segunda-feira, 13 de julho de 2015

Oferenda de Encruzilhada



Francisco era seu nome. Homem que conheceu desde muito jovem as dificuldades materiais da vida, e acostumado a trabalhar desde o nascer do sol até a noite chegar, agora se aposentava. Saudável e com muita energia, não demonstrava seus cinqüenta e oito anos. Embora de família humilde, recebeu a melhor educação possível transmitida pelo exemplo de seus pais. A única herança que não quis herdar dos progenitores foi à fé. Incrédulo, não seguia nenhuma religião e até zombava delas.
A ociosidade que a aposentadoria trouxe para seu Francisco, o deixava ansioso. Agora que já havia reformado a casa, o galpão, plantado a horta, os dias demoravam muito a passar. Relembrando o dito popular que “cabeça vazia é oficina do mal”, em pouco tempo Francisco sentiu vontade de começar a divertir-se já que até então só havia pensado em trabalho. Morando próximo à cidade, ao entardecer resolveu visitar uma casa de diversões que existia por lá. Entre bebidas, mulheres e prazeres, perdeu a noção de tempo e retornava cambaleante já de madrugada, quando ao chegar numa encruzilhada avistou uma luz fraca no chão. Chegando próximo percebeu que ali tinha um “despacho”, como chamavam aquilo por lá. Uma bandeja grande onde repousava uma ave morta, velas, charutos e uma garrafa de cachaça, além de outros materiais.
Aliado a sua falta de crença em qualquer coisa, estava agora a bebedeira e todas as energias condizentes ao lugar de onde viera. Com desdém e desaforando com palavrões, juntou a garrafa de bebida e os charutos e chutou o resto do material. Até chegar em casa bebeu quase tudo e fumou alguns charutos.
No outro dia contava para a esposa sobre o “achado” e debochava com sarcasmo. A bondosa mulher, cuja mãe em vida era médium benzedeira, respeitava todas as manifestações ligadas ao mundo espiritual, conforme ensinamentos que havia recebido e por isso chamou a atenção do marido, dizendo-lhe que, se não acreditava deveria pelo menos respeitar. “Não presta mexer com trabalho de encruza”, repetia ela preocupada.
Outras noites a cena se repetiu da mesma forma, até o dia em que ao chutar a oferenda, enxergou na sua frente um homem de capa negra, com um chicote trançado na mão. Sua perna paralisou no ar e em pânico saiu pulando numa perna só, caindo e levantando. Por uma boa distância ainda, ouvia a gargalhada daquele homem ressoando no ar.
No outro dia, sentia dor nas costas como se houvesse apanhado e só de lembrar a cena vivida na noite anterior, arrepiava de medo. Temia contar para a esposa, pois sabia que o condenaria novamente pela atitude. Esta, vendo o marido cabisbaixo e triste, perguntou se estava adoentado. Nada respondeu, pois sentia-se como se estivesse, inclusive apresentando febre. Seus sonhos passaram a ser povoados pelo homem de negro e sua gargalhada. Acordava aos gritos e suando muito. Várias noites se repetiram desta maneira, até que resolveu contar para a esposa o que havia acontecido. Ela o aconselhou a tomar umas benzeduras, convidando para ir até um terreiro na vila vizinha. Meio renitente, mas sentindo a necessidade, ele aceitou com um misto de medo e curiosidade.
Após a abertura dos trabalhos com os pontos cantados e orações, ele já se sentia mais tranqüilo. Em frente ao médium que servia de aparelho ao um Caboclo, suas pernas tremiam que mal conseguia parar em pé. Nos ouvidos agora ressoava novamente a gargalhada do homem de negro e seu corpo arrepiava sem parar. Teve vontade de sair correndo daquele lugar, mas suas pernas não o ajudavam. Auxiliado pela esposa e pelo cambono, sentou-se numa cadeira para poder ser atendido pelo caboclo.
-Ogum é que está de ronda…Ogum é que vem rondar… -cantava a corrente, enquanto a entidade limpava com uma espada de São Jorge, o seu corpo etérico impregnado pela energia captada na encruzilhada. Depois com a firmeza característica de sua linha, o caboclo ordenou que ele ficasse de pé e lhe contasse porque estava ali. Desajeitado, mas já mais tranqüilo, falou:
_ Acho que mexi com o que não devia. Andei chutando uns “despachos” na encruzilhada e me apavorei com um homem estranho, que acredito não ser deste mundo…
_ Tranqüilize que tudo o que é possível ver, ouvir e sentir é deste mundo sim. O senhor acha certo ou errado a sua atitude?
_ Ah, eu não sei… Só fazia aquilo por brincadeira…
_ E se alguém fosse até a sua casa, chegasse lá chutando os móveis e quebrando tudo, se apoderando de sua comida na hora da refeição, iria gostar?
_ Lógico que não!
_ Pois é meu senhor. Foi o que fez lá na encruzilhada e por várias vezes, não foi?
_ É, foi.
_ O que não nos pertence não pode ser por nós seqüestrado. Não importa se o que estava lá é certo ou errado diante de seu entendimento. Além do físico, aquilo tudo tinha uma duplicata etérica que pertencia a alguém no mundo espiritual, com um objetivo e endereço vibratório certo. Cabe aos homens incrédulos, no mínimo respeitar a crença e atitudes dos outros. Lá estava um trabalho de magia – a cor dela não importa – era magia! Elementos e elementares, além de entidades espirituais, lá estavam atuando, se abastecendo da energia animal e etílica e foram incomodados, desrespeitados. O que o senhor presenciou na figura do homem, nada mais foi que a atuação enérgica de seu Exu guardião lhe colocando no devido lugar, antes que a Lei tivesse que atuar mais duramente. De difícil entendimento com as coisas do espírito, não crendo em nada que não seja palpável, se fez necessário a atuação materializada. Como criança teimosa, precisou da repreensão para só então respeitar. Isso não significa que encruzilhada é lugar de Exu, pelo contrário. Os espíritos que lá buscam se energizar com as oferendas são os chamados quiumbas, espíritos que embora fora do corpo físico, necessitam ainda de energias materiais.
 - Exu… cruzes! Isso é coisa do capeta!
Era momento de esclarecer a verdadeira identidade deste guardião da luz tão mal falado. E assim foi feito.
Ao voltar para casa sentia tamanho bem estar, que naquela noite dormiu tranqüilamente depois de muitas noites de sobressalto, quando não, de insônia.
Suas visitas ao terreiro de Umbanda tornavam-se assíduas onde buscava sabedoria, força espiritual e conforto para sua alma. Ele tinha uma missão que se estendia além de aprender a ter fé. Era preciso cumpri-la, por isso em pouco tempo manifestava-se através dele, seu protetor Ogum de Ronda abrindo caminho para o Exu, que chegava gargalhando e de chicote na mão. Artefatos que usava no astral para auxiliar, acordando a todos quantos estivessem esbarrando nos limites da Lei.
Ao sentir sua presença, Francisco agradecia. Ele foi privilegiado em conhecer estes artefatos, graças a Deus.
História Contada por Vovó Benta – Leni W. Saviscki

