sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Os diferentes títulos do Orixá Ogum e o porquê existem diferentes “Qualidades” de um mesmo Orixá!

 

Os diferentes títulos do Orixá Ogum e o porquê existem diferentes “Qualidades” de um mesmo Orixá!



Os diferentes títulos do Orixá Ogum e o porquê existem diferentes “Qualidades” de um mesmo Orixá!

 

Ògún (Ogum) vivia com sua mãe, Yemoja (Yemanjá), em um castelo no fundo do mar. Cansado disso, Ogum resolveu ir morar em outro local que condizia com seu temperamento. Pediu licença a sua mãe e partiu. Na terra, caminhando entre florestas, sentiu fome. Abrigou-se abaixo de uma árvore e viu animais correndo. Fez uma lança de madeira e caçou seu primeiro animal. Preparou o animal, cozinhou, comeu e se saciou. Por esse ato de caça, recebeu o título de Ògún Olóde, ensinando essa função ao seu irmão Òsóòsì (Oxóssi).

 

Seguindo o caminho, Ogum tropeçou em uma pedra, que era o minério de ferro. Pegou o minério e viu que seria forte o suficiente para suas armas de luta. Preparou uma forja e forjou uma espada com esse novo minério, o ferro. Também produziu ferramentas de ferro para lavoura. Ogum deu o nome de Irin, ao minério de ferro e com isso ficou conhecido como Bàbá Irin.

 

Eclodiu uma guerra e os Òrìsà (Orixás) necessitavam de ajuda. Òrúnmìlà pede que Sàngó (Xangô) chame seu irmão mais velho para derrotar os inimigos, pois ele tem os segredos da guerra e das armas. Em combate, Ogum se destacava bravamente, destruindo seus inimigos e saciando sua sede de sangue. Ogum vence e ao retornar, o povo passa a chama-lo de Ògún Aiaká Gbamu Èjè, que significa: Ogum recebe e toma sangue.

 

Com a vitória de Ogum, ele é chamado para outra tarefa, a tomada da cidade de Ìré. Ogum teve que destruir primeiro as sete cidades que cercavam e defendiam o povo de Ìré, que fez ele receber o título de Ògún Méjèèjè e ao entrar vitorioso na cidade, foi aclamado como Ògún Oníré.

 

Deixando seu filho, Ògúndahunsi, governando as terras conquistadas. Ogum retorna à sua cidade e passa a trabalhar muito na forja de metais. Ogum se vestia com um avental de couro quando estava trabalhando na forja e o povo passou a chama-lo de Ògún Alágbède, o ferramenteiro, o senhor da forja. E ele respondia cantando:

 

Ògún Àgbède Kóyá Kóyá Você saia rapidamente

Ògún Àgbède Kóyá Kóyá Você saia rapidamente

Njó njó ara là’ye Para não ser queimado

Ògún Àgbède Kóyá Kóyá Que eu não me queimo

 

Essa demonstração de arte e manuseio do fogo com o objetivo de fazer a liga dos metais necessários fazia ele dizer diversas vezes Orò mi’ná(n), que quer dizer: Meu ritual é o fogo.

 

Os pedidos passaram a ser tantos, devido suas vitórias com sua espada invencível, que Ogum chamou seu irmão Èsù (Exú) para ajudá-lo nas tarefas. Mas Exú começou a causar problemas e Ogum o acorrentou em suas próprias pernas. Com isso, Exú só ia aonde Ogum fosse. Certa feita, Ogum precisava estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Então, Ogum pediu que Exú fosse a um desses lugares e que se fizesse passar por ele. Combinou que , quando batesse palmas, Exú deveria voltar rapidamente. Cada um foi pra um lugar diferente e o povo pensando que era Ogum em dois lugares ao mesmo tempo, o chamou de Ògún Aláméji.

 

Em outra ocasião, Ogum estava indo para outro trabalho, os cães que existiam na região começaram a avançar e latir contra ele. Furioso, Ogum bateu palmas, mas Exú não apareceu. Ogum fugiu para as montanhas com os cães o perseguindo. Ogum, furioso, começou a dilacerar os cães com os dentes. O povo vendo aquilo, exclamou: “Ògúnjá!”, um jeito reduzido de dizer: “Ógún je aja”, que significa: “Ogum come o cachorro.”

 

Cansado de luta, Ogum resolve partir. Nas terras de Èfon, deitou-se às margens de um rio e adormeceu. Mais tarde, foi acordado pelo canto de uma bela mulher nas águas se banhando. Ogum encantado, perguntou o nome da bela mulher. Ela respondeu: “Meu nome é Òsun (Oxum).” Ogum passou a viver e a trabalhar ao seu lado, nas águas doces dos rios. O seu metal passou a ser amarelo (ouro), e tudo que ele faz passa a ser dessa cor. Oxum tinha um filho com Oxóssi, o Orixá Lógun Ède (Logum Edê) e que Ogum passou a criar. Com essa convivência com Oxum, passa a ser chamado de Ògún Wari.

