quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Os Caboclos de Oxalá e os Caboclos Mistos


Antes de escrever sobre os Caboclos de Oxalá, inicio essa postagem citando um trecho extraído do livro "Magia dos Orixás" - de Diamantino Trindade - para explicar que todo caboclo que atua na vibração de Oxalá, atua atambém em todas as demais linhas, pois a Linha de Oxalá abrange todas as linhas.
"OS ORIXÁS E AS SETE LINHAS DA UMBANDA: De todos os assuntos discutidos na Umbanda, certamente o que mais provoca controvérsias é oriundo das inúmeras linhas ou mais propriamente “pseudolinhas” de Umbanda, que via de regra, encontramos nos mais diferentes terreiros. Uma pesquisa realizada junto a um grupo de 48 alunos do curso de Formação de Sacerdotes de Umbanda da Federação Umbandista do Grande ABC revelou que, no cômputo geral, esses alunos conheciam 33 linhas de Umbanda. Erroneamente, costuma-se chamar linha de Umbanda, toda e qualquer manifestação espiritual. Determinadas pessoas costumam enquadrar espíritos que em vida pertenceram a determinadas categorias profissionais, como pertencentes a uma certa linha de Umbanda. Um exemplo disso é a “linha” de baianos. Existem ainda os que consideram as mil e uma subdivisões existentes numa mesma linha, como sendo também uma linha de Umbanda. Como exemplo, podemos citar a linha de Oxosse e as “pseudolinhas” correspondentes tais como: linha das Matas, linha de Pena Branca, linha de Jurema etc.
Na realidade, as linhas de Umbanda são apenas sete e absolutamente não comportam um universo quadrado com subdivisões exatas de sete em sete como pretendem alguns autores, que esquecendo ou desconhecendo o papel importante desempenhado por Zélio de Morais e pelo seu Guia Espiritual Caboclo das Sete Encruzilhadas, perdem-se em meio a um mundo de desinformações, quando a verdade está clara como água, bastando para tanto um estudo de mente aberta sobre as raízes da Umbanda, como culto de terreiro e veremos então que existe uma lógica impressionante, um crescendo notável que, envolvendo os diferentes aspectos da existência humana, vai do nascimento à morte, do romper da aurora ao pôr-do-sol.
A palavra Orixá significa literalmente “Senhor da Cabeça” e como tal o Santo principal a que está ligado espiritualmente qualquer pessoa humana. “O Santo de Cabeça” que é uma expressão bastante significativa e de acepção universal, sendo bastante comum o seu uso. Em relação ao Candomblé, há uma nítida diferenciação no que se refere aos Orixás. O umbandista parte do princípio de que todo o Orixá é Santo, mas nem todo Santo é Orixá, em virtude do plano de hierarquia, de acordo com as missões que desempenham ou desempenhavam na Terra. O Orixá, em função da sua vibração na sua falange da sua linha influi diretamente, nos mensageiros espirituais que são os Guias, os quais incorporam o médium para os trabalhos a serem realizados. Na dualidade Santo-Orixá, há os que viveram e os que nunca tiveram passagens terrenas, da mesma maneira que os Anjos e Arcanjos, todos centralizando focos de magia astral que se procura fixar em símbolos, cores e características litúrgicas como forma de entrosamento entre o crente e o plano divino, Dessa maneira, permite ao homem que, pelo uso instrumental ou material dos objetos rituais, possa fixar o pensamento para sintonizar na intimidade do ser a convicção da sua fé, e ingressar na iniciação religiosa, galgando o desenvolvimento espiritual.
O Orixá age no campo astral, imperceptível ao nosso conhecimento para ser cultuado de maneira a haver entendimento pela maioria. Têm sido representados de forma perceptível aos nossos sentidos, simbolicamente, ou pertencendo a linhas divisórias de vibrações, como se dominassem determinados campos humanos ou naturalistas. Os Orixás, na Umbanda entrelaçam-se nas linhas de cultuação, que apresentam muita controvérsia em suas denominações e divisões abrangendo reinos e falanges, de tal modo que não há uma unidade de entendimento, sendo, geralmente, distribuídos em sete linhas. 
(...)Assim foram surgindo outras tendas. A Tenda do Senhor do Bonfim, a Tenda de Umbanda Santa Bárbara, a Tenda de Umbanda Cosme e Damião, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Conceição, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Glória, inaugurada juntamente com a Tenda Nossa Senhora dos Navegantes, pois dois de seus médiuns já preparados eram filhos de Iemanjá, Orixá cujo culto até então era praticamente desconhecido. A expressão era utilizada exclusivamente pelos negros e nem sempre da mesma forma. A seguir, veio a Tenda de Umbanda São Sebastião, a Tenda de Umbanda São Jorge, seguida da Tenda de Umbanda São Jerônimo. Completando, surgiram a Tenda de Umbanda Sant’Ana e finalmente a Tenda de Umbanda São Lázaro. Uma outra tenda nascida da Tenda Nossa Senhora da Piedade ganhou projeção no Rio de Janeiro. Essa tenda recebeu o nome de Tenda Mirim, fundada em 13 de outubro de 1924.
