**ESTAR PRESO A UMA PESSOA **
Em nossa época, cada vez mais as pessoas demandam respostas para suas questões emocionais e existenciais. Uma das dúvidas mais comuns é sobre a nossa vida afetiva. As pessoas se perguntam: “por que eu ajo assim com tal pessoa?”, “Por que só atraio cafajestes?”, “Por que eu só me interesso por mulheres devassas?”, dentre outros questionamentos. Uma das dúvidas mais freqüentes sobre os relacionamentos humanos é: “Por que não consigo me desvincular de uma pessoa? Por que toda vez que tento terminar minha relação com aquela pessoa eu fracasso inevitavelmente? Não entendo o que me prende a ela.” Muitas pessoas me perguntam isso, e desejam compreender como a Terapia de Vidas Passadas pode explicar tal dependência.
Por mais que se tente, somente a teoria da reencarnação pode explicar, de forma satisfatória, o motivo real da prisão emocional que algumas pessoas sofrem. Por que alguns indivíduos sentem-se tão presos a outros? Por mais que se esforcem, parece que há alguma força que os bloqueia quando há uma tentativa de encerrar um relacionamento. Mesmo que esta relação os traga prejuízos diversos, brigas, conflitos, maus-tratos, até mesmo agressões físicas há essa dificuldade. Quando a resposta não pode ser encontrada em alguma circunstância determinada da vida atual, podemos lançar nosso olhar ao nosso passado encarnatório e buscar a origem desta barreira emocional.
A Terapia de Vidas Passadas se vale de um conhecimento prático que se verifica na experiência pessoal de milhares de pessoas que, em estado alterado de consciência, deixam que seu psiquismo lhes mostre o núcleo gerador do problema, neste caso, a origem de uma dependência emocional que uma pessoa tem em relação à outra. Como é possível que um namorado (a) ou um marido (ou esposa) que nos prejudica, nos faz mal, nos lesiona em diversos níveis e ainda permanecemos neste relacionamento? Como podemos ainda nos sentir tão apegados a ponto do vínculo ser mais forte que nossa vontade consciente e o desprendimento se tornar algo extremamente difícil, penoso e sofrido?
Ao estudarmos as pendências de vidas passadas constatamos que há uma série de explicações para este fato. Vamos descrever as principais e possíveis causas desse aprisionamento emocional diante do nosso parceiro de vida.
Postulado de Caráter
Na Terapia de Vidas Passadas um dos principais conceitos que são estudados é o chamado postulado de caráter. Um postulado é uma ideia fixa que gravamos em nosso inconsciente de uma vida para outra, e passa a influenciar a vida ou as vidas seguintes. Essa ideia fixa, no entanto, é programada de forma consciente, porém, após a morte, essa programação se mantém e pode atravessar os séculos de forma intacta e ainda gerando sintomas diversos.
Por exemplo, um homem é traído pela sua esposa. Isso representa um grande choque emocional para ele. Então no calor da emoção ele profere a seguinte frase: “Nunca mais vou acreditar em outras mulheres”. Essa simples frase pode ficar tão gravada em sua mente subliminar que recebe um status de inviolável. Nada que ocorra em sua experiência dali para frente terá o poder de questionar essa ideia ou fazê-lo acreditar que algumas mulheres podem ser confiáveis. Para ele, nenhuma mulher é mais confiável.
Na maioria dos casos, os postulados são gravados após uma intensa experiência emocional, um trauma, ou uma morte traumática. Além disso, um hangover também pode ser a causa de um postulado. Para quem não sabe, em TVP hangover é uma experiência que se repete ao longo do tempo e acaba por nos acostumar tão pesadamente a ela que passamos a perder as esperanças de melhorar e nos acomodamos e estagnamos.
