A relação teórica que o moderno espiritismo celebra com magia é passível, numa oportunidade ou noutra, de ser questionada. Por conseguinte, é preciso fornecermos aqui alguma resposta. Limitar-nos-emos a uma discussão sumária deste assunto já que parece a este autor não se tratar de algo de grande importância. Algumas palavras apenas serão suficientes para demonstrar de que forma tal relação existe.
Embora alguns autores tenham anteriormente pensado diferentemente, não há uma conexão real entre os fenômenos do espiritismo e os fenômenos que ocorrem na magia. Uma palavra separa uma classe de fenômenos da outra. Uma palavra que, entretanto, representa um grande abismo estabelecido entre as duas classes: vontade! Todos os fenômenos espíritas de transe e materialização são passivos. Estão totalmente além do controle consciente do médium que, de maneira alguma, é capaz de modificar, alterar ou mesmo fixar o tempo desses fenômenos que ocorrem a ela (por força de hábito diz-se ela; concebe-se automaticamente que um médiumseja uma mulher, embora haja exceções, é claro).
O mago, por outro lado, se empenha em treinar sua vontade de modo que nada aconteça em suas operações de luz sem sua utilização. Seja o que for que faça, é realizado de modo consciente, deliberado e com intenção plena. A única exceção importante em relação a isto ocorre quando a vontade se transformou num tal poderoso engenho taumatúrgico que toda a organização do mago se tornou inteiramente identificada com essa vontade, e todos os fenômenos de forma e consciência ocorrem automaticamente incluindo a extensão da vontade. Sua atuação pode ser comparada ao movimento de qualquer membro ou músculo que, embora ocorrendo fora da volição consciente, é todavia executado pela força da vontade. Mesmo relativamente ao que diz respeito ao que é chamado vulgarmente de “materialização”, o mago controla a aparição de um espírito. E não apenas isto pois é possível para ele fazer esse espírito aparecer mediante suas conjurações e limitar as atividades do espírito a uma certa área prescrita através do poder de sua vontade. A forma visível do espírito é composta das grosseiras partículas de fumaça de incenso, deliberadamente queimado com essa finalidade. Ademais, o mago detém o poder de fazer o espírito responder inteligentemente às perguntas e de bani-lo quando sua presença deixar de ser necessária. Isto se aplica, que fique reiterado, somente ao que concerne ao aspecto inferior do trabalho visto que evocações são universalmente reconhecidas como pertencentes aos graus mais baixos da técnica. E quanto à magia da luz ? Esta também está de acordo com a vontade mágica.
Quando advém aquela suprema crise na invocação na qual o ego é tornado passivo para o advento do noivo e, com temor e tremor ele cede seu próprio ser, essa renúncia é conforme uma determinação consciente e sob vontade. Estas poucas observações devem bastar para mostrar de maneira conclusiva que as duas ordens de fenômenos residem totalmente em planos diferentes e que não existe nenhuma conexão entre as duas. O espiritismo parece se referir quase que inteiramente à produção de fenômenos físicos, eles mesmos a finalidade desta produção, sendo que em qualquer caso esses fenômenos dificilmente conduzem a qualquer espécie de prova da sobrevivência e continuação da existência da alma. O outro sistema, a teurgia, diz respeito a um domínio nobre e ao desenvolvimento de grandes poderes no ser humano. O mago procura unir sua essência a uma realidade profunda, duradoura, na aspiração de um conhecimento espiritual, de modo que seja possível para ele apreender com sabedoria e intuição sua suprema imortalidade, incorruptibilidade e eternidade.
A fim de discutir o espiritismo inteligentemente é necessário voltar aos princípios fundamentais formulados em páginas anteriores. A teurgia concebe a remoção dos invólucros da alma após a morte do corpo físico de maneira idêntica à teosofia de Madame Blavatsky. Seguindo-se à morte do corpo, que é o veículo visível dos princípios superiores, o ser humano real, perfeitamente intacto embora subtraído do corpo físico, é impelido para o plano astral. Gradualmente ele ascende aos diversos palácios que foram autocriados pelo tipo de vida que acabou de ser vivida; nestes palácios ele repousa ante o Ancião dos Dias, assimilando sua experiência terrestre e transformando-os em recursos para uma nova encarnação. A magia, acompanhando a Cabala, abraça a idéia filosófica da reencarnação ou Gilgolem das almas. Realmente, na medida em que os magos vão em direção desta teoria filosófica sustentam que em certos estágios de desenvolvimento, quando o organismo humano se torna luminoso, refinado e sensitivo por meio de reiteradas consagrações e invocações, as lembranças de Neschamah com suas emoções e poderes mais elevados se infiltram em Ruach, trazendo consigo a clara lembrança de existências passadas.
Após a morte física, a trindade de princípios que é o ser humano verdadeiro permanece no astral encerrada no Ruach e seu Nephesch. A desintegração, já tendo sido desencadeada pela ocorrência da morte física, prossegue ainda. Nephesch, que é o veículo das paixões, emoções e processos instintivos, é então descartado da constituição. Permanece, contudo, como uma entidade nesse plano, animado até um certo ponto pelas forças e energias cegas com as quais ele entra em contato. Lenta mas continuamente ele se desintegra se deixado só, de modo que tal como o corpo físico é dissolvido reintegrando o pó da terra, Nephesch é dissolvido para os elementos do plano astral. Por esta razão, os teurgos proíbem visões e experiências nesse domínio astral inferior. Aí nada pode ser encontrado que possua valor espiritual visto que se trata do mundo da matéria em decomposição de Nephesch e da desintegração. Nephesh descartado, o ser humano interior encerrado em Ruach “ascende” às camadas intermediárias do astral, onde lentamente a essência dos pensamentos mais refinados, as experiências e emoções mais nobres são destiladas das partes mais grosseiras, sendo assumidas na própria natureza de Neschamah. Esta separação de afinidades concluída, são assimiladas e expandidas no astral divino, Amentet.
