sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

O exílio de Sànpònná (Xapanã) Orixá conhecido no Brasil como Xapanã, Obaluayê, Omolú, Kavungo ou Sapatá.

 

O exílio de Sànpònná (Xapanã) Orixá conhecido no Brasil como Xapanã, Obaluayê, Omolú, Kavungo ou Sapatá.



Há um tempo postei um mito bonitinho do meu Santo de frente, meu Orixá Obaluayê. O link para o mito bonitinho do meu Orixá será postado no final desse texto.

 

Obaluayê é o último Deus que você gostaria de ver furioso, assim como os seus filhos de Santo. Nem Obaluayê, nem seus filhos toleram desrespeitos e deboches.

Vamos ao mito (itan)...

 

Depois do mundo criado, os Òrìsà (Orixás) foram morar nas áreas criadas por Òsàlá (Oxalá), trabalhando juntos no campo e inspirando a humanidade a também viver em comunidade. Os Orixás criaram o jogo ayò ou wazi, para se divertirem nas horas de folga. Trouxeram também ao mundo cerimônias que ocorriam no òrun (céu). Inventaram tambores e outros instrumentos musicais, introduziram as danças e canções. E essa era a vida aqui na Terra.

 

Na época da colheita do inhame, os Òrìsà (Orixás) celebravam em um festival a colheita do inhame. Todos presentes na praça principal da cidade e jogavam um jogo onde eram utilizados arbustos apanhados da colheita.

 

Os Òrìsà (Orixás) comiam e bebiam vinho de palma –emu-, dançando e cantando. Somente Sànpònná (Xapanã), que tinha o segredo da varíola, não dançava. Xapanã tinha uma perna defeituosa e utilizava um cajado para andar, o òpá.

 

Adendo: Eu como filho legítimo de Obaluayê era desde a tenra infância muito doente. Quase morri 3 vezes na infância e tive de tomar injeção de adrenalina para voltar meus batimentos cardíacos ao normal. Sofria de asma/bronquite severa e cheguei diversas vezes no hospital com os lábios roxos. Além disso, vivia me ferindo e machucando, tendo várias cicatrizes. Depois dessa fase, praticava skate com várias manobras por uns 20 anos até que ferrei meu joelho. Hoje tenho dois parafusos no joelho. Essa característica de deficiência na perna do meu Pai Obaluayê também se fez presente tardiamente em mim. Sonho até hoje que estou andando de skate. Vamos voltar ao mito (itan)...

 

Enquanto todos os Òrìsà (Orixás) dançavam, Sànpònná (Xapanã) permanecia sentado bebendo também o vinho de palma. À medida que a festa avançava, todos comendo e bebendo muito, os ânimos também foram aumentando e ficando cada vez mais agitados.

 

Até que alguém reparou que Sànpònná (Xapanã) não dançava. “Por que Sànpònná (Xapanã) está calado, não canta e não dança conosco?” Todos começaram a incitar Sànpònná (Xapanã) a se divertirem como eles na festa. Diziam “venha” puxando-o e tentando levantá-lo. Sànpònná (Xapanã) não se levantava com vergonha de sua perna defeituosa.

 

Cada vez mais bêbados, começaram a provoca-lo: “Levante-se, você parece um antílope morto.” Sànpònná (Xapanã) já não suportava mais as provocações (como seus filhos de Santo não suportam provocações). Com seu cajado, levantou-se. Ajeitou a roupa para cobrir a perna defeituosa e começou a dançar, mesmo inseguro porque tinha bebido muito. Todos os Òrìsà (Orixás) também muito bêbados começaram a trombar uns nos outros, até que Sànpònná (Xapanã) caiu no chão. Quando Sànpònná (Xapanã) caiu, eles viram sua perna defeituosa e começaram a rir e a gritar: “Aro! Aro!”, que significa coxo, perna com defeito. Todos o ridicularizaram cantando versos ofensivos a ele.

 

Lembrem-se: Sànpònná (Xapanã) e seus filhos de Santo não toleram provocações e deboches.

 

Sànpònná (Xapanã) caído e irritado, lutava para se levantar em meio à risada geral. Mesmo caído, alcançou seu cajado e começou a ferir com a ponta dele todos que o ridicularizavam, transmitindo-lhes o seu perigoso e mortal veneno.

 

Os Òrìsà (Orixás) dançando ainda não haviam percebido o que estava acontecendo, somente quando sentiram a ponta do cajado de Sànpònná (Xapanã) lhes ferir é que saíram todos da festa correndo. Só sobrou na festa Sànpònná (Xapanã).

 

Todos correram para suas casas apavorados e todos que foram tocados pelo cajado começaram a se sentir mal, seus olhos ficaram vermelhos, nasceram feridas na pele e o corpo se transfigurou em inúmeras pústulas.

