Olorum tudo cria e a tudo gera. Na Sua criação, está Sua estabilidade e nos seres está Sua mobilidade ou evolução incessante. Estabilidade e evolução, eis a sexta irradiação divina que está em tudo e todos, porque é uma qualidade do Divino Criador.
Essa Sua qualidade, Sua estabilidade, proporciona o meio ideal para os seres viverem, e na Sua mobilidade gera os recursos para os seres evoluírem. Sem estabilidade, um ser não evolui, pois tem de tê-la em todos os aspectos de sua vida.
Então Olorum gerou nessa Sua qualidade, uma divindade dual ou de dupla qualidade, tomando-a em si mesma essa Sua qualidade estabilizadora e evolutiva.E surgiu Obaluaiyê, Orixá dual por suas duas qualidades divinas, que rege a evolução dos seres.
Mas essa dupla qualidade está na própria gênese, pois sem estabilidade nada se sustenta e sem transmutação tudo fica paralisado. Obaluaiyê é essa dupla qualidade, que tanto sustenta cada coisa no seu lugar como conduz cada uma a ele.
Ele está no próprio Universo, pois é a estabilidade que sustenta cada corpo celeste no seu devido lugar, como é o movimento da mecânica celeste, que mantém todos os corpos em movimento contínuo.
Por isso Obaluaiyê é passivo na sua qualidade estabilizadora e ativo na sua qualidade mobilizadora.
Obaluaiyê não é Omulu, pois esse Orixá paralisa os processos gené ticos ou a vida dos seres desequilibrados.
Bom, retomando nosso comentário, o fato é que evoluir é crescer mentalmente, é passar de um estágio para outro, é ascender em uma linha de vida de forma contínua e estável. E tudo isso a qualidade dual de Deus proporciona aos processos genéticos e aos seres.
Então surge Obaluaiyê, divindade unigênita gerada nessa qualidade do Divino Criador, que o toma em si mesmo a estabilidade e a mobilidade de tudo o que existe, seja animado ou inanimado.
Então vemos surgir o divino Trono da Evolução, que é em si mesmo essa qualidade dual de Deus.
Por que ela é dual?
Porque ela tanto proporciona a estabilidade quanto o movimento, condições imprescindíveis à evolução da vida.
Obaluaiyê está em todas as outras qualidades divinas como a estabilidade ou a eternidade de cada uma delas e como a mobilidade ou a atuação delas em tudo o que existe.
Ele, por ter sido gerado nessa qualidade dual e por sê-la em si mesmo, também a gera de si, fazendo surgir a hierarquia dos tronos da Evolução, como gera de si, irradiando sua qualidade a tudo e a todos, despertando em cada um essa vontade irresistível de seguir adiante, de alcançar um nível de vida superior, de chegar mais perto de Deus.
Sim, Obaluaiyê, na sua irradiação aceleradora da vida, dos níveis e dos processos genéticos, desperta tudo isso nos seres.
Então ele não é só o Orixá da Cura, mas também do bem-estar, da busca de dias melhores, de melhores condições de vida, etc.
Na Umbanda, Obaluaiyê é evocado como Senhor das Almas, dos meios aceleradores da evolução delas, e todos sentem uma calma e um bem-estar incrível quando um ser natural de Obaluaiyê baixa em um médium e gira no templo, pois ele traz em si a estabilidade, a calmaria, mas também traz a vontade de avançar, de seguir adiante e de ir para mais perto dos Tronos de Deus.
É certo que, por ser uma divindade, nos auxilia em todos os sentidos.
E, se um povo da África o cultuou como o “Deus” da varíola, é porque ele cura mesmo os enfermos.
Essa natureza medicinal de Obaluaiyê tem sido muito evocada na Umbanda e muitos têm sido curados após clamar por sua intercessão em favor dos enfermos.
Obaluaiyê é, também, um Orixá curador. E a Linha das Almas ou Corrente dos Pretos Velhos é regida por ele, que podemos vislumbrar quando conversamos com espíritos dessa corrente: eles nos transmitem paz, confiança e esperança, e quando os deixamos, após consultá-los, temos a impressão de que tudo se transformou e nos sentimos bem.
Obaluaiyê gera de si, e os pretos velhos são os espíritos que captam direto dele suas irradiações, tomando-se, também, irradiadores dessa qualidade divina que estabiliza e transmuta a vida de quem os consultar.
A própria forma dos Pretos-Velhos incorporarem já e um reflexo dessa qualidade dual de Obaluaiyê, diante da qual todos se curvam, se aquietam e evoluem calmamente.
Todo ser natural de Obaluaiyê incorpora curvado e o mesmo acontece com os espíritos que atuam sob sua irradiação divina. O peso que pare cem carregar não é fruto da idade avançada ou velhice, mas é a ação da qualidade estabilizadora desse Orixá, telúrica na estabilidade e aquática na mobilidade.
OBALUAIYÊ É UM ORIXÁ TERRA-ÁGUA.
Terra = estabilidade
Água = mobilidade
Então vemos os Pretos-Velhos caminharem curvados, parecendo cansados. Mas quando se assentam em seus banquinhos para as consultas, aí são vivazes, observadores e sábios, sem deixarem de ser simples.