De qualquer forma, no caso da prisão emocional a uma pessoa, os postulados podem ser a causa desses grilhões. Vamos supor que uma moça seja casada com um marido e se apaixone por outro. Este outro homem, para poder ficar com a moça, planeja e comete o assassinato do marido sem que a moça saiba e concorde. No leito de morte ela se arrepende de ter pensado em largá-lo e faz uma afirmação mental na intensidade do trauma da perda: “Jamais te abandonarei novamente”. Logo após o incidente, ela fica deprimida e se suicida.
Esse postulado será carregado até a vida seguinte. Essa moça pode reencontrar o marido assassinado numa vida passada, ambos casam, têm filhos, mas após alguns anos o casamento se torna muito ruim, para não dizer insuportável. Uma parte dela deseja separar-se dele, mas há um impulso que vem do seu inconsciente, gerado pelo postulado, que consolidou a ideia fixa de nunca mais o abandonar. Neste sentido, o postulado de vidas passadas a mantém aprisionada dentro do casamento indefinidamente.
Essa mulher não entende e sequer pode desconfiar que possui este postulado arraigado em sua consciência. Se ela não crê em reencarnação, poderá procurar a causa de sua ligação doentia com o marido atual sem qualquer sucesso. Obviamente, por um esforço de sua vontade, ela pode deixar o postulado de lado e largar o marido em nome de sua própria felicidade, mas somente recapitulando sua vida passada ela poderá ter um panorama mais fiel do ocorrido e desprogramar a ideia enraizada em seu inconsciente com muito mais tranquilidade.
Na TVP existem técnicas específicas para se desprogramar e abandonar estes postulados, a fim de libertar a pessoa do cárcere que ela mesmo criou com uma ideia fixa de vidas passadas.
Culpa Inexplicada
A culpa é, com muita freqüência, uma outra causa do aprisionamento emocional a uma pessoa. Não apenas dentro do matrimônio, mas também com nossos filhos, irmãos, pais, etc. Com os filhos esse relacionamento pode se tornar bastante dramático, pois os pais que sentem uma culpa inexplicada em relação aos filhos podem acreditar que precisam compensar essa culpa de diversas formas, e o resultado disso é uma educação libertina, com muitos mimos, que poderá afetar de forma decisiva o desenvolvimento da criança. Vamos aproveitar esta oportunidade e falar também sobre a relação pai e filho, e depois passa a relação marido e mulher, que é o tema deste artigo.
A culpa, como todos sabem, advém de uma não aceitação dos próprios erros cometidos. Uma pessoa que possui um ideal rígido de como ela mesmo deve ser pode cometer erros e sofrer muito com eles. Quanto maior a exigência de uma pessoa em relação a si mesma, tanto maior será o sentimento de culpa que se perpetuará nela. Em nossa época, parece que os seres humanos esquecem algo vital para sua sobrevivência: o fato de que somos isso mesmo, humanos. O humano é passível de erros, e aqueles que não desejam em hipótese alguma aceitar sua condição de imperfeição estão voluntariamente abdicando de sua felicidade. Se nossa natureza é de erros e limites, não aceitar esses erros é assinar um contrato com a infelicidade.
Dito isto, vamos analisar a culpa que se forma numa vida passada, e a melhor maneira de se compreender isso é por meio de exemplos. Vamos supor que um homem tenha sido um senhor de escravos. Um destes escravos havia tentado escapar do cativeiro, e quando foi pego, o senhor de escravos o açoitou até quase matá-lo. Após esse episódio, o escravo ficou doente e morreu. Na vida seguinte, a inteligência divina propõe reunir novamente estas almas para que se estabeleça um entendimento entre ambas e os laços de amor prevaleçam diante do ódio. Os espíritos então nascem como pai e filho. O pai era o senhor dos escravos e o filho o escravo que foi açoitado e morreu logo depois. O pai não se recorda do que fez em vidas passadas, mas mesmo com a amnésia encarnatória, os sentimentos permanecem dentro dele, e na relação firmada com o filho, ele passa a sentir uma forte culpa de algo que não sabe o que é. Assim, para amenizar a culpa, ele sente que precisa compensar o mal que fez, e passa a fazer todas as vontades do filho, e o pior de tudo, a relação com o filho passa a ser bastante pesada. Enquanto o filho sente que pode manejar a culpa do pai, e passa a fazer várias cobranças, o pai se vê numa encruzilhada e não sabe como agir. Esse seria um exemplo de como a culpa pode atrapalhar a relação entre pai e filho.
