“A Senhora das Flores”!
Essa cigana perdeu-se do seu Povo ainda menina, quando eles passavam pela cidade de Marselha. No porto pararam para fazer uma apresentação e comprar iguarias, enquanto houve uma invasão dos saxões. Na confusão que se seguiu, ela perdeu-se e foi levada por uma senhora que morava nas cercanias da cidade. Seus pais lhe procuraram por dias, mas de nada adiantou.
Essa senhora, morava sozinha e cultivava rosas. Queria muito ter uma filha e aquela criança foi seu raio de sol. Com o tempo a menina deixou de sentir a falta de seus pais e afeiçou-se àquela senhora. Cresceu e tornou-se uma linda jovem, que atraía sempre os olhares de todos ao vender as rosas no porto. Todos a chamavam de “A Menina das Rosas”. A senhora e ela eram muito felizes e ela nem lembrava mais que havia se perdido de seus pais verdadeiros.
Um dia houve uma invasão de saqueadores na cidade e ao chegar ao sítio, “A Menina das Rosas” encontrou tudo arrasado e sua senhora estava caída ao chão sem vida. Os carrascos ainda estavam nas imediações do sítio e ao avistarem a menina-moça, se acercaram dela e a capturaram, usando-a para se satisfazerem. Depois de muitos dias sendo mantida em cativeiro, conseguiu fugir de seus algozes, mas já não estava mais em Marselha e não reconhecia o local onde se encontrava. Não tinha rosas para vender e não sabia como sobreviver.
Precisou trabalhar em uma estalagem em troca de comida e pouso, mas a condição era servir aos fregueses como eles desejassem. Essa não era a vida que ela desejava. Então, quando conseguiu juntar um dinheiro, fugiu e tentou voltar ao Porto de Marselha. Lá poderia cultivar e vender suas rosas. Ela conseguiu retornar, mas a cidade não era mais a mesma, nem ela era a mesma pessoa. O sítio estava ocupado por desconhecidos e ela não tinha como provar que era a proprietária.
Novamente ela vendeu seu corpo e se sentiu triste por isso. Queria muito voltar a vender rosas. Então, ouviu falar de uma província chamada Provença, onde se cultivavam ervas aromáticas e flores diversas. Ela se dirigiu para lá e andando um pouco a pé e um pouco de carona, conseguiu chegar ao local desejado. Procurou emprego nas fazendas de flores da região e conseguiu se tornar uma coletora. Todos os dias levantava-se muito cedo, tomava seu café e se dirigia ao campo para coletar as flores e ervas diversas. Essa rotina durou mais de vinte anos e foi feliz assim. Nunca se casou e nunca se enamorou. Viveu só, como a sua senhora. Era querida por todos, pois sempre sorria e conversava com respeito. Morreu aos 43 anos de tuberculose – doença que adquiriu do pólen das flores e do ar gelado das estações frias. Seu nome ela nunca revelou, pois gostava de ser a “Menina das Rosas” e depois se tornou a “Senhora das Flores” para os trabalhadores da fazenda. Essa foi sua história e apesar de tudo o que passou, nunca deixou de sorrir e de tratar bem a todos que a cercavam.