segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Fundamentos da Meditação (10) - Felicidade

 

Fundamentos da Meditação (10) - Felicidade

Com relação à análise, permitam-me destacar que a análise não é intelectual. É toda um ato da vontade, da consciência, algo além do intelecto. Assim ao dizermos “analisemos e discriminemos” não significa que nossa mente jumentina esteja dizendo “bem, estou tentando lembrar-me quando naquela palestra ele disse tal e tal coisa – não!”. Isso é intelecto: é memória. Análise é percepção não é comparação.”

   Esta é a décima palestra desse nosso curso examinador dos fatos mais fundamentais sobre meditação. Temos explicado algumas das básicas terminologias e filosofias a fim de auxiliá-los a guiarem-se na prática da meditação, especificamente em como focarem-se em fatos. Através do curso vimos nos utilizando de uma variedade de ferramentas, especialmente da Árvore da Vida e dos nove estágios da estabilidade meditativa. Essas ferramentas são baseadas em fatos, em verdades confirmadas, experiências essas que qualquer pessoa pode confirmar por si mesma. Esperamos que o curso os tenha convidado a confirmar aqueles fatos por vocês mesmos. Nesta décima palestra vamos falar sobre tudo o que a isso nos conduz. Por que meditar? Para que serve? Qual é o objetivo? Qual é o resultado? O que é isso a que estamos seguindo? E se não estivermos encontrando ou alcançando isso, por quê?

  De alguma forma podemos dizer que o assunto da palestra de hoje mesmo baseado em fatos que tenham sido provados por incontável número de meditantes através da história é também o mais elusivo, difícil e contestado, precisamente porque poucas pessoas inclinam-se a trabalhar exclusivamente com fatos. Poucos se mostram desejosos em desprezar àquilo que seja externamente um obstáculo ou um véu, tais como crenças, tradições, teorias e filosofias que adotamos e a elas nos apegamos, mas na verdade, são baseadas em nada.

  Como exemplo, todos temos uma noção do ser, um sentido de identidade a que nos agarramos com grande força, na verdade sem qualquer significado, sendo ilusório, baseado no nada: uma mentira que contamos a nós próprios. Visto não desejarmos eliminar aquilo não conseguimos enxergar a verdade. Da exata maneira como fazemos individualmente é também feito por grupos, escolas, religiões, países e civilizações. Agarramo-nos às ilusões acreditando serem reais, achando serem características definidoras de quem somos como uma personalidade, como uma pessoa, mas que verdadeiramente é nada mais que fumaça.

  O assunto da palestra de hoje, felicidade, é o resultado de uma efetiva prática da meditação, trazendo uma resposta inevitável, inolvidável que acontecerá se a prática meditativa for verdadeira. Isso porque a felicidade é simplesmente o estado natural da consciência não condicionada. Toda criatura viva a tem. Todos temos isso intimamente, mas se encontra velada em nós.

   Consciência é a habilidade em perceber e compreender aquilo que percebemos. Em seu estado natural é livre do ódio, imaculada pela luxúria, inveja, ambição, gula, pelo orgulho... em outras palavras: é felicidade, alegria, contentamento, satisfação, amor, sabedoria, beleza. Todos vemos e experienciamos isso, porém só superficialmente. Ao olharmos dentro dos olhos de um bebê, ao experienciarmos sua pura e inocente atmosfera, estamos sentindo a consciência imaculada, incondicionada daquela criança a irradiar amor, alegria, felicidade, contentamento, pureza, a estar no momento, na qualidade de simplesmente estar contente, feliz e envolvida com outros.

  Observemos a pureza e inocência de uma criança, de um bebê: ele não tem preocupações, não pensa sobre o passado ou futuro, estando completamente no momento: muito imaginativo, muito expressivo, muito conectado, naturalmente ao nível de um bebê, como criança. Aquelas qualidades são as sementes ou essência do anjo, do buda, do mestre, etc. Temos tudo isso dentro de nós. Porém, na medida em que crescemos tudo isso se torna velado e fortemente condicionado por nossas personalidades, por nossas experiências, por nossas mentes, por nossas tendências, por nossas culturas, por nossas linguagens, por tudo quanto nos vestimos a exemplo de camadas de roupas, que supostamente nos protegem dos sofrimentos, mas que, na verdade, são as causas de nossos sofrimentos.

  A prática da meditação enraizada em fatos e baseada nessa antiga e provada estrutura, busca remover todas aquelas camadas de mentiras e expor aquela pureza primordial que temos interiormente. É completa felicidade, contentamento, alegria, e espontânea e natural serenidade por ela mesma.

  Eis porque estudamos a Árvore da Vida, pois ilustra todas aquelas camadas num modo simbólico.
Tree of Life
Figura 2

  Essa Árvore representa a nós próprios; é um mapa de todas as infinitas possibilidades do ser humano. É incrivelmente sofisticada e incrivelmente simples.

   Em primeiro instante sabemos isso parecer confuso e estranho, mas assim foi com nossa linguagem antes que a conhecêssemos. Nossa primeira linguagem nos é familiar porque tivemos um monte de tempo para praticá-la e trabalhar com ela. O mesmo se dá com a Árvore da Vida, mas quando começamos a trabalhar com ela, diariamente a explorando, a entendendo, ela se torna bem simples, bem fácil e também muito profunda naquilo que pode revelar de nós próprios.

  A Árvore da Vida é um símbolo universal que mapeia cada experiência potencial de todos os níveis da natureza. Dos níveis mais elevados e sublimes aos mais densos e obscuros estão todos ali representados de modo correspondente. Os mais densos, mais inferiores e negros aspectos da existência estão na sombra submersa da árvore (inferno). Em regiões intermediárias encontramos todos aqueles níveis da natureza de que temos algum conhecimento pessoal: de fisicalidade, energia, emoção, pensamento, vontade etc. Na medida em que avançamos mais e mais no entendimento da Árvore vamos entrando em maiores e mais expansivas sutilezas, ainda que nos níveis mais simples. São níveis simples, porém profundos. Simples e tão profundos quanto o espaço. Simples e tão profundos quanto o próprio infinito. Todos podemos conceber uma noção do espaço, mas nenhum de nós o compreende. Estamos todos existindo no espaço, mas não compreendemos isso: não o percebemos e não o compreendemos conscientemente.
tree of life psyche
Figura 3

  Nossa  fisicalidade está representada pela esfera chamada Malkuth, que significa o “reino”.   Cada um de nós habita o seu “reino”, seu corpo físico. Óbvio, porém, que o corpo físico não é aquilo que somos. Esse corpo físico é animado por sua energia, que é Yesod. Essa energia é ligeiramente mais sutil que a do corpo físico. No interior de Yesod estão nossas emoções em Hod, bem mais sutis. Os pensamentos estão em Netzach. Essas quatro esferas são de fácil e imediata comprovação por qualquer um de nós; podemos comprová-las e experimentá-las com esses quatro aspectos de nossa existência, ainda que não possamos dar provas a qualquer outra pessoa. Não podemos dar provas de nossos pensamentos ou emoções a qualquer um. Podemos descrevê-los, mas não conseguimos dar provas deles uma vez que as pessoas não percebem o que estamos percebendo.

  Esse fato demonstra de imediato que meditação, auto-realização, libertação, são cem por cento dependentes de nós próprios e de ninguém mais, de nada mais. Ninguém pode salvar-nos exceto nós próprios porque ninguém pode conhecer nossa mente, nosso carma, nossas emoções, nossa consciência, exceto nosso próprio eu através de nossa pessoal percepção. Eis porque meditação, espiritualização, religião sempre começam com o conhecimento de nós próprios, do auto conhecimento. É o início e o caminho por inteiro: auto observância, auto conhecimento, auto realização.

  Começamos com o aprendizado dos seguintes quatro aspectos – Malkuth, Yesod, Hod, Netzach – pelo constante focar neles de nossa observância, de nossa constante vigilância ao corpo, à sua energia, à emoção e ao pensamento. Eis porque ao meditarmos conforme fizemos hoje, começamos com isso. Relaxamos o corpo, relaxamos a emoção, relaxamos o pensamento e os separamos dentre eles. Por quê? Porque o observador não é o corpo, ele observa ao corpo; o observador não é a energia, ele observa a energia; o observador não é a emoção, ele está separado da emoção; o observador não é o pensamento, ele está separado do pensamento. Então quem ou o quê é esse observador, experienciador de tudo isso? Pois é isso que necessitamos provar por nós próprios, de que ninguém nos pode dar provas. Acreditarmos nele ou não, é irrelevante. Necessitamos de fato conhecermos por nós mesmos. Quem é o observador? Quem é o experienciador, o percebedor, o conhecedor do ser? Quem está percebendo?

   Ao olharmos essa estrutura já descrita em que o observante não seja nenhuma dessas partes, então ele deve ser alguma coisa a mais. Que dizer de Tiphereth, a esfera acima mais próxima? Aquela significa “beleza” relacionada com força de vontade. Ao observarmos a observância isso é uma vontade ativa. Ativamente olhamos, ativamente ouvimos, ativamente percebemos. Então a vontade está operando com a atenção; isso é concentração. É como nos concentrarmos em meditação usando nossa força de vontade. Se não a estivermos usando não estaremos direcionando ativamente a atenção, então não estaremos concentrando. Se nossa atenção estiver sendo constantemente atraída para uma direção e para outra, temos pensamentos, e os estaremos seguindo; então uma memória vem e seguimos aquela memória. Daí a emoção é atraída e iremos atrás daquela emoção, significando estarmos num completo estado de distração. Significa não termos vontade para controlar nossa atenção, como um macaco. Não vemos o quanto um animal é distraído; um cachorro, um gato, mesmo uma criança pequena? Eles vão de uma coisa a outra constantemente distraídos. São incapazes de colocar a atenção numa só coisa e mantê-la a fim de terminar a tarefa em mão.

  A maioria de nós começa uma coisa e fica distraída por alguma outra coisa, começando a fazê-la, e novamente se distrai e começa a fazer uma nova coisa. Por conseguinte, deixamos de lado uma série de projetos inacabados, pensamentos, emoções e situações. Estamos constantemente distraídos. Podemos ter aquela vontade mesmo que direcionando à atenção e aquilo não seja propriamente atenção. Não será propriamente percepção, pois ela direciona a atenção: e não é atenção. Isso porque a percepção é mais sutil que a vontade – é algo mais.

