quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Cabocla Sete Saias da Jurema


Uma índia - muitas histórias!

Antes de ser aconselhado a escrever essa postagem, eu nem sabia da existência dessa entidade. Quando ouvi seu nome pesquisei e nada encontrei. Ela me procurou e contou sua história e me explicou porque se chama "Sete Saias da Jurema" sendo ela uma Cabocla.
Ela era uma índia Puri, que nasceu em 1537, no Brasil Central, entre o Planalto Central e a Serra da Mantiqueira. O local de seu nascimento ainda era preservado dos olhos dos bandeirantes, até o ano de 1550, quando ela contava então com 13 anos de idade. Seu avô era o Cacique da Tribo e seu pai era um grande guerreiro. Ela tornou-se moça e foi prometida em casamento ao filho do primo de seu pai, de uma tribo vizinha. Seu nome era Jaci, como a Lua e seu noivo se chamava Guaraci, como o Sol. Mas, os dois quase não podiam se ver, então os demais índios brincavam; "Como o sol e a lua eles não podem se encontrar..." E saíam rindo e fazendo graça. Jaci não ligava para as brincadeiras, até gostava...
Ela era uma moça que se divertia ao tomar banho nas cachoeiras e rios da região. Adorava subir as montanhas e cantar para o vento. Ou subia nas árvores mais altas e se comunicava com os pássaros e animais das florestas. Assim passava seus dias, fazendo aquilo que mais gostava: viver em meio a natureza. Também auxiliava os afazeres da tribo e participava de todos os rituais em que eram permitida a participação das mulheres.
Com a chegada dos primeiros bandeirantes em busca de jazidas de pedras preciosas, os embates com os índios começaram a ser travados. Quando o homem branco chegou a região onde se localizava sua tribo, Jaci estava em uma árvore observando e, quando percebeu, o ataque já havia começado. Sua tribo estava despreparada, mas lutou bravamente. Muitos morreram e muitos foram aprisionados. Ela foi levada junto com os outros índios que foram escravizados, para auxiliar na extração de Pau-Brasil e pedras preciosas. Jaci ainda viu sua mãe uma última vez. Seu pai, seu noivo e a maioria dos homens guerreiros das duas tribos foram mortos em combate. Amarrada, junto aos outros de sua tribo, Jaci chegou ao litoral e percebeu que sua terra não era mais a mesma.
Os homens que trabalhavam nas embarcações eram rudes e sedentos de desejo e ao avistar as mulheres indígenas nuas, jogavam-se em cima delas, possuindo-as a força. Essa parte da história, muitos tentam esquecer, mas Jaci nunca esqueceu, pois foi assim que deixou de ser virgem: forçada por um tripulante de um dos navios. Ainda tentou se debater, mas nada conseguiu, a não ser atiçar ainda mais o desejo do homem. Depois de ser usada, Jaci chorou muito, pois não sabia porque Tupã permitia tudo isso... Ela conseguiu perceber que sua Terra estava sendo saqueada e que seus tesourou estavam sendo roubados. Foram obrigados a trabalhar todos os dias em troca da vida. Alguns tentavam fugir e eram mortos. Outros se matavam, atirando-se ao mar. Jaci implorava a Tupã, Mboi e a Mãe Iara, que tivessem misericórdia e abrandassem o coração daqueles homens sem escrúpulos.
Jaci sempre carregava consigo sete penas de cores diferentes, das aves da floresta - recordação de sua tribo e sua terra. Ela teceu um saiote com folhas secas e colocou as penas ao redor, para recordar sua vida perdida. As penas lhe pareciam muitas saias a lhe proteger dos olhos do homem branco. Um ano após sua captura, Jaci ficou doente (doença de homem branco) e sua doença não teve cura. Assim como outras índias, foi largada à míngua para morrer, pois não servia mais aos interesses dos conquistadores. Triste, ela percebeu sua raça sendo subjugada e aniquilada pelos interesses daqueles homens. Quando cerrou os olhos, duas lágrimas verteram por sua terra e sua gente. Assim, morreu Jaci. Assim nasceu a Cabocla Sete Saias da Jurema!