Assim, como os Nagôs ou Yorubas, os Jejes língua Ewe, língua Fon, língua Mina e os Fanti ashantis, formam grupos sudaneses que englobam a África Ocidental hoje denominada de Nigéria, Benin e Togo. Sua entrada no Brasil ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. Ela fundou:
Um templo para Dan; Kwe Ceja Hundê, mais conhecido como o Roça do Ventura ou Pó Zehen (pó zerrêm) em Cachoeira e São Felix
Um templo para Heviossô Zoogodo Bogun Male Hundô Terreiro do Bogum em Salvador
Um templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo Fon.
O templo de Ajunsun-Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em Cachoeira e São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por Cacunda de Ayá. São os Jeje-Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade Savalu na África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos conquistadores do Daomé. O dialeto dos savalus também é o Fon.
No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de Sergio Ferretti. É com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashante fundada por Euclides Menezes Ferreira (Talabian). Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana, inicialmente teria ligações com a Sitio de Pai Adão Nação Nagô-Egbá.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Pó Dabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo, também conhecida como Ontinha de Oiá (Devodê), que por sua vez foi sucedida por Joana da Cruz de Avimadjé, mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha. Os descendentes do Pó Dabá mais ilustres da atualidade são Glorinha Toqüeno, com terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro e Helena de Dã, com terreiro em Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Depois veio Antonio Pinto de Oliveira. Tata Fomutinho que fundou o Kwe Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de Janeiro.
Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô.
Os Voduns no Jeje são basicamente os da Mitologia Ewe e Fon.
Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon.
Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação.
Loko, É o primogênito dos voduns.dono da joia de mahi que e o rungbe
Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
Sakpatá, Vodun da varíola.
Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.
Agbê, Vodun dono dos mares.
Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
Aguê, Vodun que representa a terra firme.
Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.
Fa , Vodun da adivinhação e do destino.
aziri , vodun das aguas doces.
possun , vodun do po e da terra seca representado pelo tigre.
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos “kpamahin”, e alguns animais que são muito importantes para nós.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas excessões, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura. Informação de Doté Dorivaldo.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa é longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetido a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Hierarquia
Bokonon – Sacerdote do Vodun Fa equivalente ao Babalawo
Doté Sacerdotes (homens) e Doné Sacerdotisas (mulheres) esse título é usado no Terreiro do Bogum e casas descendentes.
Vodunsi – após 1 ano da iniciação.
Kajekaji – iniciado que ainda não completou o ciclo de obrigações.
Candomblé de Jeje
Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação.
O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem catorze destes deuses, que eram sete pares de gémeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.
O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina.
Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de iniciação. Os detalhes dos rituais são pouco comentados, não há rituais públicos de iniciação; a cada comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual completo de iniciação. Em geral as Vodunsis dão poucas informações sobre os rituais relacionados com o culto, os segredos são mantidos a sete chaves.
Assim como os Orixás do Batuque, os Voduns incorporados, conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos, deixam recados e mantêm os olhos abertos. È comum no culto jêje fazer provas com os iniciados incorporados com os Voduns, como, por exemplo, mergulhar a mão no azeite de dendê fervendo.
Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte sincretismo prevê, também a instalação de uma pequena capela com altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.
A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas, preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais, comidas, bebidas e outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um “imã” que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o contacto com os voduns dependia muito da vidência das Vodunsis, e a adivinhação era feita através da interpretação dos sonhos, consulta com os Voduns e exame da luz de velas, actualmente é comum o uso dos Búzios para consultar as divindades.
As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em seus rituais alguns orixás nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os Voduns agrupados em famílias como: Dambirá, Davice, Savaluno e Queviossô.
As actividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais reservados aos iniciados, e em festas públicas que duram um, três ou sete dias; no final das obrigações todos comem as comidas preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às divindades.
Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns é chamado Hunkpame, que é o templo onde está dentro a divindade; é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que são responsáveis pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.
No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura Jêje, nota-se a conservação de certas obrigações, à exemplo, nos assentamentos de Ogum Avagã cujas ferramentas usadas são as mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem o uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo dos Voduns, como por exemplo Dã, cujo Orixá de uma famosa Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo Babalorixá de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o assentamento de Sobô; (Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos pais e mães de santos actuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo Vodun com o tempo deixou de existir; mas é certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos aquidavís para percussão dos tambores, o uso do Gã (gonguê) (instrumento de percussão), entre outros fatos reflectem muito os fundamentos do antigo Dahomé.
Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação directa do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante.
O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se incorporado ou associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião do antigo Dahomé, hoje Benin, podem ser detectadas no Batuque do Rio Grande do Sul, principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).