  Veem quão sutil isso está se tornando? Se meditarmos começamos a compreender. Possamos não estar habilitados a explicar intelectualmente, mas podemos experienciar as distinções que estamos aqui caracterizando. Na medida em que estudamos as esferas superiores da Árvore as coisas começam a ser mais e mais sutis. Ao alcançarmos Geburah, estaremos falando sobre a consciência divina. Tiphereth é consciência humana. Geburah é consciência divina. Essas representam a consciência em dois aspectos mais sutis. Então quando vamos a Chesed, esse é espírito muito sutil; todos esses são partes de nós, porém totalmente fora de nossas experiências conscienciais.

  Todos que falam sobre o espírito falam em ser espiritualistas, mas se no seu quarto cada um definisse espírito, cada definição seria diferente e isso prova por si mesmo que ninguém se baseia em fatos. Se cada definição fosse baseada em fatos seria exatamente a mesma. Eis como é um fato: um fato é o que ele é – incontestável. A humanidade na sua atual condição não tem nenhuma dica do que seja o espírito, pois nem mesmo sabemos quem somos. O que estamos chamando espírito é chamado Atman que significa “self” (o eu). Mas não é aquele eu terrestre com nosso nome na história. Atman é algo sem tempo; algo que não possui o condicionamento do “eu”, ou o que dele achemos o que seja. E notemos que nem estamos ainda no topo da Árvore da Vida. Estamos na quarta sefira e há mais níveis sutis para além dessa. A amarela a qual é chamada Daath (conhecimento) é na verdade inteiramente outra árvore que se relaciona nesta posição com a Árvore da Vida; relaciona-se com a garganta, sendo algo de que falaremos mais noutros cursos e palestras. Daath faz ponte sobre o abismo entre as sete sefirotes inferiores e as três mais acima. Representa o conhecimento, mas não qualquer conhecimento. É um tipo muito específico, um tipo de conhecimento divino, angélico, muito elevado.

  Acima de Daath existe um triângulo bem elevado, uma trindade de forças que em hebreu são elas chamadas Kether, Chokmah e Binah. No Induísmo são chamadas Brahma, Vishnu e Shiva. No cristianismo são Pai, Filho e Espírito Santo. Cada religião tem uma trindade. Essa trindade representa simbolicamente um poder, uma inteligência, um aspecto sutil do começo de todas as coisas. Qual o espaço, a trindade pervaga e penetra a tudo o que existe. No budismo isso é chamado trikaya. No Induísmo é o trimurti, as três faces, os três aspectos. Não é acidental que o Leste e Oeste descrevem essa trindade fundamental na base de todas as coisas existentes, visto ser uma lei da natureza. Chamamos a isso a lei dos três. Esses três são um, são uma luz, uma inteligência, uma existência fundamental na raiz de todas as coisas em manifestação e são uma luz que emerge do nada.

  O nada é pura potencialidade chamada o abstrato absoluto, um tipo de luz incriada que é um potencial puro. Ao tornar-se em sua primeira expressão vem a ser a radiância do poder dos três. Isso pode soar-lhes muito abstrato embora em certo sentido o seja, porém é importante compreender, pois aquele poder dos três cria a inteireza da Árvore da Vida em cada um de seus níveis. O poder dos três multiplica-se e cria todas as leis de tudo o que existe. Cada átomo de nossa estrutura física está baseado naquela potencialidade dos três e expressa aquele poder trino, não exatamente na fisicalidade, mas espiritualmente, psicologicamente, emocionalmente, mentalmente... E tudo em nós encontra-se baseado na intercorrência dos três. É a base da cabala. Possamos ter ouvido disso como numerologia ou mesmo astrologia. Os números constituem a forma básica de todas as escrituras do mundo.

  Tudo o que seja perceptível emerge dessa abstração e ao emergir é como uma luz primordial da Entidade a que chamamos uma trindade, que não se encontra separada de nós. Ela é a raiz do ser. É a primeira centelha de vida de qualquer coisa viva. Daí que se possuirmos a capacidade de retirarmos nossa percepção de toda a densidade; de largarmos o corpo e abandoná-lo; de largarmos nossa energia e abandoná-la; de largarmos nossa emoção e abandoná-la; de nos abstrairmos de nossos pensamentos e nos abstrairmos a nós próprios da vontade, consciência e espírito: então acessamos e experienciamos àquela entidade.

  Isso é possível a qualquer um de nós, mas requer uma tremenda coragem uma vez que a cada véu que estejamos rasgando acusamos e sentimos estar perdendo nossa identidade, que não somos mais nós próprios. E sentimos medo em virtude daquilo. Sentimos ser o corpo físico e não queremos deixa-lo e aqui é a razão de muitos meditantes abandonarem a experiência. Eles desejam unicamente sentar-se com seus corpos físicos e experienciar suas sensações. Pensam que samadhi e meditação é sobre experienciar sensações físicas, mas estão errados. Querem sentir energia e suas sensações, então passam a identificar-se com a tão chamada “prática meditativa”, estimulando a energia a fim de sentir sensações energéticas, acreditando que tais sensações sejam reais e importantes, mas não são. Acreditam ter uma vida espiritual baseada em sensações emocionais, estando firmemente apegados a isso.

  Dispomos de vida emocional, devocional ou religiosa que queiramos a fim de experienciarmos a felicidade através de nossas emoções, e cremos que tais emoções sejam reais e fundamentalmente importantes a nos conduzir à iluminação, mas não são. Ou então estejamos seguindo uma religião por nosso intelecto, memorizando e estudando complicadas escrituras, teorias e doutrinas, buscando intelectualmente aquele sentimento de realização. “Sim, estudei isso, tenho mestrado em hebraico ou sânscrito e conheço essas escrituras...” E pensamos que cada um desses tipos de busca seja religião e o caminho em como descobriremos nosso verdadeiro eu, mas estamos errados em cada caso. Cada uma dessas abordagens é limitada; cada uma está unicamente nos provendo de um sentido ilusório do “eu” e não nos permitindo acesso a nossa real identidade.

  A sombra da árvore são os reinos do Inferno onde residem todos os aspectos degenerados de nossa psique. Nosso ódio, orgulho, luxúria e inveja, tudo dessas coisas está ali, dentro de nós, submerso, escondido. Muitas pessoas buscam pela felicidade nos sentidos do eu; realização material, etc. Cada pessoa no mundo pensa que “sucesso”, “fama” ou “riqueza” significam algo e trazem libertação do sofrimento ou que aquilo seja o objetivo da vida, mas sem dúvida que estão errados.

  Há dois importantes pontos aqui:

  Um: todas as criaturas em manifestação estão em busca da felicidade, da alegria, da realização. Entretanto, a maioria está indo de maneira errada.

  Dois: quanto mais baixa seja a parte em que estejamos nessa árvore, mais forte será o sentimento do “eu”, do “mim”, do “meu eu”, e, inevitavelmente será também o de maior sofrimento. Quanto mais forte seja o sentimento do ego, do “mim”, do “meu eu”, mais forte será o sofrimento. Isso não é teoria: isso é demonstrável. Quanto mais estejamos subindo na Árvore da Vida, menos será o sentimento do ego, do “mim” do “meu eu” e do “eu”. Quanto mais desapego: mais felicidade, mais paz, mais serenidade, etc.

  Todas as virtudes estão nas regiões superiores. Todos os defeitos, vícios e erros estão nas regiões inferiores. Os deuses estão acima, os demônios estão abaixo. Alegria, felicidade estão acima; sofrimento está abaixo. Simples, certo? Para experienciarmos a felicidade temos de experienciar o trikaya (a trindade superior) e além, que são totalmente inegoístas. Lá não existe o “eu”, não há o sentimento do “mim”. Há um tipo de individualidade, porém nada a ver com o que imaginamos um ser de lá sendo um indivíduo. Seres que possuem consciência neste nível são como Jesus, Budha, Moisés, Krishna; seres humanos extremamente elevados no desenvolvimento, com poderes e habilidades bem além de nossa compreensão e não tendo o “eu”. Cada respiração, cada pensamento, cada ação deles é por nós, por todos. Nunca por eles próprios. Eles jamais buscam seus pessoais prazeres, felicidade, suas pessoais realizações; ao invés disso cada movimento por eles realizado é por sacrifício e amor aos demais. Lá não existe “ego”, há somente amor, compaixão, felicidade, serenidade. Essa é a natureza do trikaya: compaixão e sabedoria. É também região de indescritível e profunda alegria; verdadeira e incondicionada felicidade.

  “O Auto Existente” [a mais elevada trindade] é a essência de toda a felicidade... Quem poderia viver, respirar se aquela plena felicidade não habitasse dentro do lótus do coração? Ele, é aquele que dá alegria.

  De que natureza é a alegria?

  “Considere uma quantidade de jovens rapazes, nobres, instruídos, inteligentes, fortes, saudáveis, com todas as riquezas do mundo ao seu dispor”. Presuma que sejam felizes e mensure sua felicidade como uma unidade.

  “Cem vezes aquela felicidade é uma unidade dos gandharvas [espíritos elementais]; porém não menos que a felicidade dos gandharvas tem-na o vidente a quem o Eu lhe foi revelado, e que está sem anseios. 

  “Cem vezes a alegria dos gandharvas é uma unidade da felicidade dos gandharvas celestiais [anjos]; porém não menos que a felicidade dos gandharvas celestiais tem-na o sábio a quem o Eu lhe foi revelado, e que está sem anseios.

  “Cem vezes a alegria dos gandharvas celestiais é uma unidade da felicidade dos pitris [pais celestiais] em seus paraísos...felicidade dos devas...[deuses]...felicidade dos devas nascidos fora do sacrifício...felicidade dos devas regentes...felicidade de Indra...felicidade de Brihaspati...felicidade de Prajapati...felicidade de Brahma [Kether]; porém não menos que a felicidade de Brahma tem-na o vidente a quem o Ego lhe foi revelado, e que está sem anseios.

  “Está escrito: Aquele que conhece a felicidade de Brahman (o Absoluto), cujas palavras não conseguem expressá-la e a mente não consegue alcançá-la, está liberto do medo. Aquele não está distraído pelo pensamento: “Por que eu não faço o que é certo? Por que eu faço o que é errado?” Aquele que conhece a felicidade de Brahman sendo sabedor tanto do bem quanto do mal, transcende a ambos”. – Taittiriya Upanishad 2.7-9.

  Assim na medida em que progredimos subindo na Árvore da Vida, tudo se torna cada vez menos denso e cada vez mais sutil, mais livre, mais liberto, menos restrito. Por que isso é importante? Porque nossa prática da meditação, hoje baseada em fatos, deve estar focada nisso. A Árvore da Vida é um mapa de nós mesmos. Aqueles níveis sutis estão dentro de nós. Podemos experiência-los exatamente agora se detivermos a consciência fora do denso condicionador da mente e corpo.

