Mistérios esotéricos do sexo, por Jorge Adoum
A força criadora pertence ao Cosmo e não ao indivíduo; à raça e não à pessoa: portanto, deve ser devolvida ao Cosmo e à raça.
Não deves materializar teus pensamentos divinos se quiseres evitar a queda; deves, ao contrário, espiritualizar toda sensação, para poderes entrar novamente no Éden. Não deves vender toda a tua vida por um minuto de prazer, nem tua primogenitura por um prato de lentilhas.
… Já sabes quais são as Provas que o aspirante deve sofrer…
Deves, contudo, entregar-te ao Fogo, mas não te exponhas a ele. Para rasgar o Véu é necessário que tua alma seja excitada pelo fogo, esse fogo que deve queimar tudo o que for impuro e indesejável para chegares a ver Deus face a face.
A Castidade é a porta da Iniciação, pela qual o homem pode passar a seu mundo interno, onde permanece uma comunicação constante com as inteligências que possuem a memória da Natureza.
Quando a energia criadora, por meio da castidade, invade a medula espinhal, sintoniza todos os centros do homem para abrir caminho para o Reino da Realidade.
O Cristo em ti tem de ir ao Pai, para abrir-te o caminho. Para encurtar o tempo de duração de tuas provas, temos de colocar-te à beira de um precipício… Temos de nos valer de alguém para acender em ti o fogo do altar; esse fogo produz luz e fumaça, mas és tu que deves escolher entre uma ou outra.
Esse fogo, uma vez aceso em teu sangue gasoso, te porá em contato com a alma do mundo “e é nesse estado que deves receber a Iniciação”.
Tudo depende de tua imaginação e de tua força de vontade. Atualmente és o Filho do Homem; porém, pelo fogo, serás o Filho de Deus e um sacerdote da Ordem de Melquisedeck.
Tu necessitas da mulher para divinizar-te, mas… “cuidado com a mulher!”
Busca a mulher para que acenda em ti o Fogo Sagrado, porém procura a mulher que tem o poder de apagá-lo.
Ama-a sem desejo e adora-a sem profanação, e então serás digno da Grande Iniciação.
A mulher te conduz para o Cristo (Hamsa) que está em ti, porém, pode também conduzir-te ao demônio, que também está em ti.
O fogo aceso pela mulher consumirá todo obstáculo que se encontre entre ti e teu Salvador, mas a fumaça pode cegar-te.
Esse fogo deve subir a teu cérebro, mas nunca deve sair pelos teus órgãos sexuais.
Meu filho, tens de acender em ti a Sarça de Horeb para que possas falar com Deus…
À luz desse fogo podes aprender os Mistérios da Natureza, que não se acham nos livros. E todos esses Mistérios se encontram na própria mulher. Ama-a e protege-a de ti mesmo.
No ventre da mulher se acha oculta a máxima sabedoria; porém, essa sabedoria se encontra no fundo de um abismo escuro e perigoso.
Tens de descer com luz; pelo contrário, a fumaça te fará perder a razão e podes despedaçar-te no fundo do precipício. Serás sempre bendito se vires sempre Deus no ventre da mulher.
Os anjos te trarão do céu o pólen da árvore da vida, cuja semente não é, nem deve ser, masculina ou feminina, mas sim possuir as duas naturezas. Para voltares à Divindade, “deves ter uma mulher em ti e não uma mulher para ti”.
Que era a “Luz” na “Luz” e a “Luz” no “sexo” era O Todo que contém tudo.
Que todas as religiões têm a mesma origem e a origem de tudo o que existe está na Luz e no fogo, e a Luz e o fogo estão no sexo.
Que Deus, o criador, manifesta, pelos órgãos criadores, o fogo sagrado e a luz, que criaram o Cosmo e todas as coisas visíveis e invisíveis.
Que essa luz é a imortalidade da alma.
Que este Mistério é a chave da Iniciação Interna, é a porta do céu.
Que a Luz é a panaceia da saúde, da felicidade e da santidade.
Que o homem e a mulher formam a divindade uma, binária e trina.
Que para ver Deus e falar com Ele, devem ser unidos por Ele e Nele.
Que quando se unem, Ele e Ela, pelo pensamento e pela sensação, forma-se a criação.
Que o verdadeiro Deus reside na luz do Fogo Sagrado e que a adoração a Deus deve ser neste Fogo.
Que todas as religiões, não podendo conservar a Luz do Fogo, procuraram simbolizá-lo por meio de milhares de símbolos e invenções mentais.
Que a verdadeira religião não está naquilo que o homem pode ver ou ouvir, mas sim naquilo que pode sentir sem os sentidos. E aquele que quiser chegar a Deus deve buscar o caminho da sensação e não o caminho da oração.
Que o único ser que pode dar ao homem a sensação é a mulher.
