Tahina-can, a grande estrela
Um casal teve duas filhas: Imaherô, a mais velha e Denakê, a mais nova. Num anoitecer de céu estrelado, Imaherô viu Tahina-can ( ou Tainahakỹ ,a grande estrela d’alva) brilhar tão bela que não se conteve e disse: "Pai, é tão bonito aquilo! Eu queria possuí-lo!"
O pai riu e disse-lhe que Tahina-can estava tão longe que ninguém o poderia alcançar. Contudo acrescentou: "Só ele, ouvindo-te, poderá vir."
Alta noite, quando todos dormiam, a moça sentiu que alguém estava ao seu lado. Sobressaltada, indagou: "Quem és e o que queres de mim?". "Eu sou Tahina-can, ouvi que me querias e vim pronto á me casar."
Imaherô acordou os pais que acenderam o fogo. Tahina-can era um velho, de cabelos brancos e pele enrugada. Vendo-o à luz da fogueira, Imaheró disse: "Não te quero para meu marido. Eu quero um moço forte e bonito."
Tahina-can ficou muito triste e chorou. Então, Denakê, compadeceu-se dele e procurou consolá-lo dizendo: "Pai, eu me caso com ele!"
E, o casamento realizou-se, com grande alegria do velho. Depois de casado, Tahina-can disse: "Vou trabalhar para te sustentar, Denakê. Vou fazer um roçado para plantar coisas boas, que Karajá ainda não possui nem conhece."
E foi ao Berô-can (rio Araguaia), dirigiu-lhe a palavra e, entrando nele, ficou com as pernas abertas, de maneira que as águas passavam entre elas. Curvado para a corrente, de vez em quando mergulhava as mãos e apanhava as boas sementes que iam jogando rio abaixo. Assim, as águas deram-lhe um punhado de milho cururuca, feixes de raiz de mandioca, e muito mais. Saindo do rio, ele disse a Denakê: "Vou derrubar mato para fazer roçado. Porém, não venhas me ver no trabalho, fica em casa, cuidando da comida."
Tahina-can foi, mas demorou tanto que, preocupada, Denakê resolveu desobedecer às recomendações e foi, de mansinho, procurá-lo. A surpresa foi de quem estava ali a trabalhar, era um belo moço, alto, cheio de força e de vida, que tinha no corpo os enfeites e as pinturas que os Karajá ainda hoje usam. Denakê não se conteve, louca de alegria correu a abraçá-lo. Depois, o levou consigo para casa, contente por mostrar aos pais como seu esposo era na verdade. Foi então que Imaherô o desejou também e disse a Tahina-can: "Tu és meu marido, pois vieste para mim e não para Denakê."
Mas Tahina-can respondeu-lhe: "Só em Denakê encontrei bastante bondade, para ter pena do pobre velho. Agora não te quero, só Denakê é minha!"
Imaherô, de despeito e inveja, soltou um grito, caiu no chão e no lugar dela, viu-se um Urutau, pássaro que ainda hoje dá um grito triste e tão forte que parece ser uma ave muito maior. Foi assim que a nação Karajá aprendeu com Tahina-can a plantar o milho, o ananás, a mandioca e outras coisas boas que antes não conhecia.
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