TRISTÃO & ISOLDA
O MITO
Tristão e Isolda é uma lenda que ficou muito em voga na Idade Média.
Trata-se de urna das mais belas epopeias de amor que já foram concebidas.
Tristão de Leónis, foi encarregado de ir à Irlanda pedir, para seu tio Marcus, rei de Cornualha, a mão de Isolda, a Loura. Por um erro fatal, eles bebem um filtro mágico, que desperta em seus corações uma paixão irresistível e eterna. Depois de se ter abandonado ao seu amor, Tristão esforça-se por aquecer Isolda, sem o conseguir. Mortalmente ferido. ele chama-a ao seu leito de morte, mas, em virtude dum equívoco, morre ao julgar-se abandonado por Isolda, que chega muito tarde.
MITO & REALIDADE
Nesse belíssimo mito vamos encontrar um espelho que revela uma realidade que nos bate à porta, alertando-nos para a importância de distinguirmos em nossa cultura, o destino do feminino, chamando nossa atenção para as diferenças de formação psicológica entre homens e mulheres e, de como, no Ocidente, o amor romântico é quem define as relações entre os indivíduos ou pessoas.
Qual o destino do feminino em nossa cultura?
Valores como sentimento (s), afinidade e consciência da alma foram praticamente banidos, isto é, expulsos de nossa cultura pela mentalidade patriarcal?
As deusas foram destronadas e com elas seus valores, deixando-nos à mercê de um mundo masculinizado e em muitos casos brutalizado e estúpido.
No desenvolvimento humano priorizou-se o masculino em detrimento do feminino, desconsiderando-se diferenças importantes e necessárias.
A formação psicológica do homem e da mulher é distinta; o lado sentimental do homem e da mulher se desenvolvem diferentemente, e a experiência do relacionamento pôr ela vivenciado tem nuances sutis que os homens não vivenciam da mesma forma.
A maioria das mulheres despende em grande parte de suas energias no esforço de construir um relacionamento amoroso com um homem e lidar com sentimentos, idéias e reações que lhe são aparentemente incompreensíveis.
O amor romântico é o maior sistema energético dentro da psique ocidental masculina.
Como fenômeno de massa, o amor romântico é peculiar ao Ocidente. O amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas é todo conjunto psicológico – uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas.
Inconscientemente e conscientemente, predeterminamos como deve ser um relacionamento com outra pessoa, o que devemos sentir e mesmo o que devemos lucrar com isso.
O amor romântico não significa apenas amar alguém; significa estar apaixonado. Este é um fenômeno psicológico muito peculiar. Quando estamos apaixonados, acreditamos ter encontrado o verdadeiro sentido da vida revelado num outro ser humano.
Esse conjunto psicológico inclui uma exigência inconsciente de que o nosso amante ou cônjuge nos alimente continuamente com esta sensação de êxtase e de emoção intensa.
Com a típica presunção ocidental de estarmos sempre com a razão, achamos que o nosso conceito de amor, o amor romântico, deva ser o melhor. Mas se nós, ocidentais, formos realistas, teremos de admitir que o nosso enfoque do amor romântico não está funcionando bem.
Apesar do êxtase que sentimos quando estamos apaixonados, passamos boa parte do nosso tempo com uma profunda sensação de solidão, alienação e FRUSTRAÇÃO CAUSADA PELA NOSSA INCAPACIDADE DE CONSTRUIR RELACIONAMENTOS AFETUOSOS, BASEADOS EM COMPROMISSOS.
Culpamos geralmente os outros por terem falhado conosco; não nos ocorre que talvez sejamos nós que precisemos modificar nossas próprias atitudes inconscientes – as expectativas que alimentamos e as exigências que impomos aos nossos relacionamentos e às demais pessoas.
Esta é a grande ferida na psicologia ocidental, é o problema psicológico básico da nossa cultura. Jung disse que se descobrimos a ferida psíquica num indivíduo ou num povo, aí descobriremos também o caminho para a conscientização, pois é no processo de cura das nossas feridas psíquicas que acabamos por nos conhecer a nós mesmos.
Somos a única sociedade a cultivar o ideal do amor romântico e a fazer do romance a base de casamentos e relacionamentos amorosos. O ideal do amor romântico irrompeu na sociedade ocidental durante a IDADE MÉDIA, surgindo pela primeira vez na literatura no mito de TRISTÃO e ISOLDA.
Jung nos mostrou que quando um fenômeno psicológico marcante acontece na vida de um indivíduo, isto significa que um tremendo potencial inconsciente está emergindo, prestes a manifestar-se ao nível da consciência. O mesmo é válido para as coletividades. Num determinado ponto da história de um povo, uma nova possibilidade surge do inconsciente coletivo; é uma nova ideia, uma nova crença, um novo valor ou, ainda, uma nova maneira de encarar o universo. Isso significa um bem em potencial, se puder ser integrado ao consciente, mas a princípio é assustador e até mesmo destrutivo.
Professor Pardal, filósofo, terapeuta e pesquisador