Na introdução de A Missão da Umbanda, Ramatís exprime uma visão simples e sintética porém verdadeira e fundamental quanto à universalidade da Umbanda e sua maravilhosa qualidade de transpor sectarismos, aceitar membros oriundos de todas as religiões, de não impôr sua doutrina para prestar caridade aos necessitados, de ser, enfim, uma religião unificadora e aglutinadora, e não separatista e isolacionista. Deixemos que Ramatís fale com suas próprias palavras:
” Observamos na Umbanda praticada nesse Brasil-continente grandes magos, supremos sacerdotes dos mistérios, regentes dos tronos, pai ou mãe donos dos orixás. E assim, este caboclo atlante[1] enfeixado na vibratória de Ogum olha para o fundo do terreiro e enxerga lá, sentadinho e agachado num cantinho discreto, um(a) preto(a) velho(a) iluminado que nunca encarnou na Terra dos homens, espírito transmigrado de Sírius[2], como tantos outros humildemente escondidos atrás de uma aparência frágil de negro curvado, adotando mais um nome simbólico de João, Benedito, Tomé, Guiné, Maria Conga, Catarina, Benta…, que os colocam como mais um tio, vovô, tia ou vovó, despersonalizando-os e liberando-os da escravidão do ego inferior. Esse discreto espírito que se molda na forma de um pai velho derrama lágrimas geradas do amor que sente pela Divina Luz e pelos descaminhos atávicos dos homens que se envaidecem no pequeno planeta azul.
Nesse momento pensamentos comuns se fixam fazendo-nos refletir em uníssono:
– umbanda não é grandiosidade de magos, é diminuição de vaidades frente às equânimes leis evolutivas;
– umbanda não é mistério, é simplicidade;
– umbanda não tem magno trono, tem toco de preto velho;
– umbanda não tem cetro de poder, tem o balanço do caboclo;
– umbanda não dá curso pago, ensina gratuitamente os segredos;
– umbanda não tem pastor de rebanhos, conduz à auto-iniciação resgatando a criança divina interna de cada um;
– umbanda não tem insígnia sacerdotal que exalta, sim vontade de servir o próximo que iguala;
– umbanda é caridade e não mata pelo orixá, ela vivifica os seres na vibração de exu guardião;
– umbanda só tem um maioral, Jesus, o Mestre dos mestres, que se igualou aos excluídos dos templos e religiões de outrora.
As lideranças da umbanda devem aprender a ouvir as muitas vozes de Aruanda que expressam sua diversidade, sabendo interpretar a dinâmica de seu movimento, canalizando-o para a convergência que unifica. As diferenças de ritos e formas não devem separar e excluir, e sim aglutinar e incluir. Sua força sonora, unificadora, vem de baixo para cima, de todos os aparelhos e terreiros para os líderes, por meio de centenas de milhares de espíritos que se comunicam pela voz do canal da mediunidade, e que labutam pela caridade. Ao contrário, serão poucas vozes para muitos ouvidos – do cume para o sopé da montanha -, tentando dominar, impor rituais, liturgias ou doutrinas, gerando a divisão separatista em vez do respeito às diferenças, que os unem.
A umbanda dá oportunidade a todos para auxiliarem na caridade e também para evoluírem, assim como permite que todas as raças, indistintamente, labutem em seus templos, seguindo um compromisso recíproco que refulge sobre as frontes movidas pelo sentimento amoroso de amparo ao próximo. A umbanda fica acima das temporalidades que separa, a favor da perenidade espiritual que nos liga à grande fraternidade universal movida pela maior das religiões: o amor.”