Uma breve Homenagem ao Sr. Chico Preto



chico-preto
Raras são as informações que se obtém dele, o nome desse blog foi justamente em homenagem a esse grande Pai, a esse grande Espírito do qual o Cosmico me presenteou, é um amigo, um pai, um irmão, um protetor, um verdadeiro mestre da Escola da Vida.
Eu me lembro como se fosse ontem a sua primeira aparição… Era uma gira de baianos, onde em minha mente, plasmou-se uma entidade como se fosse um roceiro, o mais interessante, foi que eu o vi em uma árvore, em um local que parecia uma chácara, uma fazenda, estava ali, um belo senhor simpático, chapéu diferenciado, não era bem de palha, um material diferenciado, calças dobradas e uma camiseta amarela.
O que mais me chamou a atenção foi o tamanho do seu cachimbo, é um cachimbo muito grande e feito artesanalmente, o cabo de madeira e onde guardamos o fumo, material de barro, feito também artesanalmente.
Em questão de segundos fui influenciado pela sua vibração, uma vibração extremamente sutil, diferenciada da vibração de baianos que eu já estava habituado, lentamente foi tomando conta dos meus sentidos e quando dei por mim, já estava com a visão meia turva, falando diferente com um sotaque extremamente mineiro, muito simpático e alegre.
Mas veio, falou muito pouco, talvez por não estar habituado com a minha energia, não tenha incorporado de uma forma tão completa, mas ele solicitou o cachimbo, da forma que eu havia visto e disse apenas que o nome dele era “Amor” e que trabalhava na falange da “Caridade”, talvez para me ensinar que nome não é tudo, porque é a primeira coisa que eu quero saber de uma entidade é o nome, para eu correr atrás das pesquisas.
Após algumas semanas de trabalho, ele foi moldando-se mais à minha energia e foi trabalhando da forma que ele realmente atuava, já com o seu cachimbo, e diga-se de passagem, me deu a maior vontade de entrar do nada em uma casa do norte e acabei achando logo os dois juntos, o cachimbo e o seu chapéu, achei uma bênção. Mais solto, mais desenvolto em minha matéria e com o axé da casa, entoou um ponto assim:
Eu vim de Minas
Mas Nasci no Piauí
Saravá Sr. Chico Preto
O que vem fazer aqui?
Confesso que eu estava “assistindo” de uma visão pouco privilegiada o seu trabalho, mesmo assim, me encantei na primeira vez que o vi.
Com o passar do tempo, após alguma labuta e nenhuma informação eu obtive, em um dos trabalhos ele trouxe mais alguns pontos:
Sr. Chico Preto, Chico Preto Tenha dó (bis)
Venha cá salvar seus filhos
Tu é mestre do Catimbó
Todo mundo quer, quer, quer, quer
Chico Preto quimbandeiro lá do povo da Guiné
Lá na Jurema teve um fuá
Levaram o Milharal
Quem levou foi Chico Preto
Pra levar todos os Mal
Aí fui me apaixonando, pelo seu sotaque, pela sua alegria, pela forma que conduzia os trabalhos, um carisma singular, e com isso, foi atraindo a atenção dos filhos da corrente e dos assistentes que ali adentravam.
Aí veio um outro grande problema: Ele pediu uma batida de milho, mais uma vez, corri atrás de algo bem peculiar de seu trabalho,  a facilidade que eu tive pra achar seu cachimbo se inverteu, mas procurando, procurando, achei uma casa do norte que vendia batida de milho, e logo comprei.
Mesmo não sabendo nada sobre Chico Preto, comecei a procurar a pesquisar o catimbó e em alguns fóruns, conheci a Aparecida, uma mulher de 52 anos que já conhecia o catimbó desde os 10, e começou a me falar muito de Chico Preto, inclusive, do uso de cachimbos artesanais no culto à Jurema, vulgo Catimbó, onde a fumaça é a principal fonte de trabalho do catimbó devido às raízes da pajelança. Vi que a forma que eles trabalham, não condizia muito com a minha crença esotérica na Umbanda, atuavam também sobre uma camada de trabalho mais densa.
Aí foi quando comecei a me perguntar em meu limitado conhecimento: Como um adepto à Umbanda Esotérica, pode começar a vibrar com uma energia mais densa? Um guia de catimbó na minha corrente umbandista sendo que eu nem sei o que é isso? Por que comigo?
Para responder calmamente a essas perguntas, como é de sua característica, a calma e o humor são ímpares nessa entidade, ele me explicou que primeiramente, não há ninguém tão ignorante que não tenha o que ensinar e nem tão sábio que não tenha o que aprender, com a permissão de minhas entidades, ele “enconstou” para contribuir com o meu crescimento e aprender algumas coisas que ocorriam ali dentro do casuá. Depois, ele me perguntou: Quem te disse que só atuo no catimbó? Que sou apenas um juremeiro? Eu trouxe essa força, primeiro para contribuir com a casa, segundo para que você aprenda a ser menos preconceituoso.
De qualquer forma fiquei muito alegre com sua chegada, ele é um guia que canta muito, faz todo mundo cantar com ele, é um ser extremamente dócil e humilde, abraça a todos, conversa com todos, sabe fazer as pessoas que chegam até ele se sentirem muito à vontade.
Como de costume, antes de me deitar realizo todo um ritual de limpeza, energizando uma grande luz branca pousando sobre meu coronário, atuando nos meus sete chakras principais e depois toda as más energias repousam sobre a Terra, sendo absorvidas pela vibração de Obaluaie, nesse dia, havia algo muito estranho, comecei a sentir um calor no corpo e me apareceu um mentor muito bem vestido e de muita luz, causando um calor intenso sobre meu cardíaco e plexo solar, com  aparição desse mentor de luz, me começou a vir várias impressões, ensinamentos, entre outras soluções para minhas dúvidas, o mentor estava vestido com roupas orientais, grande quantidade de panos sobre suas vestes, mas como é inerente a mim, questionei o seu nome, ele com um sorriso que logo reconheci, disse: Pode me chamar de Chico Preto.
Com isso, uma outra resposta me veio de imediato, quando venho como um mineiro faceiro, venho de forma humilde, para todos aqueles humildes de coração, com carência de conhecimento, não sintam-se diminuídos a chegarem a mim, não venho para doutores e letrados, venho apenas para aqueles aflitos que buscam na simplicidade da palavra, sua salvação, para aqueles que buscam entre seus semelhantes, ou seja, o sotaque, o fumo, a bebida, buscam um amigo.
E assim solucionei a minha dúvida sobre um guia de catimbó ter encostado, o que eu entendi é que talvez tenha escolhido essa forma de trabalho, primeiro para eu conhecer mais o culto ao catimbó, segundo para que pudesse me ensinar que os guias podem plasmar-se e diminuir sua vibração para atuar em seu orbe, e ele acrescentou: Já fui sim uma pessoa simples que viveu no que vocês chamam de roça, já nasci e me criei por essas Terras e agora escolhi vim de uma forma semelhante para atuar também na Umbanda, que é um Grande Pronto Socorro Celestial.
Aprendi que nem todos os guias que optaram por trabalhar em uma vibração mais densa são espíritos atrasados, mas podem ser espíritos de grande evolução que por sua humildade, também auxiliam os irmãos mais atrasados. E gostaria de salientar que esse Chico Preto foi o que praticamente assumiu todos os trabalhos de consulta e que conduz a gira quando o sacerdote da casa está desincorporado. Chamou a responsabilidade pra ele e graças a Deus tem dado conta.
Como ele mesmo diz: Sem alegria nada se faz, sem sorriso nada se conquista, vamos cantar, vamos sorrir, aqui dentro quero farra, quero ver felicidade.
Saravá Sr. Chico Preto
Salve os Mistérios Umbandistas
Salve os Grandes Mestres Cósmicos 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A História de Seu Zé Pilintra


