Ifá
O sistema de adivinhação Ifá | |
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Jogo de Ikin no Opon-Ifá | |
País(es) | Nigéria |
Domínios | Artes cénicas Usos sociais, rituais e atos festivos |
Referência | 00146 |
Região | África |
Inscrição | 2008 (3.ª sessão) |
Lista | Lista Representativa |
Ifá[1] (em iorubá: Ifá) é um oráculo africano. É um sistema divinatório que se originou na África Ocidental entre os iorubás, na Nigéria. É também designado por Fa entre os Fons e Afa entre os Ewés. Não é propriamente uma divindade (orixá), é o porta-voz de Orunmilá e dos outros orixás. Orunmilá, muitas vezes é designado como Orixá do destino na cultura africana iorubá.
O sistema pertence às religiões tradicionais africanas mas também é praticado entre os adeptos da Santería de Cuba através da Regla de Ocha, no candomblé no Brasil, e no Culto de Ifá; e de similares transplantados para o Novo Mundo.
Os Oluôs ou Babalaôs, são a autoridade máxima do culto de Ifá, responsáveis pela transferência do axé durante a iniciação de novos babalaôs após um longo período de aprendizado.
Origens[editar | editar código-fonte]
*Nota: esta é somente uma versão da ordem, e pode mudar dependendo da região16 Odús principais | ||||
Nome | 1 | 2 | 3 | 4 |
Ogbe | I | I | I | I |
Oyẹku | II | II | II | II |
Iwori | II | I | I | II |
Odi | I | II | II | I |
Ọbara | I | II | II | II |
Ọkanran | II | II | II | I |
Irosun | I | I | II | II |
Iwọnrin | II | II | I | I |
Ogunda | I | I | I | II |
Ọsa | II | I | I | I |
Irẹtẹ | I | I | II | I |
Otura | I | II | I | I |
Oturupọn | II | II | I | II |
Ika | II | I | II | II |
Ọsẹ | I | II | I | II |
Ofun | II | I | II | I |
16 Afa-du principais (Yeveh Vodoun) | ||||
Nome | 1 | 2 | 3 | 4 |
Gbe-Meji | I | I | I | I |
Yeku-Meji | II | II | II | II |
Woli-Meji | II | I | I | II |
Di-Meji | I | II | II | I |
Abla-Meji | I | II | II | II |
Akla-Meji | II | II | II | I |
Loso-Meji | I | I | II | II |
Wele-Meji | II | II | I | I |
Guda-Meji | I | I | I | II |
Sa-Meji | II | I | I | I |
Lete-Meji | I | I | II | I |
Tula-Meji | I | II | I | I |
Turukpe-Meji | II | II | I | II |
ka-Maji | II | I | II | II |
Ce-Meji | I | II | I | II |
Fu-Meji | II | I | II | I |
O culto do vodun Fa é originário de Ile Ifè, e chegou ao antigo Dahomey pelas mãos de sacerdotes imigrados do território iorubá[3] já a partir do século XVII, mas sua instalação oficial como uma das divindades reconhecidas pelo rei de Abomei teria se dado ou através do babalaô Adéléèyé, de Ile Ifè que chegou a Abomei no reinado de Agadjá (1708-1732) , junto com outros (Gongon, Abikobi, Ato e Gbélò), ou pela princesa Nà Hwanjele, mãe do rei Tegbessu (1732-1775), que era de origem ioruba. Os sacerdotes de Fá são chamados em fon de bokonon, o correspondente a babalaô dos iorubás. O bokonon da corte de Abomei é um dos dignitários do rei reconhecido na categoria de príncipe e está entre os poucos autorizados a vestir djelaba em público e a permanecer com a cabeça coberta diante do rei e da rainha-mãe.
Métodos utilizados[editar | editar código-fonte]
Orunmilá é o orixá e divindade da profecia. Ifá é o nome do oráculo utilizado por Orunmilá. O Culto de Ifá pertence à religião iorubá. O Babalaô (pai que possui o segredo) é o sacerdote do Culto de Ifá. Ele é o responsável pelos rituais e iniciações: todos no culto de Ifá dependem de sua orientação e nada pode escapar de seu controle. Por garantia, ele dispõe de três métodos diferentes de consultar o oráculo e, por intermédio deles, interpretar os desejos e determinações dos orixás.