Neste momento é necessário mencionar o emprego do verbo “ascender” e outros verbos utilizados num sentido similar. Desnecessário salientar que um sentido metafísico é sugerido porquanto os planos subjetivos dos mundos invisíveis não estão dispostos um sobre o outro como os andares de um arranha-céu, nem se envolvem como as camadas de, por exemplo, uma cebola. Sendo metafísicos, todos os mundos se interpenetram e se fundem, o mundo físico ou mais externo sendo penetrado pelo mais interno e as esferas mais sutis. Ascender no astral, portanto, apesar de ser uma expressão literalmente enganosa, tem a finalidade de expressar o fato da partida de uma plano mais grosseiro efetuando-se uma subida a um mundo mais rarefeito e menos denso.
Ao considerar o espiritismo, a tradição mágica afirma que é com os cadáveres astrais ou Qliphoth, como são denominados, que os espíritas principalmente se ocupam. Através do transe passivo e negativo, os princípios mais elevados são forçados a recuarem, não deixando nenhum vínculo com os veículos inferiores do médiumou proteção para estes. A porta é franqueada à admissão de quaisquer entidades que se encontrem nas vizinhanças astrais. Já que as almas dos seres humanos e seres angélicos ascendem ao astral divino, a maior parte dessas entidades no astral inferior são os elementais mais grosseiros, os administradores dos fenômenos naturais e os Qliphoth em decomposiçãoou cascões adversos. Conseqüentemente, o transe espírita negativo fundamentalmente implica a obsessão dos resíduos em decomposição e restos imundos inerentes àquele plano. Diante disso a questão que se coloca é a seguinte: “Por que, se os espíritos que se comunicam com as médiuns são meros cascões astrais, acontece de ocasionalmente exibirem inteligência e razão? “
A palavra ocasionalmente é bastante gratificante. Um dos fatos mais correntemente mencionados pelos investigadores é a ausência de coerência e inteligência nas mensagens obtidas do “outro lado”. No caso, contudo, de se perceber um leve lampejo de inteligência nos absurdos verbais geralmente transmitidos aos médiuns, a explicação racional dada por Lévi é claramente aplicável. Lembrar-se-á que Lévi define a luz astral como o agente mágico, e que em sua substância estão registrados todos os pensamentos, emoções e ações. O corpo astral, um dos aspectos de Nephesch, sendo composto da matéria sutil da luz astral, participa da definição de Lévi. Numa página anterior, indiquei a conexão entre a concepção acadêmica formal do inconsciente e a concepção cabalística de Nephesch, do qual o corpo astral é um aspecto. Neste veículo, portanto, estão registrados todos os pensamentos que um indivíduo teve durante a vida, todas as percepções e sensações que experimentou e todas as ações que executou. Quando após a morte esse Nephesch descartado é galvanizado para a atividade de um aparente ser vivo, animado por inteligência através da energia deslocada tanto pelo médiumem transe quanto pelos pensamentos dos participantes da sessão espírita, esse cadáver astral pode exibir uma réplica da inteligência que em vida o utilizava.
Esse amplo esboço dá conta da maioria das comunicações recebidas via fontes espíritas, embora seja necessário afirmar com toda justeza em relação a essa, como em relação a todas as outras generalizações, que há exceções, embora os médiuns capazes de penetrar os planos mais elevados do espírito sejam extremamente raros. O médium, uma vez tenha aberto a porta de sua organização astral e psíquica, é incapaz de controlar a si mesmo, e tampouco é capaz de empregar discernimento quanto ao que irá entrar ou não pela porta aberta e tomar posse de sua personalidade.
Naturalmente, essas observações se referem unicamente aos casos nos quais os fenômenos são genuínos. Mas visto que há tantos casos de fraude e embuste deliberados, pode-se recorrer às afirmações que acabamos de fazer que igualmente se prestam a explicar tais coisas. Sendo passivo, o médium não exerce controle do poder de produzir fenômenos quando a corrente psíquica é cortada, por assim dizer; e quando os fenômenos lhe são exigidos pelo recebimento de dinheiro, é coisa bem simples simular a possessão genuína. É mais simples ainda pronunciar um palavrório recheado de disparates que é favoravelmente comparável às mensagens recebidas dos “mortos”. Além disso, pelo fato de a entidade obsessora ser das mais baixas e das profundas da Terra, dificilmente se pode considerar sua associação com o médium edificante ou enobrecedor. Limita-se a ser uma influência nociva, causando a expansão e desenvolvimento de quaisquer tendências ou traços existentes no médium. Assim, a fraude, a decadência moral e o desregramento não requerem grande esforço.
Pode-se antecipar aqui uma explicação dos fenômenos físicos mais gerais, parte representativa do espiritismo, embora considerando-se que a teoria mágica desse assunto esteja em completo acordo com a de Blavatsky, há pouca necessidade de repetir tais teorias detalhadamente. Basta observar que a maioria das demonstrações psíquicas, quando autênticas, têm sua origem no comportamento e nos poderes do corpo astral. Definida a substância deste veículo como plástica, magnética e de grande força tensora, conclui-se que vários de seus membros, devido ao desenvolvimento anormal, podem ser exsudados do interior do corpo físico e estirados a alguma distância. Essa teoria explica o deslocamento de objetos sem contato físico, os fenômenos do Poltergeist e muitos outros de caráter similar. Quase todos se devem à perturbação do equilíbrio no aspecto substantivo de Nephesch. Obviamente não são espirituais e não comprovam nenhuma das reivindicações feitas a seu favor pelos espíritas.