O modo peculiar que cada linha de Umbanda tem ao incorporar e ao se comunicar com os encarnados, tem a ver com a irradiação do Orixá que a rege, e não com a raça dos espíritos que se manifestam.
Tantas bobagens já foram escritas como sendo conhecimentos acerca dos Orixás e das linhas de Umbanda, que o melhor a fazer é decantar todo esse falso conhecimento e absorver o que temos transmitido via psicografia.
E quem melhor para decantá-los, senão Nanã Buruquê?
Sim, se Obaluaiyê é estabilidade e movimento, Nanã Buruquê é maleabilidade e decantação, pois ela é um Orixá água-terra que polariza com ele, dando origem à irradiação da Evolução.
Nanã Buruquê é cósmica, dual e atua por atração magnética sobre os seres, cuja evolução está paralisada e o emocional está desequilibrado.
Então ela faz com que a evolução do ser seja retomada, decantando-o de todo o negativismo, afixando-o no seu “barro” e deixando-o pronto para a atuação de Obaluaiyê, que o remodelará, o estabilizará e o colocará novamente em movimento ou em uma nova senda evolutiva.
Uma das falhas dos que abordam os Orixás é a mania que têm de achar que um Orixá é um fim em si mesmo e realiza tudo sozinho, dispensando a ação dos outros.
Isso é pura ignorância acerca dos Orixás, pois quando um assume uma ação todos os outros participam, ainda que de forma passiva. Se todos são qualidades divinas, então todos estão presentes em uma ação ativada por um deles.
Mas não é isso que transparece nas lendas e o que vemos é um individualismo pernicioso, contraproducente mesmo. Não é raro um filho deum Orixá achar-se superior aos filhos dos outros Orixás, chegando ao cúmulo de, se um estiver incorporado com o ser natural encantado de Ogum, por exemplo, outros filhos de Ogum não poderem incorporar, porque “Ogum” já está em terra.
Criaram tantos bloqueios contraproducentes, que em alguns casos chegam à beira do contrassenso religioso, muitos acham que incorporam o próprio Orixá Ogum, quando na verdade todos incorporam seres naturais de Ogum, ou de outros Orixás.
Observando com atenção as “verdades” transmitidas de boca em boca, chegamos à conclusão que ou os Orixás se renovavam na Umbanda ou uns poucos se apropriariam dos seus mistérios, e aí, bem diriam que eram os donos deles.
A renovação aconteceu e nenhum Orixá ficou bloqueado pela ação de uns poucos seres possessivos e vaidosos, espalhando horizontalmente o culto a esses mistérios do Criador e da Criação Divina.
Bem, viram como Nanã Buruquê atua?
Se escrevemos sobre ela, imediatamente sua irradiação nos envolve e sua qualidade decantadora começa a fluir nos nossos escritos, apontando os contrassensos praticados pelos que melhor poderiam abordá-los, mas não o fazem, pois os ocultam, os desvirtuam e os humanizam em excesso, atribuindo a eles até os vícios dos seus adoradores desvirtuados e desequilibrados.
Essas nossas colocações críticas sobre o que andam ensinando como conhecimentos sobre os Orixás é uma reação despertada por essa qualidade maleável e decantadora do Divino Criador que gerou nela, Nanã Buruquê, e a tomou em si essa Sua qualidade dual, ativando-a contra todos os conceitos errôneos, tirando deles suas “estabilidades” para, a seguir, decanta-los e enterrá-los no lodo da ignorância humana acerca das coisas divinas.
Nanã Buruquê é unigênita, pois foi gerada nessa qualidade dual do Divino Criador que a tomou sua qualidade, aquela que desfaz os excessos e decanta ou enterra os vícios.
Nanã Buruquê, por ser essa qualidade em si, também a gera em si, multiplicando-se nos seres e repetindo-se na qualidade divina que lhes transmite pela sua hereditariedade divina.
Ela forma com Obaluaiyê um par natural e são os Orixás responsáveis pela evolução dos seres.
Nanã Buruquê é dual porque manifesta duas qualidades ao mesmo tempo. Uma vai dando maleabilidade, desfazendo o que está paralisado ou petrificado, outra vai decantando tudo e todos dos seus vícios, desequilíbrios ou negativismos.
Por essa sua qualidade, ela é a divindade ou o mistério de Deus que atua sobre o espírito que vai reencarnar, pois ela decanta todos os seus sentimentos, mágoas e conceitos, e o adormece para que Obaluaiyê o reduza ao tamanho do feto no útero da mãe que o reconduzira à luz da carne.
Observem que tudo isso acontece com a maioria dos espíritos sem que tenham consciência de que isso está acontecendo, porque, como qualidades de Deus, Nanã Buruquê e Obaluaiyê fazem o que têm de realizar sem que saibamos que, ou como estão atuando sobre nós, sempre visando nosso bem-estar e nossa evolução contínua.
Resumidamente, definimos Obaluaiyê e Nanã Buruquê assim:
- Obaluaiyê, Orixá que rege a evolução dos seres e é o Senhor das Passagens dos estágios e dos Planos da Vida;
- Nanã Buruquê, Orixá que rege sobre a Evolução, decanta os seres de seus vícios e desequilíbrios e os adormece, preparando-os para a reencarnação.