A triste história da Pomba-Gira Menina da Calunga
História da Pomba-Gira Menina da Calunga
Em meados do fim do século 19 e início do século 20
A sua mãe era uma mulher da vida, que a abandonou em uma viela da região, quando a menina tinha apenas sete dias de vida. Ela foi encontrada e cuidada por uma cafetina que ganhava a vida negociando as mulheres, com trabalhadores vindos das grandes expansões industriais da época, e nesse ambiente de cabarés e bordéis ela passou a sua infância.
Ressalva: Vale dizer aqui que nessa história estamos contando uma específica, porém, costumamos dizer que: Cada entidade tem a sua própria história, pode ser que essa história aqui pode ser diferente da sua, apesar de ser da mesma falange e etc… Cada entidade tem a sua própria história.
Aos nove anos de idade por não lhe agradar muito, viver e conviver num lugar assim, a menina chamada de Laura, nome dado pela cafetina, tinha uma grande vontade de fugir dali. Porém, não tinha condições e nem sabia como fazer. Ela se sentia presa, triste e assustada… Pois, sabia que aquela vida de meretriz na qual tinha tanto convívio um hora iria chegar pra ela, assim como prometera a cafetina que sempre lhe dizia que entre seus 11 e doze anos, ela deveria começar trabalhar com a prostituição.
A menina ficava extremamente receosa com tudo aquilo, e da mesma forma com que ela desejava uma saída daquela vida, ela desejava a mesma coisa para as outras meninas de mais idade e que já estavam atuando como prostitutas no domínio severo da cafetina. E assim, dessa forma ela buscava mostrar para as moças trabalhadoras da prostituição que a vida escolhida era muito sofrida, que era um acumulo de cargas negativas, de tristezas, de desespero e que elas sempre iriam sofrer sendo escravas das senhoras dos cabarés e bordeis.
Muitas dessas meninas ouviam a pequena Laura e refletiam sobre todos os fatos, e após uma grande reflexão, fugiam… Retornavam para a casa de seus pais, buscavam ajuda com familiares e abandonavam os cabarés. Quando essas partiam a cafetina ficava com muito ódio e já sabendo sobre a fala da menina Laura, ela a castigava intensamente e dizia que ela era uma desgraça em sua vida, pois, com seus dizerem as outras meninas, muitas delas estavam abandonando o trabalho da prostituição… Fazendo assim com que a cafetina tivesse um grande prejuízo.
Porém, Laura não se importava com as torturas sofridas, ela acreditava que estava fazendo o bem tirando as jovens daquela vida de escuridão. O tempo passou e a menina Laura completou onze anos, e de um modo vingativo, a velha cafetina decidiu que ela deveria se prostituir deixando a menina desesperada… A cafetina então marcou a data do acontecimento, e a inocência de Laura seria entregue para o homem que pagasse o maior valor.
O assunto se espalhou como fogo em pólvora, entre vielas, cabarés, bares e bordéis… Todos falavam sobre a entrega da menina, conhecida como a filha da cafetina do cabaré. Os homens, parecendo animais atrás de sua presa, bebiam e gargalhavam falando do quanto estavam dispostos a gastar para ter a menina. Laura por sua vez, chorava aguardando o dia proposto pela cafetina sem saber o que fazer, pra não ter aquele destino tão cruel. E em uma última tentativa de fazer com que a perversa mulher não a vendesse como um objeto qualquer, ela clamou em piedade buscando tirar dela ao menos um pequeno gesto de carinho, para que não a obrigasse a fazer com que que sua vida fosse entregue nas mãos de um homem qualquer. Porém a mulher não tinha piedade, por mais que Laura implorasse ela sempre olhava com desprezo e gargalhando, dizia-lhe que a menina havia feito ela perder muitos ganhos e agora ela deveria repor todo o valor perdido com a partida das outras meninas durante os anos em que Laura mostrava os caminhos terríveis da vida da prostituição.
A cafetina vira as costas para a menina, deixando-a ainda mais entristecida e sem um caminho a seguir. Voltando ao seu quarto, ela chora copiosamente chamando a atenção de outras meninas e todas vão até Laura pra consolá-la, Laura roga ao pai maior e dentro da sua oração, escuta uma voz doce e serena, dizendo-lhe que é a hora de partir, porém, ela não deverá partir sozinha, deveria levar com ela todas as outras meninas de pouca idade que no bordel se encontravam.
E deveria também aceitar o seu destino, pois ela estava destinada a dois caminhos. E entre esses dois caminhos tinha que fazer uma escolha: Ou se entregava às vontades da cafetina, ou fugiria e se entregaria a caridade e ao auxílio das crianças e jovens que sofriam em desespero assim como ela. Porém, a segunda opção seria uma entrega eterna e só poderia ser feita se ela estivesse de acordo em ter que partir quando necessário.
A menina entendeu que ela era especial, tinha um amor grandioso por Deus. Amava proteger os mais fracos e sempre buscou fazer o bem e a caridade, se para isso acontecer ela tivesse que partir precocemente, assim seria feito - Pensou Laura - Com uma maturidade que não coincidia com a pouca idade, decidida em sair do bordel Laura busca acertar com outras meninas como seria a fuga e assim foi acertado. Naquela noite teria o encontro dos homens com a cafetina para o leilão da inocência da menina. E essa era a chance que Laura esperava, pois assim ela fugiria com as outras meninas e se livrarem do domínio da cafetina.
