domingo, 30 de maio de 2021

Por Kafunji Mahin Um itan da minha vida

 


Pode ser uma imagem de 1 pessoaA verdade tem várias faces e formas de ser vista e contada, e eu vou contar pra vocês uma das verdades que me ajudou e enxergar a verdade sobre a minha espiritualidade. Eu cresci em uma família “católica” em que só eu era obrigada a ir pra igreja hahaha. Isso me fez uma criança mais retraída e calada, totalmente diferente da pessoa que eu sou hoje. Eu passei boa parte da vida lá, católica, e me afastei num momento da vida em que eu não via mais sentido nas coisas que eram ensinadas ali. Eu não cabia mais naquele mundo.

A primeira vez em que fui num Ilê Axé, fui a convite de uma amiga, hoje irmã , em uma gira de povo de rua e não vi nada de impressionante. Não me assustei, nem achei nada de diferente, mesmo nunca tendo entrado num terreiro antes. Aquilo tudo me parecia muito familiar...vai vendo hahaha. Mas é aquilo, a vezes a gente precisa de uma segunda chance de olhar a mesma coisa de forma diferente e nessa segunda oportunidade tudo aconteceu! Dia 11/11/2011 (numerolólogos piram) uma das entidades me chamou, eu fui e conversamos um pouco sobre tudo. A vida, o trabalho, a família. ..enfim. Mas eu não sou uma pessoa que confia de cara e fiquei com minha cara de broa olhando Exu e sem muito papo, até que:

- A moça tá duvidando de Exu, moça?
- Eu não, mas as coisas que você tá me dizendo sobre dificuldades, qualquer pessoa passa né?

(A própria afrontaaaa! Porque noção, tive nenhuma né?) Hahahhahaha mas Exu arrasta nossa cara no xapisco pra tu ver que ele não é de brincadeira.

- Você acha que quem te tirou do fogo menina?! Quem entrou naquela casa de banho pra te salvar???

Desabei.

Quando eu tinha por volta de uns 7 anos, eu e meu primo estávamos brincando, quando faltou luz. Minha avó acendeu algumas velas para iluminar o barraco e voltamos a brincar...até que a gente resolveu brincar de passar o dedo pelo fogo da vela. O resultado foi que derrubei a vela na mesa e o fogo lambeu a toalha, a cortina e logo o barraco já tava tomado pelo fogo. A bonita aqui, muito esperta, se trancou no banheiro (que era o lugar pra onde eu sempre ia quando tava triste e queria me esconder). A fumaça foi tomando conta, o fogo aumentando e eu perdendo a consciência... até que arrombaram a porta e um homem me tirou de lá de dentro. Eu não me lembro do rosto dele...me disseram que foi um tio meu, que depois nunca mais vi. Cheguei até perguntar pra minha avó se realmente esse incêndio havia acontecido (A pessoa não crê na porra né!?) e ela me confirmou, mas também não soube me dizer quem me tirou de lá. Mas eu saí! E viva! Exu me salvou!

Caraca Kafunji, legal, ok...mas o que tenho haver com isto?

Eu levei muito tempo para entender o mínimo que entendo hoje sobre espiritualidade, e digo com toda certeza, que muita coisa a nossa mente não entende como aconteceu na hora que acontece, como foi capaz. Mas eu sei; Espiritualidade! E antes de chegar a compreensão de tudo o que aconteceu, da forma que eu tenho hoje, precisei da ajuda de Exu e vou explicar de que forma.

Exu é a representação da reconstrução por meio da destruição! A organização pelo caos. Não é a toa que ele é a comunicação e a confusão, tudo sai do lugar e tudo vai para onde deveria estar quando Exu passa. Exu mostra em seus itãs, que por vezes é preciso destruir tudo o que foi construído, tudo o que se crê, pra depois aos poucos reconstruir novas possibilidades, novas verdades, novos caminhos e principalmente, VIDA nova!

Então, naquele dia do incêndio, Exu destruiu em mim o que era preciso, física e simbolicamente, para depois no dia que fui no Ilê, Exu dar início a construção da minha espiritualidade como ela é hoje. Porque pensa comigo...quando eu iria acreditar em alguém que eu nunca vi, num lugar que eu nunca vi, se não fosse dito algo sobre mim que mais ninguém ali teria acesso. Algo que eu trazia só comigo e que nem mesmo saberia explicar sem aquele conhecimento.

Bom mas é isso. É preciso destruir o que foi injetado de branquice em nós, para que aí sim a gente consiga ter olhos e ouvidos para nossa cultura, história e espiritualidade, sem esse olhar embranquecido que aprendemos a ter ao longo da vida. Tudo o que acreditava e fui ensinada ao longo da vida, que era errado...Exu vem mostrando que não é bem assim...e veja bem o que eu disse; Ele vem MOSTRANDO! Não é dizendo, nem prometendo...é esfregando na cara pra eu enxergar bem mesmo. Bom, mas isto é a minha vivência! E até chegar aqui “caminhei, caminhei, caminho andei, caminhei...50 legas pra chegar neste lugar🎶”... não foi pouco caminho até poder ver e ouvir, não foi de uma hora pra outra até saber ouvir e ver. E continuo aprendendo a ponto de eu tá até escrevendo pra vcs...olha que encruzilhada Exu me deixou habitar?!

Que encruzilhada você está?

Nem todo mundo vai ter a mesma visão das coisas. A verdade não é só uma, ela tem várias faces e isto ótimo! Muito! Mas saber se ouvir, dar ouvidos à sua "intuição" e perceber quando sim e quando não, faz parte do jogo. Se não tiver ligado, leva rasteira e teu maior parâmetro é vc mesmo! Se vc se mede por cima, excelente. Se vc se mede por baixo (pelo que é branc'o), sinto te informar que boa parte do que escrevi não vai fazer sentido nenhum pra vc...porque o que tá escrito pode te dar conhecimento, pode te guiar nas tuas dúvidas, mas espiritualmente é prática, a prática se faz pelo corpo e o corpo é domínio de Exu! Se eu tenho um corpo preto, eu tenho Exu. Se eu tenho Exu a encruzilhada é o meu lugar.

Em que encruzilhada vc está? Qual é o teu itan?

Via Orixás & Pretagogias
#Povodafloresta🌿