No caso do médium esclarecida que, compreendendo a verdade intrínseca das observações feitas aqui, deseja reverter seus poderes passivos, a técnica mágica é recomendável. No espiritismo inexiste técnica de transe, como inexistem métodos de proteção ou seleção a serem empregados. Uma vez esteja a porta astral entreaberta a esmo, quem quer que entre pode fazer o que bem entender sem restrição. O médium está tão aberto à obsessão, e mesmo mais devido à natureza do plano astral, quanto à inspiração divina. Com a ajuda, entretanto, de algum dispositivo como o Ritual de Banimento do Pentagrama, essa predisposição para a obsessão elementar poderá ser facilmente eliminada. No interior de um círculo adequadamente consagrado, protegido com os nomes divinos formais, o médium pode induzir o transe sem medo ou perigo. A recitação de uma invocação apropriada de uma força divina e o assumir astral de uma forma de divindade antes do transe podem garantir uma categoria totalmente diferente de resultado, realmente pertencente a um plano muitíssimo mais alto. Enquanto que anteriormente o médium era uma presa indefesa de qualquer presença astral que visitasse sua esfera áurea, trazendo consigo contaminação e o odor desagradável de corrupção e abjeta putrefação, adotando-se métodos mágicos, tais excrementos podem ser eficientemente impedidos de invadir a esfera da personalidade. E não apenas isto, como também entidades de classe definida, de natureza divina e espiritual, completamente oposta aos ordinários “fantasmas” espíritas, poderão ser invocadas para o máximo proveito do médium e o crescimento de seu poder espiritual.
Não julguei adequado descrever muitos tipos diferentes de operações mágicas neste livro, visto que não ocupam nenhuma posição eterna na construção do santuário celeste. Tampouco dizem respeito às limitações próprias que têm que se circunscrever em torno do Templo da Magia Santa da Luz. A despeito de não estarem incluídos necessariamente na conotação da expressão Magia Negra, tais métodos fazem fronteira muito próxima a esse tipo de coisa. Visto que tendem para essa direção, são de pouca utilidade para o aspirante em busca de Adonai e da bem-aventurança dos deuses. Existem inúmeras operações menores para a aquisição de objetos que se deseja, como livros, ouro, mulheres e similares. Há operações de destruição e fascinação, adivinhação e transformação e assim por diante. Estas são apenas algumas que recebem absolutamente demasiada ênfase e atenção às expensas de assuntos mais importantes em engrimanços e livros de instrução inferiores. Divorciados de aspirações mais elevadas, são inteiramente reprováveis.
Um ramo razoavelmente importante da magia menor, embora não negra, é o controle dos Tattvas ou das correntes prânicas vitais que operam na natureza. Mediante o emprego dos símbolos de Tattvas, acompanhados por um conhecimento das horas específicas do dia quando essas forças adquirem preponderância e pureza, o mago que assim o desejar poderá abrir os portais do corpo e da mente às forças vivificadoras e reanimadoras dessas correntes ocultas. Através desses recursos, ele obterá descanso físico e psíquico quando estiver em maré baixa e em caso de desvitalização das forças de seu ser. No Livro dos Mortos são mencionadas muitas transformações mágicas das quais o khu ou entidade mágica no ser humano é capaz, e fórmulas práticas para a produção de tais transformações como em falcão, lótus, andorinha e assim por diante podem ser aí percebidas. Como tornar alguém invisível aos olhos dos outros, mesmo em meio a uma grande multidão, através da formulação de um invólucro astral é um outro ramo dessa magia cinzenta que existe entre a magia da luz e a negra. Não posso dizer que o aspirante ao Augoeides tenha muita utilização para tais realizações e poderes dúbios.
A natureza da magia negra, que parece preocupar grandemente tantos histéricos, consiste quase que inteiramente no motivo sustentado na mente do operador. Quando Lévi aborda este assunto e o da bruxaria em seus escritos ele se lança completamente numa tangente, e seus soberbos exageros coloridos com toda a rutilância e retórica à sua disposição tornam a leitura divertida. Que alguns o tenham citado em função desse assunto para uma interpretação literal, em lugar de descartá-lo como mera verbosidade, ultrapassa minha compreensão. Suas observações acerca do bode de Mendes e a veneração de Bafomé em conexão com os templários são simplesmente ridículas. Que comentário poder-se-ia fazer em relação às instruções absurdas fornecidas por ele como sendo os supostos passos dados por aqueles envolvidos com a arte negra, a não ser que seriam excelente material para os atuais thrillers ? Estou ainda para descobrir em que loja de departamentos pode-se comprar velas feitas de gordura humana. Que ser humano poderia ser obtuso ou louco o bastante para pensar em obter incenso misturado com o sangue de um bode, uma toupeira e um morcego? Outras necessidades horrendas são a cabeça de um gato preto recentemente morto, um morcego afogado em sangue, os chifres de um bode virgem e a crânio de um parricida! Ainda assim em seu Book of Cerimonial Magic, o Sr. Waite teve a preocupação de pronunciar uma advertência medonha contra a goécia juntamente com o desenho grotesco de Lévi do círculo goético para emprego com os “adereços” mencionados acima. Preparando-se para uma ofensiva devastadora contra a magia negra, Waite posicionou sua artilharia mais pesada quando, na realidade, um arremessador de ervilhas teria sido muito mais eficiente contra tal inimigo. Resta pouca dúvida de que Lévi estivesse “se divertindo às custas” de alguns leitores e que estivesse simplesmente cedendo seu talento para ritos lúgubres impossíveis, os rebentos de uma imaginação curiosa, embora exuberante.
O hipnotismo e o ato de privar uma outra pessoa de escolha ou uso da vontade constituem de fato uma das formas mais desprezíveis de magia negra. Aqueles que realmente empregam tais métodos deveriam ser cuidadosamente evitados pelo teurgo tal como ele faria com uma doença asquerosa. Os feitos absurdos ordinários relativos à confecção de filtros, poções e figuras de cera para trabalhos de fascinação ou maldade existem inteiramente abaixo da dignidade do mago sincero. O que pode talvez constituir verdadeira magia negra é o uso de selos e talismãs carregados feitos por uma pessoa que tenha adquirido poder mágico para a depreciação e dano de seu semelhante. Operações cujo objetivo seja evocar a sombra de um amigo ou parente falecido à manifestação visível consistem de manipulações da substância astral e carecem de qualquer finalidade útil visto que perturbam os tranqüilos processos de assimilação e construção de faculdades que se processam no astral superior após a morte física. Somente a vaidade insana e a curiosidade desordenada poderiam ser satisfeitas pela necromancia. Este ramo específico da bruxaria está aparentado ao espiritismo, embora para sermos totalmente verazes e justos tenhamos que admitir que os motivos deste último culto realmente se colocam num plano mais elevado e mais sincero. Em ambos os casos, entretanto, o motivo não é desculpa pois eles são uma abominação diante de toda a tendência dos processos da natureza.
