Considerada “suprema, tanto no céu (Olimpo) quanto no Mundo Subterrâneo (Hades)... (...) era uma poderosa deusa tripla. Zeus a reverenciava acima de todas as outras e deixava-a partilhar da terra, do mar e do céu estrelado (...)”.
Sobre os animais que a acompanhavam Carlos Parada (1993) nos faz um retrato sombrio de Hekate quando a conecta ao Mundo Subterrâneo: “a deusa carregava espadas e possuía em seu ombro esquerdo a cabeça de um cavalo, no direito a de uma cadela furiosa e ao centro uma serpente selvagem”.
Mas a maioria dos autores afirma que Hekate era acompanhada por uma alcateia ou matilha de lobas ou cadelas pretas. Principalmente à noite e em encruzilhadas.
Hekate engloba as três dimensões: “o infernal, o telúrico e o celeste”, numa linguagem mais condizente à realidade da Grécia Antiga, seria o Mundo Subterrâneo, o Mundo dos Vivos e o Olimpo.
Também Hermes é o filho de Zeus e de Maia, por vezes também é denominado Hermes Ctônico,sendo o único mensageiro a atravessar as três dimensões, aquele que guia as almas dos mortos ao Mundo subterrâneo.
Seu nome, segundo Burkert, advém da palavra herma, que significa um
amontoado de pedras criado artificialmente. Eram postos em encruzilhadas para demarcar o território, assim Hermes ganha outra função, protetor dos viajantes tal como Hekate. Por vezes faziam libações nestas hermas, criando mais vínculos com Hermes.
Em uma das mãos carrega o kerykeiôn – bastão de arauto de ouro dado a Hermes por Apolo em troca da flauta.
Seu caduceu pode ser interpretado como símbolo da paz, do equilíbrio e antagonismo, pelas duas serpentes representarem opostos, diurno e noturno, esquerda e direita, além da serpente ser um animal ctônico com duplo aspecto simbólico: benefícios e malefícios. Na época Clássica este caduceu recebeu uma significação ctônica.
Com seu caduceu, conta Georges Hacquard, Hermes “separou, um dia, duas serpentes envolvidas em luta.
Estas, cessando imediatamente a sua querela, entrelaçaram-se no caiado, dando origem ao famoso “caduceu”, símbolo por excelência da paz”.
O deus do Mundo Subterrâneo geralmente era uma figura sombria temida pelos homens. Hades, ao contrário de outras divindades gregas, nunca era representado pelos artistas: ele era invisível, o que aumentava o terror e o mistério que inspirava.
Muitos mitos mencionam os desagradáveis assistentes do soberano do Mundo Subterrâneo.
A entrada do Mundo Subterrâneo clássico era guardada por Cérbero, um cão de três cabeças.
O rei celta do mundo dos mortos, Arawn, era seguido por um séquito de demônios.
E um bando de crianças pavorosas, doenças e monstros acompanhava Tuoni, soberano do mundo do além finlandês.
As regiões dos mortos nos mitos das civilizações orientais também eram habitadas por demônios.
Aker era no Egito o guardião do mundo subterrâneo. Era ele que abria os portões da terra para que o rei passasse para os seus domínios. Tinha propriedades curativas, conseguindo absorver o veneno inoculado pelas serpentes e neutralizava o veneno pelo umbigo.
Depois da serpente maléfica Apopis ser destroçada, ele recolheu as porções para que não se pudesse reconstituir.
O Livro de Aker, refeito a partir de fragmentos de pinturas tumulares das pirâmides de Pedamenopet, Ramsés VI e dos papiros dos sacerdotes de Amon da XXI Dinastia, relata a viagem do Sol de Oeste para Este.
Tal como certos deuses pré-colombianos (Chac e Tlaloc), este deus tinha a propriedade de se subdividir em vários seres, denominados deuses-terra ou Akeru, existentes na mitologia egípcia desde tempos muito recuados. Costumava-se representar este deus com duas cabeças, cada uma a olhar para uma direção. Estas cabeças podiam ser também de leão.
Os deuses egípcios eram representados ora sob forma humana, ora sob forma de animais, considerados sagrados.
O culto de tais animais era um aspecto importante da religião popular dos egípcios. Os teólogos oficiais afirmam que neles encarnava-se uma parcela das forças espirituais e da personalidade de um ou mais deuses.