  Na meditação podemos experienciar tudo isso. Não é difícil ainda que requeira clara compreensão e metodologia precisa. Quando nos sentamos a fim de meditar necessitamos acalmar o corpo e deixá-lo a sós de modo que possamos sair dele. Daí, fazermos o mesmo com a energia, a emoção, o pensamento, etc.

  Consideremos a ciência. Óleo e água não podem misturar-se. Similarmente nosso espírito interior (Chesed, Atman, Buddhi) não pode misturar-se com nosso ego. É a mesma física como óleo e água: não podem misturar-se. Eles podem ter a aparência de estar misturados, tal como um tempero de salada. Nossa psique é uma mistura caótica, como um tempero de salada: é mistura de muitos elementos e estamos acostumados ao sabor disso, mas em realidade isso está nos ferindo. Se desejarmos experienciar a realidade do Ser Interior, sua verdadeira natureza, temos de parar de misturar todos esses elementos em nossa mente, e largá-los. Temos de nos situar e deixá-los estabilizar. Ao fazermos assim as partes irão separar-se; então poderemos ver claramente o que eles são. E não serão mais o sabor do tempero uma vez que todos os sabores estarão separados, isolados psicologicamente uns dos outros. Isso nos traz uma grande clareza interior.

  Do mesmo modo como óleo e água se separam naturalmente quando deixados per se, o mesmo acontece quando aprendemos a descansar nossa mente e corpo. É assim que aprendemos propriamente a meditar. Colocamos o corpo em sua posição, o deixamos descansando e o esquecemos de todo. E fazemos o mesmo com todos os outros aspectos de nossa psique. Ao fazermos isso diariamente todas as coisas pouco a pouco começam a se separar e passamos a nos ver claramente, podendo observar com clareza as diferenças entre os níveis das camadas de nosso corpo e mente. Desenvolvemos a habilidade de sentir e perceber por nós mesmos, dentro de nós próprios, na Árvore da Vida. Então esses ensinamentos não mais serão teóricos, pois os estaremos percebendo, os experienciando. Por que isso é importante? Porque nosso estado de  consciência determina nossa experiência de vida.

  “Quando alguém descobre a causa real de tanta miséria e amargor, se torna óbvio que alguma coisa precisa ser feita.

  “Se trabalharmos a fim de eliminar nosso “mim”, nosso “eu” das bebedeiras, nosso “eu” dos vícios e nosso “eu” dos apegos que nos causam tantos verdadeiros e íntimos sofrimentos; se trabalharmos a fim de eliminar essas tristezas e tormentos da mente que nos causam males, etc... então nos chegará claramente aquilo que é eterno, que está além do corpo, além dos apegos e além da mente; aquilo que verdadeiramente está além de nossa compreensão, chamada felicidade!

  “Inquestionavelmente, enquanto nossa consciência permanecer armadilhada dentro do ego, o “mim”, o “meu”, o “eu” de modo algum estarão habilitados a conhecer a genuína felicidade.

  “A felicidade tem uma qualidade que nem o “mim”, o “meu”, o “eu”, ou o ego jamais conheceram”. – Samael Aun Weor, A Grande Rebelião.

  Para se compreender a felicidade real devemos estudar os fatos de nossas pessoais experiências. Precisamos deter muitas experiências. Necessitamos compreender as diferenças entre elas. A grosso modo podemos dizer que somos detentores de experiências positivas e negativas.

  Experiências Positivas

  Caracterizadas pelo inegoísmo, altruísmo, compaixão, sabedoria, desapego, diligência, zelo, sacrifício, amor.

  Supraconsciência: experiências inegoístas relacionadas com o trikaya e espaço abstrato absoluto.

  Consciência: inegoísmo, clara apreensão dos fatos. 

  Experiências superconscientes são aquelas relacionadas a essas regiões da Árvore da Vida. A maioria de nós jamais terá tido experiências como aquelas. Podemos ter teorias e ideias acerca daquelas experiências, mas não as temos na consciência uma vez que estando nossa consciência condicionada ela não pode experiência-las. Unicamente aquelas experiências são possíveis se a consciência estiver fora de sua gaiola. E, honestamente, sem preparação e entendimento se tivéssemos aquelas experiências agora nos seriam terríveis, porquanto experienciaríamos a natureza egocêntrica do ser. Entretanto, estando nós preparados elas nos iluminariam.

  Uma experiência positiva seria aquela em que tivéssemos a clara apreensão dos fatos sem o ego interferir, sem um “eu” interferindo. Para a maioria das pessoas esse tipo de experiência é excedentemente rara uma vez que na maior parte do tempo nossas experiências são caracterizadas por um ou outro desejo, por um ego ou outro. Mesmo quando fazemos algo generoso ou altruístico, geralmente o ego está lá querendo obter o crédito, significando que aquele não foi um ato verdadeiramente inegoísta. Algumas vezes podemos deter conscientes experiências positivas quando verdadeiramente fazemos algo espontâneo de amor por outra pessoa sem esperar nada em retorno, podendo experienciarmos algo mais elevado do que apreendemos em nossa vida normal. Isso realmente acontece, mas não é nada frequente. Na maior parte do tempo nossas experiências são caracterizadas por um “eu” de um tipo ou de outro, algo com sabor de ódio ou de orgulho, sensualidade, ganância, gula, inveja ou preguiça, etc. Isso define tristemente a vasta quantidade de nossas experiências, sendo a maioria delas negativas, visto o ego estar envolvido.

  Experiências Negativas

  Subconsciente: modelos repetidos
  Inconsciente: raízes nos desejos
  Infraconsciente: brutais impulsos animais

  Experiências subconscientes são modelos repetidos, comumente baseados nas memórias. Sempre vamos comer num certo lugar porque temos memórias de sensações agradáveis lá experienciadas e queremos repeti-las. Comumente desejamos repetir nossas experiências sensuais. Temos também modelos de raiva que buscamos repetir, modelos de gula, inveja, orgulho... Somos portadores de muitas tendências repetidas de que não temos consciência. São subconscientes estando abaixo de nossa consciência. Devido ao ego, nossa vida inteira é feita de modelos subconscientes, de repetições. 

  Comportamentos inconscientes estão na raiz dos desejos. Queremos estar em destaque, sermos notados; queremos algumas realizações então perseguimos o dinheiro ou posição; há desejos por conforto, segurança, status que nos motivam sem que realmente estejamos cônscios disso. Por que escolhemos nossas roupas? Não é pelo fato de termos um certo “gosto”, mas é por algo inconsciente aquelas roupas estarem ligadas à compensação de algum desejo: elas refletem uma imagem que desejamos projetar. Talvez queiramos parecer com alguém a quem invejamos ou queiramos atrair outra pessoa a quem buscamos sensualmente, ou queiramos deixar alguém invejoso de nós. Em cada caso há um desejo inconsciente motivando nossas escolhas, ações, pensamentos...

  Experiências infraconscientes estão relacionadas com o impulso animal brutal. Luxúria, ódio, violência, ganância. Há muitos profundos e obscuros impulsos que nos motivam a direções que não percebemos. Nenhum de nós está livre deles. Colocados exatamente em certas circunstâncias somos capazes de terríveis ações.

  Sejamos claros em que por “negativo” significamos que a consciência está condicionada negativamente, para baixo, em direção aos mundos inferiores na Árvore da Vida. Para o ego, para nossos desejos, aquelas experiências são sentidas como “positivas”, mas as consequências são negativas para a consciência. Por exemplo: quando realizamos um desejo ele nos faz sentir bem, mas os efeitos daquela experiência condiciona a consciência, a hipnotiza com sensações, desejos, e começam sonhos para de novo repetirmos as sensações. Isso não é libertação, mas escravização. Portanto, a experiência é “negativa”.

  Ao estudarmos os fatos do que esteja acontecendo exatamente agora em nosso mundo é fácil vermos que a maior parte das coisas relacionadas com a inconsciência, subconsciência e infraconsciência rolando neste planeta é negativa.

  “É suficiente lermos a história universal para descobrirmos que ainda somos os mesmos bárbaros do passado e ao invés de melhorarmos temos nos tornado piores”.

  “O atual século com suas magnificências, guerras, prostituições, sodomias pelo mundo inteiro, degenerações sexuais, drogas, álcool, crueldades exorbitantes, perversões extremas, monstruosidades, etc., é o espelho através do qual podemos ver a nós próprios; não há uma boa e suficiente razão para alardearmos o alcance de um estágio superior de desenvolvimento”. – Samael Aun Weor

  É muito difícil encontrarmos conscientes expressões do Ser em qualquer parte do planeta. É muito difícil encontrarmos verdadeiros atos inegoístas enraizados na virtude, nas expressões da virtude. É bastante raro, o que torna tudo muito, muito triste. Porém se formos falar sobre fatos precisamos enfatizar que: de todas as formas há uma variedade de experiências potenciais. Estudando esta polaridade ela nos mostra de modo bastante simples que se quisermos experienciar a real libertação, a real felicidade, não iremos encontra-las através dos desejos ou sensações, mas através da libertação da consciência de todas as condições inferiores. Eis porque aprendemos a meditar.

  Então passemos a estudar nossa meditação à luz desses tipos de experiências. Se olharmos em como nossa meditação passou-se hoje e aos fatos dela, o que verdadeiramente experienciamos? O que de fato percebemos durante nossa seção de meditação? Detivemos experiências positivas ou negativas? Detivemos uma consciência inegoísta na apreensão dos fatos? Pudemos experienciar nossa trikaya, a trindade? Conseguimos experienciar algo além do tão falado “ego” ou estivemos unicamente sentados e sofrendo em nossos corpos físicos? Lutando? Provavelmente é esse o caso para a maioria das pessoas.

  É-nos, a todos, necessário sermos explícitos ao examinarmos nossa vida espiritual. Necessário sermos muito honestos, muito claros objetivamente, muito diretos conosco mesmo. Cobrarmos bastante de nós próprios. Cortarmos coisas sem sentido, cortarmos as mentiras que contamos a nós próprios, cortarmos as ilusões que construímos por nós e em torno de nós. “Eu meditei hoje, sinto-me tão bem comigo próprio”. O que tivemos de fazer para nos sentirmos bem nisso? Sentamos lá e sofremos. Sentamos e lutamos contra os pensamentos, as emoções e sensações do corpo. Ok, é aproveitável que lutemos, é bom que estivéssemos nos esforçando. E o que realizamos? Experienciamos a divindade? O que mantivemos? Cortamos ilusões? Ou devaneamos o tempo todo? Precisamos ser completamente honestos conosco, nos inclinando à realidade, desejando encarar a verdade mesmo que ela não nos seja agradável, porque se não o fizermos jamais mudaremos. Se quisermos mudar temos de ver os fatos e isso começa em nosso íntimo.