Os malandros têm como principal característica
de identificação, a malandragem, o amor pela noite,
pela música, pelo jogo, pela boemia
e uma atração pelas mulheres
(principalmente pelas prostitutas, mulheres da noite, etc...).
Isso quer dizer que em vários lugares
de culturas e características regionais completamente diferentes,
sempre haverá um malandro. O malandro de Pernambuco,
dança côco, xaxado, passa a noite inteira no forró;
no Rio de Janeiro ele vive na Lapa, gosta de samba
e passa suas noites na gafieira. Atitudes regionais bem diferentes,
mas que marcam exatamente a figura do malandro.
No Rio de Janeiro aproximou-se do arquétipo
do antigo malandro da Lapa, contado em histórias,
músicas e peças de teatro. Alguns quando se manifestam
vestem-se a caráter. Terno e gravata brancos.
Mas a maioria gosta mesmo é de roupas leves, camisas de seda,
e justificam o gosto lembrando que: “a seda, a navalha não corta”.
Navalha esta que levavam no bolso, e quando brigavam,
jogavam capoeira (rabos-de-arraia, pernadas),
às vezes arrancavam os sapatos e prendiam a navalha
entre os dedos do pé, visando atingir o inimigo.
Bebem de tudo, da Cachaça ao Whisky,
fumam na maioria das vezes cigarros, mas utilizam também o charuto.
São cordiais, alegres, dançam a maior parte do tempo
quando se apresentam, usam chapéus ao estilo Panamá.
Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm
capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los,
podem curar, desamarrar, desmanchar,
como podem proteger e abrir caminhos.
Têm sempre grandes amigos entre os que
os vão visitar em suas sessões ou festas.
Existem também as manifestações femininas da malandragem,
Maria Navalha é um bom exemplo. Manifesta-se como características
semelhantes aos malandros, dança, samba, bebe e fuma da mesma maneira.
Apesar do aspecto, demonstram sempre muita feminilidade,
são vaidosas, gostam de presentes bonitos, de flores
principalmente vermelhas e vestem-se sempre muito bem.
Ainda que tratado muitas vezes como Exu,
os Malandros não são Exus. Essa idéia existe porque quando
não são homenageados em festas ou sessões particulares,
manifestam-se tranqüilamente nas sessões de Exu e parecem um deles.
Os Malandros são espíritos em evolução, que após um determinado tempo
podem (caso o desejem) se tornarem Exus.
Mas, desde o início trabalham dentro da linha dos Exus.
Pode-se notar o apelo popular e a simplicidade das palavras
e dos termos com os quais são compostos os pontos
e cantigas dessas entidades. Assim é o malandro, simples,
amigo, leal, verdadeiro. Se você pensa que pode enganá-lo,
ele o desmascara sem a menor cerimônia na frente de todos.
Apesar da figura do malandro, do jogador, do arruaceiro,
detesta que façam mal ou enganem aos mais fracos.
Salve a Malandragem!
Na Umbanda o malandro vem na linha dos Exus,
com sua tradicional vestimenta: Calça Branca,
sapato branco (ou branco e vermelho), seu terno branco,
sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha
ou chapéu de palha e finalmente sua bengala.
Gosta muito de ser agradado com presentes, festas,
ter sua roupa completa, é muito vaidoso,
tem duas características marcantes:
Uma é de ser muito brincalhão, gosta muito de dançar,
gosta muito da presença de mulheres, gosta de elogiá-las, etc...
Outra é ficar mais sério, parado num canto assim como sua imagem,
gosta de observar o movimento ao seu redor
mas sem perder suas características.
Às vezes muda um pouco, pede uma outra roupa,
um terno preto, calças e sapatos também pretos, gravata vermelha
e às vezes até cartola. Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta.
E outra característica dele é continuar com a mesma roupa da direita,
com um sapato de cor diferente, fuma cigarros, cigarilhas ou até charutos,
bebe batidas, pinga de coquinho, marafo, conhaque e uísque, rabo-de-galo;
é sempre muito brincalhão, extrovertido.
Seu ponto de força é na subida de morros, esquinas, encruzilhadas
e até em cemitérios, pois ele trabalha muito com as almas,
assim como é de característica na linha dos pretos velhos e exus.
Sua imagem costuma ficar na porta de entrada dos terreiros,
pois ele também toma conta das portas, das entradas, etc...
É muito conhecido por sua irreverência,
suas guias podem ser de vários tipos, desde coquinhos com olho de Exu,
até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e branco.
História de Zé Pilintra
José dos Anjos, nascido no interior de Pernambuco,
era um negro forte e ágil, grande jogador e bebedor,
mulherengo e brigão. Manejava uma faca como ninguém,
e enfrentá-lo numa briga era o mesmo que assinar o atestado de óbito.
Os policiais já sabiam do perigo que ele representava.
Dificilmente encaravam-no sozinhos, sempre em grupo e mesmo assim
não tinham a certeza de não saírem bastante prejudicados
das pendengas em que se envolviam.
Não era mal de coração, muito pelo contrário, era bondoso,
principalmente com as mulheres, as quais tratava como rainhas.
Sua vida era à noite. Sua alegria, as cartas, os dadinhos a bebida,
a farra, as mulheres e por que não, as brigas.
Jogava para ganhar, mas não gostava de enganar os incautos,
estes sempre dispensava, mandava embora, mesmo que precisasse
dar uns cascudos neles. Mas ao contrário, aos falsos espertos,
os que se achavam mais capazes no manuseio das cartas e dos dados,
a estes enganava o quanto podia e os considerava os verdadeiros otários.
Incentivava-os ao jogo, perdendo de propósito quando
as apostas ainda eram baixas e os limpando completamente
ao final das partidas. Isso bebendo aguardente, cerveja,
vermouth, e outros alcoólicos que aparecessem.
No Nordeste do Pais, mas precisamente em Recife
(na religião que conhecemos como Catimbó),
ainda que nas vestes de um malandrão, a figura de Zé Pilintra,
tem uma conotação completamente diferente. Lá, ele é doutor,
é curador, é Mestre e é muito respeitado.
Em poucas reuniões não aparece seu Zé.
O reino espiritual chamado “Jurema”,
é o local sagrado onde vivem os Mestres do Catimbó,
religião forte do Nordeste, muito aproximada da Umbanda,
mas que mantém suas características bem independentes.
Na Jurema, Seu Zé, não tem a menor conotação de Exu,
a não ser quando a reunião é de esquerda,
por que o Mestre tem essa capacidade.
Tanto pode vir na direita ou na esquerda.
Quando vem na esquerda, não é que venha para praticar o mal,
é justamente o contrário, vem revestido desse tipo de energia
para poder cortá-la com mais propriedade e assim ajudar
mais facilmente aos que vem lhe rogar ajuda.
No Catimbó, Seu Zé usa bengala, que pode ser qualquer cajado,
fuma cachimbo e bebe cachaça. Dança côco, Baião e Xaxado,
sorri para as mulheres, abençoa a todos,
que o abraçam e o chamam de padrinho

