Dia de Reis. Você sabe o que é isso?
Seis de Janeiro é o “Dia de Reis Magos”, a conhecida Festa de Reis ou, mais tecnicamente, Epifania.
(Epifania do grego “epiphanéia”, podendo ser traduzido literalmente como “manifestação” ou “aparição”, é uma súbita sensação de entendimento ou compreensão da essência de algo.)
Mas, o que exatamente significa essa data e a celebração ligada à ela?
Diz a tradição que foi nesse dia que os Reis Magos viram a Estrela de Belém no céu e foram ao encontro de Jesus que havia nascido há pouco. Segundo a Bíblia, tendo Jesus nascido em Belém, no tempo do Rei Herodes, os Magos do Oriente chegaram a Jerusalém perguntando: “Onde está o Rei dos Judeus, recém-nascido? Vimos sua estrela e viemos adorá-lo”.
“Porém, um Deus ser de todo mundo não era admissível para o povo de Israel. Na época os judeus almejavam um Deus nacional, que fosse apenas deles, e não alguém como Jesus, que vinha para unir todos os povos e crenças, afirma o teólogo.
Entre os orientais a designação “Mago” era dada à classe dos sábios ou eruditos. Ignora-se a proveniência dos Reis Magos, mas supõe-se que fossem da Arábia, tendo em conta os presentes ofertados ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra, isto é, prendas que simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei (soma, psique, nous).
“A Bíblia não diz Reis, ela coloca como os `Magos vindos do Oriente”, e também não diz três, mas como Jesus recebeu três presentes, criou-se a tradição de falar que são três pessoas, cada uma dando um presente”.
Segundo a tradição, um era negro (africano), o outro branco (europeu) e o terceiro moreno (assírio ou persa) e representavam toda a humanidade conhecida daquela época. Quanto aos nomes dos três são suposições sem base histórica ou bíblica. Foi Beda, um cronista inglês que viveu entre 673 e 735 d.C., quem deu nome aos magos: Gaspar, Melchior (ou Belchior) e Baltazar.
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Dia de Reis pelo mundo
“Essa festa se tornou uma grande celebração, por exemplo, na igreja ortodoxa, tanto católica quanto russa. A Festa de Reis é celebrada com mais solenidade inclusive que o Natal”.
Tanto é verdade, que em determinados países você ganha presentes no dia 6 de janeiro. Na Espanha, a data é chamada de Festa de Reis.
Na Itália eles chamam “A festa da Befana”. Befana seria uma velha bruxinha boa que dá presente para as crianças – uma imagem bonita, porque tira aquela ideia da velha bruxa má que pega as crianças.
No Natal, você sente, principalmente na Itália, a valorização do idoso. Essa tradição é seguida até hoje na Itália: ninguém recebe presente no dia 25 de dezembro e, sim, no dia 6 de janeiro. Na Europa inteira é feriado no Dia de Reis.
Existem determinados presépios espalhados pela Europa nos quais os Magos são colocados apenas no dia 6 de janeiro, representando a real chegada à manjedoura e o menino Jesus, ao invés de estar deitado, é trocado por uma imagem de menino maior, e que está sentado no colo da mãe.
Nesses países o período do Natal vai até o batismo de Jesus, é um tempo maior. Mas hoje, com a pressa do mundo, para nós, brasileiros, no dia 1º de janeiro já é Carnaval.
Na Europa, as grandes compras são depois do dia 1º de janeiro, porque os presentes são dados apenas no dia 6. O Brasil segue mais o calendário americano. Dessa forma poderíamos dizer que muito do sentido religioso se paganizou como se fosse uma festa de aniversário sem o aniversariante presente, um casamento sem a noiva. O personagem principal não está.
Além das comemorações descritas acima, neste dia as decorações natalinas são desfeitas. Os enfeites são tirados das árvores, as guirlandas retiradas das portas, os presépios desmontados. Tudo é embalado cuidadosamente pelas famílias à espera do próximo Natal.
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Reisado no Brasil
Apesar de a maioria dos brasileiros não estar tão ligada quanto os europeus à Festa de Reis, inúmeras comunidades, principalmente no interior do Brasil, promovem os chamados Reisados ou Folias de Reis, festas folclóricas que receberam a influência das origens europeias da celebração mas que adotaram formas, cores e significados locais bastantes próprios de nosso povo na expressão que virou parte de nossa cultura.
Os Reisados brasileiros envolvem música, dança, celebração religiosa, orações, com elementos específicos mais marcantes dependendo da região do país, e acrescenta a tradição de que aqueles que recebem a visita do Reisado em suas casas (na realidade, o simbolismo representa a visita dos Reis Magos a Jesus) devem oferecer graciosamente comida a seus integrantes, que realizam toda sua performance de tradição folclórica-religiosa local, enaltecem o hospedeiro, agradecem pela comida e seguem para o próximo destino.
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.Mas, afinal, que estranha estrela seria essa que guiou os Reis Magos?
No final do ano de 1572, o astrônomo dinamarquês Tycho-Brahe descobriu uma estrela muito brilhante na constelação de Cassiopéia. Na verdade, o seu brilho era tanto que o novo astro pode ser visto mesmo à luz do dia, durante quase 20 meses. Mais tarde, esse fenômeno seria batizado de nova e supernova, denominações usadas em Astronomia para designar as estrelas que explodem, aumentando assustadoramente de brilho, e depois de algum tempo quase desaparecem do firmamento.
Contemporâneos de Tycho-Brahe viram no astro a mesma estrela que teria guiado os Magos, enquanto outros afirmavam que o fenômeno anunciava a chegada de um segundo Salvador. Astrônomos encontraram ocorrências de novas na primavera do ano 5 a.C., ano que não está em contradição com o provável nascimento de Jesus, que, segundo os teólogos, deve ter ocorrido entre os anos 5 e 7 a.C. e não no ano 1, como é comum imaginar. A hipótese da nova, ou supernova, encontra adeptos até os dias atuais.
Outra versão proposta pelo filósofo grego Orígenes (que viveu de 183 a 254 d.C.) supõe que o agora conhecido cometa Halley teria sido o astro visto pelos Magos. No entanto, dados apurados junto a registros dos chineses, observadores atentos dos astros celestes, indicam que a possibilidade de o cometa de Halley ser a Estrela de Belém representaria uma diferença de mais de 11 anos em relação à suposta data de nascimento de Jesus.
Alguns acreditam que a visão da estrela pode ter sido consequência de uma conjugação planetária. Este fenômeno ocorre quando dois planetas se movem e ficam próximos um do outro. O resultado visível desse movimento pode ser uma luz intensa. No entanto, os Magos, porque eram sábios, não deveriam deixar-se enganar por esse fenômeno.
Atualmente, ainda não existe nenhum consenso. O astrônomo britânico Patrick Moore, avança mais uma hipótese para o ocorrido. Segundo ele, a luz intensa vista naquelas localidades do Oriente não passou de uma chuva de meteoros.
José Roberto Develar – Professor de Teologia da PUC-Rio