quinta-feira, 7 de junho de 2018

ASCETICISMO



O adjetivo "ascético" deriva de um termo grego "askesis" (prática, treinamento ou exercício). 

Deve-se entender inicialmente que o Asceticismo é uma filosofia. Assim como qualquer filosofia possui princípios, finalidades e um sistema a ser seguido.

O termo asceticismo significa alguém que pratica uma renuncia ao mundo com objetivo de adquirir crescimento intelectual e espiritual.

Asceticismo é a filosofia que tem como objetivo adquirir grande espirituosidade por meio da refreação dos prazeres mundanos.

Essa refreação é feita utilizando-se a austeridade, um sistema severo de se afastar de quaisquer tipos de prazeres visando a purificação do corpo. Resumindo, uma severa renuncia ao prazer.

É a Dominação pela Vontade aplicada aos prazeres.

A filosofia do ascetismo segue o princípio de que a purificação do corpo ajuda a purificação da alma. Sendo assim, com a alma purificada é possível obter-se a compreensão de uma divindade ou achar a paz interior.

Este autodomínio traz grande liberdade em várias áreas da vida de seus praticantes, como aumento das habilidades de pensar limpidamente e resistir potencialmente a impulsos destrutivos. Isso acontece porque os prazeres distraem a mente, impedindo a mente de trabalhar o pensamento.

Outro ponto interessante é que você não precisa ser ascético, mas pode utilizar o asceticismo para objetivos específicos, como largar um vício, por exemplo.

Quem não tem ou nunca teve um prazer, que acabou virando habito e por fim se tornou um vício? Despojar-se de prazeres, hábitos ou vícios não é tão fácil assim quanto parece.

Existem dois tipos de asceticismo:

- O Ascetismo Extraordinário: Onde as pessoas, para conseguirem seus objetivos, desistem do mundo para levar a vida ascética (isso inclui os monges que vivem comunitariamente em monastérios, e os ermitões que vivem sozinhos). 

- O Ascetismo Ordinário: Onde as pessoas que levam vidas ascéticas, mas não se retiram do mundo. Nesse caso, as pessoas não são totalmente ascéticas e restringem-se a aceitar apenas prazeres que não causem distração.

Para eles, alguns alimentos densificam o corpo físico, ou seja, dificultam certos trabalhos sutis, como manipulação de energia, durante o período de práticas que envolvem o uso de energia sutil, como Rituais, Meditações e etc.. As comidas gordurosas, qualquer tipo de droga, alimentos de difícil digestão, entre outros, são evitados.

Lembre mos que o extremismo radical nunca é bom completamente. Vemos no Budismo e o chamado "Caminho do meio", como exemplo de um Ascetismo Extraordinário:

Os intérpretes do sonho de Maya profetizaram que seu filho será dono do mundo (um grande rei) ou o redentor do mundo. O seu pai prefere o primeiro e faz erguer três palácios para Sidharta, dos quais exclui tudo que possa revelar a ele a sensibilidade, a dor ou a morte. O príncipe se casa ao cumprir dezenove anos de idade, porém antes deve ser vencedor em várias competições, que incluem a caligrafia, a botânica, a gramática, a luta, a corrida, o salto e a natação. Deve também triunfar na prova do arco. A flecha disparada por Sidharta cai mais longe que todas as demais, e onde cai brota uma fonte. Estes lauréis são símbolos de sua futura vitória sobre o demônio.

Dez anos de ilusória felicidade transcorrem para o príncipe, dedicados aos gozos dos sentidos em seu palácio, cujo harém abriga oitenta e quatro mil mulheres. Sidharta, porém, sai certa manhã em seu carro e vê, com assombro, um homem encurvado "cujo cabelo não é como o dos outros, cujo corpo não é como o dos demais", e que se apoia em um bastão para caminhar e cuja carne treme. Pergunta que homem é aquele e o cocheiro lhe responde que é um velho, e que todos os homens da terra serão um dia como ele. Em outra saída, vê um homem devorado pela lepra, e o cocheiro lhe explica que se trata de um doente e que ninguém está livre desse perigo. Em outra mais vê um homem a quem levam em um féretro, e lhe explicam que este homem imóvel é um morto e que morrer é a lei de todo aquele que nasce. Na última saída vê um monge das ordens mendicantes que não deseja nem morrer nem tampouco viver ( nas últimas formas da lenda, estas quatro figuras são fantasmas ou anjos). A paz está espelhada em sua face; Sidharta encontrou o caminho.