Oxum

Nome de um rio em Oxogbô, região da Nigéria, em Ijexá. É ele considerado a morada mítica da Orixá. Apesar de ser comum a associação entre rios e Orixás femininos da mitologia africana, Oxum é destacada como a dona da água doce e, por extensão, de todos os rios. Portanto seu elemento é a água em discreto movimento nos rios, a água semiparada das lagoas não pantanosas, pois as predominantemente lodosas são destinadas à Nanã e, principalmente as cachoeiras são de Oxum, onde costumam ser-lhe entregues as comidas rituais votivas e presentes de seus filhos-de-santo.
Oxum domina os rios e as cachoeiras, imagens cristalinas de sua influência: atrás de uma superfície aparentemente calma podem existir fortes correntes e cavernas profundas.
Oxum é conhecida por sua delicadeza. As lendas adornam-na com ricas vestes e objetos de uso pessoal Orixá feminino, onde sua imagem é quase sempre associada a maternidade, sendo comum ser invocada com a expressão "Mamãe Oxum". Gosta de usar colares, jóias, tudo relacionado à vaidade, perfumes, etc.
Filha predileta de Oxalá e Yemanjá. Nos mitos, ela foi casada com Oxossi, a quem engana, com Xangô, com ogum, de quem sofria maus tratos e xangô a salva.
Seduz Obaluaiê, que fica perdidamente apaixonado, obtendo dele, assim, que afaste a peste do reino de Xangô. Mas Oxum é considerada unanimente como uma das esposas de xangô e rival de Iansã e Obá.
Segunda mulher de Xangô, deusa do ouro (na África seu metal era o cobre), riqueza e do amor, foi rainha em Oyó, sendo a sua preferida pela jovialidade e beleza.
À Oxum pertence o ventre da mulher e ao mesmo tempo controla a fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. A maternidade é sua grande força, tanto que quando uma mulher tem dificuldade para engravidar, é à Oxum que se pede ajuda. Oxum é essencialmente o Orixá das mulheres, preside a menstruação, a gravidez e o parto. Desempenha importante função nos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. Orixá da maternidade, ama as crianças, protege a vida e tem funções de cura.
Oxum mostrou que a menstruação, em vez de constituir motivo de vergonha e de inferioridade nas mulheres, pelo contrário proclama a realidade do poder feminino, a possibilidade de  gerar filhos.
Fecundidade e fertilidade são por extensão, abundância e fartura e num sentido mais amplo, a fertilidade irá atuar no campo das idéias, despertando a criatividade do ser humano, que possibilitará o seu desenvolvimento. Oxum é o orixá da riqueza - dona do ouro, fruto das entranhas da terra. É alegre, risonha, cheia de dengos, inteligente, mulher-menina que brinca de boneca, e mulher-sábia, generosa e compassiva, nunca se enfurecendo. Elegante, cheia de jóias, é a rainha que nada recusa, tudo dá. Tem o título de iyalodê entre os povos iorubá: aquela que comanda as mulheres na cidade, arbitra litígios e é responsável pela boa ordem na feira.
Oxum tem a ela ligado o conceito de fertilidade, e é a ela que se dirigem as mulheres que querem engravidar, sendo sua a responsabilidade de zelar tanto pelos fetos em gestação até o momento do parto, onde Iemanjá ampara a cabeça da criança e a entrega aos seus Pais e Mães de cabeça. Oxum continua ainda zelando pelas crianças recém-nascidas, até que estas aprendam a falar.
É o orixá do amor, Oxum é doçura sedutora. Todos querem obter seus favores, provar do seu mel, seu encanto e para tanto lhe agradam oferecendo perfumes e belos artefatos, tudo para satisfazer sua vaidade. Na mitologia dos orixás ela se apresenta com características específicas, que a tornam bastante popular nos cultos de origem negra e também nas manifestações artísticas sobre essa religiosidade. O orixá da beleza usa toda sua astúcia e charme extraordinário para conquistar os prazeres da vida e realizar proezas diversas. Amante da fortuna, do esplendor e do poder, Oxum não mede esforços para alcançar seus objetivos, ainda que através de atos extremos contra quem está em seu caminho. Ela lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e a mais reverenciada. Seu maior desejo, no entanto é ser amada, o que a faz correr grandes riscos, assumindo tarefas difíceis pelo bem da coletividade. Em suas aventuras, este orixá é tanto uma brava guerreira, pronta para qualquer confronto, como a frágil e sensual ninfa amorosa. Determinação, malícia para ludibriar os inimigos, ternura para com seus queridos, Oxum é, sobretudo a deusa do amor.
O Orixá amante ataca as concorrentes, para que não roubem sua cena, pois ela deve ser a única capaz de centralizar as atenções. Na arte da sedução não pode haver ninguém superior a Oxum. No entanto ela se entrega por completo quando perdidamente apaixonada afinal o romantismo é outra marca sua. Da África tribal à sociedade urbana brasileira, a musa que dança nos terreiros de espelho em punho para refletir sua beleza estonteante é tão amada quanto à divina mãe que concede a valiosa fertilidade e se doa por seus filhos. Por todos seus atributos a belíssima Oxum não poderia ser menos admirada e amada, não por acaso a cor dela é o reluzente amarelo ouro, pois como cantou Caetano Veloso, “gente é pra brilhar”, mas Oxum é o próprio brilho em orixá. 
A face de Oxum é esperada ansiosamente por sua mãe, que para engravidar leva ebó (oferenda) ao rio. E tal desespero não é o de Iemanjá ao ver sua filhinha sangrar logo após nascer. Para curá-la a mãe mobiliza Ogum, que recorre ao curandeiro Ossãe, afinal a primeira e tão querida filha de Iemanjá não podia morrer. Filha mimada, Oxum é guardada por Orumilá, que a cria.
Nanã é a matriarca velha, ranzinza, avó que já teve o poder sobre a família e o perdeu, sentindo-se relegada a um segundo plano. Iemanjá é a mulher adulta e madura, na sua plenitude. É a mãe das lendas – mas nelas, seus filhos são sempre adultos.  Apesar de não ter a idade de Oxalá (sendo a segunda esposa do Orixá da criação, e a primeira é a idosa Nanã), não é jovem. É a que tenta manter o clã unido, a que arbitra desavenças entre personalidades contrastantes, é a que chora, pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa e correm os mundos, afastando-se da unidade familiar básica.
Para Oxum, então, foi reservado o posto da jovem mãe, da mulher que ainda tem algo de adolescente, coquete, maliciosa, ao mesmo tempo em que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Sua responsabilidade em ser mãe se restringe às crianças e bebês.Começa antes, até, na própria fecundação, na gênese do novo ser, mas não no seu desenvolvimento como adulto. Oxum também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade em si, sendo considerada pelas lendas uma das figuras físicas mais belas do panteão místico Iorubano.
Sua busca de prazer implica sexo e também ausência de conflitos abertos – é dos poucos Orixás Iorubas que absolutamente não gosta da guerra.
Tudo que sai da boca dos filhos da Oxum deve ser levado em conta, pois eles têm o poder da palavra, ensinando feitiços ou revelando presságios.
Desempenha importante papel no jogo de búzios, pois à ela quem formula as perguntas que Exú responde.
No Candomblé, quando Oxum dança traz na mão uma espada e um espelho, revelando-se em sua condição de guerreira da sedução. Ela se banha no rio, penteia seus cabelos, põe suas jóias e pulseiras, tudo isso num movimento lânguido e provocante.
Características

Cor
Azul (Em algumas casas: Amarelo)
Fio de ContasCristal azul. (Em algumas casas: Amarelo)
ErvasColônia, Macaçá, Oriri, Santa Luzia, Oripepê, Pingo D’água, Agrião, Dinheiro em Penca, Manjericão Branco, Calêndula,Narciso; Vassourinha, Erva de Santa Luzia, e Jasmim (Estas últimas três não servem para banhos) (Em algumas casas: Erva Cidreira, Gengibre, Camomila, Arnica, Trevo Azedo ou grande, Chuva de Ouro, Manjericona, Erva Sta. Maria).
SímboloCoração ou cachoeira
Pontos da NaturezaCachoeira e rios (calmos)
FloresLírio, rosa amarela.
EssênciasLírio, rosa.
PedrasTopázio (amarelo e azul).
MetalOuro
SaúdeÓrgãos reprodutores (femininos), coração.
PlanetaVênus (Lua)
Dia da SemanaSábado
ElementoÁgua
ChakraUmbilical (Frontal)
SaudaçãoAi-ie-iô (ou Ora Ieiêô)
BebidaChampanhe
AnimaisPomba Rola.
ComidasOmolocum. Ipeté. Quindim (Em algumas casas: banana frita, moqueca de peixe e pirão feito com a cabeça do peixe)
Numero5
Data Comemorativa8 de dezembro
Sincretismo:Nossa Senhora Da Conceição, Nossa Senhora Da Aparecida, Nossa Senhora Da Fátima, Nossa Senhora Da Lourdes, Nossa Senhora Das Cabeças, Nossa Senhora De Nazaré.
Incompatibilidades:abacaxi, barata
Qualidades:Apará, Ijimum, Iápondá, Ifé, Abalu, Jumu, Oxogbo, Ajagura, Yeye Oga, Yeye Petu, Yeye Kare,  Yeye Oke, Yeye Oloko, Yeye Merin, Yeye Àyálá, Yeye Lokun, Yeye Odo

