Nas Matas da Jurema
- Venha filho, vamos caminhar.
Assim anunciou o velho Pajé, balançando um maracá, quando me dei por conta estava em meio a uma clareira em plena mata virgem, árvores frondosas e maravilhosas raramente vistas no plano físico da vida. Ele me conduziu para uma estreita trilha.
- Filho, vamos para uma experiência importante, é necessário que não dê tanta importância a beleza do lugar, mas sim apure seus sentidos, visão, olfato, tato, paladar e serenidade. Perceba a textura do chão no seu pé, a leveza das folhas em suas mãos, o cheiro de ervas no ar e a brisa fresca a acarinhar sua face.
- Posso sentir o gosto de seiva na boca Pajé.
- Sinal que já está próximo do que quero filho. Respire fundo e feche os olhos.
- Pajé posso enxergar com olhos fechados! – exclamei emocionado.
- O que vê filho?
- Vejo troncos de luz, silfos, salamandras, folhas irradiantes...
- Lentamente abra os olhos.
- Sim...
- Continua vendo?
- Nitidamente Pajé...
- O que vê filho é a vida neste reino natural, tão mal percebida pelos encarnados e infelizmente entre os próprios fiéis do culto á natureza.
- Umbanda?
- Sim.
- Apure sua visão e perceba que é possível ver a seiva circular dentro das arvores, escutar o coração bater no peito dos pássaros e experienciar a presença dos entes invisíveis ao olho material, que são eles, os duendes, gnomos, fadas, silfos, ninfas e tanto mais.
- Quanta beleza Pajé!
- Quanta vida filho, quanta vida!
- Sim, pulsante...
- Agora me acompanhe.
Nos dirigimos a outra clareira, lá tinha muitas pessoas, vestidas de branco, colares, atabaque e muitas frutas, logo notei que se tratava de um terreiro pronto a iniciar uma atividade, curioso fiquei a observar atentamente, encantado com o toque harmônico da curimba e os raios de luz que espargiam no ambiente em direção dos presentes a cada batida das mãos no couro. Alguns outros se organizavam para no meio da roda depositar as oferendas, muitas frutas, velas, incensos, bebidas. Conseguia visualizar a luminosidade aurica de cada um, em cores e tons dos mais variadas.
- Filho, este grupo de cultuadores da natureza divina, está realizando um culto de exaltação ao senhor das matas...
- Pai Oxossi!
- Sim, e para tanto é comum postar oferendas em seu louvor, na Umbanda recorremos ao uso da natureza, como frutas, pedras, bebidas, incenso etc. Dispensando qualquer uso de imolação de animais.
- Sei Pajé, compreendo e tenho pra mim que é o correto, somente que muitos que cruzam o culto de umbanda com o africano recorrem á praticas da imolação...
- Sim filho, porém não vamos acessar este assunto no momento, vamos nos ater a esta liturgia de hoje e colher as impressões pertinentes.
- Sim Senhor.
Ele calado sacudia seu maracá e eu observando tudo, vi que as frutas emitiam luzes e quando cortadas era como que se abrisse uma caixa de luz, que de dentro um clarão escapava e por alguns minutos ficavam ali a iluminar e criando um campo de luz e energia indescritível. Quando a curimba acelerou o toque vi um portal se abrir na frente da oferenda e dele dezenas de caboclos, caboclas e encantados saíram, abraçaram todos os presentes, dançavam e cantavam. Realmente era uma festa, uma exaltação e finalmente entoam o ponto.
...As matas estavam escuras...e um anjo a iluminou...e no centro da mata virgem...foi Oxossi quem chegou...mas ele é o rei ele é o rei ele é o rei...
As folhas no chão começaram a voar e as entidades presentes em reverência batiam a cabeça ao chão, quando como que uma explosão e uma luz cegante se fez presente um emissário do Sr. Oxossi, sua luz verde era intensa que não pude me manter com a cabeça levantada, os caboclos ajoelhados bradavam em reverência e louvor, do lado físico alguns médiuns entravam em transe energético e a curimba acelerava o toque, poucos segundos passados novamente a explosão e Oxossi se recolheu.
Na oferenda a luz era mais intensa.
Com os médiuns em oração e ajoelhados, as entidades estendiam as mãos em direção a oferenda e o inusitado acontecia. Dos elementos saiam uma substância esverdeada parecido com uma massa elástica que eles moldavam e iam aplicando nos fiéis presentes, rapidamente era absorvido pelos chakras e a luminosidade do corpo áurico deles era modificado, sutilizava e irradiava mais. Por alguns minutos este procedimento ocorreu e as entidades se recolheram para o portal mencionado.
- Viu filho, nenhuma entidade comeu as frutas.
- Mas eles não precisam comer para ficar tratado?
- Não filho, compreenda que somos de uma dimensão bem mais sutil que a de vocês e se nos aventurássemos a ingerir o prana dos vegetais do plano físico nos traria grande desarranjo energético, quando precisamos nos “alimentar” encontramos o mesmo em nossa esfera e não na de vocês.
- Entendo...
- Entenda também que fora a liturgia religiosa, a necessidade de oferendas são para vocês mesmos que quando encarnaram perderam a capacidade de extrair o prana da natureza e recorrem a esta prática para que nós os mentores os auxilie na extração e aplicação do prana em vocês mesmos.
- Para que?
- A fim de sutilizar vossas energizar, equilibrar os chakras, curar doenças e muito mais. Também guardamos para os médiuns usarem nos atendimentos.
- Pajé de onde tiram tantas teorias que só ajudam a complicar a compreensão?
- Talvez das observações limitadas ao próprio conhecimento, ruim é quando saem do bom senso e fundamentam suas teorias no absurdo.
- Podemos fazer sempre oferendas?
- Sim, quando e onde bem entender e lá um de nós estaremos a auxiliar na extração do prana.
- Incrível.
- Agora vamos filho, logo em breve retomamos esta prosa para aprofundamentos práticos, aproveite e vamos ensinar estas práticas...
Acordei após estas palavras, poderia ser um sonho...Quero como uma revelação...
Saravá!
Texto: Rodrigo Queiroz