quinta-feira, 27 de maio de 2021

Esqueça os fundamentos, rezas e ofós. Você precisa mesmo aprender a entender, sentir e viver a religiosidade.

 


Nenhuma descrição de foto disponível.Você acabou de se iniciar no Candomblé e quer se tornar um grande Egbomi, Babá ou Iyalorixá? Vou me atrever a dar um conselho: Não se preocupe com nada disso. Não queira ser grande. Não tenha pressa de aprender os Ofós, Orikis, Gbaduras, Rezas, Fundamentos, Qualidades, Caminhos, Quedas de Búzios e nada dessas coisas. Se preocupe com isso não.

Usa esse primeiros 7 anos (no mínimo) para viver a sua religião. Respire o Candomblé Crie intimidade com a religiosidade, os costumes, o terreiro, a família de santo... Crie uma relação com suas roupas brancas. Aceite-as no seu dia-a-dia. Use suas contas em locais públicos, se empodere do que é seu.
Os tempos são difíceis, a Intolerância Grita em nossas caras, e pra você que acaba de chegar, os fundamentos e toda a complexidade do rito não devem ser prioridades, não. Saiba reconhecer e respeitar o seu lugar, que por mais que grande parte dos sacerdotes menospreze as novas vidas de axé, são extremamente importantes para a continuidade. Tenha consciência disso. Saiba que a religião só existirá se você continuar.

Aproveite esse tempo bom para mergulhar na história do continente africano, conheça a história do negro no Brasil. Conheça e se Indigne com a história da escravidão no País. Leia sobre racismo. Assista filmes, documentários, compre livros, vá à palestras, junte-se a movimentos sociais, crie grupos de estudos ... Conheça a história da sua religião, da sua nação, do seu Orixá... do seu País. Aprenda a responder contra a violência, munido de verdades e pautado em direitos sociais. É importante para resistir. É importante entender e conhecer o mínimo da história daqueles que lutaram para que você usasse suas roupas brancas e fios de contas!

Não se preocupe com roupas bonitas!

Não se incomode com o fato de precisar andar de cabeça baixa, mas se incomode se alguém te maltratar por isso.
Não tem problema algum ser Abian, Iyawo, Elegun. São fases importantes da religiosidade. Aproveite esse tempo. Não é um tempo livro, é um tempo de estudo, de conhecimento de si, de afirmação e construção de identidade. Identidade ancestral. Molde a si com aquilo que melhor te serve.

Entenda a urgência de se combater, por exemplo a intolerância religiosa, mas antes de brigar, procure saber como ela acontece e o porquê de acontecer contra nós.

Você não precisa ser um Egbomi, Babalorixá ou Iyalorixá para lutar contra os crimes de intolerância, mas precisa saber o que é isso, de verdade.
Da mesma forma, você enquanto noviço, não tem a responsabilidade e nem precisa de pressa para aprender todos os fundamentos importantíssimos que as divindades precisam, mas pode treinar os bons ouvidos, bons olhos, e bons sentidos para sentir, aprender, memorizar e armazenar em você para colocar em prática no seu momento. O momento requer tempo, requer cuidado, requer sabedoria. Sabedoria é aquilo que você vai desenvolver e entender no dia a dia. Conhecimento é uma outra história.
Você pode até conhecer, mas não saber usar/ou fazer, por um simples fato: porque sabedoria chega com a experiência. Experiência quer dizer viver: acertar, errar, cair, tentar, experimenta... Viver, um dia de cada vez, ciente de que, cada dia é importante e que a maneira com que se aprende a viver é que te ensina a ser melhor.

Amo o Candomblé
#Povodafloresta 🌿