segunda-feira, 24 de maio de 2021

MENSAGEM DE PAI JOÃO DE ANGOLA

 


Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Adorei as Almas"Demorou muito tempo, muito tempo mesmo para poder me engajar nestas falanges de trabalho desta religião tão nova na esfera humana. Demorou sim, para eu estar apto a ouvir e não julgar, para não agir como um executor da Lei cego, cego pelo meu radicalismo, demorou muito para eu entender que no livre arbitrio dos encarnados não se pode interferir, e que tudo tem dois lados, nunca existe um lado só da história. Bem comecei devagarinho, incorporar para benzimento de crianças, para ouvir os problemas de muitos e aconselhar de forma correta, não tomando para mim suas dores, mas sendo imparcial, tendo o cuidado de pedir um pequeno tempo para correr gira e ir atrás do outro lado da questão, tentando influenciar sempre para o bem os dois lados, tudo

tudo espiritualmente mas deixando para todos o livre arbitrio de escolha. Nossa vocês não imaginam como foi difícil, agarrava-me a minha fé e aos sábios conselhos dos caboclos de Ogum, quantas vezes não vi e vejo filhos que vêm aos meus pés e exigem que eu realize suas vinganças, quantas vezes sem dizer diretamente que não faria, eu os ouvia em silêncio, pegava o nome do desafeto, eles pensavam que eu ia realizar a tão almejada vingança, eu ia até o desafeto estudar o seu estado espiritual e tentar reaproximar os dois. Quantas vezes não se demoviam da idéia de vingança e não mais me procuravam, dizendo ao povo que eu não tinha força, que forte era esse ou aquele de algum centro que se intitulava de Umbanda, mas na verdade além do nome que usavam nada tinham de umbanda nem os espíritos que ali incorporavam. Sim quantas vezes chorei e as lágrimas rolaram de meus olhos, desencarnei mas continuei sendo um velho bobo, que como antes queria consertar o mundo, sempre errei quando encarnado devido ao meu emocional que não sabia conter. Ser colocado no tronco era fácil, apanhar não me importava, era consequência de não seguir as normas dos brancos, isto eu entendia, quem ali estava que seguisse as ordens dos brancos pois eles deixavam bem claro, o castigo viria, ser escravo dócil era não trazer para si mesmo a ira deles, a pena já muito bem avisada que sofreria quem fizesse os abusos. Agora ver no tronco os meus irmãos de cor, mesmo sabendo que eles haviam feito como eu, desobedecido normas, ah eu não aguentava, gritava, chorava, implorava, que fosse dado a mim o castigo, e algumas vezes apanhei junto com eles. O que não diminuía a dor de vê-los sofrer, mas eu me achava responsável por todos, tinham muita confiança em mim, deste pequeninos, eu havia me tornado líder deles. Cheguei à fazenda não contava com vinte anos, trazido diretamente do navio negreiro, logo os que ali estavam perceberam o meu gênio que não era nada fácil, pois se era bom também fazia valer a ordem entre meus irmãos. Nunca com violência, era na palavra e não sei porque até hoje, eles me ouviam. Desta forma quando alguém burlava as leis dos brancos, eu de certa forma me sentia culpado, eu os havia ensinado que a melhor forma de viver era a resignação, injusto foram nossos irmãos africanos que nos traíram, aprisionando-nos para nos venderem para os navios. Os brancos apenas nos compravam, eu sabia que havia algumas fazendas onde o tratamento era mais humano, os castigos não eram cruéis, os negros que davam problemas eles simplesmente vendiam, não tinha coragem de aplicar castigos cruéis, mas livravam-se do problema, e eu achava estes irmãos muito burros, se eles soubessem o tratamento dado na maioria das fazendas jamais se atreveriam a fazer nada que contrariasse os seus senhores. Já na fazenda que eu estava não, o tratamento era de humano para animal, apenas a comida era boa, mas porque o patrão havia perdido muitos negros que enfraquecidos ficaram doentes e rapidamente morriam, era mal negócio não alimentá-los bem. Morri no tronco, já estava bastante velho, dias de pão e água antes da surra, e o capataz queria mesmo se livrar de mim, eu controlava meus irmãos, mas ultimamente os mais jovens não me ouviam, começaram a fugir, para serem pegos logo depois, várias fugas foram tentadas, eu sempre tentava impedir as surras, e na última delas em minha vida eu ao ver que o feitor estava batendo em um irmão já desmaiado, em cima das carnes vivas, eu dei um salto e agarrei o chicote, ainda por cima falei que eu tinha programado a fuga. Puseram-me a pão e água e resolveram cortar o mal pela raiz, fizeram comigo o que estavam fazendo com o rapaz, rapidamente desencarnei, mãos generosas me acolheram no mundo espiritual, e assombrado vi que essas mãos eram tão brancas, tão alvas, e me dizia,: Meu filho amado, como demoraste para voltar, mas prometi te esperar. Na hora não entendi, depois soube era minha mãezinha de outra vida, que assistiu minha morte precoce, aos trinta anos. Então entendi, não era injusto o que sofria, aquele mesmo feitor que tanto ódio tinha de mim, era um dos que foram vítimas de minha tirania, pois apesar de ser bom, ao saber que meu pai falecera pelas mãos de alguns negros, não me preocupei em saber a verdade, fui até a senzala e não pensei duas vezes em matar quatro negros, quatro irmãos, mas que na verdade eram inocentes, pois fora o feitor de nossa fazenda que tinha assassinado meu pobre pai. Dois me perdoaram e estavam comigo na fazenda como escravos, um ainda encontrava-se nas trevas pois o ódio tomara conta de seu coração e por isso se ligou a seres poderosos das Trevas, e o outro era o feitor, que haveria de se tornar amigo e ajudar os escravos da fazenda, no entanto quando colocado em posição inversa da outra encarnação deixou-se dominar pelo orgulho e se achou superior a eles. Bem por isso eu tanto defendia a todos, tinha gravado na minha consciência a injustiça praticada na outra vida, desejara me redimir, e assim foi feito, certo que minha companheira muito me ajudou, como me ouvia e me consolava, era ela a mãe daqueles quatro rapazes. Hoje ela trabalha aqui nesta religião bendita, e eu deixo isto registrado aqui, para que entendam de uma vez por todas que jamais devemos julgar, jamais devemos permitir que o ódio entre em nossos corações, que existem mais mistérios do que qualquer ser vivente possa imaginar. A felicidade deste nego hoje é perceber que devagar, devagarinho a nossa Umbanda começa a ser vista como uma religião, que alguns filhos já entendem que ela é para e evolução espiritual de cada um, que ela não foi idealizada para realizar trabalhos, mas sim para desmanchar, que todos devem abrir os ouvidos para as verdades, os ensinamentos passados, e que o livre arbitrio de cada um deve ser respeitado. Agora já falei demais, aliás outro defeito meu, vou pegar meu banquinho e ir para Angola, buscar meus irmãos para os trabalhos da noite, em uma falange sempre tem o espírito que a iniciou, que raramente incorpora, e este espírito comanda setenta e sete falanges, formando um triângulo perfeito, todos durante o tempo que estão trabalhando incorporam não só o nome como os mistérios daquele espírito que se somam aos seus, pois nada é desperdiçado. He, he, já falei demais, é melhor eu me ir, mas procurem dentro do templo de Umbanda que frequentam, pedir para que os guias venham de vez em quanto só para instrui-los, existe muitos ensinamentos que podem ser abertos para os encarnados. Que Oxalá os abençoe, ditado por Pai João de Angola psicografado por Luconi