A noite chegou e com a noite também o encontro dos homens no bordel, onde iriam tentar comprar a inocência de Laura. Todos eles animados, já embebedados, dando gargalhadas e se demonstrando animalizados e diante deles, estava a cafetina sorridente e esperançosa em saber a quantia que arrecadaria com a negociação da menina Laura. Enquanto havia negociação entre os homens e a cafetina… Aproveitando o descuido da cafetina, a Laura e as meninas fugiram, quando a negociação se fez o homem que adquiriu o direito de ser quem teria a menina, ordenou que a cafetina trouxesse Laura até ele e assim ela iria fazer.
Porém, ao adentrar no recinto onde deveriam estar as meninas, nada e ninguém foi encontrado e a cafetina ficou com muito ódio ao perceber a fuga de Laura e das meninas, assim como o homem que havia pago por Laura. Pelas vielas da região Laura buscava se esconder, e da mesma forma as 21 meninas com quem ela partiu, e assim se tornaram livres buscando cada uma o seu caminho de luz e paz, distantes das ordens pecaminosas.
O tempo passou.. Laura, preste as completar treze anos de idade já conhecia a dureza das ruas, da fome e do frio, mas nada disso a tirava do caminho da caridade, pois, ela buscava sempre fazer o bem, principalmente as crianças abandonada que volta e meia encontrava pelas ruas e os levava para orfanatos ou conventos.
A cafetina ainda não conformada com a fuga das meninas, jurou se vingar com o auxílio de alguns mercenários e do homem que havia pago por Laura, partiram em busca das meninas para, ou trazê-las de volta ou ceifar suas vidas. Dias se passaram e os mercenários contratados para encontrar as meninas e Laura, corriam por toda a região e com isso foram encontrando as meninas fugidas e uma a uma foram sendo entregues à cafetina.
E as 21 meninas foram novamente aprisionadas pela velha senhora dos bordéis. Laura, ao saber do fato, ficou arrasada e teve que retornar ao cabaré e resgatar novamente suas amigas. Mas como fazer? Então ela percebeu que chegara a hora de se entregar a caridade eterna, e foi até o encontro da cafetina do bordel. Lá, ela ordena que a velha soltasse todas as meninas e se ela fizesse isso, ela se entregaria nas mãos do homem que a comprou e passaria a ser parte do bordel. A cafetina então aceita as condições de Laura, porém, em seus olhos se viam a maldade e falsidade embutidas… A troca foi feita, e as meninas seriam liberadas após ser constatado o ato com o comprador da inocência de Laura.
O homem pega Laura pelo braço com violência arrastando a menina para um dos quartos do local, enquanto a cafetina ordenava aos mercenários para que matem as outras meninas e só assim ela se sentiria vingada. E assim foi feito, uma a uma… Elas eram levadas ao fundo do local fétido e assassinadas pelos mercenários. Laura por sua vez tem uma visão, enquanto o homem se preparava para desfrutar do corpo dela, ela vê as meninas em volta de poças de sangue, gritos e desesperos e tem certeza que a cafetina não tinha cumprindo com o combinado entre elas.
A menina se apossa de um punhal que o homem trazia consigo e sorrateiramente o esconde com ela, quando o homem chega diante dela, Laura crava o punhal no coração do homem que com um grito pavoroso cai no chão, já sem vida. A cafetina ouve o som do grito desesperado do homem, corre até o quarto e vê Laura coberta pelo sangue do mesmo, ela puxa o punhal do coração dele e o crava no coração de Laura que sente uma dor intensa que vai se acalmando pouco a pouco.
Laura sorri e agradece à velha cafetina por sua libertação, que agora é eterna.
O pequeno corpo da menina Laura cai ao chão, porém, o seu espírito continuava na mesma posição, sorridente um tanto mais tranquila e serena. Laura em forma espiritual abre os braços e diante dela e da cafetina, aparece às 21 meninas assassinadas. As meninas fazem uma roda em volta de Laura e todas gargalhando, dançam como se estivessem numa brincadeira de ciranda.
A cafetina, assustada, sai correndo em desespero e vai de encontro a um bonde que sem ter como parar a atropela, deixando o corpo inerte da velha do cabaré no chão. Enquanto kiumbas lutavam entre si para levar o seu espírito para as profundezas e assim escravizá-la.
A menina Laura, agora sendo uma entidade de luz ficou conhecida como a POMBAGIRA MENINA DA CALUNGA e trabalha pela e para a caridade em terreiros de umbanda, em uma forma linda, trazendo sempre com ela a sua legião de 21 pomba giras de semelhante aspecto.
Ela também é companheira de trabalho do Exu Mirim, e juntos com suas falanges penetram, onde poucos conhecem, sua ajuda é muito grande e no que se refere a defesa deste ou daquele filho de fé do terreiro, ou mesmo quando o algum filho do terreiro pede sua valiosa defesa para outrem, principalmente se forem os que envolvem crianças, adolescentes e jovens.
Ela também é companheira de trabalho do Tranca Rua das Almas e quando esse Exu se manifesta, a pomba-gira menina sempre estará presente incorporada a um médium ou não.