 Atribuições
Ela estimula a união matrimonial, e favorece a conquista da riqueza espiritual e a abundância material. Atua na vida dos seres estimulando em cada um os sentimentos de amor, fraternidade e união.
As Características Dos Filhos De Oxum
Os filhos de Oxum amam espelhos, jóias caras, ouro, são impecáveis no trajar e não se exibem publicamente sem primeiro cuidar da vestimenta, do cabelo e, as mulheres, da pintura.
As pessoas de Oxum são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza.
Talvez ninguém tenha sido tão  feliz para definir a filha de  Oxum como o pesquisador da     religião    africana, o  francês  Pierre Verger, que escreveu: "o arquétipo  de  Oxum é  das mulheres graciosas  e  elegantes,  com paixão pelas  jóias, perfumes e vestimentas caras. Das  mulheres  que são símbolo do charme e da beleza. Voluptuosas e  sensuais, porém mais reservadas que as de Iansã. Elas evitam chocar a opinião publica, á qual dão muita importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora, escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social".
Os filhos de Oxum são mais discretos, pois, assim com apreciam o destaque social, temem os escândalos ou qualquer coisa que possa denegrir a imagem de inofensivos, bondosos, que constroem cautelosamente. A imagem doce, que esconde uma determinação forte e uma ambição bastante marcante.
Os filhos de Oxum têm tendência para engordar; gostam da vida social, das festas e dos prazeres em geral. Gostam de chamar a atenção do sexo oposto.
O sexo é importante para os filhos de Oxum. Eles tendem a ter uma vida sExúal intensa e significativa, mas diferente dos filhos de Iansã ou Ogum. Representam sempre o tipo que atrai e que é, sempre perseguido pelo sexo oposto. Aprecia o luxo e o conforto, é vaidoso, elegante, sensual e gosta de mudanças, podendo ser infiel. Despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas.
Na verdade os filhos de Oxum são narcisistas demais para gostarem muito de alguém que não eles próprios, mas sua facilidade para a doçura, sensualidade e carinho pode fazer com que pareçam os seres mais apaixonados e dedicados do mundo. São boas donas de casa e companheiras.
São muito sensíveis a qualquer emoção, calmos, tranqüilos, emotivos, normalmente têm uma facilidade muito grande para o choro.
O arquétipo psicológico associado a Oxum se aproxima da imagem que se tem de um rio, das águas que são seu elemento; aparência da calma que pode esconder correntes, buracos no fundo, grutas tudo que não é nem reto nem direto, mas pouco claro em termos de forma, cheio de meandros.
Faz parte do tipo, uma certa preguiça coquete, uma ironia persistente, porém discreta e, na aparência, apenas inconseqüente. Pode vir a ser interesseiro e indeciso, mas seu maior defeito é o ciúme. Um dos defeitos mais comuns associados à superficialidade de Oxum é compreensível como manifestação mais profunda: seus filhos tendem a ser fofoqueiros, mas não pelo mero prazer de falar e contar os segredos dos outros, mas porque essa é a única maneira de terem informações em troca.
É muito desconfiado e possuidor de grande intuição que muitas vezes é posta à serviço da astúcia, conseguindo tudo que quer com imaginação e intriga. Os filhos de Oxum preferem contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo de frente. Sua atitude lembra o movimento do rio, quando a água contorna uma pedra muito grande que está em seu leito, em vez de chocar-se violentamente contra ela, por isso mesmo, são muito persistentes no que buscam, tendo objetivos fortemente delineados, chegando mesmo a ser incrivelmente teimosos e obstinados.
Entretanto, ás vezes, parecem esquecer um objetivo que antes era tão importante, não se importando mais com o mesmo. Na realidade, estará agindo por outros caminhos, utilizando outras estratégias.
Oxum é assim: bateu, levou. Não tolera o que considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à força, com toque feminino de bondade
Cozinha ritualística

Omolocum
Feijão fradinho cozido, passado no azeite de dendê com salsa picada e camarão seco também picado ou ralado. Coloca-se em tigela de louça branca, acrescentando de ovos cozidos por cima.
Com canjica branca
Canjica branca cozida em água pura sem sal e feijão fradinho cozido em água pura sem sal. Coloca-se, numa tigela de louça branca, uma camada de canjica, uma camada de feijão fradinho e, por cima, 3 ovos cozidos cortados em rodelas.

Lendas de Oxum

Como Oxum Conseguiu Participar Das Reuniões Dos Orixás Masculinos
Logo que todos os Orixás chegaram à terra, organizavam reuniões das quais mulheres não podiam participar. Oxum, revoltada por não poder participar das reuniões e das deliberações, resolve mostrar seu poder e sua importância tornando estéreis todas as mulheres, secando as fontes, tornando assim a terra improdutiva.  Olorum foi procurado pelos Orixás que lhe explicaram que tudo ia mal na terra, apesar de tudo que faziam e deliberavam nas reuniões. Olorum perguntou a eles se Oxum participava das reuniões, foi quando os Orixás lhe disseram que não. Explicou-lhes então, que sem a presença de Oxum e do seu poder sobre a fecundidade, nada iria dar certo. Os Orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos e reuniões, e depois de muita insistência, Oxum resolve aceitar. Imediatamente as mulheres tornaram-se fecundas e todos os empreendimentos e projetos obtiveram resultados positivos. Oxum é chamada Iyalodê (Iyáláòde), título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre as mulheres da cidade.
Como Oxum Criou O Candomblé
Foi de Oxum a delicada missão dada por Olorum de religar o orum (o céu) ao aiê (a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Oxum veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de Ecodidé (um pássaro sagrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês. Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé.
Oxum É Destemida Diante Das Dificuldades Enfrentadas Pelos Seus
  1. Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o mel, seduzindo Ogum até que ele volte a produzir os instrumentos para a agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.
  2. Oxum enfrenta o perigo quando Olorum, Deus supremo, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Oxum voa até o deus maior levando um ebó, para suplicar ajuda. No caminho ela não hesita em repartir os ingredientes da oferenda com o velho Oxalufã e as crianças que encontra. Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que lhe queima, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Olorum. E consegue seu objetivo pela comoção de Olorum.
  3. Oxalá tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Oxum vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence. Ela é adorada por Oxalá.
  4. Com grande compaixão, Oxum intercede junto a Olorum para que ele ressuscite Obaluaiê, em troca do doce mel da bela orixá.
  5. E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai. Oxum cuida da recém-nascida, a querida Oiá.
A Riqueza De Oxum
Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Oxum satisfaz seu gosto pelo luxo. Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida. Vai à frente da casa de Oxalá e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna desejada para então se calar. E assim Oxum torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá feminino) jamais o fora".
Os Amores De Oxum
Oxum luta para conquistar o amor de Xangô e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado.
Ela livra seu querido Oxossi do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu.
Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Xangô e Ogum, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Xangô é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Oxum quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada.
Como Oxum Conseguiu O Segredo Do Jogo De Búzios
Oxum queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exú e este não queria lhe revelar. Oxum foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Exú, este desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos. Exú se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que ao cair nos olhos de Exú o cega e arde muito. Exú gritava de dor e dizia;
- Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?
Oxum fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles?
- Dezesseis, respondeu Exú, esfregando os olhos.
- Ah! Achei um, é grande!
- É Okanran, me dê ele.
- Achei outro, é menorzinho!
- É Eta-Ogundá, passa pra cá...
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Oxum, resolveu-lhe dar também o poder do jogo e dividí-lo  com Exú.

Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, Oxum, foi procurar Exú. Exú, muito matreiro, falou à Oxum que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Oxum sobre os domínios de Exú durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria.
E, assim foi feito, durante sete anos Oxum foi aprendendo a arte da adivinhação que Exú lhe ensinará e conseqüentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Exú. Findando os sete anos, Oxum e Exú, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Oxum resolveu ficar em companhia desse Orixá. Em um belo dia, Xangô que passava pelas propriedades de Exú, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Oxum. Foi-se a tal ponto que Xangô, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó. Oxum rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Exú. Xangô então irritado e contrariado, seqüestrou Oxum e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Exú, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Xangô, Exú foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Oxum, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei. Exú, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Orumilá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Oxum desvencilhar-se dos domínios de Xangô. Exú, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Oxum tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Exú para sua morada.