Considerando-se que neste capítulo tratamos largamente do astral, desejo mais uma vez me referir à técnica da viagem astral que é procurada pelo mago. Constitui obrigação imperiosa para o teurgo investigar por completo, como foi exposto num capítulo anterior, em seu resplandecente e iridescente corpo de luz os níveis superiores da luz astral, aqueles que fazem fronteira com os mundos criativo e arquetípico. A ele cumpre também penetrar intrepidamente em todo santuário protegido daí, se familiarizando com a natureza essencial e os variados aspectos que esse plano apresenta, embora jamais deva perder de vista um importante fato a estar sempre presente em sua mente. É preciso que se esforce sempre para transcender esse plano. É tão-só um salão de aprendizado. Por mais necessárias que sejam suas lições, uma vez assimiladas e aprendidas a necessidade de permanecer nesse plano cessa, e as sempre esplêndidas Mansões do Fogo e da Sabedoria devem ser buscadas. O corpo de luz espiritualizado deve ser continuamente treinado e educado e sua substância deve ser tornada a tal ponto sensível e refinada que de um corpo vago, sem forma, lunar ele renasce como um corpo solar brilhante. É neste corpo que o mago pode ascender às translúcidas alturas espirituais e ao fogo amorfo que se encontra além.
É possível que à medida que o aprendiz diligencia suas investigações sistemáticas nesse plano no esforço de descobrir a natureza de sua composição psicológica, chegará a certos portais, defrontando-se com guardiões armados. A despeito do poder do pentagrama, dos gestos e signos mágicos, da invocação dos quatro anjos dos quadrantes e de outros dispositivos para ascensão e ultrapassagem, tais guardas, sob nenhuma circunstância, lhe darão o direito do ingresso, e tampouco lhe darão a permissão para atravessar os portais que guardam. Em The Candle of Vision é indicado o empenho de A. E. para descrever essa experiência de mística natureza. “Então eu fui novamente lançado longe num vórtice e eu era a figura mais minúscula em meio vasto ar, e diante de mim havia um portal gigantesco que parecia grandioso com os céus, e uma figura sombria ocupava o vão da porta e barrava minha passagem. Isto é tudo que consigo lembrar... “ Alguns mencionam ter este fato também sido experimentado pelo escriba do Livro dos Mortos já que naqueles capítulos que se relacionam aos nomes dos pilones, juntamente com os nomes das sentinelas, guardiões e porteiros angélicos algumas sugestões mágicas veladas de como passar por eles são dadas.
Nesse momento oportuno, antes de ir além neste assunto da ascensão nos planos, é necessário familiarizar o leitor com um aspecto importantíssimo da técnica astral que não se deve esquecer jamais. Os habitantes do plano astral reagem de duas maneiras diferentes e absolutamente distintas em relação ao pentagrama. A experiência dos modernos teurgos neste ponto é largamente corroborada por toda a tradição mágica dos antigos. Eles testemunham que quando em face da estrela flamejante de cinco pontas formulada pela vontade mágica alguns seres astrais se contraem perceptivelmente e parecem desvanecer. Uma outra classe de seres, contudo, cresce e se expande a ponto de abarcar todo o horizonte com esplêndida luminosidade e brilho. A experiência de todas as gerações de magos demonstra que o ser que se encolhe de medo do pentagrama ou foge é ou um demônio de face canina ou um elemental, tendo que ser tratados de maneira apropriada. Por outro lado, o ser cuja aparição não é afetada pelo pentagrama e o ritual de banimento conveniente, é uma inteligência espiritual, um anjo, um sublime ser celestial a ser respeitado, amado e venerado.
Uma variação do símbolo do pentagrama empregada por outras pessoas com um certo grau de sucesso é uma cruz dourada encimada por uma rosa carmesim. O simbolismo em ambos os casos é idêntico, embora alguns possam considerar que a cruz apresenta associações teológicas. É um sinal dos quatro elementos estendido aos quadrantes cardeais, enquanto que os coroa a rosa, símbolo da beleza, nobreza e vida espiritual, e alma. Na prática, sua aplicação é um pouco diferente daquela do pentagrama porque é menos simples formular a Rosacruz com o bastão do que com o primeiro símbolo; o mago interpõe em imaginação este símbolo entre o outro ser e ele próprio sem tentar traçá-lo.
O fato, portanto, de um anjo trajado de fogo e glória e portando uma espada afiada de chamas barrar sua entrada ao pilone deve fazer o teurgo se deter, e se deter para refletir pois parece indicar que até ali ele não está suficientemente purificado e sensível em seu corpo de luz para ser capaz de atravessar aquele pilone específico do qual é barrado. Deve se constituir sua obrigação solene considerar como necessidade primordial o meio pelo qual uma purificação ulterior pode ser efetuada. Deve-se infundir no corpo de luz uma substância espiritual proveniente de planos mais elevados e mais celestiais. O assumir persistente de formas divinas e a transmutação de sua própria forma astral naquela do deus e a identificação com o caráter sublime moral e espiritual do deus se revelará um método tão infalível quanto outros. Através deste método, a substância do corpo de luz no devido tempo passará a participar do esplendor e efulgência ígneos da substância do deus. Talvez a melhor forma divina a ser assumida com esse propósito seja a do Harpócrates sentado no lótus, o Senhor do Silêncio, que é o gêmeo de Hórus, Senhor da Força e do Fogo.
