quinta-feira, 27 de maio de 2021

HÙNVIVA - ANCESTRALIDADE FAMILIAR VÒDÚN (ANCESTRALIDADE COLETIVA)

 


Pode ser uma imagem de 1 pessoaMuitos falam sobre ancestralidade, mas muitos confundem antepassado com ancestral, por exemplo. Nós, brasileiros, ainda engatinhamos sobre o entendimento deste conceito pelo prisma africano.

Precisamos entender também a diferença de Divindade, Entidade e Ancestral Divinizado. Vários templos podem cultuar a mesma divindade, tanto no Brasil como na África, porém não quer dizer que pelo fato de cultuarem a mesma divindade que farão parte da mesma coletividade. E este é o ponto principal do pertencimento.

No Vòdún a coletividade é definida em três estágios:

- Xwetá: a família base de cada um. A casa que mora pai, mãe e filhos. Isto constitui uma Xwetá;

- Hɛ̌nnu: aqui temos todos integrantes da Xweta mais avô, avó, tios, tias com seus cônjuges respectivos e primos;

- Akɔ: é a grande ancestralidade familiar de um indivíduo. São todos da Xwetá e Hɛ̌nnu mais todos da linha genealógica dos avós, como tio-avô e seus descendentes, mais todos acima que estão vivos. O mais velho dessa coletividade é o Akɔgàn, Akɔsú, Daá (rei central) ou Dadá (grande patriarca);

Esta divisão sociofamiliar se aplica quando também estamos falando de culto. Eu tenho um pertencimento coletivo onde sou membro, para eu ir para outra coletividade de culto, preciso ser aceito por ela e iniciado para pertencer.

Exemplo: eu sou iniciado para Xɛvyoso na grande coletividade Akɔ - Kpɔ̀daágbá, do tronco familiar da Hɛ̌nnu - Xwésìnfá, na condição de filho da Xwetá - Xwé Dàngbǎjíxà. Se eu migrar para outro Akɔ, eu terei que recomeçar. Se eu migrar para outra Xwetá que pertença a minha Hɛ̌nnu, por exemplo, eu ainda estarei na minha coletividade.

Esta explicação é para entender que não basta ser adepto da mesma divindade, tem haver o pertencimento da coletividade.

Cada clã tem o seu Akɔvodún, no meu caso é o Vòdún Gbáfɔ̌nnɔ̀ Ɖɛkà, Vòdún clânico, um vòdún mítico por ter começado a coletividade. Este é o principal Vòdún do clã. Meu Hɛ̌nnuvodún ou vòdún familiar é Tɔ̀kpádún e meu Xwetávodún ou vòdún da casa é Sògbò. Nesta mesma ordem é a importância deles para mim e sua influência. São esses três que moram no meu Kpéjì, além de Sakpata que é o Jɔ̀tɔ̀ do clã, o Vòdún ancestral protetor de todos.

Muitos não sabem, mas o comum é que sejamos iniciados para espíritos de adeptos iniciados dentro do clã, ou seja, nosso ancestral clânico volta em nome do Vòdún no qual foi iniciado ainda vivo, assim mantendo viva a tradição de culto familiar.

Erro crasso:

"Lɛ̌gbǎ bebe qualquer bebida em todas as casas"

R) Cada Lɛ̌gbǎ teve sua história e preferências em vida.

- Por que no Benim Lɛ̌gbǎ bebe gim e no Brasil ele bebe cachaça?

R) Um Lɛ̌gbǎ do Benim em vida tinha o costume de apreciar Gim, quando morre, ele irá manter os mesmos gostos e preferências. No Brasil não se tinha o costume de beber gim. Como cultuamos nossos ancestrais do culto sem saber em grande maioria das vezes, podemos dar gim e Lɛ̌gbǎ não gostar. Individualidade ancestral.

Sim, antes que me perguntem! Você vai iniciar Lisa e um ancestral de culto seu que era iniciado de Lisa pode ocupar este posto e vir na sua cabeça. Sim! É verdade por mais chocante que seja.

Quem já escutou uma velha assistindo a um Candomblé e dizendo que o Vòdún de fulano dança muito igual ao Vòdún de um tio de santo já morto?

R) Isto! Chocante? Sim! Nosso culto é familiar e ancestral.

Fávodúnhwendo
#Povodafloresta🌿