  Ao curso de uma sessão de meditação podemos ter muitas experiências. Podemos experienciar visões, coisas espirituais, sairmos de nosso corpo, percebermos outros mundos, experienciarmos poderes espirituais e tudo parecer fantástico. Mas as sensações não tornam aquelas experiências positivas. Termos experiências ou visões não indicam automaticamente que sejam positivas. Podemos até estar despertos noutra dimensão, fora de nosso corpo físico, ou mesmo no corpo, e mesmo despertos estarmos a ter visões; porém aquelas visões podem ser comumente precisos reflexos de nossa psique, de ilusões em regiões do inferno: pois estaremos vendo nossos desejos. Estando despertos não significa automaticamente que as experiências sejam positivas. Podemos estar despertos e ainda estarmos cem por cento negativos. Um demônio estará desperto; um bruxo, um feiticeiro tem visões, experiências e sensações agradáveis. Eles mantêm a consciência desperta, estando, porém, completamente condicionados pelo desejo.

  Assim estando despertos não significa estarmos no caminho certo. Outro exemplo é de alguém esquizofrênico. O esquizofrênico, ou uma pessoa sofrendo de demência, paranoia e de outros tipos de situações, percebe imagens e sons extra físico. Diz ela: “estou ouvindo vozes e vendo coisas” e pensamos que sejam tolices, mas não são. Estará vendo, mas negativamente. E sua consciência estará desperta. Desse modo precisamos fazer muito bem tal distinção. Vendo coisas não significa automaticamente que as coisas sejam boas. Se não nos questionarmos e às nossas percepções, então acabaremos definitivamente degenerando.

  Todos estamos buscamos pela felicidade, por contentamentos, realizações. Isso é um impulso natural do ser: encontrar um objetivo, a razão de ser. Entretanto, nos encontramos nublados pelos desejos, por padrões, impulsos, tentando buscar o contentamento, a felicidade, através dos desejos. Cada pessoa no planeta está fazendo isso. Se observarmos os animais veremos que estão buscando a felicidade através de seus próprios comportamentos. Os chamados seres humanos não estão fazendo diferente. Cada ser humano está buscando pela felicidade e contentamento através das sensações, dos desejos, do “eu”: “o que eu quero, o que meu ego quer, o que meu orgulho quer, o que minha luxúria quer, o que minha inveja quer...”, significam estarmos buscando pela felicidade através de experiências negativas, experiências nocivas: emocionalmente, intelectualmente, fisicamente.

  A alegria, a felicidade real, não pode ser encontrada nos aspectos inferiores da Árvore da Vida. Tudo na Árvore da Vida é impermanente e interdependente. Pode soar como blá,blá,blá filosófico, mas não é – é muito importante. Ao analisarmos nossas experiências, particularmente o lado negativo, podemos constatar sua importância. O que o ódio procura? Procura seu próprio tipo de contentamento: quer outros sofrendo como ele tem sofrido. Quando estamos com ódio culpamos alguém por nossa dor e queremos que outros sofram mais ainda por uma dor. Isso é tudo que o ódio quer: outros em dores porque é sofrimento. Não há outro objetivo para o ódio.  Sabemos que atualmente as pessoas acham o ódio “normal” e todos se inclinam a aceitá-lo e abraçá-lo. Porém em todas as religiões o ódio é um pecado.

  O ódio é uma forma de sofrimento e pode somente causar sofrimento; não pode jamais trazer felicidade. O ódio produz e cria a dor; é tudo o que sabe fazer. Daí quando o ódio nos está controlando ele quer que façamos os outros sofrer e isso lhe traz, estranhamente, o contentamento. E nenhum de nós se inclina a reconhecer isso. Amamos nosso ódio, o protegemos. Ficamos com ódio, então somente enxergamos as coisas através de nosso ódio e quando outros estão sofrendo regozijamos, certo? Por quê?

  O ódio, a luxúria, o orgulho, a inveja, a ganância; todos são a mesma coisa na mesma direção: procuram a felicidade, mas através de suas próprias percepções. A luxúria deseja experienciar sensações, busca pela felicidade, pelas sensações, acreditando que ao experienciar aquelas sensações sentirá felicidade. E através da luxúria as pessoas experienciam rápidas sensações. Entretanto o que aquela entidade não reconhece é que isso vem com um custo: sempre com um custo. Quando a raiva se expressa produz o sofrimento e isso não acontece sem exatamente ela conduzir uma consequência. Ao fazermos alguém sofrer adquirimos carma. Quando a nossa luxúria remunera seus próprios desejos adquirimos carma. A nossa inveja quando toma de outros o que ela quer causa-lhes sofrimento e adquirimos carma.

  Ademais nenhum desses elementos reconhece que a felicidade procurada seja impermanente, de fato insaciável. A luxúria tem sensações breves e quando se esgotam o desejo simplesmente quer mais. E quanto mais a alimentarmos mais forte ela ficará e nunca estará satisfeita. Que dizer sobre o orgulho? É a mesma coisa: sempre insatisfeito. Ao alimentarmos o orgulho somente por um pouco ele se torna cada vez mais forte e adiposo, mais poderoso, com controle cada vez maior e nunca mesmo estará o suficiente satisfeito.

  “Mesmo se a riqueza do mundo inteiro fosse generosamente concedida a um homem ele não seria feliz: o contentamento é de difícil posse.” – Uttaradhyana Sutra 8.16

  “Ó minha estúpida alma cobiçante por fortunas, quando alcançará sua própria emancipação do desejo por riquezas? Vergonha em minhas tolices! Tenho sido seu brinquedo! Consequência de me ter tornado um escravo de outros. Ninguém nasce na Terra determinado a por um fim nos seus desejos.... Sem dúvida, ó Desejo, seu coração é tão duro quanto diamante que uma vez envolto por uma centena de angústias não se quebra em pedaços. Eu o conheço, ó Desejo, e a todas as coisas que lhe são diletas. O desejo por riquezas não pode nunca trazer felicidade”. – Mahabharata, Santi Parva 177

  O desejo está todo no “mim”. Desejo, ânsia, é uma condição dos mundos inferiores, dos infernos. É uma qualidade dos demônios. Tudo nas regiões inferiores é ilusão; nada lá é fundamentalmente real. O “eu”, o ego, acha que desejos e suas compensações sejam reais, mas não são. Tudo nos mundos inferiores existe temporariamente pelas causas e condições. Nada lá é confiável ou permanente ou mesmo importante: nada lá pode prover-nos da genuína felicidade. Onde encontramos coisas verdadeiras, duradouras e reais, é unicamente nas regiões superiores através das quais precisamos subir cada vez mais alto pela Árvore da Vida, e lá obtermos aquilo que seja uma substância fundamental – uma existência fundamental!

  Verdadeiramente tudo na Árvore da Vida é interdependente; significando que nada na árvore existe nela e por ela, sem qualquer ligação. Cada parte é dependente de algo a mais. E se algo é dependente de algo a mais não pode existir por si próprio, não podendo ser auto dependente.

  O corpo físico é nele mesmo dependente de muitas outras coisas. Não pode ser de sua própria base ou morrerá. Ou será morto de muitas outras formas. Um minúsculo micróbio pode mata-lo. Como podemos depender de um corpo assim? Como esperar que vá durar tanto tempo que com ele nos libertaremos do sofrimento? Não irá. E o mesmo é verdadeiro para todas as nossas outras partes. Nossa energia é extremamente vulnerável,  nossas emoções são vulneráveis como vulnerável é nossa mente. Uma única e má experiência pode ser suficiente para conduzir uma pessoa a se tornar mentalmente instável, podendo perder tudo em sua vida.

  Assim não podemos depender do corpo (Malkuth), de sua energia (Yesod), das emoções (Hod), e dos pensamentos (Netzach). Mesmo nossa vontade (Tiphereth) é muito fraca e facilmente levada a se distrair por atrativos. Todos pensamos ser muito espiritualizados, mas se alguém chegasse aqui com uma grande tentação abandonaríamos essa classe imediatamente. Mesmo ao criarmos o corpo astral, o corpo mental e o corpo causal, começando a alcançar níveis mais elevados, constataremos que aqueles níveis também sofrem das mesmas vulnerabilidades, da mesma impermanência básica e, portanto, tê-los alcançado não nos garantirá a libertação, a verdade, a segurança ou a real felicidade. O único lugar onde começamos a encontrar algo permanente, real e duradouro é no trikaya, o topo da Árvore da Vida.

  Eis porque ressaltamos tão intensamente a meditação nessa tradição. É boa para criar o corpo astral, o corpo mental e o corpo causal, porém não é o suficiente. É bom aprendermos meditação, é bom aprendermos transmutação, é bom aprendermos sobre o ego, sobre a psique e aprendermos a mudar a partir daquelas coisas. Contudo a menos que sejamos capazes de direcionar o acesso ao trikaya – essa região superior de nosso próprio Ser – então não teremos ainda o conceito do que seja o Ser “real”: qual é sua real natureza e o que seja a realidade.

  Quando nosso corpo físico morre e nossa consciência o deixa, há uma oportunidade nessa transição de percebermos imediatamente a verdade fundamental. Com treino antes da morte, podemos estar prontos a reconhecer esses três aspectos dessa Entidade, em percebê-los, em conhecê-los, em estarmos cognizantes através do processo da morte. Esse treino está hoje na meditação. É algo para irmos treinando todas as noites antes de dormirmos. Há uma maneira de extrairmos nosso próprio estado de ser de todos aqueles aspectos inferiores e conectá-los diretamente, nessa noite, com aquela trindade. É suficiente termos a coragem de abandonarmos as partes inferiores do nosso sentido de ego.

  “A felicidade é fundamental para a natureza do homem. O fator central em ser homem é encontrado na sua inerente divindade.

  “A natureza fundamental do homem é divina, a consciência disso ele a perdeu por suas animalescas inclinações e véu da ignorância. O homem na sua ignorância identifica-se com o corpo, a mente, o prâna e os sentidos. Ao transcender àquilo ele se torna um com Brahman ou o Absoluto, que é pura felicidade.

  “Brahman ou o Absoluto é a mais completa realidade, a mais completa consciência. Atman ou Brahman é aquele “além” que nada mais é senão o mais profundo íntimo do Ser em todas as coisas... É a pura, absoluta consciência nutridora de todos os seres conscientes.

