quarta-feira, 20 de julho de 2022

Enxaqueca – O Inferno Dentro da Cabeça

 

Enxaqueca – O Inferno Dentro da Cabeça

imageU18Por Fabíola Musarra
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Estatísticas revelam que quase 90% da população já sentiu dor de cabeça algum dia.

Os três tipos mais comuns de dor de cabeça entre os mais de 150 existentes são a cefaléia tensional, a cefaléia em salvas e a enxaqueca. Todas causam desconforto, mas enquanto a ‘em salvas’ afeta mais os homens, a ‘enxaqueca’ faz mais vítimas no sexo feminino; atinge 16 em cada cem mulheres   contra quatro em cada cem homens. Felizmente, o problema pode ser contornado. Saiba como.

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Considerada como uma das doenças que mais incapacita o trabalhador de comparecer ao seu emprego, a enxaqueca afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, fazendo vítimas inclusive entre as crianças. Mas, afinal, o que é ‘enxaqueca’ ou ‘migrânea’, como também é conhecida? Ela tem cura? Qual é o tratamento mais adequado? 

Existem alguns fatores genéticos que podem predispor um indivíduo à enxaqueca. Contudo, tais fatores apenas se manifestam mediante estímulos do meio-ambiente, os hábitos e o estilo de vida da pessoa.

“Apenas a ‘cefaléia em salvas’ (a sensação de dor é como se a cabeça e o olho do doente estivessem recebendo uma facada ou sendo feridos por uma pontada fina e penetrante), uma variante rara da ‘enxaqueca’, não é comprovadamente genética”, afirma o especialista Abouch Valenty Krymchantowski.

Prova disso é que uma pessoa pode se alimentar mal, dormir pouco, não praticar atividades físicas e não ter enxaqueca, pois possivelmente não tem predisposição genética para a doença. Já uma outra pode ter hábitos e estilo de vida idênticos e sofrer com a doença. Nesse exemplo, certamente, a pessoa apresenta predisposição genética. “Vale observar que a enxaqueca é uma doença bioquímica do cérebro, transmitida e herdada geneticamente, que pode ou não causar dor de cabeça”, define o neurologista.

“Por sua vez, a dor de cabeça ou ‘cefaléia’, nome científico da doença, é uma sensação dolorosa na cabeça, pescoço e face”, acrescenta Krymchantowski. 

Atualmente, já foram classificados mais de 150 tipos diferentes de dor de cabeça, sendo que os mais comuns são as primárias (as cefaléias se dividem em primárias ou secundárias). As primárias são aquelas provocadas por distúrbios bioquímicos do próprio cérebro que levam à dor por mau funcionamento de neurotransmissores e/ou seus receptores.

As cefaléias do tipo tensional também são provocadas por desequilíbrios no funcionamento químico cerebral. “Portanto, as dores primárias são elas próprias a doença e o sintoma”, diz o médico. Outros tipos menos comuns de cefaléias primárias são a ‘cefaléia em salvas’, ‘hemicranias paroxisticas’ e outras. Já as ‘cefaléias secundárias’, causadas por problemas em quaisquer outras regiões do corpo, podem ter inúmeras causas. “Tumores cerebrais, meningites, aneurismas, problemas dos olhos, ouvidos, garganta e até mesmo um simples resfriado são algumas delas”, acrescenta ele.

O Dr. Krymchantowski ressalta que o tratamento para os diferentes tipos e formas de manifestações físicas das dores de cabeça não deve ser feito, em hipótese alguma, sem o auxílio de um médico. “Meu objetivo é fornecer orientações básicas para aqueles que sofrem com as dores de cabeça mais comuns, problemáticas ou incapacitantes, que transformam em sofrimento a vida desses pacientes e que se constituem em um desafio para os profissionais que buscam ajudá-los”, conclui. 
 

Fatos e mitos sobre a enxaqueca

A seguir, o médico Abouch Valenty Krymchantowski responde algumas das dúvidas mais frequentes sobre a enxaqueca. 

Crianças têm enxaqueca?
A enxaqueca é a maior causa de dor de cabeça em crianças. Ela deve ser sempre diferenciada de problemas sérios, como tumores cerebrais e meningites. Contudo, somente um médico criterioso pode cumprir esse papel. Estima se que 4 a 8% das crianças tenham enxaqueca, mas as suas crises tendem a ser menos intensas e incapacitantes do que nos adultos. As crianças geralmente se recuperam com repouso e gelo na cabeça. Os medicamentos devem ser evitados ao máximo.

