Terreiro Obá Ogunté
Ilê Obá Ogunté terreiro de Iemanjá fundado por volta de 1875 em Pernambuco, hoje mais conhecido como "Sítio de Pai Adão". Foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural em 1986
História[editar | editar código-fonte]
A história do Ilê Obá Ogunté começa por volta de 1875, com a chegada ao Brasil da africana Inês Joaquina da Costa (Ifá Tinuké) também chamada de Tia Inês, morreu em 1905. Foi a fundadora do atual Sitio de Pai Adão, no Sítio de Água Fria, no Recife.[2]
É a mais antiga casa de culto Nagô de Pernambuco e uma das mais venerandas do Brasil, considerada uma das matrizes da nação de culto afro-brasileiro Nagô, que guarda alguma semelhança com a nação Ketu da Bahia, similar ao Xambá e ao Tchamba de Togo, e Trinidad e Tobago.
- Primeiro terreiro a ser tombado por um governo estadual.
- O tombamento foi feito pelo Decreto 10.712, de 5 de setembro de 1985, pelo Governo do Estado de Pernambuco.[3]
O Ilê Obá Ogunté, mais conhecido hoje como Sítio de Pai Adão, é um modelo de culto sob todos os pontos-de-vista: na sofisticação ritual, na beleza de sua música e da dança, no número de divindades cultuadas (ali são cultuadas divindades não encontradas em nenhum outro culto do Brasil), no poder espiritual das incorporações, tudo indicando uma tradição conservada com fidelidade às suas raízes.
Tia Inês, ao vir para o Brasil, trouxe consigo várias divindades, sob a forma de símbolos, imagens, objetos e inclusive sementes, para plantar uma imensa gameleira, ainda existente que é venerada como a divindade Iroko.
Ainda preserva em seu espaço-físico um baobá com mais de um século de existência e com mais de 10m de diâmetro, raro no Brasil por ser mais comumente encontradas espécimes desse porte nos locais de onde são nativas, na ilha de Madagascar (o maior centro de diversidade, com seis espécies), no continente africano e na Austrália (com uma espécie em cada). Uma das árvores sagradas do Terreiro Obá Ogunté foi danificada por um incêndio em Novembro de 2018.[4]
A casa funcionou sempre como uma grande comunidade de negros africanos e de seus descendentes. Com a morte de Ifá Tinuké, ela passou a ser liderada por Felipe Sabino da Costa (Ope Watanan), conhecido por Pai Adão (sucessor de Tia Inês), que foi a maior personalidade da história do Xangô do Recife ou "Casa Amarela", entre outros talentos, por seus poderes espirituais, seu conhecimento profundo dos fundamentos rituais, estéticos e mitológicos da tradição e seu domínio do idioma Iorubá.
O babalorixá atual é Manoel do Nascimento Costa, mais conhecido como Manuel Papai,[5] e a iyalorixá Maria do Bonfim. Na nação Nagô-Egbá sempre são duas pessoas que dirigem a casa: um babalorixá e uma iyalorixá, ou seja, um pai e uma mãe-de-santo.
De Pai Adão, todo o conhecimento foi transmitido sucessivamente a Obalonein, Fatemi e Oluandê, para que finalmente fossem passados em Belford Roxo a Osunaloji (Pai Milton), que zela pela conservação e manutenção dessa tradição recebida, no Ilê Axé Agawere Xapanan. Em seu ilê (casa), cujo orixá patrono é Iemanjá, as novas gerações de filhos de santo recebem dele todo esse rico arsenal de cultura afro-brasileira, com fundamento na nação Nagô-Egbá.
No Maranhão, a Casa Fanti Ashanti, em São Luís, nação Jeje-Nagô, babalorixá Euclides Menezes Ferreira (Talabian),(de Oxaguiã c/Oxum) e Mãe Isabel de Xangô com Oxum. A raiz é do Sitio de Pai Adão - Nagô do Recife - liderado hoje por Manuel Papai e Maria das Dores ja falecida, juntamente Pai Raminho de Oxossi que incentiva os desfiles de Maracatu no Carnaval do Recife[6].
Em São Paulo, a iyalorixá Maria das Dores Talabideiyn deixou a seu filho Pai José Alabiy (José Gomes Barbosa), babalorixá do Ilê Axé Ajagunã Obá Olá Fadaká, a tradição Egbá, passada à sua filha Oya Dolu (Lorena de Santiago) iyalorixá do Ilê Axé Oya Tundê, juntamente com Baba Alajemi (Nilso Jorge Júnior), onde também se preservam os mais antigos fundamentos do Nagô Egbá. Entre outros, destaca-se a iyalorixá Valdecir de Obaluaye que, sendo filha-de-santo de Osunalogi, traz consigo a tradição e cultura dessa grande raiz.
Também no município de Guarulhos-SP, existe o Abassá de Xangô Agodo e Obafunle dirigido pelo babalorixá Alexandre de Odé e a iyalorixá Dida de Xangô (Mãe carnal de Pai Alexandre), que receberam o Axé e os ensinamentos de Manuel Papai, Tia Mãezinha e Mãe Janda (in memoria), dos quais preservam e cultuam os fundamentos Nagô-Egbá. Além de divulgarem a raiz, eles também participam de atos e ações sociais, religiosos, políticos e são os responsáveis espirituais pelo bloco Afro Ilú Oba De Min, formado por mulheres percussionistas que fazem um trabalho de educação, cultura e arte negra.[7]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- René Ribeiro, Cultos Afro-Brasileiros do Recife. Recife: Instituto Joaquim Nabuco. 1952.
- Anilson Lins, Xangô de Pernambuco, ensinamentos contidos no manual do Sítio de Pai Adão, Pallas, ISBN 8534703701
- Roger Bastide, As Religiões Africanas no Brasil: Contribuição para uma Sociologia das Interpenetrações de Civilizações. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1989.
- Roberto Motta, Religiões populares do Recife como resposta à ecologia tropical da cidade. In: Seminário de Tropicologia: trópico & o Recife eurotropical, 1977, Recife. Anais... Organização e prefácio de Roberto Motta. Recife: Fundaj, Editora Massangana, 1987. p. 78-91. [III Reunião Ordinária].