Opon-Ifá[editar | editar código-fonte]
Opon-Ifá, tábua sagrada feita de madeira e esculpida em diversos formatos, redonda [1], retangular, quadrada, oval,[2] utilizada para marcar os signos dos Odús (obtidos com o jogo de Ikins) sobre um pó chamado Ierosum. Método divinatório do Culto de Ifá utilizado pelos babalaôs.
Irofá ou Iroke Ifá é o instrumento utilizado pelo babalaô durante o jogo de Ikin, com o qual bate na tábua Opon-Ifá com a finalidade de chamar a atenção de Odu para si, entre outras coisas.
Jogo de Opele[editar | editar código-fonte]
O Òpelè-Ifá ou rosário de Ifá é um colar aberto composto de um fio trançado de palha da costa ou fio de algodão, que tem, pendentes, oito metades de fava de opele. É um instrumento divinatório dos tradicionais sacerdotes de Ifá.
Existem outros modelos mais modernos de Opele-Ifá, feitos com correntes de metal intercaladas com vários tipos de sementes, moedas ou pedras semipreciosas.[3][4]
O jogo de Opele-Ifá é o mais praticado por ser a forma mais rápida, pois a pessoa não necessita perguntar em voz alta, o que permite o resguardo de sua privacidade, também de uso exclusivo dos babalaô, com um único lançamento do rosário divinatório aparecem 2 figuras que possuem um lado côncavo e outro convexo, que combinadas, formam o odu.
Jogo de Ikins[editar | editar código-fonte]
O Jogo de Ikin é utilizado em cerimônias relevantes de forma obrigatória, ou igualmente de modo usual, vai de cada babalaô o seu uso, sendo uso restrito e exclusivo dos mesmos babalaôs. O jogo compõe-se de 16 nozes de um tipo especial de dendezeiro Ikin, são manipuladas pelo babalaô com a finalidade de se configurar o signo do odu a ser interpretado e transmitido ao consulente. São colocados na palma da mão esquerda, e com a mão direita rapidamente o babalaô tenta retirá-los de uma vez com um tapa na mão oposta, no intuito de se obter um número par ou ímpar de ikins em sua mão.
Caso não sobre nenhum ikin na mão esquerda, a jogada é nula e deve ser repetida. Ao restar um número par ou ímpar de ikins em sua mão, se fará dois ou um traço da composição do signo do odu que será revelado polo sistema oracular. A determinação do Odú é a quantidade de Ikin que sobrou na mão esquerda. O mesmo será transcrito para o Opon Ifá sobre o pó do Iyerossún que deve ser riscado sobre o Iyerossún que está espalhado no Opon-Ifa, para um risco usa o dedo médio da mão direita e para dois riscos usa dois dedos o anular e o médio da mão direita. Deverá repetir a operação quantas vezes forem necessárias até obter duas colunas paralelas riscadas da direita para a esquerda com quatro sinais, formando assim a configuração do signo de Odu.
Oráculo[editar | editar código-fonte]
O oráculo consiste em um grupo de cocos de dendezeiro ou Búzios, ou réplicas destes, que são lançados para criar dados binários, dependendo se eles caem com a face para cima ou para baixo. Os cocos são manipulados entre as mãos do adivinho, e, no final, são contados, para determinar aleatoriamente se uma certa quantidade deles foi retida.
As conchas ou as réplicas são frequentemente atadas em uma corrente divinatória, quatro de cada lado. Quatro caídas ou búzios fazem um dos dezesseis padrões básicos (um odu, na língua ioruba); dois de cada um destes se combinam para criar um conjunto total de 256 odus. Cada um destes odus é associado com um repertório tradicional de versos (Itan), frequentemente relacionados à mitologia ioruba, que explica seu significado divinatório. O sistema é consagrado ao orixá Orunmila-Ifa, orixá da profecia, e a Exu, que, como o mensageiro dos orixás, confere autoridade ao oráculo.
O sistema inteiro traz uma semelhança com o sistema árabe de geomancia.[5] A geomancia é um sistema criado pelos Árabes e trazida para o norte da África, onde foi aprendida pelos europeus durante as Cruzadas. Muito embora possua um número diferente de símbolos, o sistema carrega também alguma semelhança com sistema chinês do I Ching.
Odu[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Odu
Cada odù é formado por um conjunto constituído por duas colunas verticais e paralelas de quatro índices cada. Cada um desses índices compõem-se de um traço vertical ou de dois traços verticais paralelos que o babalaô traça no pó (iyerosun) espalhado sobre um tabuleiro de madeira esculpida (Opon-Ifá) à medida em que vai extraindo os resultados pela manipulação dos cocos de dendezeiro ou ikin-ifá.
