segunda-feira, 2 de abril de 2018

LENDAS DE OSSAIM

Descendo de Orun, Ossain se tornou um Orixá solitário. Enfeitiçou Oxóssi para este morar na floresta consigo. Ensinou os segredos das folhas para Oxóssi, mas, Iemanjá e Ogum (a pedido de sua mãe) recupera o filho do poder de Ossain e deixa este sozinho outra vez. Certo dia, querendo ser conhecedor das plantas que Ossain guardava com tanto afinco em suas cabaças, Xangô pediu à Iansã que esta soprasse um vento bem forte na floresta de Ossain para ele poder recolher as ervas. Iansã por amor a Xangô assim faz. Mas com a quebra das cabaças e as ervas sendo espalhadas todos os Orixás correm para recolher as ervas. Pronunciando uma frase mágica Ossain faz com que as ervas voltem para a sua floresta, ficando cada Orixá com algumas ervas, mas sem o efeito (axé). Ossain então decide que cada Orixá poderá ter o seu Axé das ervas deste que ao recolhê-las peça licensa a ele.

1- OSSAIM RECEBE OS SEGREDOS DAS ERVAS.
"Ossanyin havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Xangô se queixou à sua mulher, Oyá-Yansã, senhora dos ventos, que somente Ossanyin conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir nenhuma planta. Oyá levantou as saias e agitou-as, impetuosamente.
Um vento violento começou a soprar. Ossayin guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de árvore. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e essa tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou: "Ewé O!! Ewé O!!, Oh! as folhas! Oh! as folhas!!" mas não pôde impedir que os deuses as pegassem e as repartissem entre si".
A colheita das folhas deve ser feita com cuidado extremo, sempre em lugar selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins devem ser desprezadas, porque Ossanyin vive na floresta, em companhia de Aroni, um anãozinho, comparável ao Saci-pererê, com uma única perna e, segundo se diz no Brasil, fumando permanenemente um cachimbo feito de casca de caramujo,enfiada numa vara oca e cheia de suas folhas favoritas. Por causa desta união com Aroni, Ossanyin é saudado com a frase seguinte: "Holá! Proprietário-de-uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!", alusão às oferendas de galos e pombos, que possuem duas patas, a Ossanyin-Aroni, que não tem senão uma perna.
Os curandeiros, quando vão recolher plantas para seus trabalhos, devem fazê-lo em estado de pureza, abstendo-se em relações sexuais na noite precedendo e indo à floresta, durante a madrugada, sem dirigir a palavra a ninguém. Além disso, devem ter cuidado em deixar uma oferenda em dinheiro, no chão, logo que cheguem ao local da colheita.
Ossanyin está estreitamente ligado a Orunmila, o senhor das adivinhações. Estas relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram, no passado, períodos de rivalidade. As lendas refletem as lutas de precedência e de prestígio entre adivinhos-babalaôs e curandeiros. Como estas histórias são transmitidas pelos Babalaôs, não é de estranhar que tenham a glorificar mais Otunmila e os adivinhos babalaôs do que Ossanyin e os curandeiros.
Segundo uma lenda recolhida por Bernard Maupil, "assim que Orunmila nasceu, pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado. Era Ossanyin. Na hora de começar seu trabalho, Ossanyin percebeu que ia cortar a erva que curava a febre. E então gritou: "Impossível cortar esta erva, pois é muito útil. A segunda, curava dores de cabeça. Recusou-se, também, a destruí-la. A terceira, suprimia as cólicas. Na verdade, disse ele, não posso arrancar ervas tão necessárias. Orunmila, tomando conhecimento da conduta de seu escravo, demonstrou desejo de ver estas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinham grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então, que Ossanyin ficaria perto dele para explicar-lhe a virtude das plantas, das folhas e das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das consultas".

2-Ossaim era o nome de um escravo que foi vendido a Orunmilá. Um dia ele foi à floresta e lá conheceu Aroni, que sabia tudo sobre as plantas. Aroni, o gnomo de uma perna só, ficou amigo de Ossaim e ensinou-lhe todo o segredo das ervas. Um dia, Orunmilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossaim que roçasse o mato de suas terras. Diante de uma planta que curava dores, Ossaim exclamava: “Esta não pode ser cortada, é a erva que cura as dores”. Diante de uma planta que curava a febre, dizia: “Esta também não, porque refresca o corpo”. E assim por diante.
Orunmilá, que era um babalaô muito procurado por doentes, interessou-se então pelo poder curativo das plantas e ordenou que Ossaim ficasse junto dele nos momentos de consulta, que o ajudasse a curar os enfermos com o uso das ervas miraculosas. E assim Ossaim ajudava Orunmilá a receitar e acabou sendo conhecido como o grande médico que é.
3-
Ossaim, era senhor das folhas, da ciência e das ervas, o Orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os Orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossaim na luta contra a doença. Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios e em troca ele lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febre, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos Orixás. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê Uassá!”. “As folhas funcionam!”
Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder da cura. O Orixá rei, que era um Orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossaim, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu numa euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossaim distribuiu as folhas aos Orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os Orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.