Deve ser entendido que o "deus" não residia em cada vaca ou em cada crocodilo. O culto era dirigido a um só indivíduo da espécie, escolhido de acordo com determinados sinais e entronizado num recinto especial. Ao morrerem, os animais sagrados eram cuidadosamente mumificados e sepultados em cemitérios exclusivos.
Embora esses mitos ajudem a explicar o que pode acontecer após a vida terrena, não fornecem muito consolo.
Segundo inscrições do Livro da Noite: Tendo sido engolido por Nut, o sol começa a turno da noite no corpo da deusa do céu. Nas representações, a região da noite, que atravessa o deus sol, ocupa o espaço entre os braços e as pernas de Noz. No espaço entre os braços e da banda primeira (a segunda porta, de acordo com a inscrição) é a segunda hora da noite.
O Livro da noite é dividido em retângulos com longas listras verticais e representam os onze registros Sebehets ou as 12 portas.
O barco solar é idêntico em todas as horas. Nele, o deus do sol, cabeça de carneiro, está em uma capela que está girando em uma grande serpente.
Também na capela uma deusa tem o deus do sol como sinal de vida. Atrás da deusa, uma cobra de pé em sua cauda. A versão de Seth é mostrada de pé na capela, atrás do deus sol. O arco é coberto com uma esteira de palhetas em que se senta uma criança. Na frente do barco, uma cesta com dois coelhos e um pedestal com duas varas e plantas de lótus e dois pássaros. Frente e verso da capela há um deus em pé.
Lentamente, a embarcação ruma par a boca de Nut, a deusa dos céus, sob o impulso que lhe imprimem os remadores de braços lustrosos de essências balsâmicas e revigorantes.
Postado na proa da barca está Seth, um dos filhos de Geb, o deus da terra, e da deusa Nut. Apesar de seu caráter duvidoso, Seth recebeu essa incumbência como prêmio de consolação de seu eterno rival.
Enquanto isso, Rá, de pé e em meio aos remadores, dá as últimas recomendações a seus comandados. O coruscante disco vermelho que brilhou o dia todo acima de sua cabeça vai, aos poucos, perdendo o brilho, à medida que as Doze Portas da Noite se aproximam.
A cabeça de Rá abandona, aos poucos, sua antiga forma de falcão para ir adquirindo a de um carneiro de grandes chifres anelados, enquanto a barca ingressa nas águas escuras e revoltas do Amanti. Já se divisa, agora, o primeiro dos doze grandes portões que o deus deverá solenemente atravessar, nas regiões escuras e desoladas, que somente a pericia do divino barqueiro pode vencer.
O deus egípcio Seth é também chamado de Nebty (Nebet → cidade do ouro) e pelo o que se sabe é um dos mais remotos deuses egípcios.
Filho de Rá e Nut, é considerado o deus das tempestades, dos raios e do vento, por isso, encarna os conceitos de fúria, violência, crime e crueldade.
Recebeu o deserto como herança de Geb, porém com inveja do irmão, o assassinou e cortou em pedaços, por haver recebido a parte fértil do Egito. A luta entre Seth e Osíris era a luta da fertilidade contra a seca.
É o senhor do mal e das trevas, da ausência de luz, que protege as caravanas que se adentram em seus domínios mas também provoca as tormentas que fazem com que as mesmas caravanas se percam.
No duplo papel de protetor-destrutor das terras áridas, Seth era adorado porque seu humor determinava o futuro daqueles que atravessavam seus domínios. Entretanto, não era considerado totalmente mau. Os faraós promoveram sua imagem como um deus guerreiro, que protegia a barca de Rá.
No Reino Novo foi considerado um deus patrono da guerra e da produção dos oásis.
No Livro dos Mortos, Seth é chamado "O Senhor dos Céus do Norte" e é considerado responsável pelas tempestades e o mau tempo.
A história do longo conflito entre Set e Hórus é vista por alguns como uma representação de uma grande batalha entre cultos no Egito cujo vencedor pode ter transformado o deus do culto inimigo em deus do mal.
Tornou-se uma divindade popular no delta oriental por sua semelhança com o deus sírio Baal e os invasores hicsos (c. 1640 a 1532 a.C.) tiveram nele o seu deus protetor. Foi identificado pelos gregos com Tífon.
