segunda-feira, 25 de junho de 2018

UM ESPÍRITA NEGLIGENTE DO OUTRO LADO

Um espírita negligente desencarnou e foi para uma colônia espiritual. Lá chegando foi bem recebido pelo guardião da colônia e este o levou ao chefe geral da colônia para uma boa conversa. Em lá chegando o chefe foi dizendo:
– Bem vindo, caro irmão, depois de uma longa jornada de trabalho.
– É, não foi fácil, dizia o negligente espírita.
– Sei que a tarefa é árdua, meu filho, mas com amor, dedicação e perseverança venceremos os maiores obstáculos. O irmão deve ter trabalhado muito. Quantas e quantas vezes o irmão foi ao centro mais cedo para varrer o chão, limpar as salas, apagar os quadros negros, colocar água no bebedouro, arrumar as cadeiras. São problemas simples, irmão, mas o irmão as fez com carinho. Afinal era a casa de Jesus que o irmão estava arrumando.
– N…. não fiz nada disto – disse o espírita . Quando eu chegava lá, geralmente uns 5 a 10 minutos atrasados, isto já estava pronto.
– Está certo, filho, mas o irmão fez outras tarefas no centro, com certeza. Saia todos os domingos em visita aos lares, de pessoas não espíritas, levando uma mensagem sagrada, falando do Senhor Jesus, falando de Deus, pregando O evangelho, conversando com os corações maltratados por tudo e por todos, sem amor, sem paz, sem esperança.
– Desculpe, senhor, mas não fiz isto não. Aos domingos eu acordava muito tarde, estava sempre cansado das tarefas estafantes da semana. Era o único dia que eu tinha para descansar. No centro também tinha gente para fazer isto.
– Está certo, caro irmão. Calma, eu vou chegar na brilhante missão que o irmão abraçou para agora requisitar um lugarzinho nesta colônia, com certeza.
– O irmão foi nas casas dos maus espíritas, trouxe as crianças para serem evangelizadas, trouxe outras pessoas ao centro, trouxe seus próprios filhos e distribuiu a palavra de Deus a todos eles.

– N… não fui não senhor. Alguns espíritas traziam seus filhos de vez em quando, principalmente no dia de festas, eu nunca fui a nenhuma casa convidar as crianças para a Evangelização. Os meus filhos não gostavam de evangelização, preferiam ficar em casa assistindo televisão, jogando nos computadores, meu filho ficou um crânio em informática. Não digitava nada, mas sabia entrar em todos os sites, até os proibidos para crianças. Outros filhos meus gostavam de ficar na casa dos avós, passeando, pescando, indo em festinhas, nos shoppings. Como eles adoravam seus avós!
– Mas com certeza o irmão cumpria bem a sua tarefa no centro. Sua aula de evangelização era bem preparada, pesquisava bem os assuntos a serem ministrados, conquistava os alunos, de modo que eles adoravam a sua aula.
– De jeito nenhum. Eles detestavam a minha aula. Achavam um saco. Muitos desistiram. Eu quase não tinha tempo de preparar a aula. Era um sufoco na hora. Corria de um lado para outro atrás de material para os alunos.
– Confesso sinceramente que o irmão não se saiu bem neste ponto, mas em outros pontos o irmão era nota dez. Por exemplo no dia da palestra o irmão chegava cedo, trocava idéias com os diretores do centro, recebia alegremente os visitantes, distribuía mensagens a todos, aconselhava a um, orientava a outros, fazia preces iniciais, finais, dava passe e ao término era o último a sair, pois precisava trocar idéias santas com os irmãos.
– Como é que eu ia fazer isto se só chegava atrasado? Onde eu trabalhava tinha gente para tudo. Raramente sobrava serviço para mim. Eu saia cedo do centro, geralmente antes de terminar. Tinha muita coisa para fazer em casa estava também muito cansado.
– Mensagens. O irmão distribuiu muitas mensagens sagradas com conhecimentos divinos para ajudar aos irmãos necessitados. Suponho que o irmão distribuiu estas mensagens nas casas, no centro, nos ônibus, pelas ruas de sua cidade.
– Impossível fazer isto. Todo mundo ia me chamar de louco. Já vi muita gente ser taxada de estar com os demônios quando distribuía mensagens espíritas. Jamais eu iria passar por este vexame.
– Aconselhamento aos irmãos desesperados, aqueles que perderam a esperança pela vida, que pensavam em suicídio. O irmão ajudou muitos destes desesperançados, não é?
– Não, aliás o centro tinha um departamento para estas pessoas. Ouvi falar que eles orientaram muitas pessoas assim. Eu nunca tive esta oportunidade.
– Cartas, o irmão escreveu muitas cartas à pessoas sofridas de diversos lugares do país. Afinal de contas escrever uma simples cartas com palavras de incentivo não custa muito, não é irmão?
– Ouvi falar que muita gente fazia isto, mas eu não fiz nada disto. O meu tempo era muito curto. Nos tempos vagos eu precisava retirar um pouco do estresse da semana. Visitar meus amigos, meus parentes, passear, ir pescar, curtir um cineminha, comer uma pizza de vez em quando. Como é que eu iria encontrar um tempo para escrever cartas?
– O irmão não tem nenhum requisito para ficar aqui nesta colônia espiritual. Não possui nenhum bônus-hora, portanto, já que o irmão recebeu tudo e gastou tudo no mundo dos encarnados, agora só lhe resta ficar um tempo no umbral. Acredito que uns 30 anos apenas sejam suficientes para o irmão refletir um pouco no Pai de amor e bondade. Boa sorte, meu filho, e boa estadia no mundo que o irmão criou para passar umas férias.
Henrique Pompilio de Araújo