 

As notícias do ocorrido chegaram até Òsàlá (Oxalá) que irritado disse: “Os Òrìsà (Orixás) que envergonharam Sànpònná (Xapanã) não deveriam ter feito isso. Mas Sànpònná (Xapanã) também não deveria ter feito justiça com as próprias mãos, pois eu é que faço a justiça. Os que o ridicularizaram estão sendo punidos pela varíola. E Sànpònná (Xapanã) também deve ser punido.”

 

Òsàlá (Oxalá) se vestiu com suas roupas brancas. Na sua mão, seu longo manto ornamentado com búzios e foi para a casa de Sànpònná (Xapanã) a fim de julgá-lo. Quando Sànpònná (Xapanã) o viu, correu para um bosque e se escondeu atrás de um arbusto.

 

Òsàlá (Oxalá) determinou: “Sànpònná (Xapanã) foi para o bosque. Lá irá permanecer, longe de toda comunidade.”

 

Desde então, Sànpònná (Xapanã) nunca mais viveu entre os outros Òrìsà (Orixás), e sim, sozinho. Apesar disso, cresceu o respeito por ele e nunca mais foi ridicularizado, lição para todos. Por esse motivo, o povo da região passou a denominá-lo Ilègbóná, a terra está quente, numa alusão à febre causada pelas doenças.

 

Meu conselho: Nunca desrespeite Sànpònná (Xapanã) ou seus filhos, mesmo se formos punidos iremos até as últimas consequências para nos vingar. E o soco de Obaluayê são as pestes e não a força dos músculos!

 

Sànpònná (Xapanã) é o nome primordial da divindade, sendo também conhecido por Omolu e Obalúwáiye (Obaluayê), nomes mais usuais no Brasil. Obaluayê significa: Oba – Rei, Senhor; ayê – terra (O Rei/Senhor da terra). Identificado com as doenças. Já o nome Sànpònná (Xapanã): Sàn – untar, sujar (com doenças), pa – matar, afligir, e ènìà – qualquer pessoa. Originário da cidade de Tápà, irmão de Sàngó (Xangô) e conhecedor de tudo que cura e adoece. Seu principal flagelo é a varíola, pois representa marcar as pessoas sem o uso de faca. A pipoca é sua principal oferenda. Entre o grupo jeje-mahi é denominado Sapata e divindades correlacionadas: Dazoji – da disenteria e dos vômitos; Ahosu Ganwha – da inchação; Adan Tagni – da lepra; Aglosunto – das chagas. O milho representa a erisipela; a maçã, o escorbuto; e o feijão, a varíola.

 

Sànpònná (Xapanã) é descrito armado com um coldre de flechas envenenadas e várias pequenas cabaças como recipiente tanto para remédios, doenças e venenos.

 

Obalúwáiyé, ajàgi oògùn – Aquele que tem medicamentos poderosos

Oni-wòwó àdo – Em pequenas e diversas cabaças

 

Há uma maneira especial de dizer quando uma pessoa adoece: Ilègbóná(n) nbáa já [A terra quente o está afligindo]. Quando a pessoa morre, diz-se: Oba gbé e lo [O Rei o levou embora].

 

Em algumas regiões da África seu culto sofreu restrições e foi até proibido. Tais regiões sofreram de várias epidemias e seu culto foi retomado como forma de apaziguá-lo.

 

Tanto Omolú e Obaluayê são uma mesma divindade com denominações diferentes, que representam títulos de exaltação aos seus atributos. São posicionados nas casas de Candomblé do lado de fora da parte principal da casa. Tudo para essa divindade é feito no tempo (ar livre). Olúbáje é o seu principal ritual. Não admite uso de faca no sacrifício animal. Em solo africano, uma folha de dendezeiro é enrolada no pescoço do animal e abatido mediante uma única pancada. Essa parte não de não se usar faca (ferro) é por conta da Mãe biológica de Obaluayê, Nanã, e sua rixa com Ogum, Orixá do ferro.

 

Nunca provoque, deboche ou ridicularize um filho de Obaluayê, ainda mais se esse filho for eu!

 

Obrigado aos que chegaram até aqui no texto. Vou disponibilizar agora um mito (itan) bonitinho do meu Orixá, Obaluayê que com orgulho carrego na minha cabeça, mas antes do link, os créditos:

 

Autor: Eosphorus Pluto Eleutherios

 

Blog: Bruxaria Sem Dogmas

 

Referência: Mitos Yorubás (o outro lado do conhecimento). Autor: José Beniste.

 

José Beniste é escritor, historiador, pesquisador de Cultura Afro-Brasileira, é integrante de movimentos que visam à restauração da dignidade religiosa do afrodescendente. Iniciado pela Sociedade Axé Opô Afonjá, em 1984, é diretor do Curso Brasil-Nigéria, fundado em 1982. Ministra aulas de Língua Yorubá.

 

Link para o mito (itan) bonitinho, basta clicar na imagem:

 


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