Seth representava a noite, ao passo que Hórus representava o dia.
Cada um desses deuses executou muitos serviços de natureza amistosa para os mortos e, entre outros, ergueu e segurou a escada pela qual os falecidos subiam desta terra para o céu, ajudando-os a escalá-la.
Seth não só representa o deserto, como também as feras que parecem sair dele. Por analogia, o asno, animal de pelo vermelho, estúpido e lúbrico, era considerado um animal de Seth, ou seja, um animal impuro e possuído por um mau espírito.
Segundo o historiador grego Plutarco (c. 50 a 125 d.C.), os egípcios tentavam acalmar essa divindade através de sacrifícios. Os habitantes de Koptos, capital do 5.º nomo do Alto Egito, por exemplo, precipitavam um asno das alturas de um precipício. Por todo o país, nas ofertas solenes que faziam no segundo e no décimo meses do ano egípcio, amassavam tortas sobre as quais imprimiam uma marca na qual se via a figura de um asno acorrentado.
Nos sacrifícios que ofereciam ao Sol, transmitiam aos adoradores do astro a ordem de não levar consigo objetos de ouro e não dar de comer a um asno.
Os moradores de Abido e de Busíris jamais empregavam trombetas e tinham horror ao seu som, porque lhes lembrava o zurrar do asno.
“É sacrilégio — diz Plutarco — entre os egípcios, dar ouvidos ao som da trombeta, porque se parece ao zurro, e este animal é mal visto entre eles por causa de Seth”.
Havia ainda um outro animal relacionado ao deus Seth: o porco.
Heródoto nos diz que os egípcios consideravam os porcos como animais imundos. A tal ponto, que se alguém tocasse inadvertidamente em um deles, ainda que de leve, corria para mergulhar no rio, mesmo vestido. E acrescenta: “Os guardadores de porcos, embora egípcios de nascença, são os únicos que não podem entrar em nenhum templo do Egito. Ninguém lhes quer dar as filhas em casamento, nem desposar as filhas deles. São, por isso, obrigados a casar-se entre eles, isto é, com gente da mesma categoria”.
Uma vez que não consumiam a carne de porco, os egípcios utilizavam manadas desses animais durante o plantio para enterrarem as sementes de milho. A matança de porcos só era permitida para ofertá-los em sacrifício à lua ou a Osíris, quando então a carne do animal era consumida.
Talvez a aversão ao porco estivesse ligada a questões de higiene, mas mitologicamente está relacionada com a briga entre Seth e Hórus.
Numa passagem do Livro dos Mortos conta-se uma lenda segundo a qual, em tempos muito remotos, Seth, assumindo a forma de um porco preto, aproximou-se de Hórus que, ao fitá-lo, sentiu-se como se tivesse recebido um golpe na vista. O fato ocorreu numa cidade do delta do Nilo chamada Pe. Rá ordenou que colocassem o deus ferido num quarto e nomeou duas outras divindades para montar-lhe guarda. Wallis Budge comenta:
“A lenda refere-se, sem dúvida, a uma grande tempestade que caiu sobre Pe, quando as nuvens obscureceram o céu, e rugiram trovões, e fuzilaram relâmpagos, e desabaram torrentes de chuva”.
“Durante a tormenta, Hórus foi atingido nos olhos por um raio, ou abatido por um relâmpago e, quando a borrasca passou, Rá nomeou dois de seus filhos para ‘fazer florir a terra’ e destruir as nuvens e a chuva que ameaçavam a cidade”.
Seth também aparece como porco no mito de Osíris. Quando Ísis foge para o delta para garantir a segurança de seu filho Hórus, ela assume a forma de um pássaro e fica vigiando para ver se o violento monstro Seth, o porco selvagem, aparece.
Em versões muito antigas dessa história, Osíris é morto por Seth sob a forma de um porco ou javali. Sacrifícios desses animais era, portanto, um ato de vingança infringido ao assassino de Osíris que assumiu a forma de um porco negro.
Seth ainda era venerado sob a forma de crocodilo no templo de Kom Ombos, no sul do Egito, e na cidade de Avaris, a capital dos invasores hicsos. Nessa última região ele já vinha sendo adorado por sucessivos reis da XIII dinastia (c. 1783 a 1640 a.C.), antes da chegada dos hicsos.