Na noite em que toma a decisão de renunciar ao mundo, lhe anunciam que sua mulher, havia dado a luz a um filho. Regressa ao palácio e à meia-noite, após despertar, percorre o harém e vê mulheres adormecidas. A uma escorre baba pela boca; outra, com os cabelos soltos e desordenados, parece Ter sido pisoteada por elefantes; outra fala dormindo; outra mostra seu corpo cheio de chagas; e todas parecem mortas. Sidharta diz: "Assim são as mulheres, impuras e monstruosas no mundo dos seres mortais; o homem, porém, enganado por seus adornos, as julga cobiçáveis". Entra no aposento de Yasodhara e a vê dormindo com a mão sobre a cabeça do filho. Pensa: "Se retiro essa mão de seu lugar, minha mulher despertará; quando for Buda voltarei e tocarei meu filho".

Foge do palácio rumo ao oriente. Os cascos do cavalo não tocam a terra, as portas da cidade se abrem sozinhas. Atravessam um rio, despede o serviçal que o acompanha, entrega a ele seu cavalo e suas vestes e corta o cabelo com a espada. Atira o cabelo cortado para o alto e os deuses o recolhem como relíquia. Um anjo que assumiu a forma de um asceta lhe entrega as três peças do traje amarelo, o cinto, a navalha, a tigela para esmolas, a agulha e a peneira para filtrar a água. O cavalo regressa e morre de dor.

Sidharta fica sete dias na solidão. Depois procura os ascetas que moram na selva; uns estão vestidos de ervas, outros de folhas. Todos se alimentam de frutos; uns comem uma vez por dia, outro cada dois dias e outros cada três. Rendem cultos à água, ao fogo, ao sol ou à lua. Existe quem esteja sobre um único pé e outros que dormem sobre leitos de espinhos. Estes homens lhe falam dos mestres que vivem no norte, mas as razões destes mestres não o satisfazem.

Sidharta vai para as montanhas, onde passa seis duros anos entregue à mortificação e ao jejum. Não muda de lugar quando sobre ele caem a chuva ou o sol; os deuses crêem que morreu. Compreende, finalmente, que os exercícios de mortificação são inúteis; levanta-se, banha o corpo nas águas do rio e come um pouco de arroz. Seu corpo recobra imediatamente o antigo fulgor, os sinais que Asita reconheceu e a auréola perdida. Pássaros voam sobre sua cabeça para render-lhe homenagem e o Bodhisatva senta-se à sombra da árvore da iluminação e se põe a pensar. Resolve não levantar-se daí até haver alcançado a iluminação.

Mara, o deus do amor, do pecado e da morte, ataca então a Sidharta. Este mágico duelo ou batalha dura uma parte da noite. Mara, antes de combater, sonha que foi vencido, que foi perdido seu diadema, murchas as flores e secos os tanques dos palácios, rompidas as cordas dos seus instrumentos musicais, coberta de pó a sua cabeça. Sonha que durante a luta não pode desembainhar a espada, mas congrega, apesar de tudo, um vasto exército de demônios, tigres, leões, panteras, gigantes e serpentes – alguns eram grandes como palmeiras e outros pequenos como crianças -, cavalga um elefante de cento e cinqüenta milhas de altura e assume um corpo com quinhentas cabeças, quinhentas línguas de fogo e mil braços, cada um deles com uma arma diferente. Os exércitos de Mara arrojam montanhas de fogo sobre Sidharta e estas, por obra do seu amor, se convertem em palácios de flores. Os projéteis formam um alto docel sobre sua cabeça. Mara, vencido, ordena a suas filhas que tentem seu antagonista, e elas o assediam e lhe dizem que estão feitas para o amor e para a música. Sidharta, porém, recorda-lhes que são ilusórias e irreais, e, apontando-lhes o dedo, as transforma em velhas decrépitas. Coberto de confusão, o exército de Mara se Dispersa.


Só e imóvel sob a árvore, Sidharta vê suas infinitas encarnações anteriores e as de todas as criaturas; abarca com um golpe de vista os inumeráveis mundos do universo; depois, a concatenação de todas as causas e efeitos. Intui ao amanhecer as quatro verdades sagradas. Já não é o príncipe Sidharta, é o Buda. As hierarquias dos deuses e os budas futuros o adoram, porém ele exclama:

"Recorri o círculo de muitas encarnações buscando o arquiteto.

É duro nascer tantas vezes.

Arquiteto, finalmente te encontrei.

Nunca voltarás a construir a casa".

É uma grande questão de pensamentos, doutrinas, escolhas e filosofias, dentre outras coisas que margeiam nossas ínfimas, VIDAS! Porém, o extremo nunca é bom! Se algo é esticado demais parte, se mantém estático, amolece e se perde.

O mundo é feito de escolhas e devemos compreender o que nos faz mal, tanto ao físico, quanto à mente e ao espírito. 

Quanto aos alimentos, nos dizem os farmacologistas: “Tudo é veneno, tudo faz mal e a única coisa que diferencia o remédio do veneno é a dosagem.”

Até a luz em excesso pode cegar. Equilíbrio, essa é a chave!