Dentro de um casamento ocorre muitas vezes dos cônjuges terem sido marido e mulher em outras vidas, e a continuarem sendo na vida atual. Pode ocorrer de, em vidas passadas, o marido ter dado uma surra em sua esposa (algo não muito incomum antigamente) e ter levado sua esposa a morte. Como sua intenção não era essa, ele pode ficar pesaroso, chorar a morte de sua mulher, arrepender-se completamente de sua atitude, e ficar sentindo-se culpado pelo ato cometido. Logo depois disso, um dos filhos se rebela contra o pai por causa da morte da mãe e mata-o friamente. Ele morre muito arrependido do que fez, e sofre com essa culpa no período entrevidas (no plano espiritual). Numa próxima vida, ele pode renascer e se reencontrar com a esposa. O homem de outra vida pode nascer como mulher na vida atual, e a mulher pode nascer como homem. Eles se encontram e iniciam um relacionamento. Depois de alguns anos, o relacionamento parece não dar certo, e a mulher (o homem de vidas passadas que espancou a matou a mulher) sente que deve se separar do marido. No entanto, em decorrência do espancamento, da morte e da culpa resultante deste ato, a mulher sente-se mal em abandonar o homem, e movida pela culpa, acaba não conseguindo separar-se dele.
Esse é um exemplo clássico e bem ilustrativo de como a culpa pode prender uma pessoa a outra. No caso, essa mulher sente internamente que precisa permanecer com o homem, pois sente que, se o deixar, estará fazendo algo de errado com ele, da mesma forma que fez no passado quando o espancou e matou. É um erro de percepção que se reforça pela culpa e pelo intenso arrependimento pela sua atitude pretérita. Fica claro que a culpa tem o poder de encarcerar a alma e tolher sua liberdade de ação e pensamento. Há sempre uma tendência de compensação, de reparação pelo ato cometido, mas essa compensação nunca se satisfaz; àquele que cultiva o sentimento de culpa parece que nada supre o dano causado a outrem, mesmo que disso ele não tenha consciência (por ser uma memória perdida de vidas passadas). Neste caso, a falta de memória é um entrave a reflexão sobre o erro e ao redirecionamento de nossos atos nos dias de hoje.
Na situação exemplificada a culpa é localizada em uma pessoa, mas também pode ocorrer de o sentimento de culpa se tornar tão forte que passa a dominar a maior parte da personalidade do indivíduo, e se estruturar como parte de toda a sua vida e suas ações no mundo. É importante lembrar também que o cárcere da culpa não bloqueia apenas o término do relacionamento, mas também prende uma pessoa na outra. Essa prisão pode fazer com que o outro viva apenas em função daquela pessoa, e esqueça todo o restante. Pode existir um isolamento dentro de um mundo construído por ambos, e isso aliena o indivíduo a um ponto que pode beirar o campo do patológico, ou até mesmo, em alguns casos extremos, adentrar nele.
Situações Inconclusas
Outra circunstância que pode ocorrer em vidas passadas, e que pode trazer prejuízos, ou mesmo uma dificuldade de se encerrar um relacionamento, um medo de perder o outro, ou uma certa dependência, é a separação causada por projetos conjuntos que são interrompidos, ou situações que ficaram pendentes em vidas passadas. Por exemplo, um homem ama uma mulher, declara a ela o seu amor, e a pede em casamento. A mulher aceita e marcam a data do casamento. Logo após se casarem, passam algumas semanas e a esposa vem a desencarnar. O homem sofre muito com isso, não consegue compreender por que a mulher que amava se foi tão rápido. Ele tinha muitos sonhos, muitos projetos, imaginava uma vida maravilhosa a dois, mas com a infeliz “fatalidade” da vida, ele sente que “perde” (na verdade ele não a perdeu) sua esposa. Na realidade, não há qualquer fatalidade ou acaso na transição de sua esposa, a inteligência divina pode determinar uma separação precoce e repentina a fim de permitir o desenvolvimento de alguma virtude em ambos, principalmente no encarnado. Pode ser também que houvesse algum karma de separação que ambos estivessem obrigados a atravessar. De qualquer forma, a morte da esposa serviria alguma finalidade cósmica maior que ainda lhe era incompreensível dentro do nível do entendimento humano.