Que o homem, ao adorar a Deus, intuitivamente adora também a mulher, e esta o homem. O homem adora a mulher para produzir a sensação e a mulher adora o homem para gerar o pensamento.
Que o sexo é a força sensitiva que gera o mundo, o homem e a ação, para depois, pelo pensamento, regenerar o mundo e o homem, imortalizando sua alma.
Que o Universo se sustém e mantém pelo Fogo – Luz do sexo, como também pode ser destruído por ele.
Que o sexo condena e salva, regenera e destrói, segundo o uso, seja para a salvação ou destruição.
Que o salvador do homem ou do mundo é o sexo, assim como também é a perdição ou o demônio de ambos, mas o homem tem a liberdade de escolher entre a salvação e a condenação.
Que todas as religiões, ao adorarem Deus, sem o saberem, o estão adorando sob uma forma sexual e, como já foi dito, o sexo é o produtor do Fogo e da Luz, nas cerimônias, ritos e símbolos.
E o propósito de todas elas é manter sempre aceso o fogo até obter a luz; os símbolos externos, com suas cerimônias, têm por objeto auxiliar a sensação e o pensamento, ambos debilitados pelos sentidos externos.
Que o instinto sexual é o impulso da Divindade Criadora, o pensamento apenas modula a criação em harmonia ou desarmonia, em bem ou mal, em anjo ou demônio.
Que a maior desgraça do homem e do mundo está na degeneração do impulso criador e divino pelo pensamento. Por esse motivo, o homem que se fez Deus no Éden morreu.
Que assim como o sexo é a origem de todas as religiões, é também a base de todo esforço, afeto, amor, fé, caridade, compaixão, santidade, arte, poesia e de todas as coisas sublimes que a mente humana pode criar.
Que todo reino, poder e domínio nascem no impulso criador e, por sua ausência, se extinguem.
Que o céu é a Luz do sexo, o inferno é sua fumaça e a vida é seu fogo.
Que o amor é uma manifestação do sexo e Deus é amor.
Que sem sexo não há amor e sem amor Deus não existe nem pode existir.
Que o sexo, em sua fonte de manifestação, é puro como a luz; porém, como gratificação baixa, é ignóbil, e a nobreza reside no pensamento.
Que o sexo é a fonte de tudo o que é criado pelo amor. Porém, o amor não pode existir na impotência, nem a imortalidade na degeneração. Porque na degeneração não há aspiração, sem esta não há geração e sem geração não há regeneração.
Com a pureza do sexo, o homem pode conceber o amor que o conduz a Deus, ao passo que, com sua impureza, fabrica um Deus que tem os mesmos desejos do homem.
Os deuses vingativos, os deuses que castigam pelo pecado e pelo mal, são deuses impotentes, obra dos homens, que chegaram à impotência sexual, e quem chega à impotência não pode ver a realidade única.
Que cada Salvador é a personificação da Luz do Pai e todo homem, para salvar-se e ser Salvador, deve chegar à estatura do Cristo, isto é, chegar à fonte da Luz.
Todos os elementos do mal desencadearam-se contra os deuses, filhos do homem- Deus: fogo, ar, terra e água (o Dilúvio) se encontram no corpo, que se salvou graças à Arca de Noé (útero da mulher).A primeira coisa que Noé fez, ao sair da arca, foi acender o fogo sobre um altar para dar graças a Deus (acender o fogo sagrado no altar da mulher, para cumprir a missão de Deus).
Que o mistério da Iniciação, com todos os seus símbolos, é o mistério do fogo e da luz, que traz o homem iluminado ou identificado com o Sol, isto é, que recebeu a luz e se converteu em Padre, como se intitulam os sacerdotes, ou Padres Sagrados. Pelo Fogo Sagrado todos os homens são filhos de Deus e, portanto, irmãos.
Que o batismo da água é a imersão do homem na mulher, pela geração, e o batismo do Fogo é a retenção do fogo em si para fazê-lo acender e produzir a regeneração; a imortalidade consciente é a Iluminação do Espírito Santo.
O Pão é o símbolo do Sol ou Fogo-Luz do homem e o vinho no cálix é a mulher-mãe.
O primeiro desce da espinha dorsal e o segundo se acha na matriz sagrada.
E quando o Iniciado toma o vinho e o pão com seus discípulos internos, o Fogo do Espírito Santo invade todo o corpo e o filho sobe ao Pai, origem da Luz.
Que o falo é o signo da aliança entre Deus e o homem, por meio do rito da circuncisão.
Que quando o homem lança, vã e estupidamente, sua “semente”, nunca pode conhecer o Reino dos Céus, porque perde a substância sagrada para a produção do Fogo Criador, que o conduz a Deus por regeneração.
Que, sendo o homem templo do Deus vivo, dentro deste templo deve habitar o Fogo do Inefável.
Jorge Adoum, no livro Adonai