A forma convencional na qual é geralmente retratado é aquela de um bebê inocente, com o dedo no lábio, empertigado como um embrião acima de um lótus branco que surge do mar. Em torno dele há um azul escuro profundo semelhante ao do símbolo do Tattva do espírito, representando a noite que tudo abarca. O lótus é o símbolo perene da ressurreição e da eterna juventude e o bebê representa inocência, espiritualidade e supremo repouso. “O deus ‘sentado acima do lótus...’” afirma Jâmblico em The Mysteries (Os Mistérios), “...significa obscuramente uma transcendência e força que em absoluto não entram em contato com o lodo, indicando também seu império intelectual e empíreo, pois percebe-se que tudo que pertence ao lótus é circular, a saber, tanto a forma das folhas quanto o fruto; e só a circulação está ligada ao movimento do intelecto, o qual energiza com identidade invariável numa única ordem e de acordo com uma única razão. Mas o deus é estabelecido sozinho, e acima de um domínio e energia desta espécie, veneráveis e santos, superexpandidos e que residem nele mesmo, o que estar ele sentado visa significar. “ O assumir mágico desta forma, especialmente o circundamento do corpo astral pelo ovo azul-escuro ou índigo, tem poder suficiente para banir quaisquer influências indesejáveis porquanto eleva o mago acima desse domínio.
Essa técnica particular da forma divina da Harpócrates (Harpócrates acima do lótus – O Senhor do Silêncio)é especialmente significativa mesmo no que diz respeito à vida cotidiana. Quando se é assaltado por pensamentos indesejáveis e emoções de ódio pode-se conseguir alívio desta pressão e até assistência e resistência espirituais assumindo-se a forma desse deus. Por meio deste assumir nosso ser é transmutado para a configuração do deus e a mente é elevada além da pequenez mundana por assimilação do caráter e natureza da divindade. Isto implica, seguramente, numa força de imaginação e vontade, mas para a maioria das pessoas é mais fácil reter na mente imagens pictóricas do que uma idéia abstrata, qualquer indivíduo podendo ser treinado com um pouco de prática para visualizar uma forma tão simples e bela como o bebê acima do lótus. A única dificuldade passível de ser encontrada é a transfiguração do corpo de luz e a subseqüente identificação e união com o deus. Quanto a isto, naturalmente, o treinamento se mostra indispensável.
A vibração de nomes divinos constitui uma prática que sob nenhuma circunstância deve ser omitida já que à medida que se procede a este exercício os elementos grosseiros são forçosamente expelidos da constituição total, física, astral e moral, outros elementos mais refinados e sensíveis sendo introduzidos para tomar o lugar daqueles. Celebrações freqüentes da eucaristia constituem também um meio excelente de transmutar e exaltar a substância do ser total. Numa página anterior esta operação foi resumidamente descrita e para enfatizar recapitularei a teoria que se acha por trás. Divorciada de todo dogma, a essência da eucaristia é a seguinte: você toma uma substância simples como, por exemplo, uma hóstia de trigo, batiza-a com a sua mais elevada concepção de Deus, ou, conforme o caso, em nome de uma essência espiritual particular, consumindo-a a seguir. Deste modo, por meio de magia simpática, uma efetiva transubstanciação de elementos ocorre sob a pressão da vontade. Aquilo que era antes terrestre se torna celestial. Aquilo que era da Terra, mundano, é transformado numa coisa dos céus.
Uma hóstia de trigo e o vinho parecem se tornar quase que diretamente assimilados ao sangue, e absorvidos pelo próprio ego. Na realidade, isto é uma espécie de magia talismânica pois com a nomeação da substância o mago invoca a força espiritual em conformidade com aquele nome, e naquele telesmata físico de pão e vinho é essa força confinada como se fosse sua habitação terrena. O fato de tal telesmata ser consumido pelo mago introduz em seu ser um poder espiritual que em virtude de sua energia inerente expulsa elementos impuros de seu ser, elevando e transmutando o ser humano integral a um plano mais grandioso. Desta maneira se procede a transformação do corpo de luz de um escuro corpo lunar para um corpo solar, um organismo resplandecente, nítido e de forma bem definida, que fulgura como aço brilhantemente polido, capaz de atravessar todo pilone, penetrar os santuários mais zelosamente guardados e ingressando na lista de assistência dos guardiães angélicos. Com este corpo solar de substância espiritualizada, a veste deslumbrante do Banquete de Casamento, o teurgo não experimentará qualquer dificuldade para ascender nos planos a partir de Malkuth através do caminho de Saturno até a esfera do Fundamento.
Do Fundamento é possível para ele através da Seta da Aspiração e do Poder da Harmonia e da Beleza para cima – sempre para cima além do deserto infecundo do Abismo (Regardie faz referência à Sephira misteriosa Daäth) no qual ele monta o camelo cabalístico(Referência ao caminho de Gimel (camelo) na Árvore da Vida) recebido jubilosa e lisonjeiramente pela Rainha no Palácio do Rei, que é a Coroa (Kether, a Sephira mais elevada da Árvore da Vida) santa da Árvore da Vida. Chegado à Coroa, o mago não é mais. Não obstante, aí ainda existe aquela consciência superior da Vida Eterna que constitui a individualidade real do mago – aquela parte real dele da qual, talvez, tenha estado raramente consciente durante as suas vidas anteriores sobre a Terra – aquele espírito primordial e universal, que pulsa e vibra invisível no cerne do coração de todos.
Escreveu Porfírio que “as almas ao atravessar as esferas dos planetas vestem, como túnicas sucessivas, as qualidades desses astros.” Visto que os planetas e os signos zodiacais foram atribuídos à Árvore e estão incluídos na implicação das dez Sephiroth, o mago por meio desse processo da ascensão nos planos assimila as qualidades e características mais elevadas de cada planeta e cada Sephira. À medida que o skryer ascende à Luz suprema da Chama imperecível da Vida incorpora em si mesmo o poder inato dos planos pelos quais ele passa e como as características inferiores de seu ser são dificilmente compatíveis com a ígnea majestade impessoal do domínio celestial, são removidas deixando as características superiores como os augustos guardiães do campo da consciência. Todas as características dos mundos excelsos são sucessivamente assumidas pelo mago, e transcendidas até que ao fim de sua jornada mágica ele é fundido ao ser do Senhor de toda Vida. A meta final de sua peregrinação espiritual é o êxtase de paz no qual a personalidade, o pensamento e a autoconsciência finitos, mesmo a elevada consciência dos deuses supremos, declinam cabalmente e o mago se funde na unidade do Ain-Sof , onde nenhuma sombra de diferença ingressa.
