O EXORCISMO NA VISÃO ESPÍRITA
Um curso de apenas quatro meses reforçou o exército dos católicos contra as forças do mal na Terra.
Intitulado “Exorcismo e a oração da libertação”, ele foi oferecido, pelo segundo ano consecutivo, pela Universidade Pontifícia Regina Apostolorum, de Roma.
Entre outubro de 2005 e janeiro de 2006, cerca de 120 matriculados de todo o mundo ouviram palestras sobre os aspectos pastorais, espirituais, teológicos, litúrgicos, médicos, jurídicos e criminais do satanismo e da possessão demoníaca.
Segundo a opinião dos coordenadores do curso, “não há dúvida de que hoje o diabo está se intrometendo mais na vida do homem”. A maioria dos alunos é de padres interessados em saber como lidar com o demônio no caso de topar com ele algum dia.
Um dos alunos disse que decidiu fazer o curso após viver a “experiência perturbadora” de ouvir a confissão de uma jovem da sua paróquia. “Sua voz mudou, seu rosto se transformou e ela começou a falar em uma língua que não conhecia”, afirmou.
Um dos professores do curso é bastante conhecido na área do exorcismo. O Pe. Gabriele Nanni relacionou quatro sinais definitivos de que se trata de uma possessão demoníaca, e não de problemas psicológicos: “Quando alguém fala ou entende línguas que normalmente não conhece; quando sua força física é desproporcional ao tamanho do seu corpo ou à idade; quando se torna repentinamente conhecedor de práticas ocultas; quando tem uma aversão física a coisas sagradas, como a hóstia ou as orações”.
O desafio para os futuros “exorcistas” da Europa é grande.
Estima-se que só na Itália, há até 5.000 (Dados de 2006) membros de seitas satânicas. E jovens de 17 a 25 anos seriam até três quartos desse total.
O exorcismo foi assunto de várias reflexões e artigos por parte de Allan Kardec em diversos trechos da Codificação e da Revista Espírita. O Codificador deixou claro que seria necessário compreender a questão sob a nova roupagem conceitual da visão espírita.
No novo contexto, Kardec esclarece que o espírito das trevas, adversário de Deus na Terra, na verdade é um inimigo de si mesmo, trabalhando contra a própria paz.
Acrescenta também que no trato com as entidades ainda vinculadas ao mal, de pouco adiantam fórmulas e rituais externos, mas sim a autoridade moral do interlocutor, porque o Espírito tem a possibilidade de perceber a sinceridade de propósitos do esclarecedor e pode aferir sua honestidade pela qualidade das vibrações e pela elevação de sua congruência, no sentido de só propor aquilo que tem possibilidade de sentir com grandeza e humildade.
Nesse sentido, a técnica do diálogo com os elementos das sombras constitui uma das valiosas contribuições do Espiritismo para a melhora das relações entre as realidades material e espiritual.
Conversa franca, aberta, centrada na honestidade de propósitos e no desejo de melhoria de todos os envolvidos – vítimas, algozes e interlocutores chamados ao serviço no bem.
No lugar do ritual externo, uma atitude interna de respeito e afeto sincero pelo comunicante.
O que ele precisa é de amor, como conclui com sabedoria Hermínio Miranda na obra Diálogo com as Sombras.
A ação comunitária dos espíritas no que diz respeito às reuniões de desobsessão é, a meu ver, de grandiosa força revolucionária, por disseminar por milhares de sessões mediúnicas o convite amorável do Mestre, de servir incansavelmente para colaborar com a iluminação da Humanidade, a partir da transformação de um coração ferido e disposto a tudo por fazer o mal e vingar-se.
No lugar do “príncipe das trevas”, colocamos a figura do irmão enfermo que, tanto quanto nós, é necessitado de amparo e amor sublimes.
O diferencial do espírita é este: ao contrário de expulsar o chamado demônio da presença dos seres que ele deseja possuir, devolvendo-o aos ambientes infernais, oferece-lhe o oposto, em forma de um suave chamado a que venha fazer parte do rebanho do Senhor, já que ele também é filho de Deus e herdeiro dos tesouros do Pai...
Por aí trabalhamos, a fim de mostrar à Humanidade que todos podemos herdar a terra dos mansos de coração...
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Carlos Abranches
Transcrito da Revista Reformador - Abril/2006
Responsável pela Transcrição - Ivan N