Quando isso ocorre, o espírito pode carregar de uma existência a outra esse sentimento de um projeto de vida não concluído; ele sente uma falta, uma carência dentro de si mesmo, algo que parece formar um buraco emocional em seu interior. Por conta dessa perda antecipada, numa próxima vida essa alma, quando encarnada, fica com uma sensação de que o relacionamento pode terminar a qualquer momento, e fica gravado em seu inconsciente que a separação não pode ocorrer, caso contrário ele vai sofrer muito, como sofreu no passado.
Estamos dando apenas um exemplo de uma situação pendente de vidas passadas, mas podem existir outras tantas circunstâncias que ficaram inacabadas, e que podem contribuir com a clausura dentro de uma relação marital.
Pacto de Sangue
O pacto de sangue, dentro de uma esfera de relacionamentos, é um ritual bem conhecido do público. Duas pessoas que se gostam, geralmente bem jovens, e que acreditam que devem passar a vida inteira juntos, podem fazer um pacto de sangue, que consiste na união física do sangue de um com o sangue do outro juntamente com uma afirmação ou promessa de nunca se separarem, ou de estarem unidos pela eternidade. Aqui não mencionaremos outros tipos de pactos de sangue realizados em rituais de sociedades mágicas do passado e do presente, pois este é um tema muito extenso e há um artigo específico que versa a esse respeito. Mas devemos alertar os leitores que, mesmo que esse ritual tão simples pareça algo inofensivo, na realidade não é, e pode trazer graves conseqüências as pessoas que o realizam. Tudo esse efeito nocivo se concentra no poder intrínseco do sangue, que é de vitalidade, acumulação e circulação de energias, dentre outras propriedades sutis ainda desconhecidas da maioria. O pacto de sangue tem o poder de unir vibratoriamente duas pessoas durante a vida, após a morte, e até mesmo por várias vidas.
Para ilustrar esse ponto, daremos um exemplo retirado de nossa própria prática clínica. Um rapaz nos procurou em consultório para tratar, dentre outras coisas, a fixação que ele sentia em relação a uma moça que há mais de 10 anos já terminara com ele. Ele dizia que nada mais sentia pela moça, já havia tido outros relacionamentos, mas parecia que algo o prendia a essa antiga namorada. Após uma longa anamnese, ele confessou ter feito certa vez um pacto de sangue com ela. Ele alegou acreditar que aquilo era apenas simbólico e que nenhum efeito deletério teria para ele ou para ela. Fizemos então uma sessão apenas para desfazer esse pacto. Para tanto, usamos as técnicas ensinadas pela TVP e conseguimos desfazer o pequeno ritual de sangue. Neste momento, o rapaz afirmou que sentiu-se aliviado, sentiu que seu dedo começar a formigar. O dedo indicador da mão direita havia sido local em que se consolidou a união do sangue de ambos. Sentiu uma energia positiva e encerramos a sessão. O tempo para se desfazer o pacto foi de pouco menos de uma hora; e a aparente demora ocorreu por que decidimos avaliar outros aspectos psicológicos da antiga relação dos dois. Na sessão seguinte, o homem me relatou que sentia-se muito mais livre em relação a moça, a toda aquela fixação havia passado. Esse exemplo serve para demonstrar o quanto precisamos tomar cuidado com certas atitudes que tomamos em mexer com forças e energias que ainda não compreendemos. É preciso muito cuidado ao se debruçar sobre uma realidade sutil que não dominamos, pois a probabilidade de algo dar errado e sermos nós os dominados é bem grande.