Capítulo XVI
Ao começar esboçar e escrever este livro acerca de magia era a firme intenção do autor elucidar todos os processos mágicos tão simples e inteligivelmente quanto fosse humanamente possível e coerente com o tratamento exegético de um assunto sumamente difícil e complexa. Pelo fato de ter havido no passado tanta obscuridade deliberada e matéria propositadamente enganosa, pareceu a hora exata de produzir uma declaração que pudesse ser utilizada de uma vez por todas como uma exposição clara e definida. O autor espera ter sido fiel a essa intenção ao longo do texto, embora quanto a este ponto o leitor deva ser o único juiz. Ambigüidade e por vezes deliberada tentativa de ludibriar mediante o emprego de simbolismo difícil e a citação de extensas séries de nomes de autoridades têm caracterizado muitos livros de magia, pondo a perder qualquer valor que eles pudessem ter. Resta delinear neste livro uma fórmula secreta de magia prática de uma natureza tão tremenda – encoberta como sempre esteve no passado pelo deslumbramento de símbolos recônditos e oculta por pesados véus – que este autor está em dúvida se seria sábio ou político se ater a sua decisão original. Poderia, é claro, ter sido omitida do conteúdo geral, mas foi necessário incluí-la sob alguma forma a fim de tornar este tratado moderadamente completo na medida do que concerne aos principais, embora elementares aspectos da alta magia.
O método do qual nos propomos a falar aqui constitui uma fórmula tão poderosa da magia da luz e tão passível do abuso e uso indiscriminados na magia negra que se uma concepção de sua técnica e teoria é realmente para ser apresentada, a intenção original deste autor tem que ser descartada. Será preciso valer-se do meio de um simbolismo eloqüente que foi utilizado durante séculos para transmitir estas e idéias similares. E ao leitor deve se assegurar que o simbolismo não foi propositadamente desorganizado, nem foi tampouco tornado ambíguo, obscuro e destituído de sentido. Se meticulosamente estudados, os termos empregados revelarão uma coerência e uma continuidade que desvendarão às pessoas certas de um modo absolutamente preciso os processos de sua técnica.
A Missa do Espírito Santo! Assim é chamada esta técnica específica. É única em toda a magia pois nela está compreendida quase toda forma conhecida de procedimento teúrgico. Ao mesmo tempo, é a quintessência e a síntese de todas elas. Entre outras coisas diz respeito à magia dos talismãs. Por meio desse método uma força espiritual viva é confinada numa substância telesmática específica. Não se trata de telesmata morto ou inerte como acontece na costumeira evocação talismânica cerimonial, mas sim de imediato vibrante, dinâmico e contendo em germe e potencial a possibilidade de todo crescimento e desenvolvimento. De uma maneira muito especial, se refere, ademais, à fórmula do Cálice Sagrado. Um cálice dourado de graça espiritual é utilizado no qual a própria essência e sangue vital do teurgo têm que ser derramados para a redenção não de sua própria alma, mas que por intermédio disso toda a espécie humana possa ser salva. A euraristia também está implícita e o cálice é usado como a taça da comunhão, cujo conteúdo santificado – taumatúrgico e iridescente, em suma o vinho sacramental – tem que ser dedicado e consagrado ao serviço do Altíssimo. A oblação a ser consumida com o vinho eucarístico é, em função dessa interpretação, a essência secreta tanto do mago intoxicado quanto do supremo deus que ele invocou. Neste método está presente também em larga escala a técnica alquímica, visto que concerne majoritariamente à produção do ouro potável, a pedra filosofal e o elixir da vida que é Amrita, o rocio da imortalidade.
O leitor deve, acima de tudo, ter em mente a fórmula filosófica do Tetragrammaton, que é o método desta missa.Isto demonstra a necessidade de uma familiarização prática com os princípios numéricos da Santa Cabala, pois quanto mais conhecimento se possui, sistematicamente classificado no sistema indicador da Árvore da Vida, mais sentido e significação se vinculam à fórmula de Tetragrammaton. No capítulo em que se esboça a teoria mágica do universo as implicações gerais do Nome sagrado foram resumidamente explicadas relativamente a essas conexões. Estas idéias devem ser inteiramente assimiladas em relação à Árvore. Munido deste entendimento, o leitor deverá aplicar seus poderes ao esquema simbólico que se segue.
Ilustrando o cabeçalho de um capítulo no livro de Franz Hartman Secret Symbols of the Rosicrucians (Símbolos Secretos dos Rosacruzes) vemos um desenho de uma sereia irrompendo do mar. Suas mãos estão junto aos seus seios e dali brotam duas torrentes que retornam ao mar. Explicando esta figura Hartman escreveu que “... a figura representa o fundamento das coisas e sua origem. Trata-se de um princípio duplo da natureza; seus pais são o Sol e a Lua ; produz água e vinho, ouro e prata pela bênção de Deus. Se torturas a águia, o leão se tornará débil. As ‘lágrimas da águia’ e o ‘sangue vermelho do leão’ têm que se encontrar e se misturar. A águia e o leão se banham, comem e se amam. Eles ficarão como a salamandra e ficarão constantes no fogo.” Na elaboração do que foi dito acima os seguintes princípios podem ser postulados.
