Que cada um desperte em si a consciência que só nossos caboclos podem nos dar.
Um dia, dois jovens guerreiros Sioux estavam caçando nas pradarias do Minesota. Ao subirem uma colina em busca de caça, eles foram surpreendidos ao verem uma jovem mulher, muito bonita surgir diante deles numa nuvem. Retendo o fôlego, eles a observavam. Ela trajava vestes feitas de corça branca. Levava a tiracolo uma sacola de pele e uma pele de búfalo em uma das mãos. Uma pena de águia, trançada nos seus longos cabelos negros, reluzia à luz do sol. Não tema, ” disse a mulher, ” eu trago paz e felicidade para vocês. Agora me falem, por que vocês estão longe de sua aldeia?”
A graça a beleza dela, incendiou o guerreiro mais velho com pensamentos lascivos, que calou-se. O mais jovem, então respondeu:
– Nossa aldeia está com falta de comida. Nós estamos caçando.
– Aqui – ela disse -, leve de volta este pacote aos seus. Diga para os Chefes das sete fogueiras da sua tribo, para reunirem-se na fogueira do conselho e esperarem por mim.
Ao escutar essas palavras, o mais velho deu voz ao seu desejo de acasalar-se com ela, ali mesmo na pradaria, debaixo do sol. No momento em que o guerreiro mais velho tentou agarrá-la, a mulher envolveu-o na pele de búfalo. Uma nuvem envolveu o corpo dele, e quando o pó assentou, no lugar do guerreiro havia um esqueleto recoberto de vermes.
Foi então que Mulher Búfalo Branco, falou ao jovem guerreiro:
– O homem que olha primeiro a beleza exterior de uma mulher, nunca conhecerá sua beleza divina, pois ele é um cego. Mas o homem que primeiro vê a beleza de seu espírito e sua verdade, esse homem conhecerá o Grande Espírito nessa mulher; se ela quiser deitar-se com ele, ele compartilhará com ela um prazer mais pleno do que poderia imaginar.
– Você, quando me olhou, não ficou cego com a minha beleza, mas seu primeiro pensamento foi: ‘Quem é essa mulher?’ ‘De onde ela vem?’ ‘Será ela uma mulher sagrada?
– Meu jovem, você também terá o que deseja.
– Você e seu amigo simbolizam dois caminhos que os homens podem seguir. Se procurar primeiro a sagrada visão do Grande Espírito, estará vendo da mesma maneira que o Criador, e por isso você saberá que aquilo que necessitar da terra chegará às suas mãos. Mas se preferir seguir primeiro, esquecer o Grande Espírito, satisfazer os seus desejos terrenos, você morrerá por dentro.
Foi então que o jovem guerreiro resolveu perguntar quem era ela.
Ela olhou profundamente nos olhos dele e respondeu:
– Eu sou o Espírito da Verdade. Seu povo me conhece como a Mãe dos Mais Velhos; mas como você pode ver, não sou tão velha assim. Sou a Grande Mãe, que vive dentro de cada Mãe, a moça que brinca em cada criança. Sou a face do Grande Espírito, que seu povo esqueceu. Vim para falar para as nações da planície. Vá para sua aldeia e prepare a minha chegada. Tenho algumas coisas a ensinar, coisas sagradas que sua tribo esqueceu.
O jovem então correu ao seu povo, para transmitir a mensagem de Mulher Búfalo Branco aos Chefes das Sete Fogueiras de sua tribo. Após ouvirem o jovem, toda tribo começou a trabalhar numa enorme cabana, coberta de muitas peles, na qual toda tribo pudesse se reunir.
Quando viram Mulher Búfalo Branco se aproximando pela pradaria, ficaram atônitos. Esperavam por alguém de mais idade. E ela parecia uma donzela, graciosa como a relva que se movia em torno dela no crepúsculo. Seu rosto brilhava como uma luz que falava das flores e das mais finas ervas.
Descalça, como sempre andava nas sua viagens pela terra, ela entrou na grande cabana. Seu vestido de pele de Búfalo Branco irradiava a presença de seu espírito. Sem dizer um palavra, andou em círculo em torno do fogo que ardia no centro da cabana. Cada vez que seu delicados pés tocavam a areia ao redor do fogo, os que a observavam sentiam que cada gesto seu era uma prece de profunda reverência à terra.
Devagar, em silêncio, ela contornou o fogo sete vezes.
Quando por fim ela falou, sua voz era como a canção dos pássaros das pradarias.
– Sete vezes, andei em sete círculos em torno deste fogo, em reverência e silêncio. O fogo simboliza o amor que arde para sempre no coração do Grande Espírito. É o fogo que aquece cada criatura no mundo. Vocês são como um ser único. Esta cabana, feita de muitas peles, é o corpo de vocês. O fogo que arde no centro dela é o amor de vocês.” Parou um momento e, devagar, curvou-se para tirar um graveto incandescente das chamas. “Este fogo é mais forte que qualquer um de vocês. Seu povo esqueceu, o que é mais precioso que a água. Vocês esqueceram suas ligações com o Grande Espírito. Eu vim”, disse ela erguendo o graveto, “como um fogo do céu para reavivar a memória daquilo que foi, e fortalecê-los para os tempos que virão.