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Apenas faço observação ao termo jeje-nagô utilizado no texto, que achei interessantíssimo, tirado de “Candomblé: o mundo dos Orixás”, que trouxe para vocês, leitores do blog. Em outro post vimos que o império iorubá anexou o povo de Daomé. Veja o mapa do império de Oió no século VXIII. Com essa anexação do território daometano ao ao império iorubá, houve uma grande fusão cultural, com a assimilação de elementos da religião fon ao povo iorubá e vice-versa. Portanto, ao Brasil, quando o povo iorubá chegou escravizado após a decadência de Oió,veio com ele a cultura jeje-nagô. Diz-se que, inclusive, o universalizado uso do kelê era restrito aos rituais a Xangô. Da mesma forma, Nanã (geradora da dicotomia Mawu-Lissa) era uma divindade daometana. Quando os iorubás (que fundaram o candomblé Nagô – e a dissidência Keto) vieram para o Brasil, trouxeram o produto da expansão iorubá na África. A tradição que decorreu da assimilação das divindades nagô pelos jeje foi a nagô-vodum.
Candomblé Jeje
Os voduns são divindades de origem Fon que correspondem aos orixás dos nagôs. Os fons, ao chegarem no Brasil , eram chamados de “Jejes”, implantaram aqui o seu culto, baseado em rica, complexa e elevada mitologia.
Terreiro do Bogum
O Terreiro do Bogum está localizado na Ladeira do Bogum, antiga Manoel do Bonfim, no Bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador , Bahia , Brasil .
O Terreiro de Bogum, de Nação Jeje , é diferente dos outros terreiros de Salvador. Uma das principais diferenças é a língua falada nos rituais. Como explica Jaime Sodré (ogã da casa há 35 anos), a língua falada pelos jeje é o ewé , do povo fon , com tradição ligada ao Benin . A maioria dos candomblés baianos é de tradição nagô e utiliza como língua o iorubá . Além da língua, alguns rituais dos jeje são diferentes. No Terreiro do Bogum não existem orixás , lá se cultuam os voduns e recebem outras denominações.
A missa em homenagem a São Bartolomeu é feita anualmente há 200 anos, tendo-se tornado uma tradição do Terreiro do Bogum.
Zaildes Iracema de Mello, Mãe Índia, é a atual chefe do terreiro, tendo sucedido sua tia Nicinha e sua tia-avó Valentina (Runhó).
Segundo historiadores, foi no local onde está o Bogum que Joaquim Jêje, herói do movimento de insurreição de escravos malês, deixou o bogum (baú) onde estavam os donativos que permitiram a famosa Revolta dos Malês ocorrida em Salvador em janeiro de 1835. Esses escravos sabiam ler e escrever em árabe, tinham grande poder de organização e articulação e pretendiam fundar um “reino africano” em terras brasileiras, mas foram traídos e a “revolução negra-escrava” foi descoberta. O termo “bogum” também pode ser explicado pelo dialeto gun ( http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=GUW ) (dialeto do fon com muitos elementos do iorubá), falado na região de Porto Novo, no Benin, significando “lugar ( ibo ) dos fon ( gun )”. O nome completo do terreiro é Zoogodô Bogum Malê Rundó .
UM RESULMO DO QUE FOI A REVOLTA DOS MALÊS
A Revolta dos Malês
Durante as três primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como dos “malê”, pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe. Sendo a maioria deles composta por ” negros de ganho “, tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda, atacar o quartel que controlava a cidade mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional , pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra .
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
AS ÁGUAS DE OXALÁ
(do livro História de um Terreiro Nagô – Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI – Max Limonad-Joruês Cia Editora)
O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás
As Águas de Oxalá
Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.
Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas.
Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringues, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.
Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d’água, aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué, sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão.
Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência. Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça – são as que têm o orixá feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá (Oriki):
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa ô
Ará mi ko a xekê
Axekê koma do dun ô
Êpa Babá
Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por ele manifestadas e vão até o Balué, que é, como já se viu, onde está o assento do orixá.
Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o sacrifício daquele dia e rogando a Oduduá para abençoar a todos.
Candomblé de Jeje
Março 21, 2011 por Hùngbónò Charles – Ágbájì Dofàmi
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Segundo a história, quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!). Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”. A nação jeje pode ser divididas em vários segmentos dependendo da origem. Assim temos o Jeje-Mahi, o Jeje Dahomey, o Jeje Savalu, o Jeje Modubi, o Tambor de Mina (Jeje Mina) encontrado sobretudo no Maranhão, onde também se encontra o segmento Jeje-Fanti-Ashanti.