O Y (YOD) do nome sagrado neste sistema é chamado de leão vermelho e a primeira H (Letra Hé) é a águia branca. Concebe-se que estas duas letras sejam as representações de dois princípios cósmicos, dois rios de sangue escarlate que brotam dos seios da sereia para dentro do mar, duas torrentes distintas e incessantes de vida, luz e amor que procedem eternamente da própria Vida. Nelas reside o poder de tocar e comungar, fazendo um novo do outro, sem nenhuma ruptura das fronteiras sutis das torrentes ou qualquer confusão de substância. Em sua natureza são mutuamente complementares e opostas, e no entanto nelas está fundada a totalidade da existência. Todas as operações alquímicas de acordo com as autoridades requerem dois instrumentos principais: “um recipiente circular, cristalino, precisamente proporcional à qualidade de seu conteúdo” ou cucúrbita e “ um forno teosófico selado cabalisticamente ou Athanor. O Athanor é atribuído ao Y e a cucúrbita é uma atribuição da H.
Agora apesar do ouro puro que se menciona ser uma substância homogênea, una e indivisível, dinâmica e prenhe de possibilidade infinita, duas substâncias separadas são usadas em sua produção. Estas são denominadas serpente ou o sangue do leão vermelho e as lágrimas ou o glúten da águia branca. A serpente é uma atribuição da V **** do Tetragrammaton e o glúten é alocado à última H deste nome. Estas duas substâncias são a prole, por assim dizer, do leão e da águia. Os instrumentos alquímicos acima mencionados devem ser considerados como os armazéns ou geradores desses dois princípios divinos ou torrentes de rápido fluxo de sangue, fogo e força, o Athanor sendo a fonte ou veículo da serpente, o glúten estando alojado na cucúrbita.
A fabricação do ouro alquímico que é o rocio da imortalidade consiste de uma operação peculiar que apresenta várias fases. Pelo estímulo do calor e do fogo espiritual para o Athanor deve haver uma transferência, umas ascensão da serpente daquele instrumento para dentro da cucúrbita, usada como uma retorta. O casamento alquímico ou a combinação das duas correntes de força na retorta produz de imediato a decomposição química da serpente no mênstruo do glúten, sendo este a parte do solve da fórmula alquímica geral do solve et coagula. Junto à decomposição da serpente e sua morte surge a resplendente Fênix que, como um talismã, deve ser carregada por meio de uma contínua invocação do princípio espiritual compatível com a operação em andamento. A conclusão da missa consiste ou no consumo dos elementos transubstanciados, que é a Amrita, ou no ungir e consagração de um talismã especial.
Antes de prosseguir com a análise dos aspectos desta operação, gostaria de apresentar ao leitor uma citação na qual essa missa é repetida com certos detalhes, empregando a usual nomenclatura da alquimia. “Eu sou uma deusa de beleza e linhagem famosas, nascida do nosso próprio mar que rodeia a terra toda e que está sempre inquieto. Dos meus seios verto leite e sangue, fervendo-os até que se transformem em prata e ouro. Ó objeto o mais excelente, do qual todas as coisas são geradas, embora à primeira vista tu sejas veneno, adornado com o nome da Águia alada . . . . Teus pais são o Sol e a Lua; em ti há água e vinho, ouro também e prata sobre a Terra, que o homem mortal possa regozijar... Mas considera, ó homem, que coisas Deus te concede por este meio. Tortura a águia até que ela pranteie e o leão esteja debilitado e sangre até morrer. O sangue deste leão incorporado às lágrimas da águia é o tesouro da terra.” Isto, sem dúvida, é também explicativo da figura reproduzida por Franz Hartman.
Segundo certas autoridades, estima-se em termos aproximativos que a operação não deve levar menos de uma hora da invocação preliminar, com o aprisionamento da força nos elementos, até o ato de compartilhar a própria comunhão a partir do cálice consagrado. Às vezes, de fato, se requer um período muito mais longo, especialmente se houver a exigência da carga do talismã ser completa e perfeita. Deve-se ter grande cautela para evitar a perda imprudente dos elementos. Existe a possibilidade de efetivo vazamento ou um transbordamento da cucúrbita, e a assimilação ou evaporação dos elementos corrompidos no interior desse instrumento constitui também um acidente bastante deplorável.
Nunca é demais enfatizar que se os elementos não forem consagrados corretamente; ou em primeiro lugar se a força invocada não se impingir ou ficar inseguramente confinada dentro dos elementos, toda a operação poderá ser anulada. E poderá facilmente degenerar às profundezas mais inferiores, resultando na criação de um horror qlifótico que passará a existir como um vampiro atuando sobre os não-naturalmente sensíveis e aqueles inclinados para a histeria e a obsessão. Se o elixir for adequadamente destilado, servindo como o meio do espírito invocado, então os céus serão franqueados, e os portais se voltarão para o teurgo, os tesouros da Terra serão colocados aos seus pés. “Se o descobrires, cala e o mantém sagrado. Não confia em ninguém exceto em Deus.”
O problema do vínculo para ligar a operação mágica ao resultado desejado deve ser considerado em todos seus numerosos aspectos. Se a operação for daquelas que realmente exige um talismã exterior para a produção visível de seu efeito, um selo apropriado deverá ser construído de metal, cera ou sobre pergaminho. Pode ser consagrado e ungido com o elixir que foi criado através dos canais da Obra hermética. Esses selos e talismãs descritos na Chave de Salomão e em The Magussão para uma finalidade absolutamente adequada. Caso a operação proposta pelo teurgo seja pertinente às qualidades de Júpiter, um pantáculo apropriado deve ser preparado antes da operação. Durante a confecção do elixir, deve-se assumir a máscara divina de Maat e recitar uma conjuração do anjo ou inteligência necessários. No encerramento da missa, uma quantidade minúscula do rocio superior deve ser colocada sobre o sigillum ou talismã de Júpiter, carregando-o assim de uma força insuperável para a produção dos resultados desejados. Variações deste procedimento provavelmente ocorrerão com a prática.
Não se cogita da questão de um vínculo numa cerimônia conduzida visando uma finalidade na qual o circulo e o triângulo, por assim dizer, ou o demônio e o exorcista, ocupam o mesmo plano; ou seja, quando o teurgo trabalha exclusivamente sobre sua própria consciência sem referência à qualquer efeito exterior. A missa do Espírito Santo, num tal caso, tem automaticamente seu clímax pelo consumo dos elementos carregados, a força invocada encarnando dentro do mago como fato lógico, natural. É neste tipo de operação, acho, que a missa do Espírito Santo gera a maior quantidade de força e atinge o mais alto nível de eficiência.