Pousou novamente o graveto no fogo e pegou uma sacola de pele que trazia.
– Nesta sacola, trago um cachimbo para ajudá-los a recordarem os ensinamentos que eu trago. Tratem-no sempre com respeito. Levem-no sempre em sacolas das mais finas peles, enfeitadas pela mãos mais reverentes. Ponham neste cachimbo um tabaco sagrado plantado especialmente para esse fim. Fumem-no com um sentimento de gratidão ao Grande Espírito, de cujo sopro vocês receberam a vida. Usem o fumo para representar seus pensamentos, suas orações e aspirações ao Grande Espírito.
Até então ela ainda não tinha aberto a sacola na qual estava o cachimbo. Desatou as tiras de couro que a amarrava, e retirou o cachimbo com tal reverência que todos que estavam na cabana, sentiram o coração transbordando e os olhos cheios de lágrimas.
– Este cachimbo sagrado, e cada tragada de fumo sagrado que vocês inalam pelo seu tubo, ajudará vocês a recordarem que cada sopro de vocês é sagrado. O fornilho do cachimbo é feito de pedra vermelha. Tem o formato de círculo. Simboliza a Roda Sagrada, o sagrado círculo da vida, o dar e receber, da inalação e da exalação, pelo qual todas as coisas vivas ingressam na vida pelo poder do Grande Espírito.
Pedindo um pouco de tabaco, Mulher Búfalo Branco colocou-o no fornilho do cachimbo dizendo:
– Este tabaco, simboliza o mundo das plantas, o musgo das pedras, as flores, as ervas, as folhas das relvas que cobre a colina para que sua mãe não repouse nua ao sol. Vocês estão aqui para cuidar da terra. Suas vidas são acesas pelo mesmo fogo que arde no coração do Grande Espírito.
Assim falando, ela colocou um pequeno graveto no fogo para que ardesse como chama viva.
– Da mesma forma que acendo esse graveto no grande fogo, assim todo ser humano é uma chama que faz parte do fogo eterno do amor do Grande Espírito.
Devagar, ela tirou o graveto em chamas do fogo, e ergueu-o para que todos o pudessem ver.
– Quando vocês viverem em harmonia com o Grande Espírito, sua chama de amor será vivida sempre por aqueles ventos espirituais. Vocês serão tomados de amor pela própria razão da vida! Acenderão o fogo do amor em todos os que encontrarem. Conhecerão o propósito de sua travessia por esse mundo e saberão que o Grande Ser deu uma chama da vida a todos: não para guardarem sua pequenina chama somente para si, amando apenas aquilo que é necessário às suas vidas, mas sim para que pudessem dar o seu amor, e com o fogo desse amor trazer consciência para a terra.
Dizendo isto, ela segurou o graveto bem em cima do fornilho vermelho do cachimbo. Encostou a chama bem no centro do cachimbo, aspirando suavemente pelo tubo até o tabaco incandescer. O cheiro do fumo invadiu o ambiente.
– Assim como o tabaco queima neste cachimbo de terra que representa as plantas – continuou Mulher Búfalo Branco- , assim também esse búfalo que vocês vêem entalhados no fornilho de pedra do cachimbo representa as criaturas quadrúpedes que compartilham com vocês esse mundo sagrado. As doze penas que pendem o tubo do cachimbo representam os seres alados com os quais vocês compartilham o grande círculo do céu.
Em seguida ela passou o cachimbo ao chefe do conselho dizendo:
– Tomem este cachimbo. Agradeçam ao Grande Espírito, e passem o cachimbo aos outros do nosso círculo. Que seus pensamentos sejam elevados ao Grande Espírito que vem agora mexer com suas memórias, abrindo os olhos de seus narradores. Cada amanhecer que nasce vermelho no céu do leste, como o fornilho vermelho deste cachimbo, é o nascimento de um novo dia, de um dia sagrado. Lembrem-se sempre de tratar cada criatura como um ser sagrado: as pessoas que vivem além das montanhas, os pássaros, os peixes e os outros animais, todos eles são irmãs e irmãos de vocês. Todos constituem parte sagradas do corpo do Grande Espírito. Tudo é Sagrado.
Neste momento, o cachimbo começa a ser passado de mão em mão. Depois que todos que estavam na cabana deram uma baforada, Mulher Búfalo Branco levantou com reverência o cachimbo para que todos vissem.
