A justiça é a virtude de dar a cada um aquilo que é de seu merecimento. Deus é justo e gera tudo com equilíbrio. No sentido da justiça, todos nós temos os mecanismos mentais necessários para desenvolvermos condutas equilibradas e adquirirmos posturas pessoais sensatas e racionais, anulando nossa emotividade e nosso instintivismo primitivo. Para isso, somos dotados do livre-arbítrio, quando encarnamos.A qualidade da Justiça Divina, equilibradora, é manifestada pelo Orixá Xangô, que purifica nossos sentimentos com sua irradiação incandescente, abrasadora e consumidora das emotividades. Xangô é a força coesiva que dá sustentação a tudo. Ele está na natureza como o próprio equilíbrio, tanto na estrutura de um átomo quanto no Universo e em tudo que nele existe. Quem absorve a qualidade de Pai Xangô, torna-se racional, ajuizado, ótimo equilibrador do seu meio e dos que vivem à sua volta. A escolha racional nos leva ao equilíbrio da alma, através do conhecimento da Lei que nos rege e nos diz o que é certo e o que é errado na vida. Essa Lei não é cega nem falível, pois se ensinarmos errado, seremos colhidos por ela, que exige muito de quem conhece os mistérios da razão. Mas, se trilharmos no equilíbrio da Lei, iremos adquirir uma fé inquebrantável no que fazemos e no que falamos e nada será feito ou dito em vão; tudo terá sua razão de ser. É isso que faz com que aqueles que já adquiriram o seu equilíbrio e se tornaram conhecedores da Lei sacrifiquem-se em benefício dos semelhantes, sem nada esperar em troca. Tudo se resume em servir à sua família, ao seu círculo familiar, à sua comunidade, tanto civil quanto religiosa, a servir a Deus. Quanto às pessoas instintivas, não desenvolveram os sensos de justiça e a vida delas se resume a uma permanente busca de satisfação pessoal, mesmo que à custa dos semelhantes. Uma pessoa instintiva costuma procurar essa satisfação em todos os sentidos da vida e tudo tem de ser para ela e por ela, senão se sentirá preterida ou injustiçada e torna-se intolerante e mesquinha.
A emotividade não suporta nenhum tipo de contrariedade, levando-nos a ver qualquer ação refreadora como ofensa pessoal, por isso deve ser contida pelo sentido equilibrador da justiça. Assim, não nos tornamos pessoas que se sentem injustiçadas pelos semelhantes, inferiorizadas, abandonadas, traídas e menosprezadas. Nossa emotividade e nosso instintivismo primitivo devem ser transmutados lentamente em senso, em razão e equilíbrio, senão nos tornamos egoístas, possessivos, vingativos, intransigentes e intolerantes com nossos semelhantes e conosco. Quando alguém se torna um equilibrador de seus semelhantes é porque descobriu o sentido da vida.
Pai Xangô é o orixá da Justiça e seu campo de atuação preferencial é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, pois só conscientizado e despertado para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo. A irradiação da Justiça Divina é uma onda viva que nasce em Deus e alcança tudo e todos. Xangô é o pólo positivo dessa onda que equilibra tudo, desde a gênese das coisas até o sentimento dos seres. Ele é irradiação contínua e chega a todos, não deixa nada nem ninguém sem o amparo da Justiça Divina. Ele gera e irradia a chama da Justiça Divina, que aquece o racional dos seres e abrasa os sentimentos íntimos relacionados com as coisas da justiça e da razão. Xangô atua através do mental e vela pela harmonia e pelo equilíbrio na evolução. Pai Xangô é abrasador, é a chama universal, é o raio solar gerador de vida, gera o equilíbrio da justiça. É fundamental para a nossa evolução o desenvolvimento do senso de justiça, da razão, do equilíbrio, do juízo e de posturas sensatas, deixando de lado a emotividade e o instinto. Pessoas instintivistas, no campo profissional, buscam os cargos de destaque, de chefia e melhor remunerados, pois sua satisfação pessoal não aceita nada que seja subalterno. No campo religioso, querem estar acima de todos e, se é um assistente, quer toda a atenção para si, não se importando com mais ninguém. No campo familiar, tem de ser o dono da família e não aceita ser contrariado por ninguém. No campo amoroso, não se importam com os sentimentos alheios, pois os seus é que devem ser satisfeitos. No campo pessoal, querem ser o centro das atenções, querem ser bajulados e não aceitam críticas ou advertências. Quanto às pessoas emotivas, no campo profissional, são inseguras, imaturas e depressivas e, não raramente, sentem-se perseguidas, humilhadas ou desprezadas pelos colegas, pois suas emotividades as impedem de desenvolverem relacionamentos fraternos. Os únicos que elas conseguem desenvolver são relacionamentos com envolvimentos pessoais e, caso as pessoas relacionadas com elas não lhes dêem a devida atenção, logo são evitadas ou repelidas porque passam a ser vistas como traidores, desleais etc. No campo amoroso, as pessoas emotivas são dependentes do seu par, ciumentas, possessivas e apassionam de tal forma os seus relacionamentos que se tornam sufocantes ou inconvenientes. No campo familiar, as pessoas emotivas são focos de desequilíbrio e, não raro, tornam a vida em família um tormento, já que ou são o foco de atenção de todos os outros membros ou tratam a todos como seus adversários. Em casos mais graves, a emotividade e o instinto se fazem presentes e tornam difíceis os relacionamentos humanos, já que os mecanismos mentais foram avariados e a noção dos sensos é turvada, e as pessoas adquirem hábitos, expectativas e posturas desequilibradas. É preciso trilhar a linha de equilíbrio e receber a irradiação ígnea de Pai Xangô, sempre disposto a nos ouvir, esclarecer e amparar, caso nossos apelos sejam justos e nossa conduta nos faça merecedores desse amparo.