Jeje Mahi (Djedje Maxi)
Os mahis cultuam voduns que se relacionam diretamente com os orixás e deles tiveram origem de culto na África, e de sua região mahi. Assim comumente ouvimos “sou de Xangô de um filho de Sógbó”.
Eguns e voduns que tiveram vida terrena como os reais do Dahomey não são cultuados em Mahi, todos os antepassados da casa são reverenciados saudando-se e ofertando-se ao vodun Ayizan, que sempre está a frente da casa principal (Ayizan, que em Mahi, é vista como esposa de Legba e ligada a terra, a morte e aos ancestrais). Os Voduns de Jeje-Mahi são aqueles que assim como os Orixás, não possuem sepultura, são antepassados míticos.
O Vodum que representa a Nação Jeje Mahi é Gbesen (Bessém).
O Jeje-Mahi foi fundamentado no Brasil pela africana Ludovina Pessoa, da cidade de Mahi. Segundo a tradição ela foi escolhida pelos Voduns para fundar três terreiros:
- ou Terreiro do Bogum, para Hevioso.Zòogodo Bogum Malé Hundò
- Zòogodo Bogum Malé Seja Undè ou Kwe Seja Undê para Dan.
- E o outro para Ajunsun Sakpata que não se sabe por que não foi fundado.
o Jeje Modubi tem culto fundamentados para os Akututos (Eguns), segmento onde reina o Vodum Azonsu.
Tambor de Mina
O Tambor de Mina é o nome mais difundido da cultura africana no Maranhão. Mina deriva de negro-Mina de São Jorge da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge da Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.
O Tambor de Mina cultua em grande parte os Voduns reais de Dahomey, alguns nagôs (orixás) e também os Encantados (que seriam os Caboclos).
Hierarquia do candomblé Jeje
No Jeje-Mahi
- Doté é o sacerdote, cargo ilustre do filho de Sogbô
- Doné é a sacerdotisa, cargo feminino, esse título é usado no Terreiro do Bogum onde também são usados os títulos Gaiaku e Mejitó. similar à Iyalorixá
Os vodunsis da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviungo, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné
No Jeje-Mina Casa das Minas
- Toivoduno
- Noche
No Kwé Ceja Houndé
- , cargo exclusivamente femininoGaiaku
- Ekede
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = “altar sagrado” e Gan = “senhor”. O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje.
Origem da palavra JEJE
A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de “Savê” que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.
Origem da palavra DAHOMÉ
A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou “Dan Imé” ou “Dahomé”, ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados: Dan = “serpente sagrada” e Homé = “a terra de Dan”, ou seja, Dahomé = “a terra da serpente sagrada”. Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio descendo do Egito até Dahomé.
Dialetos falados
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística – muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas – Gans ou Agonis, Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua.
Os primeiros no Brasil
Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura.
Classificação dos Voduns Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas.
Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer “esteira”, em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que englobam o Mahin e também outras famílias Jeje.
Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados.
Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe = “casa”. A casa matricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer “fazenda” na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a “sacerdotisa” é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno.
Os fundadores
Voltando a falar sobre “Kwe Ceja Undé”, esta casa como é chamada em Cachoeira de São Félix de “Roça de Baixo” foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.
Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada de Pozerren, que vem de Kipó, “pantera”.
Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiro Pejigan da roça; e Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú.
A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser “Irmã de santo” de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de Souza, vem a ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undé.
Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com Maria Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi.
Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdade vem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer “transmissão de segredo”. Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da nação Jeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter havido “Pai de santo”. O cargo de sacerdotisa ou “Mãe de santo” era exclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser Gaiacús.
Ogans
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = “altar sagrado” e Gan = “senhor”. O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.
Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.
Mina Jeje
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular de Benin.
A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns e,principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada.
Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida.
Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:
*Ayzan – Vodun da nata da terra
*Sogbô – Vodun do trovão da família de Heviosso
*Aguê – Vodun da folhagem
*Loko – Vodun do tempo
Curiosidades
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi D.Adelaide Santos
*Ekede – termo Jeje
*Done – cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá
*Doté – cargo ilustre do filho de Sogbô
Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné.
Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria “Megitó Benoí?” Resposta: “Benoí”; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao?” Resposta: “Aótin”.
O termo usado “Okolofé”, cuja resposta é “Olorun Kolofé” vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.