  “A fonte de toda a vida, o manancial de todo o conhecimento é Atman, o seu mais profundo íntimo. Esse Atman ou Suprema Alma é transcendente, inexprimível, inimaginável, não conjeturável, indescritível, eterna-paz, todo-felicidade.

  “Não existe diferença entre Atman e felicidade. Atman é felicidade Nele próprio. Deus, perfeição, paz, imortalidade, felicidade são uma só coisa. O objetivo da vida é alcançarmos à perfeição, à imortalidade ou Deus. Quanto mais perto da perfeição alguém chega mais feliz se torna. Porque a natureza fundamental da Verdade é positiva: é absoluta felicidade.

  “Não há felicidade no finito. A felicidade é encontrada unicamente no Infinito. A felicidade eterna somente pode advir do Ser eterno.

  “Conhecer o Ser é viver a felicidade eterna e a paz duradoura. Auto realização concebe a existência eterna, o absoluto conhecimento e a perene felicidade.

  “Ninguém pode ser salvo sem a auto realização. A busca do Absoluto deve ser suportada mesmo sacrificando o mais querido objeto, mesmo a vida, mesmo carregando toda dor.

  “Estude livros filosóficos tanto quanto os aprecie, faça palestras e palestras em seus tours pelo mundo, permaneça na caverna do Himalaia por cem anos, pratique pranayama por cinquenta anos e não chegará à emancipação sem a [consciente] realização [a experiência] da unidade do Ego” – Swami Sivananda

  Sabedores desses aspectos superiores através da pessoal experiência, nossa experiência do que seja o não eu, ainda estará por vir. Para chegarmos a um perceptor, a um conhecedor, a uma inteligência, a uma sabedoria será sem o “eu”. O intelecto não consegue conceber isso, porém [nós] tendo-o experienciado [ao não eu] o entenderemos. Na Bíblia esta trindade superior é chamada “a Coroa da Vida”. No livro da Revelação é dito:  "a quem vencer darei uma coroa de vida”.

  O que temos de suplantar? Tudo abaixo. É estarmos sintonizados com tudo mais acima, para não mais estarmos sintonizados com a fisicalidade, com o orgulho, com a luxúria, com a vergonha. É não mais estarmos sintonizados com a energia, com a emoção, com o pensamento, com a vontade, com qualquer coisa. É estarmos livres de todas as ligações para simplesmente sermos nós. Então uma pessoa passa a vibrar muito alto em todos os níveis. Isso é experiência Superconsciente de que falávamos anteriormente. Não conseguiremos alcançar aquilo conquanto estejamos ainda identificados com nossos três cérebros e sensações, como agora.

  “Quando totalmente liberto dos contatos exteriores um homem encontra a alegria nele mesmo; ele está perfeitamente treinado na disciplina de Deus e alcança interminável felicidade. Experiências devidas ao nosso sentido do tato são unicamente fontes do dissabor. Tiveram um início e um final. Um homem sábio não se agrada delas. Esse homem é disciplinado e feliz porque consegue prevalecer das tormentas. Ele se liberta do desejo e ódio aqui na terra antes de deixar seu corpo” – Bhagavad Gita 5.21-23

  Todos nós estamos buscando pela felicidade, pela realização, por algo confiável, algo que nos traga um inteiro significado para nossas vidas. Buscamos esse algo pelo intelecto, emoção ou corpo. E de diversos modos procuramos espiritualmente por aquelas coisas. Necessitamos em nós mesmos desses complementos e precisamos usá-los da maneira certa. Mais ainda significativo é precisarmos entender que da maneira em como viremos usá-los de momento a momento é aquilo que cria em nossas vidas. O modo como usamos nossa energia, nossa consciência, nossa mente, nosso pensamento, nosso corpo é o que cria as consequências do que experienciamos. Podemos experienciar, se assim desejarmos, a verdade, aquele espaço sutil da base de todas as coisas vivas, da base de toda a existência. Basta produzirmos as exatas ações que resultam naquilo. Se eliminarmos o ego e todos os seus desejos encontraremos a verdadeira alegria, o verdadeiro contentamento, a verdadeira felicidade.

  “Na alegria há alguma felicidade, da perfeita alegria há ainda mais, da alegria da cessação [nirvana] vem o estado de impassibilidade [serenidade], e a alegria do íntimo é a finalidade. A primeira vem pelo desejo do contato [através dos sentidos], a segunda vem pelo desejo  [consciente] da felicidade, a terceira vem da morte da paixão [a morte do ego] e por essa consequência a quarta [o absoluto] é realizada”. – Hevajra Tantra 8.32-33

  Os que buscam da luxúria e vivendo através de seus ódios e orgulhos pensam que irão encontrar a felicidade e a alegria enquanto nutrem seus pensamentos. Ignoram sejam aquelas coisas impermanentes. Mesmo que consigam momentânea alegria cometeram ações que produzirão consequências. Assim é a lei da causa  e efeito. Tudo o que fizermos trará consequências. Se estivermos acionados pela luxúria, pelo ódio, pelo orgulho e inveja estaremos adquirindo consequências pelas ações realizadas. A humanidade moderna não se importa com isso, e em todas as coisas nossa mídia nos encoraja a buscarmos nutrir os nossos desejos, a fortalecê-los. Tudo em nossa cultura nos estimula a ‘conseguirmos o que queiramos’. É uma enorme mentira. Ignoramos a lei da causa e efeito. Todas as coisas que fazemos nos trazem consequências. Experienciamos aquelas coisas, mas as ignoramos não desejando vê-las.
 
  Aqueles que tendo experienciado relações luxuriosas sofrem muito – especialmente em seu aspecto emocional – porque nunca encontram o amor. O amor e a luxúria não podem se misturar, pois as pessoas luxuriosas – a prostituta, viciada em sexo, o masturbador – nunca encontram o amor, visto estarem saturados com a luxúria, que é egocêntrica e não pode amar ninguém. A luxúria busca unicamente por seu próprio desejo e não consegue amar. Então as pessoas sofrem não reconhecendo serem elas próprias as construtoras de seus pessoais sofrimentos e ainda culpam os outros. Culpam seus pais, suas culturas, o sexo oposto ou o outro gênero, o que seja, nunca reconhecendo a lei da causa e efeito.

  Nunca reconhecemos que os efeitos de nossas ações são maiores que as causas. Quando produzimos uma ação as consequências daquela ação se propagam produzindo mais efeitos do que a energia inicial tomou para criar aquela ação.

  Também ignoramos que não podemos receber uma consequência sem que esteja completada a sua correspondente ação. Muitos pensam que Deus lhes dará as melhores boas vindas e imediatamente irão para o paraíso tão logo tenham morrido, porque no exato último minuto em que estejam para morrer terão dito: “Deus, perdoe-me por todas as coisas más que fiz....” Não funciona assim e recebemos o que merecemos...

  “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna”. – Gálate 6

  Se desejarmos libertação, se desejarmos nos elevar acima do nível dos demônios e pessoas que estão nos reinos dos infernos, temos de cessar o cometimento de ações que correspondam àqueles níveis. Significa precisarmos renunciar à luxúria, ao orgulho, ao ódio, à inveja. Não simplesmente a eles renunciar, mas eliminá-los de nossa mente de modo a nos tornarmos impossibilitados a eles. Eis como nos tornarmos uma alma purificada: através de ações.

  Por conseguinte, recebemos as consequências do que desejamos. Então temos de produzir as ações que correspondam àquilo. Se quisermos a felicidade de níveis superiores temos de produzir as ações correspondentes.

  Ademais uma vez tenhamos realizado uma ação as consequências não podem ser anuladas. Podemos nos desculpar quando fizermos algo errado, porém os resultados daquela ação permanecerão. Ao ferirmos alguém, não importará quão penitentes estejamos mais tarde. O sofrimento não pode ser lançado fora unicamente por dizermos “desculpe-me”. O mesmo se aplica a cada outro nível da Árvore da Vida. Tendo feito algo nocivo o resultado ali permanecerá. Felizmente para nossa sorte, uma lei superior sempre se sobrepõe a uma lei inferior, pois todos fazemos coisas erradas. Sem quaisquer exceções, cada um no planeta é um leão, um ladrão, um assassino, um fornicador, um adúltero. Todos somos culpados de decorrentes ações.

  Reconfirmemos o seguinte:

  Uma vez tenhamos realizado uma ação as consequências não podem ser apagadas. “Felizmente uma lei superior sempre se sobrepõe a uma lei inferior, pois todos fazemos coisas erradas”.

  Isso pode parecer contraditório entre ambas, porém não é. Temos errado em tudo; eis porque agora estamos sofrendo. Se desejarmos mudar a situação para encontrar a genuína felicidade, a alegria, precisamos nos desempenhar de ações superiores; isso aplica-se à meditação, em como meditar. Necessitamos chegar a um método superior, a uma ação superior em nossa meditação a fim de superarmos às consequências inferiores que em futuro, sem dúvida, delas sofreremos.

  Necessitamos entender que o caminho da meditação detém três fatores básicos explicados ao início deste curso:

  1. Sila: ética
  2. Samadhi: Êxtase (Felicidade)
  3. Prajna: Sabedoria Profunda

  Todo o começo na religião, não importando qual delas queiramos seguir, qual vida espiritual desejemos adotar – todas elas se fundamentam na ética sem qualquer exceção. Hoje em dia as pessoas pensam que podem inventar sua própria religião, mas estão enganando a si próprias porque cada um quer ter “espiritualidade”, mas ao mesmo tempo desejam a realização de seus desejos. Em outras palavras: elas pulam o primeiro – o mais importante degrau da religião – a ética. Se quisermos encontrar a felicidade real, a alegria, não podemos pular a ética.

  Ética significa que paramos com ações nocivas e adotamos ações benéficas. Assim, em momentos que sentirmos ódio, o controlemos e procuremos transformar aquele ódio em amor não permitindo que aquele ódio escape de nossa boca, ou que escape de nossas mãos ou através dos olhos. Ao invés, observemos a pessoa de quem estamos com ódio e a observando com amor compreendamos que ela está sofrendo, e por qualquer coisa que ela possa nos ter feito que nos tenha despertado ódio, ela não pretendeu nos fazer sofrer; por isso nós também não pretendemos fazê-la sofrer.