Os pais têm como saber se a dor de cabeça da criança é enxaqueca ou se é algo mais grave?
Não. Só um médico saberá diagnosticar corretamente. Mas os pais podem ficar atentos a alguns sintomas. Entre eles, a criança apresentar dor muito forte se nunca tinha sentido dor de cabeça ou sentir dor localizada e/ou com intensidade diferente, quando já tinha dor de cabeça. Também ter dor acompanhada ou precedida por sintomas ou sinais neurológicos do tipo dormência, perda da força muscular, paralisias, olho desviado e pescoço duro (ou nuca rígida). Por último, ter dor na vigência de febre alta e vômitos.

Adolescentes também têm enxaqueca?
De 20 a 25% dos adolescentes se queixam de enxaqueca, sobretudo as meninas, que são mais atingidas pelo mal do que os homens.
 

Enxaqueca em criança tem cura?
Nas crianças que começam a ter crises antes dos 10 anos, há uma boa chance (40% das crianças) de na puberdade as crises desaparecerem espontaneamente. Há, ainda, casos de crianças que melhoram muito com o tratamento. Quando ele é suspenso, não voltam a ter crises.

E nos adultos? Ela pode ser controlada e até mesmo desaparecer um dia?
Por ser uma doença bioquímica do cérebro transmitida geneticamente, não tem cura. Mas tratamentos corretos podem reduzir a incidência, a intensidade e a duração de suas crises em mais de 90%. Com o passar do tempo e por mecanismos ainda controversos, as crises de dor podem desaparecer sozinhas.

As pessoas que sofrem de enxaqueca sabem quando terão uma crise?
Como o organismo envia “avisos”, algumas delas sabem que terão uma crise antes de a dor aparecer. Em geral, esses sinais começam um dia ou algumas horas antes e podem se manifestar de diferentes modos, como com o desconforto na cabeça, bocejos frequentes, irritabilidade, perda da capacidade de concentração ou raciocínio, diarreia, desejo exagerado ou aversão total por algum tipo de alimento, desconforto abdominal e palidez.

Todas as pessoas que sofrem de enxaqueca recebem esses sinais?
Não, nem todas. Quanto aos sintomas, os pacientes normalmente sentem apenas alguns deles.

Qual é o médico mais indicado para avaliar e tratar a dor de cabeça?
O neurologista é o profissional mais habilitado a lidar com as várias dores de cabeça que existem, bem como atuar de forma a eliminar as possíveis causas e consequências graves de uma dor de cabeça.

Qual a diferença entre enxaqueca e dor de cabeça crônica?
Enxaqueca é uma doença bioquímica cerebral genética do cérebro que pode pro
vocar dor de cabeça crônica com frequência variável.

Hoje, o tratamento da dor de cabeça crônica é feito com antiinflamatórios?
Não. Alguns pacientes se beneficiam de antiinflamatórios associados aos chamados triptanos durante as crises de dor de cabeça de enxaqueca. Também em alguns pacientes com dor de cabeça do tipo tensional, alguns antiinflamatórios com ação analgésica podem funcionar nas crises. Entretanto, o uso regular e/ou freqüente de analgésicos ou antiinflamatórios somente piora a dor de cabeça.
 

O estresse causa enxaqueca?
Não, o estresse pode deflagrar crises de dor de cabeça em alguns pacientes que sofrem de enxaqueca, mas não é a causa dessa doença. Em alguns pacientes com cefaléia do tipo tensional, o estresse também pode precipitar crises de dor.

É verdade que alguns alimentos ajudam a causar a enxaqueca? Quais são eles?

Não. Determinados alimentos podem deflagrar, mas não causar as crises em alguns pacientes. Caso dos queijos amarelos, dos chocolates, dos conservantes, dos alimentos corados de vermelho (lingüiça, salsichas e defumados, por exemplo), de comida oriental (molho com glutamato monossódico), das frutas cítricas, das bebidas fermentadas e do vinho tinto.

A enxaqueca pode ser confundida com outra dor de cabeça?
Pode. Muitos profissionais de saúde confundem na com outros tipos de dor de cabeça e teimam em dizer, incorretamente, que a enxaqueca é provocada por problemas de fígado, estômago, falta de óculos, sinusite crônica, mordida errada, falta de dentes e estresse, entre outros motivos. O diagnóstico errado leva ao tratamento incorreto e isso não pode acontecer. Daí a importância de livros como esse, que orientam o paciente e o médico não especializado sobre o assunto.

Como a enxaqueca pode ser prevenida?
O primeiro passo é pessoa tentar estabelecer quais os fatores desencadeantes para suas crises e evitá los. Quando necessário, pode se fazer tratamento preventivo das crises.
 

Publicado na Revista Planeta
número 405
de Julho de 2006