Nanã



A mais velha divindade do panteão, associada às águas paradas, à lama dos pântanos, ao lodo do fundo dos rios e dos mares. O único Orixá que não reconheceu a soberania de Ogum por ser o dono dos metais. É tanto reverenciada como sendo a divindade da vida, como da morte. Seu símbolo é o Íbíri - um feixe de ramos de folha de palmeira  com a ponta curvada e enfeitado com búzios.
Nana é a chuva e a garoa. O banho de chuva é uma lavagem do corpo no seu elemento, uma limpeza de grande força, uma homenagem a este grande orixá.
Nanã Buruquê representa a junção daquilo que foi criado por Deus. Ela é o ponto de contato da terra com as águas, a separação entre o que já existia, a água da terra por mando de Deus, sendo portanto também sua criação simultânea a da criação do mundo.
  1. Com a junção da água e a terra surgiu o Barro.
  2. O Barro com o Sopro Divino representa Movimento.
  3. O Movimento adquire Estrutura.
  4. Movimento e Estrutura surgiu a criação, O Homem.
Portanto, para alguns, Nanã é a Divindade Suprema que junto com Zambi fez parte da criação, sendo ela responsável pelo elemento Barro, que deu forma ao primeiro homem e de todos os seres viventes da terra, e da continuação da existência humana e também da morte, passando por uma transmutação para que se transforme continuamente e nada se perca.
Esta é uma figura muito controvertida do panteão africano. Ora perigosa e vingativa, ora praticamente desprovida de seus maiores poderes, relegada a um segundo plano amargo e sofrido, principalmente ressentido.
Orixá que também rege a Justiça, Nanã não tolera traição, indiscrição, nem roubo. Por ser Orixá muito discreto e gostar de se esconder, suas filhas podem ter um caráter completamente diferente do dela. Por exemplo, ninguém desconfiará que uma dengosa e vaidosa aparente filha de Oxum seria uma filha de Nanã "escondida".
Nanã faz o caminho inverso da mãe da água doce. É ela quem reconduz ao terreno do astral, as almas dos que Oxum colocou no mundo real. É a deusa do reino da morte, sua guardiã, quem possibilita o acesso a esse território do desconhecido.
A senhora do reino da morte é, como elemento, a terra fofa, que recebe os cadáveres, os acalenta e esquenta, numa repetição do ventre, da vida intra-uterina. É, por isso, cercada de muitos mistérios no culto e tratada pelos praticantes da Umbanda e do Candomblé, com menos familiaridade que os Orixás mais extrovertidos como Ogum e Xangô, por exemplo.
Muitos são portanto os mistérios que Nanã esconde, pois nela entram os mortos e através dela são modificados para poderem nascer novamente. Só através da morte é que poderá acontecer para cada um a nova encarnação, para novo nascimento, a vivência de um novo destino – e a responsável por esse período é justamente Nanã. Ela é considerada pelas comunidades da Umbanda e do Candomblé, como uma figura austera, justiceira e absolutamente incapaz de uma brincadeira ou então de alguma forma de explosão emocional. Por isso está sempre presente como testemunha fidedigna das lendas. Jurar por Nanã, por parte de alguém do culto, implica um compromisso muito sério e inquebrantável, pois o Orixá exige de seus filhos-de-santo e de quem a invoca em geral sempre a mesma relação austera que mantém com o mundo.
Nanã forma par com Obaluaiê. E enquanto ela atua na decantação emocional e no adormecimento do espírito que irá encarnar, ele atua na passagem do plano espiritual para o material (encarnação), o envolve em uma irradiação especial, que reduz o corpo energético ao tamanho do feto já formado dentro do útero materno onde está sendo gerado, ao qual já está ligado desde que ocorreu a fecundação.
Este mistério divino que reduz o espírito, é regido por nosso amado pai Obaluaiê, que é o "Senhor das Passagens" de um plano para outro.
Já nossa amada mãe Nanã, envolve o espírito que irá reencarnar em uma irradiação única, que dilui todos os acúmulos energéticos, assim como adormece sua memória, preparando-o para uma nova vida na carne, onde não se lembrará de nada do que já vivenciou. É por isso que Nanã é associada à senilidade, à velhice, que é quando a pessoa começa a se esquecer de muitas coisas que vivenciou na sua vida carnal.
Portanto, um dos campos de atuação de Nanã é a "memória" dos seres. E, se Oxóssi aguça o raciocínio, ela adormece os conhecimentos do espírito para que eles não interfiram com o destino traçado para toda uma encarnação.
Em outra linha da vida, ela é encontrada na menopausa. No inicio desta linha está Oxum estimulando a sexualidade feminina; no meio está Yemanjá, estimulando a maternidade; e no fim está Nanã, paralisando tanto a sexualidade quanto a geração de filhos.
Esta grande Orixá, mãe e avó, é protetora dos homens e criaturas idosas, padroeira da família, tem o domínio sobre as enchentes, as chuvas, bem como o lodo produzido por essas águas.
Quando dança no Candomblé, ela faz com os braços como se estivesse embalando uma criança. Sua festa é realizada próximo do dia de Santana, e a cerimônia se chama Dança dos Pratos.
Origem
Nanã, é um Orixá feminino de origem daomeana, que foi incorporado há séculos pela mitologia iorubá, quando o povo nagô conquistou o povo do Daomé (atual Republica do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.
Resumindo esse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continua sendo o pai e quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos, nunca se questionando a paternidade de Oxalá sobre estes também, paternidade essa que não é original da criação das primeiras lendas do Daomé, onde Oxalá obviamente não existia. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
É neste contexto, a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omolu (ou Obaluaiê) e Oxumarê.
Características
CorRoxa ou Lilás (Em algumas casas: branco e o azul)
Fio de ContasContas, firmas e miçangas de cristal lilás.
ErvasManjericão Roxo, Colônia, Ipê Roxo, Folha da Quaresma, Erva de Passarinho, Dama da Noite, Canela de velho, Salsa da Praia, Manacá. (Em algumas casas:  assa peixe, cipreste, erva macaé, dália vermelho escura, folha de berinjela, folha de limoeiro, manacá, rosa vermelho escura, tradescância)
SímboloChuva.
Pontos da NaturezaLagos, águas profundas, lama, cemitérios, pântanos.
FloresTodas as flores roxas.
EssênciasLírio, Orquídea, limão, narciso, dália.
PedrasAmetista, cacoxenita, tanzanita
MetalLatão ou Níquel
SaúdeDor de cabeça e Problemas Intestino
PlanetaLua e Mercúrio
Dia da SemanaSábado (Em algumas casas: Segunda)
ElementoÁgua
ChakraFrontal e Cervical
SaudaçãoSaluba Nanã
BebidaChampanhe
AnimaisCabra, Galinha ou Pata. (Brancas)
ComidasFeijão Preto com Purê de Batata doce. Aberum. Mungunzá
Numero13
Data Comemorativa26 de julho
Sincretismo:Nossa Senhora Santana
Incompatibilidades:Lâminas, multidões.
Qualidades:Ologbo, Borokun, Biodun, Asainán, Elegbe, Susure

Atribuições
A orixá Nanã rege sobre a maturidade e seu campo preferencial de atuação é o racional dos seres. Atua decantando os seres emocionados e preparando-os para uma nova "vida", já mais equilibrada .
 
As Características Dos Filhos De Nanã
Uma pessoa que tenha Nanã como Orixá de cabeça, pode levar em conta principalmente a figura da avó: carinhosa às vezes até em excesso, levando o conceito de mãe ao exagero, mas também ranzinza, preocupada com detalhes, com forte tendência a sair censurando os outros. Não tem muito senso de humor, o que a faz valorizar demais pequenos incidentes e transformar pequenos problemas em grandes dramas. Ao mesmo tempo, tem uma grande capacidade de compreensão do ser humano, como se fosse muito mais velha do que sua própria existência. Por causa desse fator, o perdão aos que erram e o consolo para quem está sofrendo é uma habilidade natural. Nanã, através de seus filhos-de-santo, vive voltada para a comunidade, sempre tentando realizar as vontades e necessidades dos outros.
Às vezes porém, exige atenção e respeito que julga devido mas não obtido dos que a cercam. Não consegue entender como as pessoas cometem certos enganos triviais, como optam por certas saídas que para um filho de Nanã são evidentemente inadequadas. É o tipo de pessoa que não consegue compreender direito as opiniões alheias, nem aceitar que nem todos pensem da mesma forma que ela.
Suas reações bem equilibradas e a pertinência das decisões, mantém-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça.
Todos esses dados indicam também serem os filhos de Nanã, um pouco mais conservadores que o restante da sociedade, desejarem a volta de situações do passado, modos de vida que já se foram. Querem um mundo previsível, estável ou até voltando para trás: são aqueles que reclamam das viagens espaciais, dos novos costumes, da nova moralidade, etc.
Quanto à dados físicos, são pessoas que envelhecem rapidamente, aparentando mais idade do que realmente têm.
Os filhos de Nanã são calmos e benevolentes, agindo sempre com dignidade e gentileza. São pessoas lentas no exercício de seus afazeres, julgando haver tempo para tudo, como se o dia fosse durar uma eternidade. Muito afeiçoadas às crianças, educam-nas com ternura e excesso de mansidão, possuindo tendência a se comportar com a indulgência das avós. Suas reações bem equilibradas e a pertinência de suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça, com segurança e majestade.
O tipo psicológico dos filhos de NANÃ à introvertido e calmo. Seu temperamento é severo e austero. Rabugento, é mais temido do que amado. Pouco feminina, não tem maiores atrativos e à muito afastada da sexualidade. Por medo de amar e de ser abandonada e sofrer, ela dedica sua vida ao trabalho, à vocação, à ambição social.
Cozinha ritualística

Canjica branca
Canjica branca cozida, leite de coco. Colocar a canjica em tigela de louça branca, despejando mel por cima, e uvas brancas, se desejar.
Berinjela com inhame
Berinjela aferventada e cortada verticalmente em 4 partes; Inhames cozidos em água pura, com casca, e cortados em rodelas.; Arrumados em um alguidar vidrado, regado com mel.
Sarapatel
Lava-se miúdos de porco com água e limão. Corta-se em pedaços pequenos e tempera-se com coentro, louro, pimenta do reino, cravos da índia, caldo de limão e sal. Cozinha-se tudo no fogor. Quando tudo estiver macio, junta-se sangue de porco e ferve-se. Sirve-se, acompanhado de farinha de mandioca torrada ou arroz branco.
Paçoca de amendoim
Amendoins torrados e moídos misturados com farinha de mandioca crua, açúcar e uma pitada de sal.
 