  Vemos assim como a consciente força de vontade pode tirar o controle dos três cérebros (intelecto, emoção e corpo) e transformar aquela experiência negativa em positiva. Desse modo a lei superior (vontade consciente) conquista a lei inferior (ódio). Então nos tornamos uma expressão não dos reinos infernais, porém dos reinos superiores. Estaremos expressando não um defeito do orgulho e ódio, porém virtudes do inegoísmo e compaixão, da paciência e tolerância. Isso não nos soa em como deveríamos estar vivendo? Isso é ética. E somente o estágio número um correspondendo ao triângulo Netzach, Hod, Yesod, que é pensamento, emoção, energia, na Árvore da Vida.

  A ética nos conduz a agirmos como uma psique, psicologicamente: em como nos comportarmos, utilizando-nos dessas funções que temos disponíveis em nós próprios. Se estivermos fazendo isso seriamente e meditando sobre nossos defeitos e virtudes a fim de compreendê-los, o segundo estágio do dharma acontece normalmente, de maneira espontânea. Em sânscrito é chamado samadhi. Podemos a isso traduzir com uma quantidade de diferentes nomes, e de acordo com nossa palestra de hoje a tradução seria “felicidade”. Quando alguém está agindo fora de sua própria vontade, mas de consciência cognizante, isso é inegoísmo e ele(a) então é um reflexo da divindade. Já falamos sobre como seres altamente desenvolvidos são expressões do amor cognizante, da terrificante sabedoria e compaixão.

  Quando agimos adequadamente com nossa ética e refletimos esse tipo de comportamento, produz-se uma felicidade, um êxtase de um ou outro grau. Pode se dar tão imediato quanto no instante em que oferecemos alimento a uma pessoa que esteja passando fome, e sentimos amor por ela, sendo essa uma forma de real felicidade, real alegria. Não que seja orgulho: é sinceridade; é amor. Isso não pertence aos reinos infernais; vem da mais alta generosidade; daquele tipo de amor que serve aos outros; que oferece sem expectativa de nenhum retorno; que dá pela bondade do amor a fim de ajudar a reduzir o sofrimento. Essa ação provê-nos de um êxtase, de uma felicidade e corresponde ao triângulo do meio da Árvore da Vida.

  Do nível de Tiphereth para baixo, aqueles níveis de nossa psique – emoção, intelecto, energia, fisicalidade e a mente submersa – estão misturados com nosso carma, com nossos desejos e defeitos. Qualquer coisa que seja experienciado nesses níveis é altamente questionável. Porém, nessa região mediana – Chesed, Geburah, Tiphereth – não há ego, Eis porque a região é correspondente ao êxtase, a felicidade. Nesse nível a consciência não está afligida pelo ego. Então, outra vez, eis porque meditamos: para libertar a consciência (Tiphereth) das condições inferiores, permitindo-a assim experienciar sua verdadeira natureza: felicidade, liberdade, contentamento, etc.

  Entretanto se aquela experiência do samadhi se aprofunda e persiste, e desenvolvemos a mestria, isso pode dar ensejo a imenso crescimento chamado prajna, que corresponde ao nível mais elevado da Árvore. Esses três estágios do dharma correspondem à Árvore da Vida. Tais termos vêm do budismo e se ligam diretamente com a Árvore da Vida da cabala. O principal é como compreender o modo como se aplicam à nossa prática meditativa.

  Na meditação assentamos o corpo físico (Malkuth), relaxamos (Yesod) e utilizamos sua energia; relaxamos a emoção (Hod); e relaxamos o intelecto (Netzach). Esses três aspectos são aqueles que experienciamos muito facilmente e podemos trabalhar diretamente com eles em meditação. Mas vejamos: esses aspectos são por demais nublados uma vez que através do nosso pensamento, da emoção, da energia e corpo nossos desejos buscam expressar-se. O orgulho enche nossa mente com pensamentos e ao nosso coração com desejos a fim de se sentir admirado e afagado. Isso enche o corpo com energia desejosa de externar-se e realizar ações que farão atrair a vaidade que nos satisfaça.

  Nisso queremos que alguma pessoa em particular nos olhe e se sinta humilhada porque somos tão imensos... Mesmo meditando regularmente, estando nesse tipo particular de atmosfera, ficamos condicionados. Pois até podemos ser um meditante que queira ser admirado por sermos tão bons no que fazemos. Teremos orgulho da meditação. Desejaremos que todos os demais nos admirem: “Oh, sua postura é tão boa. Ele consegue sentar-se por uma hora sem se mover!”. Iremos querer que notem a pessoa admirável que somos para terem inveja.

  Porém em sendo hábeis para retirar a consciência deixamos o corpo descansar, bem como a energia, a emoção e o intelecto e estaremos adentrando na vontade (Tiphereth) que é a atenção direcionada. E estaremos projetando nossa vontade para algo, observando-o. O corpo tentará nos distrair bem como a energia, a emoção e o pensamento, empurrando-nos de volta para o interior de seus mundos. Então teremos de ter paciência e consistência a fim de desenvolver suficiente concentração e vontade para permanecermos concentrados.

  Eis o que esses nove estágios são do que explanamos em todas as palestras anteriores: vontade para desenvolver a serenidade. A serenidade é a qualidade que emerge quando o corpo e a mente se tornam treinados e subservientes à vontade. Significa que chegada a hora de meditar, o corpo e a mente concordam alegremente não mais lutando um contra o outro. Isso é serenidade.

  Unicamente quando tudo isso esteja relaxado, firme, separado como o óleo e a água é que a consciência consegue saltar sobre todas as condições, sem esforço ou dificuldade. Eis aqui como experienciamos o que é chamado samadhi, êxtase, felicidade. É a felicidade incondicionada. Ela pode tomar muitas formas. Pode ser tão simples quanto nos conscientizarmos do corpo, da energia, do pensamento, da emoção, do espaço, de muitas coisas, porém nos fazendo sentir por demais contentes. Tão feliz, tão simples, incondicionada. Isso pode ser simples. Não soa como sendo muito, porém quando sentimos o samadhi ele radicalmente nos muda. A felicidade pode também surgir de muitas outras maneiras. Podemos repentinamente despertar a consciência numa dessas outras dimensões e ficarmos muito mais despertos do que estamos agora em nosso corpo físico, e experienciarmos o mundo de modo muito mais real do que o estejamos experienciando agora fisicamente. E pode acontecer no mundo astral, no mundo mental, no mundo causal ou além. Isso também é chamado samadhi.

  Samadhi corresponde a qualquer tipo de experiência onde a consciência não esteja condicionada pelos veículos inferiores ou o ego. Então há muitos tipos de experiências que são “do samadhi”. Elas podem estar em qualquer desses níveis. Podemos sair de nossos corpos como uma consciência e entrarmos em nossos próprios reinos de infernos e vê-los. E isso será um samadhi porque estaremos cônscios deles, inteirados, não estando temerosos uma vez que não estaremos perturbados. Estaremos “não ego”, mas despertos. É samadhi e muito valioso. Pois quando vemos o que existe em nossa mente, em nossa psique, nos estratos, aquela percepção nos traz o conhecimento, a introspecção e a sabedoria. Mostra-nos as coisas em que devemos trabalhar para mudarmos.
   
  Experiências nos céus são belas, mas não nos ajudam muito. Elas precisam trazer-nos inspiração, dar-nos algum entendimento, porém do que necessitamos verdadeiramente é eliminarmos todos os diabos e demônios que estão em nossa própria mente, submersos na escuridão que não podemos vê-la nesse exato instante. Eis porque aprendermos a ciência. Não estamos interessados em buscar experiências agradáveis: isso seria unicamente a continuação de nossos velhos hábitos, unicamente em suposto caminho “espiritual”. Não: na prática da meditação real não buscamos por prazeres (sejam físicos ou espirituais), mas sim por conhecimento, especialmente sobre como houvéramos criado o nosso próprio sofrimento.

  Essa trindade que vimos explicando está aqui nesse princípio fundamental hoje aqui explanado:

  Concentração + Imaginação = Meditação.

  Aprendemos a concentrar e a visualizar, e nessa combinação acessamos o estado de meditação: samadhi. Esses três princípios são as três primeiras lâminas do Tarô e são as três primeiras sefirotes da Árvore da Vida.(Aprender sobre os Significados das Cartas do Tarô)

  O Mago é uma força projetiva masculina. Quando nos sentamos para nos concentrar temos a força de vontade focada, projetiva. Nessa tradição aprendemos a visualizar. Nas práticas atuais visualizamos um sol. Estaremos por livre escolha projetando uma imagem interna do sol. Corresponde à concentração, o primeiro princípio, o Mago. Se na experiência dessa prática formos capazes de projetá-la, por livre escolha, formamos a imagem e então ao acharmos que a imagem está fortemente sustentada teremos estabelecido a imaginação, o segundo aspecto, onde a imagem não é mais projetada, porém recebida. O Mago (concentração) é projetivo, ao passo que a Sacerdotisa (imaginação) é receptiva. Então a concentração é colocada sobre a imagem que estamos recebendo. Quando as duas estiverem harmonizadas, equilibradas, então a terceira força emerge naturalmente – a Imperatriz – que aqui representa a percepção da realidade.

  “O número três é a Imperatriz, a luz divina. A Luz nela mesma é a Mãe Divina. Corresponde àquela parte da Gênesis que diz: “E Deus disse faça-se a luz e a luz se fez”. (O primeiro dia da criação) – Samael Aun Weor).

  Aquela luz divina é a luz da felicidade, a luz do samadhi que revela a verdade, a realidade. E ainda há aqui também significados mais profundos.

  “Orem e meditem intensamente. A Mãe Divina ensina suas crianças. A oração precisa ser feita combinando-a com a meditação num estado sonolento. Então como numa visão de um sonho a iluminação emerge. A Mãe Divina [a Imperatriz, o Arcano 3] vem aos devotos a fim de os instruir nos grandes mistérios”. – Samael Aun Weor

  Aditando... o terceiro arcano representa a trindade, o trikaya, aquela parte de nós fechada à realidade. Daí, combinando a concentração e a imaginação o real estado da meditação acontece. Essa é a porta ao samadhi. Eis como o acessamos.

  A meditação é simples; não é complicada; não nos requer a leitura de um monte de livros; a memorização de muitas coisas; de irmos a diferentes lugares. Meditemos todos os dias. Trabalhemos constantemente com a concentração e a meditação até adquirirmos aquela habilidade em que quando projetarmos uma imagem possamos deixa-la de lado sustentada e consigamos vê-la facilmente sem qualquer esforço. Ela se tornará receptiva. Então começaremos a receber novas informações ou sairemos do corpo. Isso é meditação.