“De improviso, estrangeiros de uma raça desconhecida, vindos do oriente, invadiram nosso país” — foi assim que Manetho, sacerdote egípcio escreveu uma história do Egito no início do século III a.C., se referiu aos hicsos. Com a vinda dos conquistadores, Seth acabou sendo assimilado ao deus hicso Baal e, sob o nome de Sutekh, seu culto fortificou-se.
Um dos governantes estrangeiros, Apophis (c. 1585 a 1542 a.C.), fez de Seth a sua divindade pessoal e vangloriou-se de não servir a nenhum outro deus na terra a não ser ele.
Ao lado de seu palácio construiu um maravilhoso templo em honra de Seth e ali comparecia diariamente para oferecer sacrifícios à deidade. Quando os hicsos foram expulsos, a veneração de Seth prosseguiu no delta oriental.
Durante o reinado de Akenaton (c. 1353 a 1335 a.C.), o faraó que estabeleceu o culto de uma única divindade, Aton, a devoção a Seth teve que ser mantida secreta.
Mas no reinado de Haremhab (c. 1319 a 1307 a.C.) ela retornou com a construção de um enorme templo em Avaris.
Os faraós que sucederam a Haremhab, ou seja, Ramsés I (c. 1307 a 1306 a.C.), Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.) e Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) eram devotos de seth. Esse último faraó, no 34.º ano de seu reinado, erigiu uma pedra comemorativa, conhecida como ‘A Estela dos 400 anos’, na qual proclama a veneração de seth pelos ancestrais imediatos do rei e marca os 400 anos do reinado da divindade no delta oriental.
O papel original de seth era batalhar contra apófis e impedi-lo de destruir a embarcação.
Resistindo inclusive ao olhar fixo mortal da serpente e não se deixando hipnotizar, seth finalmente derrota o gigantesco animal quando, da proa do barco solar, o trespassa com uma grande lança.
Ocasionalmente a entidade malévola teria sucesso e o mundo seria mergulhado em trevas, ideia que pode querer refletir a ocorrência de um eclipse solar. Mas mesmo nesses casos o deus seth e seu companheiro mehen, outra deidade em forma de serpente, sairiam vencedores, pois fariam um buraco na barriga de apófis para permitir que o barco solar escapasse.
Os antigos maias e astecas também compartilhavam algo similar à crença dos egípcios. Esses por sua vez acreditavam que o seus deuses do sol, kukulcán (abaixo) para os maias e quetzacóalt para os astecas, também tinham que enfrentar batalhas durante a noite, contra outros deuses e criaturas que tentavam evitar que o sol voltasse a nascer.
Porém havia uma diferença na forma de como eles tentavam ajudar tais deuses.
Os maias e astecas acreditavam que seus deuses necessitavam de sangue humano para recobrarem suas forças. Logo realizavam sacrifícios humanos diariamente, no intuito de oferecerem o sangue das vitimas aos deuses para que esses conseguissem vencer as batalhas nas trevas e voltassem a surgir na manhã seguinte, trazendo luz, calor e vida.
Vários outros povos como os gregos, romanos, assírios, babilônios, chineses e indianos, também contam histórias de criaturas que vagam à noite, histórias sobre o medo do escuro.
Para os egípcios, a encarnação das trevas e do cosmos, nasceu do cuspe de Neit, criadora de deuses e homens, a deusa protetora dos mortos, seu nome significa "aquele que ela cuspiu“, vivia nas águas de Nun, e os anéis de seu corpo formavam os labirintos do mundo subterrâneo, as Quiphots da cabala, atacou Rá no nascente e no poente, manchando o firmamento de vermelho-sangue.
Os ritos funerários anteriores a Akhenaton poderiam deixar os indivíduos preocupados com o dia em que fizessem a passagem para o mundo inferior, no qual enfrentariam um julgamento e passariam por diversos obstáculos.
Na religião de Amarna o faraó Akhenaton poderia ter a função de guiar o indivíduo para que ele fosse absorvido ao deus Aton, sem punições ou julgamentos. Um provável indício é a iconografia de Aton no lugar dos deuses funerários nas tumbas do período simplificando a religião. Este fato citado demonstra a importância de Akhenaton tendo características divinas para este culto solar e seus ritos funerários.
(Continua)