamente apto e formado para completá-lo. Mas essa tão grande raridade de êxito a dois implicaria, acaso, uma impossibilidade natural?
Precisemos - pois é necessário - que o fato de um casal conseguir realizar a união mágica predestinada operará, simultaneamente, em cada um dos amantes predestinados o bom êxito das núpcias interiores entre as duas polaridades cósmicas que existem em cada homem e em cada mulher: Assim se cria o Egregoro tântrico heptagonal, do qual decorrem a realização interior, a harmonização perfeita e a Unidade total com as sete forças que animam a Felicidade universal'.
Felizmente, acontece que duas criaturas predestinadas podem encontrar-se, mesmo depois de sua primeira juventude, e comumente em condições que parecem bem mais paradoxais, mas que eles precisarão agarrar.
(Extraído do livro: 'A Tradição alquímica')