Mesmo que os mais céticos não concordem, é impossível não sentir que a música é uma terapia que está ligada à espiritualidade, de alguma forma, desde os tempos mais remotos da humanidade. Tanto música quanto espiritualidade agem por vibrações, onde cada indivíduo vai captar da forma que melhor convém para si. O som é um dos fenômenos da natureza mais intimamente ligado às pessoas, assim como a visão, o tato etc.
Recebemos o som desde nossos primeiros instantes de vida. Com o tempo, a percepção sonora tende a se expandir, embora não seja isto o que ocorre com as pessoas ou, pelo menos, com a maioria delas. Muitas pessoas, ao contrário, perdem esta sensibilidade do ouvir, do escutar, com o passar do tempo. Ouvem, mas não escutam. Estamos tão cercados de sons por todos os lados que ocorre, por exemplo, o tal do “mascaramento do som”, ou seja: ouvimos aquilo tudo o que está à nossa volta, inevitavelmente, mas só escutamos aquilo o que nos chama atenção e / ou aquilo o que nos convêm.
Exemplo: Uma sala de aula com ventilador e barulho de alguns alunos que passam pelo corredor. Você escuta ao professor, que está ali dando sua aula, mas não ouve o som do ventilador e da voz dos alunos que estão no corredor ao longe. Estes sons são mascarados pelo som da voz do professor, que tá em primeiro plano, ou que seria mais ” importante” ali, naquela hora. Mas aqueles outros sons existem. Mas não os percebemos.
Expandir e aperfeiçoar nossa percepção audível requer treinamento, atenção e sensibilidade. É difícil encontrar alguém que não goste de ouvir os sons, seja os da própria natureza, seja aqueles produzidos pelo homem. Qualquer pessoa sente de onde “vem” um som, seja uma nota musical, uma explosão, a voz humana ou um simples ruído (conceito de paisagem sonora) e isso inclui pessoas com deficiência ou dificuldade audível ou até mesmo na falta total de audição. Essa percepção deve-se a uma característica fundamental do som, que é sua origem, sua essência: vibrações. E não só de som, enquanto elemento físico, e de vibrações que vive o som. O som leva à sinestesia, que é a capacidade pela qual uma mensagem veiculada num determinado código incorpora sensações pertencentes a um outro. É isso o que acontece com o som: o som é uma mensagem que tem cor (visão), tem textura (tato) , tem cheiro (olfato).
Através da vibração, de um timbre, sabemos se a música é áspera, macia, calma, branca, azul, multicolor e por assim vai…
Vibração é o som que você não “ouve”. Ou melhor, é exatamente aquele que você ouve com os ouvidos e sente na própria pele e no coração! Acontece que não é só o ar que nos cerca que vibra quando uma onda sonora se propaga. Quase todo e qualquer corpo vibra, mais ou menos, dependendo da densidade, do seu volume, da sua forma e da característica da onda que o atinge.
Certamente você, que mora em apartamento, não gosta nem um pouquinho daquela vibração que vem do andar superior (ou do inferior) quando o vizinho deixa cair um objeto ou alguém sai batendo pregos nas paredes. Essa vibração é por choque. Paredes e lajes também vibram e são grandes transmissoras dessas vibrações, que se reproduzem através do prédio.
Mas não é só aí que as coisas vibram. Peças isoladas, como pequenos objetos, copos de vidro, quadros e outros, vibram intensamente ao receberem ondas de pressão sonora. Se objetos inanimados vibram, imagine nós seres vivos, com fluxo respiratório, fluxo de água no corpo, tendo consciência do que estamos ouvindo!
Imagine só então interagir sinais vitais característicos dos seres vivos com estas vibrações cheias de significados!
Cada objeto tem sua característica própria, como o tipo de material de sua composição, sua forma construtiva, densidade etc. Então, cada um tem sua própria freqüência de vibração. Cada um na sua freqüência!
Nosso corpo vibra, nossas células vibram, somos constituídos por átomos, que por sua natureza estão sempre vibrando, dançando, circulando, assim como a dança dos elétrons, a dança cósmica do universo, a dança na roda de fogo de Shiva Nataraja. Tudo flui, tudo muda, tudo está em constante movimento: ciclo cibernético – nada se repete. Cria-se, renova-se. Não nos banhamos no mesmo rio duas vezes. Diferentes sons vibram em diferentes partes do corpo e afetam os nossos vários chacras.
O mais básico pode ser trabalhado com vogais do tipo o som de “Aaa”, que vibra mais no peito – o quarto chacra ou chacra do coração. O som “Ôôô” ressoa profundamente na barriga, no plexo solar, e “Êêê” na cabeça. Existem diferentes tons e sons para ressonar com os chacras.
Estudantes em fonoaudiologia e do próprio som e suas características, comprovam esta existência e a ligação entre o som e o estado psicológico, e até mesmo biológico, em cada ser. Falando genericamente, pode-se dizer que, quanto mais alto o tom, mais alto é o chacra que ele está vibrando. Por exemplo, sons de percussão “martelam” o chacra do sexo. Esse é um dos motivos que nos faz pirar nas festas onde toca o “boom boom putz putz” do techno trance. Sentimos como se estivéssemos acordando a nossa energia sexual, é por isso que gostamos destes ritmos que batem profundamente. Não é por acaso que nosso país é regido pelo samba!
Outro fator interessante é que, muitas vezes, o número de batidas por minuto (BPM) de um determinado ritmo nos conecta ao pulsar dos batimentos cardíacos, transportando nossa memória a uma época em que você se comunicava com o mundo externo somente através das vibrações; o útero materno.
Existem técnicas de meditações dinâmicas com músicas onde o ritmo usado costuma ser até sete vezes mais rápido que a freqüência cardíaca num estado de repouso, ou seja, nos faz acelerar pela inércia que o ritmo da música nos causa. Diferente para flautas e instrumentos de corda, que acalmam e tocam o chacra do coração, a música clássica indiana provoca os chacras mais altos, por isso a cítara é muito usada na Índia.
Sons de água também nos levam a relembrar o útero materno e nos dão uma sensação de conforto e relaxamento, e até envolve uma sensualidade, pois a água está relacionada a todo o fluir da vida. Mas os efeitos também dependem do estado do ouvinte. Basicamente, qualquer som tem a capacidade de liberar uma energia bloqueada. A melhor maneira de permitir que isso aconteça é aceitar quaisquer sentimentos que estejam conectados com aquele som. É claro que existem sons, como uma explosão, que simplesmente são demais e o corpo se fecha para se proteger.
Com a música, que transcende a matéria, algumas partes do corpo liberam tensões e emoções; outras se abrem e absorvem os sons. Eles são como alimento para a alma. Uma sílaba muito usada desde a criação do universo é o OM ou AUM. O OM ou AUM, é o som mais sagrado para os hindus e é a semente de todos os Mantras ou Orações. É, especificamente, uma forte vibração. Todos os mantras indianos (orações) começam com OM.
OM é a chave da conexão transcendental, é a primeira de todas as vibrações. O ¨3¨ representa a trindade dos deuses da criação, da preservação e da destruição; é a tríade que aparece em todas as religiões deste plano material, assim como em nome do “pai, filho e espírito santo”. O “O” é o silêncio de alcançar Deus, o Nirvana.
Texto de Gil Mahadeva