Pendências Diversas
As pendências de vidas passadas se constituem como qualquer tipo de ligação kármica entre duas almas. Neste caso, elas têm a missão de desenvolver um projeto conjunto de crescimento pessoal, e precisam manter-se unidas para atingir os objetivos de evolução espiritual. Por exemplo, os dois, marido e mulher, participaram de um massacre indígena numa de suas vidas passadas. Hoje eles reencontram os espíritos vitimados por eles para algum tipo de reparação aprendizagem. Como eles trabalharam juntos no assassinato dos indígenas, hoje eles precisam estar juntos num projeto de reparo ao mal cometido e aprendizado mútuo.
O campo das pendências de vidas passadas é extremamente extenso, pois aqui se situa qualquer tipo de pendência de vidas passadas. A diferença entre a pendência e a culpa é apenas que na pendência há um envolvimento kármico sem culpa. Na culpa, o que aprisiona é a própria culpa, embora também exista um karma conjunto. Nas pendências a culpa também pode existir, mas ela não é o componente principal que alimenta as barreiras da clausura psicológica. Em suma, a culpa é uma pendência, mas nem toda pendência provém de uma culpa. Toda pendência pode existir ao menos um resquício de culpa, mas não é a culpa em si mesma que cria a prisão mental diante do outro (mas sim o próprio karma).
Para dar um simples exemplo, vamos supor que um homem suspeite de uma traição de sua esposa e a mate. Ele não sente culpa pelo que fez, pois sua cultura lhe ensinou que, quando um homem é traído, ele precisa defender sua honra, e a forma correta de fazer isso é assassinar sua esposa. Mesmo sem culpa, ele criou uma pendência kármica com a mulher, pois independente do que uma ou outra cultura afirma, as leis divinas são sempre as mesmas. O assassinato é reprovável pelas leis naturais em qualquer situação, exceto em casos extremos quando o outro atenta contra nossa vida e, numa reação de defesa, conseguimos matar o outro antes que ele nos mate.
Associação Traumática
A associação traumática em tese é bem simples. Ela advém de qualquer tipo de associação negativa que se forma a partir do término de um relacionamento. Vamos supor que um moça se case com um homem. O relacionamento vai mal e ela deseja se separar. Porém, em muitas culturas antigas a mulher não tinha direito a separação, por força de lei ou da cultura vigente ela deve permanecer casada para sempre. Porém, ela não agüenta mais seu casamento e resolve fugir. O marido então resolve procurá-la e até mesmo caçá-la. Na fuga, ela entra numa floresta e sem querer cai de um alto barranco, vindo a falecer.
Neste caso, ela pode, numa vida futura, estabelecer uma relação entre separação e morte pela via da associação. Em outras palavras, ela associou o ato de se separar com a morte traumática. Ela pode inconscientemente acreditar que, caso se separe, poderá morrer novamente. Isso fica enraizado em sua consciência e pode ser o motivo de uma imensa dificuldade de separar-se do seu marido atual mesmo estando o relacionamento acabado.
Reencontro para equilíbrio kármico
Sabemos que todos os encontros duradouros e que estão pautados no amor entre duas almas tem uma razão de ser, mesmo que não seja compreendida pela consciência humana limitada. As relações humanas sempre obedecem uma ligação de equilíbrio. É comum ver pessoas que se complementam umas as outras. Enquanto a esposa é mais ativa, o marido é mais passivo; enquanto o marido é trabalhador e não dá muita atenção aos filhos, a esposa é mais terna e exerce o cuidado com os filhos; enquanto um dos cônjuges não é muito ligado em dinheiro, o outro faz de tudo para ganhar cada vez mais, e assim as relações se equilibram e um supre o outro naquilo que o outro tem de carência. Isso é bastante normal e até mesmo necessário para o crescimento de ambos.