  Esses três fatores são uma expressão da lei dos três. Os três criam. Eles criam entendimento e compreensão. Esses três fatores têm muitos nomes, mas normalmente expressam os mesmos princípios: 

  Concentração + Imaginação = Meditação
  Serenidade + Discernimento = Êxtase
  Shamatha + Vipashyana =Samadhi
 
  É importante saber esses fatores em detalhes com nossa própria experiência. Assim os estudemos e os pratiquemos desse modo:

  Distinguindo as características da serenidade (Shamatha, Concentração):

  Vívida intensidade, intensa clareza mental
  Estabilidade, Unidirecionalidade

  Distinguindo as características da serenidade (Vipashyana):

  Visualização, Imaginação
  Análise, Discriminação

  Nossa prática da meditação necessita dessas características.

  Ao estarmos desenvolvendo a concentração busquemos pela vívida intensidade e intensa clareza, pela estabilidade e Unidirecionalidade. Significa a habilidade em colocarmos a atenção num único objeto, em percebê-lo, em mantê-lo sem ficarmos distraídos. Ao estarmos trabalhando com a visualização necessitamos estar habilitados em discriminá-lo entre o que seja uma projeção do ego e o que seja a genuinidade recebida do nível superior. Isso aprenderemos através da experiência, do auto estudo e da cabala, a Árvore da Vida.

  Aprendamos a concentrar, a visualizar e a discriminar o que vemos. Não tomemos visões como sendo reais nem como elas aparentem ser, porém discriminemos, analisemos.

  “Com relação a análise, permitam-me destacar que a análise não é intelectual. É toda um ato da vontade, da consciência, algo além do intelecto. Assim ao dizermos “analisemos e discriminemos” não significa que nossa mente jumentina esteja dizendo “bem, estou tentando lembrar-me quando naquela palestra ele disse tal e tal coisa – não!”. Isso é intelecto: é memória. Análise é percepção não é comparação.” Discriminação é percepção não comparação. Não estamos falando sobre compararmos ao fazermos nossa análise. Discriminação é vermos através das aparências, reconhecendo a verdade. Vermos o que realmente seja e não o que aparenta ser.

  Exercícios

  1. Diariamente como parte da auto observância de momento a momento tornar-se cônscio do uso da imaginação.

  2. Diariamente praticar a meditação retrospectiva. Recordar o que foi percebido externa e internamente o dia inteiro.

  3. Escrever os fatos de seu dia em seu diário espiritual.

  No curso do dia observar-se e a sua psique. Estar cônscio de como o corpo, a energia, o pensamento e a emoção estão funcionando com você. Estará sua vontade no controle sobre eles ou serão os seus desejos que os estarão controlando? Através de tudo o que faça a auto observância é realmente importante, especificamente em como você está usando a sua imaginação, uma vez que ao usá-la durante o dia inteiro é necessário saber como a está usando.

  Como segundo passo a meditação retrospectiva, ao final de seu dia, toma-lhe um tempo para relaxar e recordar com a imaginação tudo o que experienciou naquele dia – os fatos que envolveram os acontecimentos das coisas. Isso é uma prática meditativa e não uma análise intelectual. Não é sentar-se e escrever uma lista ou procurar sobre como se sentiu das coisas que o ligaram emocionalmente. Não é algo que aconteça com os três cérebros. Trata-se de algo cognizante, consciente: uma revisão dos fatos de suas experiências, não só exteriormente, mas interiormente. Então como se comportou falando objetivamente? Não que você desejasse do seu comportamento, mas o que realmente fez? Quais foram as consequências do que tenha feito em fatos experienciados?

  A chave e a mais importante coisa para tudo isso é aprender a separar os fatos dos desejos a fim de muda-los. Não especular, não adivinhar, não reimaginar tal como: “ eu devia ter feito isso de outra forma ou devia ter feito dessa maneira”. Nessa linha é exatamente reunir os fatos daquilo que você fez, do que você realmente experienciou e colocar os fatos juntos. É essa massa acumulada ao longo dos dias e semanas que começará a mostrar-lhe o padrão que você antes não via. Se a cada dia você ainda estiver remaquiando suas memórias, massageando-as, clareando-as e as tornando mais atrativas, essas coisas não farão sentido. Não minta a você mesmo. Seja honesto, sincero, claro e direto.

  Terceiro é anotar esses fatos. Bem sei que todos gostamos de camuflar os fatos para nos sentirmos um pouco melhor. Não faça isso. Mude seu comportamento, comece com esse tipo de coisa. Não é difícil, basta a honestidade.

  “A bem-aventurança das concupiscências e o mundo celestial não são iguais a um décimo sexto da bem-aventurança do fim do desejo”. – Udana 11

 “A felicidade que resulta da gratificação do desejo ou aquela outra felicidade mais pura que alguém goze nos céus não se iguala a décima sexta parte daquilo que se eleva diante do abandono de todos os tipos de sede!”. – Mahabharata, Shantiparva 177

PERGUNTAS E RESPOSTAS

  1. Pergunta [inaudível]

  R. – O que você teve no seu café da manhã? (pausa). Não me diga e observe. Isso é imaginação. Como você chegou hoje aqui? [pausa]. Você viu aquelas imagens tremulando em sua mente? Eis como imaginar, visualizar. Você simplesmente inquire o íntimo e permite às imagens aparecerem. Não lhe toma mais que isso; com uso e treinamento, essa habilidade, eventualmente, se torna mais forte, mais clara, mais profunda.

  A habilidade em evocar coisas que foram percebidas é a habilidade real que necessitamos fortalecer e que não nos exige esforços. É simplesmente tomá-la e usá-la. É como um músculo que fica cada vez mais forte na medida de seu uso. Quando éramos crianças essa habilidade esteve mais presente em nós. Num instante conseguíamos imaginar universos de atividades ao nosso redor e nos víamos super heróis ou vilões, correndo em torno fazendo brincadeiras, mas imaginando muito sem esforços. Ainda temos essa habilidade, mas ela está nublada por nossos maus hábitos. Então vamos recuperá-la.

  Imaginar não requer extenuar-se. Pessoas há que pensam ser isso algo supernatural pressionando junto aos olhos, tentando forçar-se a “ver”, mas é errado. Não é assim que se trabalha. Para vermos imagens mentais é um ato sem esforços. É tão fácil quanto nos lembrarmos de onde estivemos há uma hora ou há duas horas, e essas imagens imediatamente saltam para a nossa imaginação, aquela tela, o olho da mente. É nisso que devemos querer trabalhar, fortalecer. É tudo. Então pouco a pouco na medida em que conservamos nossa energia estabilizamos nossa psique, e trabalhando essa habilidade com maior consistência ela se torna algo suave e fácil de acessarmos. E eventualmente vem se tornar uma ferramenta muito poderosa.

  2. P. – Tenho uma pergunta também sobre imaginação. Noutro sentido podemos dizer que a imaginação é exatamente a recepção de qualquer impressão? Pois se estamos aqui em nosso corpo físico recebendo numerosas impressões físicas e sensoriais isso tudo não se eleva ao campo da imaginação?

  R. – Sim, é isso. A imaginação num sentido mais amplo significa simplesmente a percepção de alguma coisa: de uma impressão ou de algum tipo de informação. E na verdade se aplica a qualquer nível da natureza. Por que dizemos isso? Porque pelas nossas atuais condições não vemos nada como verdadeiramente seja: somente vemos as interpretações feitas por meio de nossos sentidos e mente e essas interpretações aparecem em nossa imaginação em imagens com etiquetas grampeadas e com significados – melhor dizendo, aparecem em nossa imaginação subconsciente, inconsciente e infra consciente.

  3. P. – Então noutro sentido podemos dizer que a meditação serve justamente para que com nossa vontade permaneçamos naquele momento a fim de recebermos as impressões deste corpo físico?...

  R. – Nessa tendência estamos buscando a serenidade e a introspecção. Definido pelas tradições tântricas a introspecção é a habilidade em discriminar o que seja percebido. Se estudarmos o budismo tântrico, tendo estudado Shamata-Vipashyana, chegando ao ponto onde estejamos trabalhando com as técnicas da discriminação, estaremos trabalhando, especificamente, em como discriminar entre o irreal e o real. Isso se aplica a qualquer coisa que possamos perceber. O que conta é nossa resposta – como interpretamos – como isso nos afeta. Então esse é o ponto do discernimento. É vermos e sabermos o que seja algo que estejamos vendo a fim de discriminá-lo.

  4. P. – Então o problema reside em quando as pessoas estejam no plano físico, no plano astral ou em qualquer plano; ao invés de estar recebendo todas as impressões com imaginação consciente estarão ora conjeturando ora projetando algum outro tipo de imagem que na verdade não tenha base numa realidade, certo?

  R. – Isso é certo. Buscamos captar nas reações, respostas e imaginações o que não tenha nada a ver com a realidade.

  5. P. – Então quando em meditação se as pessoas estivessem perfeitamente espertas a cada momento e realmente recebessem impressões ocorrendo diante delas, estariam já capacitadas a cultivar aquele estado?

  R. – Naturalmente, e se de fato vindas daquela tradição que se utiliza especificamente desse tipo de terminologia elas realmente separam o desenvolvimento discernente em pre e pós-práticas da meditação daquelas que são feitas na real meditação. Também o desenvolvimento da discriminação ou discernimento é um processo contínuo, sendo precisamente isso: aprendendo a ver e a discriminar o que é visto e não exatamente reagir e ter a mente se lançando para fora em processos conforme você mencionou.

  O que é bem importante é constantemente desenvolver a habilidade em reconhecer a natureza ilusória de qualquer coisa percebida, e não exatamente achar que as aparências sejam ilusões, mas aprender a realmente vê-las.

  A prática hoje explicada sobre retrospecção é somente a primeira parte de uma série que cada um aprende como fazer. Na primeira fase observamos o rescaldo de nosso dia e observamos os fatos de nossas experiências. Adiante tomamos os fatos, as experiências e as analisamos mais profundamente pela tomada daquela cena ou daquele evento como objeto de nossa concentração a fim de obter de seu interior um discernimento. Então visualizamos aquele evento ou coisa que nos aconteceu, observando concentradamente. Com a imaginação trazemos aquela cena de volta, mas penetramos nela com nossa discriminação a fim de descortinar os aspectos que poderiam não ter sido vistos quando acontecidos.

  O intelecto não pode estar aqui engajado, tão pouco a emoção uma vez que permitidos agir mecanicamente interferirão. Isso precisa ser cônscio. E quando tivermos essa capacidade, particularmente em sermos capazes de acessar o estado de samadhi ou felicidade então estaremos acessando a verdadeira natureza e estaremos observando aquela cena sem a influência do orgulho, da luxúria, da inveja ou ambição: significando estarmos capacitados a ver com perfeita clareza. Poderemos entender o carma, compreender a posição da outra pessoa envolvida com aquele acontecimento. Ademais intuitivamente compreenderemos como dar respostas numa via superior, transformando aquele carma em algo benéfico. Veem como todas essas peças chegam juntas?