Inquirido, por Ronaldo Linares, a respeito de todas as Tendas levarem o nome de Santos Católicos (na época o catolicismo era a religião dominante), Zélio de Morais justificou dizendo que tinha formação católica e, que quando iniciara o culto umbandista, o fizera a mando do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Desde o seu início, a Umbanda nasceu caritativa. O Sr. Zélio de Morais proibia que se executassem cobranças de trabalhos espirituais. Os membros do corpo mediúnico e os adeptos se cotizavam para fazer frente às despesas havidas e, de vez em quando, alguém melhor situado na vida fazia alguma coisa mais concreta, materialmente, pela tenda, fazendo doações em dinheiro, mas cobrar por trabalhos não era permitido. Assim, quando do nascimento das primeiras tendas acima mencionadas e a delegação dos poderes para gerir essas mesmas tendas, alguns dos novos filhos de fé, a exemplo do que ocorre em outras formas de culto, desvirtuaram, em parte, os ensinamentos do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Zélio de Morais esclareceu que estas tendas deveriam nascer as sete linhas da Umbanda e que seriam representadas por sete cores.
A primeira linha é caracterizada pela cor amarelo ouro bem clarinho e que seria a cor da Tenda de Santa Bárbara. O Orixá correspondente é IANSÃ que se caracteriza por ser um Orixá guerreiro e que domina também as águas como todas as Santas Senhoras, mas exerce, além disso, seu domínio sobre os raios, as chuvas e os ventos. Iansã simboliza a forma mágica capaz de afastar males e influência negativas, amparando as súplicas dos que recorrem ao seu poder vibratório, como o poder de descarregar cargas nocivas de enfeitiçamento.
A segunda linha é caracterizada pela cor rosa, correspondente a Tenda Cosme e Damião. É a linha dos espíritos das crianças, espíritos puros em corpos físicos recém libertos do útero materno, espíritos que não tiveram oportunidade de ampla vivência em corpos físicos, considerados ainda espíritos aprendizes. O Orixá correspondente é IBEJI. A universalidade dessa cultuação religiosa abrange povos que viveram em épocas diferentes e distintas, bem como locais distanciados na face da Terra, em correspondência com áreas espirituais, que envolvem todas as falanges, e foram simbolizadas nos cultos dos gêmeos. Os cultos africanos, introduzidos pelos nagôs e bantos trouxeram uma noção de um transe infantil, denominado “ERE” e uma concepção singular do Orixá Ibeji, representado por gêmeos sob várias denominações (Alabá, Idolu, Cosme e Damião, Crispim, etc.). Esse transe era muito considerado pela limpeza fluídica que fazia nos filhos de fé, ao final das práticas de terreiro.
A terceira linha é caracterizada pela cor azul. Esta é a única linha que possui mais de uma representação, com vários Santos Católicos sincretizados com ela, a saber: Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Guia. O Orixá correspondente é IEMANJÁ. Esta linha é também a primeira a ter um nome negro e que significa “Mãe Peixe”. A cor azul de Iemanjá lembra o período em que a vida é gerada no útero materno, é o próprio e complexo ato da fecundação, seguida do período de desenvolvimento do feto no meio aquoso (salino). Daí ser confundido ou bipartido, dando-se a Nossa Senhora da Conceição, a mãe de Jesus, o sincretismo com o Orixá da água doce ou potável, dos rios e cachoeiras, o Orixá OXUM. Iemanjá é o Orixá que possui maior cultuação e os milhões de adeptos a homenageiam coletivamente ao findar e iniciar de cada ano fazendo a entrega das oferendas apropriadas. Oxum é o Orixá que domina a água doce e o arco-íris e as suas ligações. Porém exerce o domínio mais acentuado nas cachoeiras, num sentindo geral de purificação.
A quarta linha é caracterizada pela cor verde representativo da Tenda São Sebastião. Representa o elemento verde da natureza, as matas e o povo que nela habita, os chamados índios e seus mestiços, os Caboclos. O Orixá correspondente é OXOSSE. O culto a Oxosse envolve uma vasta falange de caboclos, que representam o elemento jovem, o espírito idealista, sendo honestos e desinteressados. Os Guias-Chefes recebem várias denominações. Na Umbanda, esse Orixá recebeu ou absorveu a cultuação dedicada a Ossanha, bem como as suas prerrogativas no campo das ervas medicinais, sendo de muita expressão nessa magia das plantas. Oxosse, através dos fluídos das ervas, prepara e limpa com os seus banhos todas as vibrações inferiores, harmonizando as vibrações com perfumes e aromas florais.