Mesmo para operações ordinárias, a grande vantagem deste método é que é possível dispensar o cerimonial quase que completamente. O mago pode com absoluta facilidade executar o ritual do banimento no astral e as invocações podem ser silenciosamente recitadas de modo que nenhuma magia de natureza cerimonial possa ser percebida pelo profano. No caso, contudo, de operações em que o resultado desejado existe num outro plano ou exterior à consciência do mago, os efeitos nem sempre parecem se seguir com a mesma infalibilidade e seqüência como acontece nas operações subjetivas.
O exame de registros privados conservados por magos que utilizaram esse engenho mágico tendem a mostrar que seu melhor emprego é para trabalhos dentro da consciência do mago. É nestas matérias que a missa do Espírito Santo é o mais poderoso e eficaz. Para o desenvolvimento da vontade mágica, o aumento da imaginação e a invocação tanto de Adonai quanto dos deuses universais para que habitem o templo consagrado do Espírito Santo, dificilmente se pode conceber um método melhor ou mais adequado. Não implica em nenhum gasto de energia vital visto que qualquer energia assim utilizada na operação retorna ao fim ao mago ampliada e enriquecida com o nascimento da Fênix dourada, o símbolo da ressurreição e do renascimento.
O poder supremo atuante nessa técnica é o amor. Por mais banal que isto possa parecer, e por mais que esta palavra tenha se tornado vulgar, é preciso reiterar que o amor é o poder motivador, uma força de amor mantida sempre sob controle pela vontade e controlada pela alma. O poder destrutivo da espada e tudo aquilo em que implica a espada, o caráter dispersivo da adaga ou de qualquer outra das armas elementares, aqui não tem lugar. Este método, portanto, se recomenda como sendo dos mais excelentes. Visto que participa efetivamente do amor, pertence ao estofo e essência da própria vida.
Em operação essa missa é extraordinariamente simples. De fato, um mago observou que não é mais complicado do que andar de bicicleta, isto é, uma vez certas preliminares e o treinamento tenham sido concluídos. Mais do que qualquer outra coisa requer uma vontade peculiarmente potente e independente, sustentando, claro, prévia disciplina e uma mente que tenha sido treinada em concentração por longos períodos de tempo. Uma das peculiaridades dessa técnica é que a menos que se seja excepcionalmente cauteloso e alerta desde o início é coisa fácil para o mago perder o controle de seus instrumentos alquímicos e assim arruinar a operação inteira. Alegria na mera execução técnica da missa com a exclusão devido trabalho mágico constitui o grande e supremo perigo. Por outro lado, porque este elemento de prazer e alegria aqui realmente ingressa, esta técnica supera em excelência todas as demais. A mente tem que ser treinada na concentração sob todas as circunstâncias. Como uma preliminar à prática mágica deste tipo, a técnica da ioga se revela sumamente vantajosa. Pode-se até afirmar que para o verdadeiro sucesso em toda a magia é absolutamente essencial uma completa fundamentação na técnica da ioga.
Uma observação adicional não seria inoportuna. Superficialmente e à primeira vista pode parecer que entre esse tipo de operação mágica, descrito de maneira tão hesitante, e o trabalho cerimonial costumeiro há um grande hiato. É verdade que a missa do Espírito Santo constitui um avanço no funcionamento lento e embaraçoso do cerimonial, isto embora este último seja essencial no princípio do treino mágico. Este método é consideravelmente mais direto e incisivo, e devido à classe peculiar de energias que desencadeia sobre a natureza, seus efeitos são extremamente mais poderosos e de alcance bem maior do que os do cerimonial por si só. Entretanto, a despeito de subsistirem como duas categorias distintas de trabalho, podem com grande proveito ser combinadas e usadas uma em conjunção com a outra.
As autoridades alquímicas, as quais avaliaram esse método, têm como consenso geral que por mais que seja grandioso seus resultados não podem ser logrados sem a oração. Sem a oração sincera nada permanente ou divino poderia ser realizado. Por conseguinte, enquanto a operação da missa está em andamento e o fogo no Athanor se intensifica, uma invocação entusiástica, seja astral ou audível, deve ser pronunciada. É aconselhável que seja da natureza de um curto mantra apropriado à natureza e tipo do trabalho, de composição rítmica. A operação como um todo poderia ser precedida por uma invocação mais geral para legitimar o trabalho. À medida que o trabalho astral de criação progride, o mantra rítmico ajudará a formular e vivificar os moldes produzidos pela vontade e a imaginação, atraindo a força espiritual desejada. E então, quando a serpente é transferida do Athanor e a corrupção alquímica começa no glúten da águia branca, a cucúrbita será o receptáculo de uma nova substância, viva e dinâmica, contendo a marca indelével das invocações que terão dotado sua plasticidade e potencialidade de ímpeto avassalador numa dada direção. Conclui-se que se partilhando dessa substância que é o mercúrio filosófico, impregnado com uma inteligência de energia espiritual dinâmica capaz de produzir dentro dos limites de sua esfera a mudança desejada, a realização plena e satisfatória coroará a aspiração do mago.
Conduzida dentro de um círculo adequadamente consagrado, após um perfeito banimento, seguida por uma poderosa conjuração da força divina e o assumir da forma divina apropriada, a cerimônia pode se revelar detentora de poder incomparável para franquear os Portais dos Céus. Utilizando-se apenas a taça e o bastão como armas elementares, em associação com o mantra ou a invocação rítmica especializada, é raro que a missa falhe ou não produza efeito. Esta união de duas armas mágicas diferentes, bastante divorciadas como possam ter se afigurado num primeiro momento, aumenta a potência de cada uma delas já que combinam numa operação única os melhores aspectos e as maiores vantagens de ambas.
(Autor: ISRAEL REGARDIE)