  6. P. – Então as experiências que são ilusórias são assim por que estão relacionadas com o ego e haverá experiências mais elevadas que não sejam mais ilusórias ou ....

  R. – Onde estará o limite entre o ilusório e o real? A verdade básica é que a única coisa fundamentalmente real é o Absoluto. Aqui está porque sempre mencionamos isso. Quando olhamos a Árvore da Vida conceituamos o vazio primordial de onde todas as coisas provêm. Essa é a única realidade. Tudo mais é relativo, interdependente, impermanente... e é isso o que esquecemos.

  “O espaço abstrato é a causa causarum [causa das causas] de tudo o que é, foi e será. O profundo e alegre espaço é certamente a incompreensível “Seidade”, que é a inefável raiz mística dos sete cosmos. É a origem misteriosa de tudo quanto sabemos do Espírito, matéria, universos, sóis, mundos, etc.

  “Aquele”, o Divino, o espaço da felicidade, é uma tremenda realidade para além do universo e deuses.

  “Aquele” que não tem qualquer dimensão e verdadeiramente é o que sempre será e tem sido. É a vida que palpita intensamente dentro de cada átomo e dentro de cada sol.

  Falemos agora sobre o “Oceano do Espírito”. Como pode ser definido? Certamente o Oceano do Espírito é Brahma, que é o primeiro diferencial ou modificação “Daquele” ante o qual deuses e humanos tremem.

  “Aquele” é Espírito? Verdadeiramente digo-lhes que não. É “Aquele” matéria? Certamente digo-lhes que não.

  “Aquele” é a raiz do Espírito e da matéria, mas não é nem Espírito nem matéria.

  “Aquele” está além das leis do número, medida, peso, ambos os lados, quantidade, qualidade, frente, atrás, acima, abaixo, etc.

  “Aquele” é o imutável em profunda abstração divinal. Luz que jamais foi criada por qualquer Deus, nem por qualquer ser humano.

  “Aquele” não tem nome.

  Brahma é Espírito, mas “Aquele” não é Espírito. Ain o Não Manifestado é a Luz Incriada. O Absoluto é vida livre em seu movimento; é a suprema realidade; o espaço abstrato que unicamente se expressa como móvel abstrato absoluto; alegria sem limites; onisciência completa. O Absoluto é Luz Incriada e plenitude perfeita, felicidade absoluta, vida livre em seu movimento, vida sem condições, sem limites.

  No íntimo do Absoluto vamos além do Carma e dos deuses, muito além da Lei, além da mente e da consciência individual que serve unicamente para atormentar nossa vida. No íntimo do Absoluto não temos nem mente individual nem consciência individual. “Lá” somos Seres livres e absolutos, incondicionadamente felizes.

  O Absoluto é vida livre em seu movimento, sem condições, sem limitações, sem medo atormentador da Lei. É vida além do Espírito e da matéria, além do Carma e dor.

“O Absoluto é espaço abstrato absoluto; movimento abstrato absoluto; liberdade absoluta sem condições ou reservas; absoluta onisciência e absoluta felicidade”. – Samael Aun Weor. Tarô e Cabala.

  Então no curso de nossas vidas diárias o que isso significa falando em termos práticos? Do que precisamos como uma habilidade em nossa percepção é aquele conhecimento do que eu estou vendo, do que eu estou experienciando que não é a verdade integral. Não é olharmos para os outros e dizermos: “Oh você é uma ilusão então posso tratá-lo mal”. Sabemos que algumas pessoas interpretam realmente desse modo, mas não é assim. Significa que não estamos vendo tudo. Estamos vendo algo que tem alguma realidade ao seu próprio e relativo nível, havendo mais. Não posso tomar essa coisa como aparenta ser – ilusória – pois que significado isso contém, o que existe em maior profundidade? O que realmente está acontecendo? Nesse aspecto há essa perspectiva inquiridora que é importante.

  7. P. – Podemos também dizer que há um nível de ilusão que seja exatamente qualquer coisa que tenhamos auto criado e realmente não tenha base em qualquer coisa que se sustente? Seja tudo o ego subjetivo? Como minhas pessoais ideias: tudo em minhas próprias fantasias, tudo em meus próprios pensamentos, ou seja, exato tudo completamente construído?

  R. – Sim.

  8. P. – Os níveis mais elevados não são realmente assim; haverá na verdade algo por lá que não seja alguma coisa que eu tenha criado em minha mente, certo? Muito embora não seja objetivamente real não é tão subjetivo que sejam todas essas fantasias que..... O que desejo significar é como, por exemplo, quando eu olho para uma árvore há alguma coisa lá. Porém se eu crio alguma imagem e tenha uma ideia sobre uma falsa árvore que na verdade não existe, isso é exatamente fantasia. Porém há algum tipo de árvore lá mas....

  R. – É relativo ao observador; significa, sim, estamos percebendo a imagem da árvore, mas ela não é tudo por lá, está lá. Nada é o que pensamos que seja; nada é do modo em como percebemos as coisas. Mesmo quando estejamos despertos nos mundos internos, estaremos ainda trabalhando com ilusões em exatos e diferentes níveis.

  9. P. – Não existe um perigo real ao considerarmos que algumas pessoas pensem que todas as coisas de suas fantasias sejam exatamente verdadeiras como tudo mais?

  R. – Naturalmente. Relativo a uma escala. Eis porque a Árvore da Vida é tão importante. O mais próximo do Absoluto que consigamos chegar maior realidade ali será. O mais longe estejamos do Absoluto menos realidade ali será. Daí que nossas percepções são relativas de onde estejamos, de quais sentidos estejamos utilizando e quais sejam as condições de nossa psique e consciência.

  Nosso grau de consciência (nível do Ser) é que determina a realidade que percebemos. Estamos cá em nossos corpos físicos, mas cada um de nós tem seu próprio nível do ser. Aqui provavelmente estamos todos mais ou menos nas mesmas situações uma vez que temos um monte de defeitos e um monte do ego e psicologicamente estamos adormecidos. Se um buda viesse até aqui ele veria exatamente como nós vemos: ou seja, segundo as aparências ele veria como uma pessoa mediana vê. Em nossa situação não teríamos nenhuma pista de que ele seria um buda, uma vez que o perceberíamos do nível do ser de nosso atual estado de consciência. Entretanto ele nos perceberia de seu próprio nível Estaria em seu corpo físico, mas [noutra dimensão] não estaria vendo as coisas do mesmo modo que as vemos. Suas percepções seriam completamente diferentes, de outro nível: mais reais que as nossas. Nesse modo, as percepções são relativas.

  Isso também se aplica a estarmos despertos nos mundos internos. Se estivermos despertos no plano astral e acompanhados por um buda, aquele buda verá mais, e mais acuradamente do que poderíamos. A percepção de um bodhisattva também seria de outro nível, mais elevado, relativo ao seu trabalho psicológico que estaria bem mais desperto que aquele de um buda.  

  A qualidade diferenciada de um bodhisattva é aquela de estar trabalhando no aprendizado de ver duas verdades simultaneamente:

  1. A verdade absoluta (realidade, o vazio)
  2. A verdade convencional (aparências, verdade relativa)

  No modo como um Bodhisattva trabalha através do bhumis (níveis) ele adquire graus de prajna (sabedoria) que correspondem com a trindade superior. Esses graus são de objetiva percepção (raciocínio objetivo), um tipo de entendimento da realidade que é por demais profundo e caracterizado por assombrosa compaixão. Prajna é sabedoria discriminativa capaz de ver duas verdades ao mesmo tempo. Então alguém com esse grau de desenvolvimento veria a realidade convencional que nós vemos, mas veria também o inerente vazio daquilo.

  Um bodhisattva nos vendo pode ver-nos como nós nos vemos e pode ver os véus que nos afligem e a realidade que nós não conseguimos ver. Ainda e muito importante: os bodhisattvas podem ter tanta compaixão que conseguem ver o melhor para nos ajudar. Eis porque bodhisattvas têm habilidades em adentrar e conter indo diretamente ao coração de algo, conquanto eles possuem aquele tipo de percepção.

  Tudo isso nos parece em demasia. Sabemos que a terminologia, as teorias, as estruturas e todo esse tipo de coisa podem parecer assoberbantes. O principal é estar praticando consistentemente. É a coisa mais importante. Praticar muito, praticar, praticar, praticar. Quanto mais trabalhamos na meditação mais claro tudo isso se torna.

  E sabemos que meditação é dureza, pois nossa mente está um caos, e eis porque particularmente é tão importante praticá-la rigorosamente. Lembremos que na parte inicial desse curso falamos sobre nove estágios; e vimos como o monge está perseguindo a mente animal, o quanto o fogo intenso toma dos esforços, quanta energia ele leva e quanto do zelo e entusiasmo necessitamos. Sentimos-nos cansados de início, mas pouco a pouco despendemos cada vez menos esforços e tudo se torna mais e mais natural. Eventualmente quando a prática realmente estiver se tornando mais bem firmada teremos maior flexibilidade; quando corpo e mente em nada mais litiguem será o resultado natural da efetiva prática. Acontecerá tanto quanto persistamos, quanto continuemos e quanto nos mantenhamos revisando a prática – sempre a revisa-la, sempre a estuda-la – sempre verificando onde estamos falhando um pouco, onde estamos nos fazendo de tolos ou trapaceando para então mudarmos essas coisas.

  A prática da meditação não é uma adoção de algo estranho do que somos. Mas é como causar um resultado àquilo que somos. Então não é alguma coisa com o propósito de adicionarmos, de nos confinarmos, mas na verdade é bem o oposto. A prática da meditação é um caminho onde removemos nossas restrições. Então se estivermos sentindo que nossa meditação é por demais dolorosa ou restringente, ou um fardo, então o que precisamos fazer é revisar: esse é o conceito.

  “O infinito é o manancial da alegria. Não há alegria no finito. Somente no infinito está a alegria. Peça para conhecer o infinito” – Chandogya Upanishad 7.23

POR UM INSTRUTOR GNÓSTICO

PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARA: Barriestership10.rssing.com/chan.

  Pensamento do Dia

  “O que realmente conta nesses estudos é a maneira como seres humanos se comportam intima e invisivelmente com um ou com outro”.
 

                                                            Rayom Ra                                                                                                           http://arcadeouro.blogspot.com.br