A quinta linha é caracterizada pela cor vermelho, representando a Tenda São Jorge. O Orixá correspondente é OGUM; patrono da força aplicada à manutenção da ordem, é constituída pelos espíritos de militares. Ogum é um Orixá muito considerado na Umbanda. Apresentando várias entidades que se manifestam nos terreiros de Umbanda sob os mais variados nomes, entre eles: Ogum Beira-Mar, Ogum Rompe Mato, Ogum Nagô, Ogum Sete Ondas, Ogum Iara, etc. Ogum simboliza o vencedor de demandas com vibrações positivas, escolhido para combater as forças do mal.
A sexta linha é caracterizada pela cor marrom, representando a Tenda São Jerônimo. Esta linha é constituída pela força. Seu Orixá correspondente é XANGÔ e significa a força que resolve as pendências, dando a quem é devido o que lhe é de direito. É sempre representado como o homem maduro. A invocação de Xangô envolve desde os Doze Apóstolos a todos os Santos Velhos. No apelo comum a Xangô afluem as forças poderosas que reluzem qual relâmpago na continuidade do trovão, cujo domínio está sob seu poder e tem no sílex ou metódico o simbolismo imutável, inflexível da justiça sob cuja égide é invocado.
A sétima linha é caracterizada pela cor violeta e que corresponde a Tenda de Sant’Ana que representa o elemento velho e servil. É o período em que consciente de toda existência, mas já ocupando um corpo pronto, o indivíduo espera a libertação que virá com a morte. O Orixá correspondente é NANÃ. Este Orixá é considerado como a Senhora Suprema da Umbanda, também invocada como Nanã Buruque; sendo Nanã carinhosamente chamada pelos adeptos de Vovó da Umbanda.
Finalmente temos a cor negra, correspondente a Tenda de São Lázaro. É a ausência da cor e da luz da vida, Zélio de Morais explica que as cores branco e preto não fazem parte das sete linhas, pois o branco, que é a presença da luz, existe em todas elas e o negro, que é justamente a ausência da luz, esta justamente na falta delas. O Santo Católico São Lázaro é sincretizado com o Orixá OBALUAÊ ou OMULU. Esse Orixá chefia a falange dos mortos, mas não no sentido distante, de muito tempo, por ser uma divindade ligada à Terra, que procede à purificação material dos corpos, através de suas vibrações especiais como surdas e melancólicas que ajudam a despir o envoltório grosseiro do físico sujeito às vicissitudes e à morte. Contribui, assim para o desenvolvimento do espírito na sua libertação do corpo carnal.
O Orixá maior da Umbanda é o OXALÁ. O respeito profundo e a forma superlativa do nome – OXALÁ – já ressaltam em si mesmo ser mais que Orixá, pois é o Supremo, o Chefe para o qual convergem todas as linhas, assim perfeitamente identificado na invocação com Jesus Cristo. Nas contas brancas dedicadas a Oxalá, sobressai o sentido de pureza, sem mácula, nessa cor que é a síntese de todas as cores irmanadas, ressaltando nesse simbolismo convergente a Força Máxima da Umbanda, que constitui a Linha Suprema, onde se abrigam todas as linhas e falanges, pois o seu poder é bem maior."
Na Linha de Oxalá a atuação de determinados caboclos é mais sutil, pois representa o Amor Incondicional. Assim, esses caboclos apresentam-se sempre pacificamente e comedidamente. O primeiro Caboclo a se apresentar na Linha de Oxalá foi o precursor da Umbanda Sagrada: Caboclo das Sete Encruzilhadas. Hoje, no comando da Linha de Oxalá, Urubatão da Guia assume a chefia, mas, temos outros caboclos conhecidos que atuam na Linha Branca de Oxalá: Caboclo Tupã, Caboclo Estrela Guia, Caboclo Seta Branca de Aruanda, Caboclo Luz da Manhã, Caboclo Sol Nascente, Caboclo Luz Dourada, Caboclo da Chama Trina, Caboclo do Sagrado Coração, Caboclo da Cruz Sagrada, Caboclo do Sol e da Lua, Caboclo Pemba Branca, Caboclo Luz Branca, entre outros. Temos também caboclos que atuam em várias linhas e podem ser chamados de Caboclos de Linhas Mistas, pois podem atuar em qualquer vibração, como os caboclos: Tupinambá, Ubirajara, Guarani, Guaraci, Tupi, Aimoré, Seta Branca, Apoema, Ubiratan, entre outros. Na verdade, todas as entidades trabalham para Oxalá, mas aquelas que atuam na vibração de Oxalá, são responsáveis por manusear a energia da purificação e da pacificação. São eles que agem nos comandos superiores do planeta, para impedir as guerras, mantendo a paz e a ordem.