Por outro lado, existem pessoas que são muito parecidas, e que não se complementam um ao outro. Neste caso, como a tendência não é de complementação, a via natural é o confronto e a oposição. Pode acontecer de, por exemplo, um dos cônjuges ser preguiçoso, e o outro também ser preguiçoso, então um fica exigindo do outro aquilo que ambos deveriam fazer conjuntamente. Mas como os dois são preguiçosos, eles podem pensar sempre em jogar para o outro a responsabilidade. Neste sentido, como um não aceita que é preguiçoso, pode projetar no outro a preguiça que na realidade é sua, e ver apenas no exterior algo que também pertence a esfera do seu interior. Porém, a inteligência divina não criaria seres diferentes que estivessem destinados a viver em permanente conflito por causa de suas tendência comuns. A harmonia do universo sempre dá um jeito de equilibrar as relações humanas de alguma forma. Então, quando duas pessoas possuem os mesmos defeitos, um passa a ser o reflexo de onde o outro poderá enxergar a si próprio. Quando a sabedoria universal coloca duas pessoas muito parecidas convivendo juntas, uma passa a ser como um espelho para o outro, pois um sempre vê o seu próprio reflexo de seus defeitos no outro, e assim passa a ver a si mesmo.
Há uma parábola oriental que ilustra muito bem esse ponto: dois dos melhores samurais do Japão, muito orgulhosos de sua presteza e habilidade com a espada, se encontraram certa vez numa ponte de madeira bem estreita, um de um lado e outro do outro lado da ponte. Eles então observaram um ao outro de longe e continuaram caminhando na ponte. Porém, sabiam que a ponte havia sido projetado de tal modo que apenas uma pessoa poderia atravessá-la por vez. Como ambos eram muito arrogantes por serem samurais de muito prestígio pensaram “Não sei quem ele é, mas ele que volte, pois eu sou um samurai muito famoso e não devo regressar para que ele passe na minha frente”. Dessa forma, um foi se aproximando do outro e se encontraram na metade da ponte. Ao se encontrarem, um disse ao outro: “Sou fulano de tal e exijo que você volte da ponte para que eu passe, caso contrário será morto”. O outro proferiu quase a mesma frase que ele. Ambos muito arrogantes, desembanharam suas espadas quase ao mesmo tempo e se colocaram em posição de combate. Após um lapso de tempo onde um observou o outro, eles guardaram suas espadas, deram meia volta e seguiram. Mas o que ocorreu com eles? Por que não se enfrentaram? A parábola não explica isso diretamente, mas a interpretação é bem simples: ambos viram a si mesmos projetados no outro, como num espelho. Viram sua própria arrogância e soberba, viram que um não era diferente do outro, que suas habilidades eram semelhantes, e por esse motivo, caso lutassem, estariam lutando contra si mesmos, e nada ganhariam com isso. Como um foi o espelho do outro, não havia qualquer motivo para a batalha.
Assim também ocorre com as relações humanas. Quando duas pessoas têm um gênio forte, e se digladiam, um pode ver a si mesmo no outro. Esse “efeito espelho” faz as pessoas se enxergarem, se entenderem, observarem claramente seus próprios defeitos nos outros. Eles entendem o motivo de estarem em conflito e sentem que ambos estão equivocados. Numa batalha de egos num debate ocorre o mesmo: os dois lados brigam defendendo seu ponto de vista, mas independente de quem está correto, um ego quer anular o outro, e um deles pode alegar que o outro se move pelo ego, o outro pode alegar o mesmo, e um acaba vendo seu próprio defeito no outro, e tem o seu defeito revelado pelo outro. Isso acaba sendo um exercício de crescimento conjunto quando o nosso ego acaba admitindo que nossa postura pode não ser tão diferente daquele que estamos acusando.
Desse modo, é bem simples de se observar como que as relações humanas sempre tendem a um equilíbrio, e a necessidade desse equilíbrio pode fazer com que duas pessoas sintam inconscientemente que precisam uma da outra. Um encontro ou reencontro deste pode em muito ajudar na evolução espiritual de duas ou mais pessoas.
Autor: Hugo Lapa