 

Conclusão:

A multiplicidade do panteão de divindades dos Orixás pode ser explicada através desse relato. A fusão de culturas e os feitos heroicos dão cognomes e títulos (Qualidades) anexados às divindades, motivando individualizações. Foram criados, assim, mais Orixás (Qualidades), atrelados ao Orixá principal.

 

Notas:

 

1- Orí Òkè

O alto da montanha, onde Ogum costumava permanecer em seus momentos de solidão. De lá, partia para suas conquistas: “Ojóti Ògún nti orí òkè bò, aso iná(n) l’o um bo ara èwù èjè l’o wò” (“No dia em que Ogum estava descendo a montanha, ele vinha vestido de fogo e usava um traje de sangue.”)

 

2- Aláda Méjì

O dono das duas espadas. É um outro título de Ogum e que revela o seu conhecimento na criação de todos os tiposa de ferramentas, como se observa em seus assentamentos. “Ògún aláda méji o nfi òkan sá’ko, o nfi òkan yè ònà.” (Ogum, o dono de duas espadas, com uma ele prepara a fazenda, com a outra desimpede a estrada).

 

3- Irin

Denominação do ferro. Metal utilizado nas ferramentas que Ogum criou para a execução das obras do mundo recém-criado por Obàtálá. Por esse motivo, teve o direito de vir à frente das demais divindades, sendo assim denominado de Òrisà Asiwajú.

 

4- Ìkolà

Como artista, é Ogum quem dá o toque final ao trabalho criativo de Òsàlá (Oxalá). Após a moldagem do homem físico, é Ogum quem assume o trabalho da circuncisão.

 

5- Ìbúra

Juramento, promessa. É ainda o metal de Ogum utilizado nas cortes de justiça, para as pessoas que não são cristãs nem maometanas. Assim, fazem o juramento de “dizer a verdade e nada mais que a verdade”, beijando uma peça de ferro, geralmente um facão. Esse acordo feito perante Ogum é considerado extremamente sério.

 

6- Méjèèjè

Literalmente significa todos os setes. O radical éje representa o numeral 7, daí outras denominações: èkéje, sétimo; níméje, sete vezes; méjeméje, sete de cada vez; ìjéje, sete dias atrás. Essa Qualidade de Ogum é conhecida popularmente como Ògún Méje (Ogum Mejê).

 

7- Òsun (Oxum)

Devido à sua grande beleza, todos a desejavam. Xangô brigou por ela, que o deixou porque ele bebeu uma bebida que era tabu para ela. Viveu com Sànpònná (Xapanã – Obaluayê), mas Òsányìn (Ossanhe) a tomou dele, graças aos seus poderes. Pediu para que ele fechasse os olhos e, quando os abrisse, não mais se lembraria de Oxum. Viveu com Òrúnmìlà, tendo se tornado sua Apètèbí, até que, ao voltar de uma viagem, ele encontrou Oxum jogando para Oya, Xangô e Exú.

 

Autor: Eosphorus Pluto Eleutherios

 

Blog: Bruxaria Sem Dogmas

 

Referência: Mitos Yorubás (o outro lado do conhecimento). Autor: José Beniste.

 

José Beniste é escritor, historiador, pesquisador de Cultura Afro-Brasileira, é integrante de movimentos que visam à restauração da dignidade religiosa do afrodescendente. Iniciado pela Sociedade Axé Opô Afonjá, em 1984, é diretor do Curso Brasil-Nigéria, fundado em 1982. Ministra aulas de Língua Yorubá.

 

Ogum é o terceiro Orixá que habita minha cabeça (Ori) e é sincretizado com São Jorge!

 

Ogunhê!!!

 

Jorge sentou praça

Na cavalaria

E eu estou feliz porque eu também

Sou da sua companhia

 

Eu estou vestido com as roupas

E as armas de Jorge

Para que meus inimigos tenham pés

E não me alcancem

Para que meus inimigos tenham mãos

E não me toquem

Para que meus inimigos tenham olhos

E não me vejam

E nem mesmo um pensamento eles possam ter

Para me fazerem mal

 

Armas de fogo

Meu corpo não alcançarão

Facas e espadas se quebrem

Sem o meu corpo tocar

Cordas e correntes arrebentem

Sem o meu corpo amarrar

Pois eu estou vestido com as roupas

E as armas de Jorge

 

Jorge é de Capadócia

Salve Jorge

Salve Jorge

 

Jorge é de Capadócia

Salve Jorge

Salve Jorge

 

(Jorge da Capadócia - Racionais MC's)

 

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