Efó
Ferve-se 1 maço bem grande de língua de vaca, espinafre ou beterraba. Depois amassar até virar um purê; Passa-se por uma peneira e espalhe a massa para evaporar toda a água; Depois de seca, coloca-se numa panela, junto com azeite de dendê, camarões secos, pimenta do reino, cebola, alho e sal. Cozinha-se com a panela tampada e em fogo baixo; É servido com arroz branco.
Aberum
Milho torrado e pilado.
Obs. Nanã também recebe:Calda de ameixa ou de figo; melancia, uva, figo, ameixa e melão, tudo depositado à beira de um lago ou mangue.
Lendas de Nanã

Como Nanã Ajudou na Criação do Homem

Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixá povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.

Ewá


Também conhecida como Ìyá Wa. Assim como Iemanjá e Oxum, também é uma divindade feminina das águas e, às vezes, associada à fecundidade. É reverenciada como a dona do mundo e dona dos horizontes. Em algumas lendas aparece como a esposa de Oxumarê e pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris, em outras como esposa de Obaluaiê ou Omulu.
Ewá é a divindade do rio Yewa. Na Bahia é cultuada somente em três casas antigas, devido à complexidade de seu ritual. As gerações mais novas não captaram conhecimentos necessários para a realização do seu ritual, daí se ver, constantemente, alguém dizer que fez uma obrigação para Ewá, quando na realidade o que foi feito é o que se faz normalmente para Oxum ou Iansã.
O desconhecimento começa com as coisas mais simples como a roupa que veste, as armas e insígnias que segura e os cânticos e danças, isso quando não dizem que Ewá é a mesma coisa que Oxum, Iansã e Iemanjá.
Orixá que protege as virgens e tudo que é inexplorável. Ewá tem o poder da vidência, Sra. Do céu estrelado rainha dos cosmos. Ela está o lugar onde o homem não alcança.

Seu símbolo é o arpão, pode também carregar um ofá dourado, uma espingarda ou uma serpente de metal. Às vezes, Ewá é considerada a metade mulher de Oxumarê, a faixa branca do arco-íris. Ela é representada também pelo raio do sol, pela neve.
As palmeiras com folhas em leque também simbolizam Ewá - exótica, bela, única e múltipla.
Na verdade ela mantém fundamentos em comum com Oxumarê, inclusive dançam juntos, mas não se sabe ao certo se seria a porção feminina, sua esposa ou filha.
Quando cultuada na nação Keto, Ewá dança, ilu, hamunha e aguerê, Na cultura jêje, onde suas danças são impressionantes, prefere o bravun e o sató e dança acompanhada de Oxumare, Omolu e Nanã.
Nas festas de Olubajé, Ewá não pode ser esquecida, deve receber seus sacrifícios, e no banquete não pode faltar uma de suas comidas favoritas; banana-da-terra frita em azeite.


Características

CorCarmim
Fio de Contas-
ErvasArrozinho, baronesa (alga ), golfão.
SímboloArpão
Pontos da NaturezaLinha do Horizonte. (Recebe oferendas em rios e lagos).
Floresflores brancas e vermelhas
Essências-
Pedras-
MetalOuro, prata e cobre
Saúdeproblemas respiratórios e intestinais
Planeta-
Dia da SemanaSábado
ElementoÁgua
Chakra-
SaudaçãoHihó (Rirró)
BebidaChampanhe
AnimaisSabiá
ComidasBanana inteira feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite (milho com coco, batata doce, canjiquinha)
Numero-
Data Comemorativa13 de dezembro
SincretismoNossa Senhora das Neves

Incompatibilidades

Galinha, Aranha, Teia-de-aranha

Atribuições
Limpa o ambiente, traz harmonia, alegria e beleza

Lendas De Ewá

Porque Ewá Não Aceita Galinha

Ewá, certa vez indo para o rio lavar roupa, ao acabar, estendeu-a para secar. Nesse espaço veio a galinha e ciscou, com os pés, toda sujeira que se encontrava no local, para cima da roupa lavada, tendo Ewá que tornar a lavar. Enraivecida, amaldiçoou a galinha, dizendo que daquele dia em diante haveria de ficar com os pés espalmados e que nem ela nem seus filhos haveriam de comê-la, daí, durante os rituais de Ewá, galinha não passar nem pela porta.

 

Ewá - Orixá dos horizontes e fontes!

Conta-se uma lenda, que Ewá era esposa de Omulu, e era estéril, não podendo conceder um filho ao seu grande amado, sofrendo muito por isso.
Em uma bela tarde, a dona dos horizontes, estava-se a deleitar as margens de um rio, juntamente com suas serviçais que lavavam vários alás (panos brancos). De repente, surge de dentro da floresta a figura de uma pessoa, que corria muito e muito assustado.
- Como ousas interromper o deleite da mulher de Omulu, quem é você ? indagou Ewá, sobre a irreverência do rapaz.
- Ewá ! não era minha intenção interromper tão sagrado ato, oh! esposa de Obaluaiê! Porém Ikú (a morte), persegue-me a vários dias e preciso escapar dela, pois tenho ainda um grande destino a seguir. Peço sua ajuda Ewá, peço que me escondas para que Ikú não me pegue ?!
- Gostei de você e vou ajudá-lo, esconda-se sobre os alás que minhas serviçais estão a lavar, e eu despistarei Ikú de seu caminho.
E assim foi feito, o jovem rapaz pôs a se esconder sobre os panos brancos.
Alguns minutos se passaram, e eis que aparece Ikú. A morte !
- Como ousas adentrar aos domínios de minha morada, quem és tu ? Pergunta
Ewá com ar de indignada.
- Sou Ikú, e entro onde as pessoas menos esperam, entro e carrego comigo, dezenas, centenas e até milhares de pessoas ! Porém hoje estou a procurar um jovem rapaz, que esta a me escapar a dias, você o viu passar por aqui ?
Perguntou Ikú para Ewá.
- Eu o vi sim Ikú, ele foi naquela direção. - Ewá apontava para um direção totalmente oposta ao das suas aldeãs, que estavam a esconder o jovem rapaz. Ikú agradeceu e seguiu pelo caminho indicado. Sendo assim, o rapaz pode se desfazer de seu esconderijo e agradeceu Ewá.
- Ewá, agradeço sua ajuda, terei tempo agora, de prosseguir meu caminho. Sou um grande adivinho, e em sinal de minha gratidão, a partir de hoje presenteio-lhe com o dom da adivinhação. Ewá, agradeceu o presente dado pelo rapaz, que já havia se virado para ir embora, quando retornou e falou a Ewá.
- Sim eu sei, você não pode ter filhos, pois lhe dou isso também, a partir de hoje poderá ter filhos e alegrar ao seu marido.
Então Ewá, agradeceu novamente muito contente e perguntou ao jovem rapaz.
- Qual é seu nome ?
E o rapaz respondeu...
- Meu nome é Ifá !

