Disse Papus: “Olhais, mas não vedes; experimentais passivamente sensações, mas não tendes o costume de analisá-las, de procurar as relações das coisas... Todos os fenômenos físicos que ferem nossos sentidos, não são mais do que reflexos das vestes de princípios mais elevados: as idéias...”
“Uma carruagem, um cavalo, um cocheiro, eis toda a filosofia, eis toda a magia. ... Se o ser inteligente, o cocheiro, quisesse pôr em movimento seu fiacre sem o cavalo, o carro não andaria... [Entretanto] muitos supõem que magia é a arte de fazer mover fiacres sem cavalos ou, traduzindo em linguagem um pouco mais elevada, de agir sobre a matéria pela vontade e sem intermediários de espécie alguma. ... Observastes que o cavalo é mais forte que o cocheiro e que, por meio das rédeas, o cocheiro domina a força bruta do animal que ele conduz? O cocheiro representa a inteligência e, sobretudo, a VONTADE, o que governa todo o sistema ... A carruagem representa a matéria, o que é inerte ... O cavalo representa a força.”
“Obedecendo ao cocheiro e atuando sobre a carruagem, o cavalo move todo o sistema. [O Cavalo] é o princípio motor ... elo intermediário entre a carruagem e o cocheiro, elo que prende o que suporta (matéria) ao que governa (pensamento, inteligência). [Em outras palavras] ... O cocheiro é a VONTADE HUMANA, o cavalo é a VIDA (FORÇA VITAL) ... sem a qual o cocheiro não pode agir sobre a carruagem...“
“... o dever do cocheiro é [manter o pulso firme nas rédeas], e pouco a pouco, o cavalo, dominado por essa energia, torna-se calmo. O mesmo acontece com o ente humano: seu cocheiro — a vontade, deve agir energicamente sobre a cólera, as rédeas que prendem a força vital à VONTADE devem ser mantidas em tensão [sob controle] ...“
“Sendo prática, a magia é uma ciência de aplicação. Mas, o quê o operador vai aplicar? SUA VONTADE ... o princípio diretor, o cocheiro do sistema. “
“Perguntamos ainda: em quê, em qual objeto será aplicada esta VONTADE? Na MATÉRIA? Nunca! Seria como um cocheiro agitando-se na boléia da carruagem enquanto o cavalo ainda está na estrebaria! Um cocheiro AGE SOBRE um cavalo, não sobre a carruagem...
Um dos grandes méritos da ciência oculta é justamente ter fixado este ponto: que o espírito não pode agir sobre a matéria diretamente; o espírito age sobre um agente intermediário, o qual, por sua vez, reage (repercute) sobre a matéria. O operador deverá, pois, aplicar sua VONTADE não diretamente na matéria, porém naquilo que modifica a matéria incessantemente, [seu mediador plástico] que, a ciência oculta chama Plano Astral ou PLANO DE FORMAÇÃO DO MUNDO MATERIAL.“
“Antes de comandar as forças em ação em um grão de trigo, aprendei a comandar aquelas que agem em vós mesmos e lembrai-vos que antes de ocupardes uma cadeira de Mestre na Sorbonne, é preciso passar pelo Liceu e pela Faculdade. p 21”
Magia é... A aplicação da VONTADE às forças HIPERFÍSICAS (ou metafísicas) da natureza. Estas forças hiperfísicas diferem das FORÇAS FÍSICAS no que se refere à sua essência energética: as forças físicas são puramente mecânicas enquanto, as hiperfísicas são psico-orgânicas. Nas palavras de Papus, “as forças hiperfísicas... são produzidas por seres vivos em vez de o serem por máquinas" (PAPUS, p 22, 23).
São exemplos de forças físicas: calor, luz, eletricidade. São forças que tocam os sentidos físicos e se relacionam às percepções comuns dos olhos, ouvidos, tato, olfato e paladar. Já a força hiperfísica manifesta-se especialmente por meio do PENSAMENTO-VONTADE capaz de controlar a vitalidade ou fluxo de energia vital.
"Reichenbach provou, desde 1854, que os seres animados e certos corpos magnéticos desprendiam, na obscuridade, eflúvios visíveis para os sensitivos. Estes eflúvios constituíam para Reichenbach a manifestação de uma força desconhecida que ele chamou OD. ...Há, na Índia, seres humanos adestrados ...no manejo destas forças hiperfísicas ...” (Idem, p 23). Papus descreve a experiência de um faquir capaz de promover o desenvolvimento de uma semente em planta adulta em poucas horas usando tão somente seus eflúvios vitais.
"A vontade do faquir pôs em jogo uma força que anima em algumas horas uma planta, que só um ano de cultura poderia conduzir ao mesmo resultado. Ora, esta força não tem dez nomes para um homem de bom senso; ela chama-se simplesmente VIDA... A vontade do faquir atuou sobre a Vida adormecida no vegetal e não só pôs esta força vital em movimento como também lhe forneceu elementos de ação MAIS ATIVOS que aqueles que habitualmente a natureza fornece. O faquir nada fez de sobrenatural. Ele apenas precipitou um fenômeno natural: fez uma experiência mágica, mas nada produziu de contrário às leis da Natureza. Mas que meios utiliza o faquir para ativar uma força latente na planta? A ciência oculta ensina que o faquir utilizou sua própria FORÇA VITAL. Isso demonstra que a vida pode "SAIR" DO SER HUMANO E AGIR À DISTÂNCIA." (PAPUS, p 23, 24) .
Pelo exposto podemos dizer que magia é "a ação consciente da vontade sobre a vida" ...Para distinguir as forças de que se ocupa a Magia das forças físicas chamaremos as forças mágicas de forças vivas. A Magia é a aplicação da VONTADE HUMANA, dinamizada (concentrada e direcionada) à evolução rápida das forças vivas da Natureza, direcionada para a produção de fenômenos coerentes com as leis da natureza." (p. 26)
-Continua-
(Trechos do TRATADO ELEMENTAR DE MAGIA PRÁTICA- Gerard Anaclet Vincent Encausse - Papus)