Fátima era médium de uma casa umbandista, servia lá desde muito tempo. Era a menina dos olhos dos irmãos medianeiros, a mais carismática e alegre, mas a verdade era que naqueles tempos, a moça não estava se gostando muito, vivia calada e entristecida.
No lar enfrentava um turbilhão de problemas, era o filho adolescente que não queria obedecer, o marido cheio de dificuldades no trabalho, a casa precisando de uma reforma e para variar, ela havia ficado desempregada... Mas poderia ficar pior! As suas vizinhas insinuavam-se para seu esposo... E ele gostava.
Namoro ela nem mais sabia o que era, na verdade retraiu-se demais e negou a si e ao próprio companheiro e o direito de curtirem-se como um casal, aí já viram né?
Quando o moço demonstrava que estava carente de seus beijos, ela se esquivava dizendo que estava cansada e para piorar ela não o deixava ver o seu corpo por causa da vergonha que sentia e isto sempre era o motivo dos desentendimentos entre eles. Ele foi aos poucos distanciando-se dela e quando Fátima reclamava ele a culpava.
Nossa irmã realmente tinha certa responsabilidade, os problemas do cotidiano deixaram aquela doce mulher, desanimada. Acabou permitindo que a vida agitada e difícil minasse suas vontades e aí, descuidou-se de si mesma em demasia.
Desde o nascimento do único filho do casal, elanunca mais interessou-se por si mesma, mas a beleza discreta que existia nela, não desapareceu de todo. Surgiram então dificuldades enormes em sua vida, como por exemplo, as vizinhas assanhadas que competiam entre si para saber qual delas seduziria primeiro Jorge, o marido de Fátima. Quando ela o questionou cobrando-o severamente uma atitude de homem casado, ele a maltratou dizendo que buscaria na rua o que não tinha em casa! Isto foi a gota d’água para a moça, o desânimo bateu mais forte e Fátima entregou-se de vez ao desânimo. Apesar de amar o que fazia dentro do templo espiritualista, de auxiliar sempre dando o melhor de si, Fátima ficou desmotivada e infeliz, achando-se a mulher mais tosca do mundo, mais feia e sofrendo porque percebia que aos poucos perdia o marido.
Um dia seguiu para o templo umbandista em silenciosa oração, pedindo aos orixás o devido amparo e o pedido foi tão sincero, que assim que colocou os pés no mesmo, sentiu algo diferente, uma força que a encorajava... Era bom...
Na sessão ela ficou num cantinho cantando bem baixinho, era como se quisesse “esconder-se” de todos. Nesta hora percebeu um magnetismo forte atuando em seus centros de força e um perfume delicioso foi espargido em todo o ambiente e de repente, ela começou a dançar.
Pombagira envolveu Fátima que agora se olhavaenquanto dançava e gostava do que via.
Ela observava seus pesinhos delicados e descalços, movimentando-se num ritmo gostoso e gostava daquilo, contemplou os braços e as mãos e soltou os longos cabelos, sentindo vontade de enfeitá-los com uma flor. A médium dançava sob a vibração da entidade feminina que a auxiliava a desvencilhar-se da falsa ideia de que era feia. Era uma dança sensual com movimentos suaves que faziam-na sentir-se feminina e bela. Agora os médiuns daquela casa a observavam com alegria, pois entendiam que pombagira se achegava para transformar.
Fátima estava radiante, sentia-se a mais bela mulher do mundo, luminosa e delicada. Queria ir para casa ver o marido, pensava nele com muito amor.
Ao fim dos trabalhos naquele templo abençoado, ela retornou rapidamente para seu lar. Encontrou Jorge ainda acordado, assistindo televisão no quarto. Olhou para ele com amor, ainda sentindo aquela energia vibrante dizendo-lhe: “você pode!”. Soltou os cabelos, olhou para o marido de forma diferente e lhe deu um lindo sorriso, Jorge mesmo sem entender sorriu-lhe
de volta. Sentia que havia algo diferente nela. Ela começou a dançar para ele de forma elegante, sensual e singela, atraindo-o com paixão. Quem disse que paixão não serve para nada de bom? Jorge por sua vez sentiu-se valorizado, amado e querido. A essa altura estava entregue e feliz, percebendo que sua esposa estava de volta e com um brilho especial nos olhos.
Fátima via a entidade, sentia sua força e a ouvia dizer-lhe novamente: “vamos moça, você consegue!”.
Enquanto dançava olhava para si, percebendo de fato como era delicada e que suas formas eram sim cheias de curvas, um corpo feminino agora cheio de vontades e sem recalques. Lançou sobre Jorge um olhar cheio de desejo e de amor e o moço, mais que depressa a envolveu em seus braços, tocando seus cabelos e esboçando um sorriso provocante, feliz davida!
Pombagira deu uma gargalhada gostosa e seguiu seu caminho.
Esta é a magia de pomba-gira, quando ela chega, é bom arredar!
Paz, equilíbrio e amor!
Autoria: Marcos Marchiori/Letícia Gonçalves