O babalaô detecta esse odù manipulando caroços de dendê (Ikin) ou jogando o rosário de Ifá chamado (Opele-Ifa).
Existem 256 odù, correspondendo cada um a uma série de lendas (Itan).
Não existe uma receita para fazer: não se tem uma lista de coisas para que esse Odú seja revelado, tudo depende da pessoa. Cada pessoa possui um destino próprio, assim como o Etutu (ebó) que se define no jogo. Quem vem de um sistema de jogo de búzios, precisa mudar tudo que viu e aprendeu para que Ifá possa fazer parte da sua vida.
Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade[editar | editar código-fonte]
Da Nigéria, são dois os oráculos listados como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade: o Gelede, que também é praticado no Benim e no Togo, e o Ifá.[4][5][6]
Na África[editar | editar código-fonte]
O orixá Orumilá é também chamado de Ifá, ou Orunmila-Ifa e também é denominado frequentemente Agbonmiregun ("Aquele que é mais eficaz do que qualquer remédio"). Em caso de dúvida, Ifá é consultado pelas pessoas que precisam de uma decisão, que queiram saber sobre casamentos, viagens, negócios importantes, doenças, ou por motivo religioso.
Para os iorubas, o sacerdote é o babalaô e entre os Fons e Ewes recebe a designação de bokonon, e o sistema de adivinhação é o mesmo. O babalaô (pai do segredo) recebe as indicações para as respostas através dos signos (odù) de Ifá.
Na Bahia[editar | editar código-fonte]
O Ifá na Bahia vem sendo representado pela Yanifá Ifádáyìísi Ifatóun Ajobi Agboola, a primeira mulher iniciada ao culto na Bahia; pelo Oluwo Ifagbaiyin, da família Agboola, possuindo, como representante maior, o Arabá Aworidan Agboola. A Yanifá Ifádayìísi lidera o culto religioso no Egbé Ifá Ogundafun Bem como através do jovem babalaô IfáLolú Ogúntoluinon e sua Apetebi Ifadamitan Iyáomíeromì e seus 4 filhos homens que representam a família Epega.
O Ifá nos impõe a fidelidade da prática trazida pelos nossos ancestrais africanos, sem a aculturação de elementos brasileiros. É o senhor dos destinos. Por tanto, nos dá uma larga margem de realinhamento do indivíduo aos seus destinos (odus) desde o seu nascimento até a realização de suas missões enquanto sujeito espiritual. Em janeiro de 2015, o egbe teve a honra de receber o Oluwo Ifagbain Agboola e sua comitiva para a realização de várias cerimônias, iniciando pessoas por Isefás (apresentação a Ifá), Itefá (iniciação para Babalaô Itelodú) e várias outras cerimônias relacionadas ao culto.
Referências
- ↑ «Bascom, William - Ifa Divination traduzido». Consultado em 25 de maio de 2013. Arquivado do original em 28 de julho de 2013
- ↑ O que é a iniciação?
- ↑ Entre territórios e terreiros: yorubá, velhos deuses no novo mundo, Emerson Costa de Melo
- ↑ UNESCO Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine. Unesco Cultura, Nigéria The Ifa Divination System
- ↑ UNESCO Religião Tradicional Yoruba
- ↑ Ifa of the Yoruba People of Nigeria
- Maupoil, Bernard, 1906 - La géomancie à l'ancienne Côte des Esclaves, African Art, Geomancy—Africa, West - Slave Coast, Ethnology - Africa, West - Slave Coast. [ISBN 2-85265-012-6]
- William R. Bascom: Ifa Divination: Communication Between Gods and Men in West Africa [ISBN 0-253-20638-3]
- William R. Bascom: Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to the New World [ISBN 0-253-20847-5]
- William R. Bascom: IFa Divination - Indiana University Press - Bloomington and Indianapolis [ISBN 0-253-32890-X][ISBN 0-253-20638-3 (pbk)]
- The Sacred Ifa Oracle - Afolabi A. Epega and Philip John Neimark - Harper San Francisco [ISBN 0-06-250309-X (pbk)][ISBN 0-06-251230-7 (cloth)]
- Ifa - African Gods Speak - The Oracle of the Yoruba in Nigeria - Christoph Staewen - LIT Verlag [ISBN 3-8258-2813-1]
- Jorge Escobar - Vivências em Ífa