– Levem sempre o cachimbo com vocês. Trate-o como um objeto sagrado. Honrem todas as criaturas e vivam suas vidas em harmonia com o Caminho Sagrado do Equilíbrio de que fala cada árvore, cada flor e cada novo dia. Haverá muitas estações nas quais o coração de vocês se sentirá claro e puro como uma nascente nas montanhas, e vocês conhecerão a paz e a alegria do Grande Espírito. Mas, se vocês sentirem que se afastaram da trilha do Caminho Sagrado, se seus corações passarem a pesar dentro de vocês, não percam tempo em arrependimento. Ensinar-lhe-eis uma cerimônia,” disse ela acendendo o cachimbo mais uma vez no fogo sagrado, “uma cerimônia que cada um de vocês pode fazer em companhia de outros, a sós em suas tendas, ou lá fora, na pradaria.
Ela deu uma pequena baforada no cachimbo e disse:
– Parem suas atividades. Procurem uma pedra sobre a qual sentar. Rogando orientação do Grande Espírito. Acendam o cachimbo e deixem que o fornilho vermelho lhes lembre a sagrada escritura, o caminho da vida, o trilho vermelho do sol. Depois de ter aspirado seu fumo em honra do Grande Espírito, em honra da Mãe Terra, em honra dos animais e das pessoas que são fiéis à realidade, depois de ter dado graças as quatro direções, então aspirem uma vez mais para pedirem orientação aos grandes seres alados do mundo dos espíritos. Peça-os para ajudá-los a ver o melhor procedimento a seguir. Peçam para que eles ajudem a vocês fazerem a escolha mais sábia e a reconhecer os passos que devem tomar na trilha que seu EU mais profundo escolher para vocês. Isso permitirá que o fogo que arde dentro de vocês fale em termos claros, sem interrupções. Peça que os seres espirituais que os cercam, entrem em sua vida. Diga-lhes que desejam ajudá-los e ao Grande Espírito no seu trabalho, e perguntem-lhes como fazer isto. Ao ajudarem o Grande Espírito, vocês se ajudarão. Os seres humanos não são inteiramente felizes nem saudáveis senão quando servem aos propósitos para os quais o Grande Espírito os criou.
Novamente ela entregou o cachimbo, para que fosse passado de mão em mão. Durante muito tempo, Mulher Búfalo Branco permaneceu em silêncio, mesmo após ser completado o círculo de baforada no cachimbo. Quando falou novamente, comparou seus ensinamentos a uma árvore; uma árvore que iria florescer à medida que tomavam a si essas coisas, plantando-as no coração de cada um e aplicando-as no dia a dia.
– Durante longo tempo,- ela continuo-o -, vocês viverão sob a sombra sagrada da Árvore da Compreensão que estou plantando nas suas consciências. E, nas gerações vindouras, seu povo estará unido novamente no Sagrado Círculo da Vida. Infelizmente, essa árvore será derrubada depois de algumas gerações. A árvore parecerá morrer. A Roda Sagrada murchará até ser esquecida. Alguns poucos manterão a luz da verdade ardendo nos seus corações, mas a luz será fraca e, mesmo neles, passará a ser uma brasa pequena e imperceptível.
Guardando o cachimbo na sacola, ela continuou:
– Mas a brasinha permanecerá. Em silêncio, continuará. Mesmo quando vocês tiverem sua terras invadidas, vendidas e roubadas. Essa brasa ainda manterá sua luz acesa, e saibam, meu povo que um grande fogo pode sair de uma única brasa!
– Quando a tempestade passar, essa brasa acenderá um alvorecer mais forte do que qualquer outra alvorada. Uma nova árvore crescerá, mais gloriosa do que esta que agora deixo com vocês. Com o novo alvorecer, eu voltarei e viverei com vocês. Debaixo da sombra dessa árvore, estarão reunidos não somente as tribos vermelhas, mas as tribos brancas, as tribos negras e as tribos amarelas, vindo de todas as direções. Em harmonia, as quatro raças viverão sob os ramos da nova árvore. Tudo que foi quebrado será refeito por inteiro. A Roda Sagrada será consertada. A comida será farta e os espíritos de todas as criaturas alegrar-se-ão na harmonia de uma nova ordem, perfeita. O Grande Espírito, estará atuando dentro das raças, vivendo, respirando, criando através dos povos da terra. A paz virá as nações.
Despediu-se dizendo que voltaria um dia, então transformou-se num Búfalo Branco, e sumiu envolta nas nuvens e nunca mais foi vista.
“Grandes mudanças estão a caminho com o nascimento do Búfalo Branco.”
Com o nascimento de um Búfalo Branco, em 1994, em Janesville, no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. Torna-se mais próximo o cumprimento da profecia sagrada de que irá surgir uma nova idade de unificação e espiritualidade global, enchendo-nos de uma esperança maior para o novo milênio.
Da’Naho! (Assim seja)
Uma lenda antiga xamanica que muito nos ensinam.
O lado xamanico tão presente e vivo em nossas rodas de Oxossi. by Cris.
Paz e Luz a todos…
E viva meus ancestrais, viva o povo indígena, que tanto nos ensina com sua sabedoria e amor a natureza.
Cristina Alves
Templo de Umbanda Ogum 7 Ondas e Cabocla Jupira.