quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Qual a utilidade das manifestações ou revelações dos Espíritos?

 

 "Qual a utilidade das manifestações ou revelações dos Espíritos"?


Pode ser uma imagem de 1 pessoa e textoQual, então, a utilidade dessas manifestações, ou, se o preferirem, dessa revelação, uma vez que os Espíritos não sabem mais do que nós, ou não nos dizem tudo o que sabem?

Primeiramente, como já o declaramos, eles se abstêm de nos dar o que podemos adquirir pelo trabalho; em segundo lugar, há coisas cuja
revelação não lhes é permitida, porque o grau do nosso adiantamento não as comporta. Afora isto, as condições da nova existência em que se
acham lhes dilatam o círculo das percepções: os Espíritos veem o que não viam quando estavam na Terra; libertos dos entraves da matéria e dos
cuidados da vida corpórea, julgam as coisas de um ponto de vista mais elevado e, portanto, mais são; a sua perspicácia abrange mais vasto horizonte; compreendem seus erros, retificam suas ideias e se desembaraçam dos prejuízos humanos.

É nisto que consiste a superioridade dos Espíritos com relação à humanidade corpórea e daí vem a possibilidade de serem seus conselhos, segundo o grau de adiantamento que alcançaram, mais judiciosos e desinteressados do que os dos encarnados. O meio em que se encontram
lhes permite, ademais, iniciar-nos nas coisas, que ignoramos, relativas à vida futura e que não podemos aprender no meio em que estamos. Até o
presente, o homem apenas formulara hipóteses sobre o seu porvir; tal a razão por que suas crenças a esse respeito se fracionaram em tão numerosos e divergentes sistemas, desde o niilismo até as concepções fantásticas do inferno e do paraíso.

Hoje, são as testemunhas oculares, os próprios
atores da vida de além-túmulo que nos vêm dizer o que é essa vida, o que só eles o podiam fazer. Suas manifestações, conseguintemente, serviram
para dar-nos a conhecer o mundo invisível que nos rodeia e do qual nem suspeitávamos e só esse conhecimento seria de capital importância, supondo que nada mais pudessem os Espíritos ensinar-nos.

Se fordes a um país que ainda não conheçais, recusareis as informações que vos dê o mais humilde campônio que encontrardes?

Deixareis de interrogá-lo sobre o estado dos caminhos simplesmente por ser ele
um camponês?

Certamente não esperareis obter, por seu intermédio, esclarecimentos de grande alcance, mas, de acordo com o que ele é na sua esfera, poderá, sobre alguns pontos, informar-vos melhor do que um sábio que não conheça o país. Tirareis das suas indicações deduções que ele
próprio não tiraria, sem que por isso deixe de ser um instrumento útil às vossas observações, embora apenas servisse para vos informar acerca dos costumes dos camponeses. Outro tanto se dá no que concerne às nossas
relações com os Espíritos, entre os quais o menos qualificado pode servir
para nos ensinar alguma coisa.

Uma comparação vulgar tornará ainda melhor compreensível a situação.

Parte para destino longínquo um navio carregado de emigrantes. Leva homens de todas as condições, parentes e amigos dos que ficam.
Vem-se a saber que esse navio naufragou. Nenhum vestígio resta dele, nenhuma notícia chega sobre a sua sorte. Acredita-se que todos os passageiros pereceram e o luto penetra em todas as suas famílias. Entretanto, a equipagem inteira, sem faltar um único homem, foi ter a uma ilha
desconhecida, abundante e fértil, onde todos passam a viver ditosos, sob um céu clemente. Ninguém, todavia, sabe disso. Ora, um belo dia, outro navio aporta a essa terra e lá encontra sãos e salvos os náufragos. A feliz nova se espalha com a rapidez do relâmpago. Exclamam todos: “Não
estão perdidos os nossos amigos!” E rendem graças a Deus. Não podem ver-se uns aos outros, mas correspondem-se; permutam demonstrações
de afeto e assim a alegria substitui a tristeza.

Tal a imagem da vida terrena e da vida de além-túmulo, antes e depois da revelação moderna. A última, semelhante ao segundo navio,
nos traz a boa-nova da sobrevivência dos que nos são caros e a certeza de que a eles nos reuniremos um dia. Deixa de existir a dúvida sobre a sorte
deles e a nossa. O desânimo se desfaz diante da esperança.

Outros resultados fecundam essa revelação. Achando madura a humanidade para penetrar o mistério do seu destino e contemplar, a
sangue-frio, novas maravilhas, permitiu Deus fosse erguido o véu que ocultava o mundo invisível ao mundo visível. Nada têm de extra-humanas as manifestações; é a humanidade espiritual que vem conversar com a humanidade corporal e dizer-lhe:

“Nós existimos, logo, o nada não existe; eis o que somos e o que sereis; o futuro vos pertence, como a nós. Caminhais nas trevas, vimos clarear-vos o caminho e traçar-vos o roteiro; andais ao acaso, vimos apontar-vos a meta. A vida terrena era, para vós, tudo, porque nada víeis além dela; vimos dizer-vos, mostrando a vida espiritual: a vida terrestre nada é. A vossa visão se detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá deste,
um esplêndido horizonte. Não sabíeis por que sofreis na Terra; agora, no sofrimento, vedes a justiça de Deus. O bem nenhum fruto aparente
produzia para o futuro. Doravante, ele terá uma finalidade e constituirá uma necessidade; a fraternidade, que não passava de bela teoria, assenta agora numa lei da natureza. Sob o domínio da crença de que tudo acaba com a vida, a imensidade é o vazio, o egoísmo reina soberano entre vós e a vossa palavra de ordem é: ‘Cada um por si.’ Com a certeza do porvir, os espaços infinitos se povoam ao infinito, em parte alguma há o vazio e a solidão; a solidariedade liga todos os seres aquém e além da tumba. É o reino da caridade, sob a divisa: ‘Um por todos e todos por um.’ Enfim, ao termo da vida, dizíeis eterno adeus aos que vos são caros; agora, dir-lhes-eis: ‘Até breve!’”

Tais são, em resumo, os resultados da revelação nova, que veio encher o vácuo que a incredulidade cavara, levantar os ânimos abatidos pela dúvida ou pela perspectiva do nada e imprimir a todas as coisas uma razão de ser. Carecerá de importância esse resultado, apenas porque os Espíritos não vêm resolver os problemas da Ciência, dar saber aos ignorantes e aos preguiçosos os meios de se enriquecerem sem trabalho?

Nem só, entretanto, à vida futura dizem respeito os frutos que o homem deve colher da nova revelação. Ele os saboreará na Terra, pela transformação que estas novas crenças hão de necessariamente operar no seu caráter,
nos seus gostos, nas suas tendências e, por conseguinte, nos hábitos e nas relações sociais. Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da incredulidade, as novas crenças preparam o do bem, que é o reino de Deus,anunciado pelo Cristo.

Extraído do Livro A Gênese Segundo Espiritismo
Capítulo I -Caráter da Revelação Espírita
Allan Kardec