Xangô




Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro Deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá com especial ascendência sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão acontece por dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém que cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça - representa a autoridade constituída no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais especificamente em Pernambuco e Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô, talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. Na mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a expressão Xangô de Caboclo, que se refere obviamente ao que chamamos de Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando inquiridos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos sacerdotes de Xangô, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os sacerdotes vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedras-de-raio formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado genericamente nas pedras, mas, principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o Meteorito é seu axé máximo.
Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais suas, presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.
Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de comum entre ele e Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada. Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta. Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a seu respeito, uma intensa atividade amorosa.
Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é simulado.
Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.
Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos, Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.
Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.
Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.
Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo apontado como uma figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e cantigas, tendo três esposas: Obá, a mais velha e menos amada; Oxum, que era casada com Oxossi e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e Iansã, que vivia com Ogum e que Xangô raptou.
No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.
Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro - a cadeia das gerações humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu aspecto divino, é filho de Oxalá, tendo Yemanjá como mãe.
Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
 Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder.

Características


Cor
Marrom (branco e vermelho)
Fio de ContasMarrom leitosa
ErvasErva de São João, Erva de Santa Maria, Beti Cheiroso, Nega Mina, Elevante, Cordão de Frade, Jarrinha, Erva de Bicho, Erva Tostão, Caruru, Para raio, Umbaúba. (Em algumas casas: Xequelê)
SímboloMachado
Pontos da NaturezaPedreira
FloresCravos Vermelhos e brancos
EssênciasCravo (flor)
PedrasMeteorito, pirita, jaspe.
Metalestanho
Saúdefígado e vesícula
PlanetaJúpiter
Dia da SemanaQuarta-Feira
ElementoFogo
Chacracardíaco
SaudaçãoKaô Cabecile (Opanixé ô Kaô)
BebidaCerveja Preta
AnimaisTartaruga, Carneiro
ComidasAgebô, Amalá
Numero12
Data Comemorativa30 de Setembro
Sincretismo:São José, Santo Antônio, São Pedro, Moisés, São João Batista, São Gerônimo.
Incompatibilidades:Caranguejo, Doenças
Qualidades:Dadá, Afonjá, Lubé, Agodô, Koso, Jakuta, Aganju, Baru, Oloroke, Airá Intile, Airá Igbonam, Airá Mofe, Afonjá, Agogo, Alafim

 Atribuições

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo
As Características Dos Filhos De Xangô
Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a Xangô, deve-se ter em mente uma palavra básica: Pedra. É da rocha que eles mais se aproximam no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela habilidade em verem os dois lados de uma questão, com isenção e firmeza granítica que apresentam em todos os sentidos.
Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma discreta tendência para a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais claramente de acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa). Por outro lado, essa tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea bem-desenvolvida e firme como uma rocha.
Tenderá a ser um tipo atarracado, com tronco forte e largo, ombros bem desenvolvidos e claramente marcados em oposição à pequena estatura;
A mulher que é filha de Xangô, pode ter forte tendência à falta de elegância. Não que não saiba reconhecer roupas bonitas - tem, graças à vaidade intrínseca do tipo, especial fascínio por indumentárias requintadas e caras, sabendo muito bem distinguir o que é melhor em cada caso. Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas numa vitrina e não em usá-las. Não se deve estranhar seu jeito meio masculino de andar e de se portar e tal fato não deve nunca ser entendido como indicador de preferências sexuais, mas, numa filha de Xangô é um processo de comportamento a ser cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo pode aproximar-se mais dos arquétipos culturais masculinos do que femininos; ombros largos, ossatura desenvolvida, porte decidido e passos pesados, sempre lembrando sua consistência de pedra.
Em termos sexuais, Xangô é um tipo completamente mulherengo. Seus filhos, portanto, costumam trazer essa marca, sejam homens, sejam mulheres (que estão entre as mais ardentes do mundo). Os filhos de Xangô são tidos como grandes conquistadores, são fortemente atraídos pelo sexo oposto e a conquista sexual assume papel importante em sua vida.
São honestos e sinceros em seus relacionamentos mais duradouros, porque para eles sexo é algo vital, insubstituível, mas o objeto sexual em si não é merecedor de tanta atenção depois de satisfeito desejo.
Psicologicamente, os filhos de Xangô apresentam uma alta dose de energia e uma enorme auto-estima, uma clara consciência de que são importantes, dignos de respeito e atenção, principalmente, que sua opinião será decisiva sobre quase todos os tópicos - consciência essa um pouco egocêntrica e nada relacionada com seu real papel social. Os filhos de Xangô são sempre ouvidos; em certas ocasiões por gente mais importante que eles e até mesmo quando não são considerados especialistas num assunto ou de fato capacitados para emitir opinião.
Porém, o senhor de engenho que habita dentro deles faz com que não aceitem o questionamento de suas atitudes pelos outros, especialmente se já tiverem considerado o assunto em discussão encerrado por uma determinação sua. Gostam portanto, de dar a última palavra em tudo, se bem que saibam ouvir. Quando contrariados porém, se tornam rapidamente violentos e incontroláveis. Nesse momento, resolvem tudo de maneira demolidora e rápida mas, feita a lei, retornam a seu comportamento mais usual.
Em síntese, o arquétipo associado a Xangô está próximo do déspota esclarecido, aquele que tem o poder, exerce-o inflexivelmente, não admite dúvidas em relação a seu direito de detê-lo, mas julga a todos segundo um conceito estrito e sólido de valores claros e pouco discutíveis. É variável no humor, mas incapaz de conscientemente cometer uma injustiça, fazer escolha movido por paixões, interesses ou amizades.
Os filhos de Xangô são extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados, porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.

Cozinha ritualística

Caruru
Afervente o camarão seco, descasque-o e passe na máquina de moer.  Descasque o amendoim torrado, o alho e a cebola e passe também na máquina de moer. Misture todos esses ingredientes moídos e refogue-os no dendê, até que comecem a dourar. Junte os quiabos lavados, secos e cortados em rodelinhas bem finas. Misture com uma colher de pau e junte um pouco de água e de dendê em quantidade bastante para cozinhar o quiabo. Se precisar, ponha mais água e dendê enquanto cozinha. Prove e tempere com sal a gosto. Mexa o caruru com colher de pau durante todo o tempo que cozinha. Quando o quiabo estiver cozido, junte os camarões frescos cozidos e o peixe frito (este em lascas grandes), dê mais uma fervura e sirva, bem quente.
Ajebô
Corte os quiabos em rodelas bem fininhas em uma Gamela, e vá batendo eles como se estivesse ajuntando eles com as mãos, até que crie uma liga bem Homogênea.
Rabada
Cozinhe a rabada com cebola e dendê. Em uma panela separada faça um refogado de cebola dendê, separe 12 quiabos e corte o restante em rodelas bem tirinhas,
junte a rabada cozida. Com o fubá, faça uma polenta e com ela forre uma gamela, coloque o refogado e enfeite com os 12 quiabos enfiando-os no amalá de cabeça para baixo.

Lendas de Xangô

A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam os mesmo tratamento dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não concordou com Xangô.
- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios, dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
A Lenda da Riqueza de Obará
Eram dezesseis irmãos, Okaram, Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí, Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin, Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia e Obará. Entre todos Obará era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida humilde e simples.
Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao babalaô para fazer suas consultas, e prontamente o babalaô perguntou: Onde está o irmão mais pobre? Os outros irmão disseram-lhe que avia se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. Como era de costume o babalaô presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de casa. Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo babalaô, Morangas? Isso é presente que se dê? Abóboras? .
A noite se aproximava e a casa de Obará estava perto, resolveram então passar a noite lá. Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, Obará pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com tudo o que havia para comer na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a come-las.
Na hora do almoço, a esposa de Obará lhe disse que não havia mais nada o que comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as fizesse assim mesmo. Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e Obará prosperou.
Tempos depois, os irmãos de Obará passavam por tempos de miséria, e foram ao Babalaô para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão saldando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão Obará e perguntaram ao Babalaô como poderia ser possível e ele respondeu: Lembram-se das abóboras que vos dei, dentro haviam riquezas em pedras e ouro mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico.
Foram então os irmãos ao palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o fez, mas antes esvaziou todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora são vocês que as comerão. E quando o babalaô em visita ao palácio de Obará lhe disse: Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás. E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.