quinta-feira, 10 de junho de 2021

*PAI JOAOZINHO DA GOMEIA*

 


Pode ser uma imagem de 2 pessoasJoão Alves Torres Filho

Nasceu em 27 de março de 1914 em Inhambupe, Bahia. Sua família era católica e chegou a ser coroinha da paróquia de sua cidade. Mas o menino parecia realmente já vir predestinado a vivenciar o mundo das tradições religiosas afro-brasileiras, mesmo antes de se iniciar em uma casa de culto.

Na pequena cidade onde nasceu, distante 153 km da capital, aos 10 anos já demonstrava sua forte personalidade, como bom filho de lansã. Aos 17, deixou a família e rumou para Salvador, onde fez de tudo para sobreviver. No armazém onde trabalhou, conheceu uma senhora que muito lhe ajudou e que considerava como sua madrinha. Foi ela quem o levou ao terreiro de Severiano Manuel de Abreu, que recebia a entidade conhecida como Caboclo Jubiabá.

Existem muitas histórias sobre Joãozinho da Goméia.

De família católica, chegou a ser coroinha, mas por motivo de saúde, ainda menino João Alves Torres Filho foi iniciado para o mundo do candomblé na feitura de santo pelo Pai Severiano Manuel. Com a morte de seu Pai de Santo, "refez" o santo no terreiro do Gantóis com Mãe Menininha, mudando da nação Angola para Ketu. Em 1924 aos 10 anos, o garoto já havia dado mostras de sua personalidade forte. Contra a vontade dos pais, deixou a casa da família para tentar a sorte na capital Salvador. Teve que se virar para sobreviver e foi trabalhar num armazém de secos e molhados, onde conheceu e foi apadrinhado por uma senhora que morava na Liberdade, e que ele considerava sua madrinha. Foi essa senhora quem teve a idéia de levá-lo ao terreiro de Severiano Manoel de Abreu, conhecido como Jubiabá (nome do seu caboclo). Joãozinho sofria de fortes dores de cabeça, que não eram explicadas, nem curadas pelos médicos. Também tinha sonhos com "um homem cheio de penas", que não o deixava dormir.

Para os adeptos do Candomblé, é fácil interpretar esse "homem de penas" como Pedra Preta, seu caboclo. Bastou que ele fosse feito, no dia 21 de dezembro de 1931, para que as dores fossem embora. Elas seriam somente um aviso dos Nkisi, que cobravam a iniciação do menino.

Em 1948, despediu-se de Salvador com uma festa no Teatro Jandaia, apresentando ao público pagante danças típicas do Candomblé, escândalo final para adeptos baianos, e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde abriu casa na Rua General Rondon, nº 360, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.

Nesse endereço a lenda em torno de Joãozinho da Goméia só fez aumentar, atendia políticos, embaixadores, consules, o próprio Getúlio Vargas e a sogra de Juscelino Kubitschek, além de artistas como Ângela Maria, na época a “Rainha do Rádio”; tudo isso fez com que passasse a frequentar a imprensa.

O próprio João nunca revelou os nomes de seus filhos ou clientes; seus filhos de santo que espalharam essas notícias, orgulhosos do status da casa de seu pai. Costas quentes ou não, o caso é que Joãozinho nunca teve seu terreiro invadido pela polícia, nem jamais foi preso, ao contrário de Mãe Menininha, que tem registradas duas passagens pela polícia, acusada de “tocar candomblé”. Diz a lenda que Joãozinho até mesmo chegou a fazer despacho para Exu em plena Praça XV. O caso é que tornou-se o primeiro pai de santo realmente conhecido no Brasil. Sabia do poder da imprensa e manteve relações com publicações importantes como a revista O Cruzeiro, deixando-se fotografar com os trajes dos Orixás.

Em 1956, João participou do carnaval vestido de mulher. O assunto rendeu uma polêmica terrível com outros babalorixás e chefes de terreiros da Umbanda. João defendeu-se através d’O Cruzeiro, reivindicando seu direito ao livre-arbítrio e declarando que jamais permitiria que qualquer outro pai ou mãe de santo se intrometesse em sua vida.

Participou de shows no Cassino da Urca, apresentando as danças dos Orixás, sempre unanimemente considerado um bailarino de raras qualidades. Chegou a participar do filme "Copacabana moun amour", de Rogério Sganzerla, no papel de um pai de santo que faz um ebó na atriz Helena Ignez.

Teve numerosos filhos de santo: chegou a fazer um barco com 19 iaôs, façanha lembrada por todos, dada sua extrema dificuldade de realização. Apesar das brigas com as alas mais conservadoras da religião, eis porque Joãozinho da Goméia é considerado um dos maiores divulgadores da religião dos Orixás no Brasil.

Em 1966, outro momento repleto de contradições: João voltou à Bahia e deu “obrigação” com Mãe Menininha do Gantois. Segundo a Iyalorixá Mãe Tolokê de Logunedé, "foi fazer a obrigação dele; tirar a mão de Vumbi e fazer bodas de prata. (...) Depois, ele fez a festa no Rio de Janeiro, para os filhos que não puderam ir à Bahia." Ainda segundo seus filhos, Joãozinho da Goméia não apenas fez sua obrigação com Mãe Menininha como foi o primeiro homem que ela permitiu que vestisse o Orixá e dançasse em público “virado” no santo. Para entender a importância desse ato (mesmo que apenas mais um aspecto da lenda) é preciso ler em Ruth Landes as restrições que Mãe Menininha fazia quanto à apresentação pública de homens em transe.

Porém, é fato que, embora o próprio Joãozinho até o fim da vida continuasse tocando tanto Angola quanto Ketu, a partir desse momento passou a insistir com seus filhos de santo para que seguissem uma orientação única, optando entre Ketu e Angola.

Joãozinho da Goméia morreu em São Paulo, dia 19 de março de 1971, no Hospital das Clínicas (Vila Clementino), durante uma cirurgia para retirada de um tumor cerebral, e após uma parada cardíaca. Foi sepultado em um cemitério de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, num dia em que uma chuva de proporções míticas caiu sobre o Rio de Janeiro, exatamente na hora em que seu ataúde baixava à sepultura. Para os adeptos, uma manifestação de Iansã recebendo seu filho, que culminou com muita gente “virando no santo” em pleno cemitério, a passagem foi relatada na revista O Cruzeiro. A Goméia do Rio Está atualmente, passando por um processo de tombamento e posterior reconstrução. Os assentamentos de Joãozinho da Goméia foram transferidos para uma nova Goméia, em Franco da Rocha, São Paulo, onde os ibás de seu Oxossi e de sua Iansã estão sendo devidamente cuidados e “alimentados”, e podem ser visitados pelos adeptos que fazem parte da família de santo.

Claudio Tata Kafungelekenizã filho da saudosa Mameto Dona Lurdes conhecida como a portuguesa, filha de Tata Kilondira, morava no RJ na Penha Circular enfrente a Rádio Jornal do Brasil. Fundador da Goméia no sul e Uruguay Pai Claudio tem seu Inzo a 33 anos e é fiel a Goméia.

Texto:#Luiz
POSTADO:#GrupoCandomblénaÍntegra