Algumas palavras do dialeto ewe:
*esin = água
*atinçá = árvore
*agrusa = porco
*kpo = pote
*zó ou izó = fogo
*avun = cachorro
*nivu = bezerro
*bakuxé = parto de barro
*kuentó = kuentó
*yan = fio de contas
*vodun-se = filho do vodun ou iniciados da Nação Jeje
*yawo = filho do vodun ou iniciados da Nação Ketu
*muzenza = filho do vodun ou iniciados da Nação Angola
*tó = banho
*zandro = cerimônia Jeje
*sidagã = auxiliar da Dagã na Cerimônia a Legba
*zerrin = ritual fúnebre Jeje
*sarapocã = cerimônia feita 07(sete) dias antes da festa pública de apresentação do(a) iniciado(a) no Jeje
*sabaji = quarto sagrado onde fica os assentos dos Voduns
*runjebe = colar de contas usado após 07(sete) anos de iniciação
*runbono = primeiro filho iniciado na Casa Jeje
*rundeme = quarto onde fica os Voduns
*ronco = quarto sagrado de iniciação
*bejereçu = cerimônia de matança
Esta é uma homenagem a todos os povos Jejes.
Arró-bo-boí!
A INFLUÊNCIA DAS PALAVRAS JEJE NA CULTURA AFRO-BRASILEIRA
A cultura Jeje vinda do Antigo Dahomé, que antes abrangia o Togo e fazia fronteira com o país de Gana é, sem dúvida, uma das maiores contribuições culturais deixada pelos negros fons no Brasil.
Estes povos Adjejes, como eram chamados pelos yorubás, estabeleceram fundamentos nos seguintes lugares: Cachoeira de São Félix, na Bahia; Recife, em Pernambuco e São Luís, no Maranhão. Houve durante um período uma influência da cultura yorubá, daí essa mistura passar a ser chamada de: Cultura Jeje-Nagô. Essa mistura, como expliquei, adveio principalmente dos yorubás com várias tribos Jejes. Dentre elas destacaram-se: tribo Gan, Fanti, Axanti, Mina e Mahin. Estes últimos, ou mahins, tiveram maior destaque sobre as demais culturas Jeje, no Brasil.
Estes negros falavam o dialeto ewe que, por ser marcante, influenciou por demais a cultura yorubá e também a cultura bantu. Como exemplo, cito os nomes que compõem um barco de yawo: Dofono, Dofonitin, Fomo, Fomutin, Gamu, Gamutin e Vimu, Vimutin.
Outras palavras Jeje foram incorporadas não só na cultura afro-brasileira como também no nosso dia-a-dia, como por exemplo: Acassá, “faca” que no original ewe é escrita com “K” ao invés de “C”. Outra palavra Jeje que ficou no nosso cotidiano foi a palavra “tijolo” que em ewe é Tijoló.
A TRADIÇÃO JEJE:
O VODUN JEJE SOGBÔ E A PROVA DE ZO
A tradição dos povos fons que aqui no Brasil foram chamados de Adjeje ou Jeje pelos yorubás, requer um longo confinamento quando na época de iniciação. Essa tradição Jeje exigia de 06 (seis) meses ou até 01 (um) ano de reclusão, de modo que o novo vodun-se aprendesse as tradições dos voduns: como cultuá-los, manter os espaços sagrados, cuidar das árvores, saber dançar, cantar, preparar as comidas e um artesanato básico necessário a implementos materiais dos diferentes assentos, ferramentas e símbolos necessários ao culto.
Para os povos Jeje, os voduns são serpentes que tem origem no fogo, na água, na terra, no ar e ainda tem origem na vida e na morte. Portanto, a divindade patrona desse culto é Dan ou a “Serpente Sagrada”.
Como disse, para o povo Jeje os Voduns são serpentes sagradas e sendo as matas, os rios, as florestas o habitat natural das cobras e dos próprios voduns. O ritual Jeje depende de muito verde, grandes árvores pois muitos voduns tem seus assentos nos pés destas árvores.
Outra particulariedade deste culto é de que quando as vodun-ses estão em transe ou incorporadas com seu vodun: os olhos permanecem abertos, ou seja, os voduns Jeje abrem os olhos, diferente dos orixás dos yorubás, que mantem os olhos sempre fechados.
É comum no culto Jeje provar o poder dos Voduns quando estes estão incorporados em seus iniciados. Uma destas provas é a prova chamada Prova do Zô ou Prova do Fogo do vodun Sogbô, que governa as larvas vulcânicas e é irmão de Badé e Acorombé, que comandam os raios e trovões.
A seguir, descrevo uma Prova do Zô feita com uma vodun-se feita para Sogbô, um vodun que assemelha-se ao Xangô do Yorubás:
Num determinado momento entra no salão uma panela de barro, fumegante, exalando cheiro forte de dendê borbulhante, contendo dentro alguns pedaços de ave sacrificada para o vodun. Sogbô adentra o salão com fúria de um raio, os olhos bem abertos (que como expliquei é costume dos voduns) e tomando a iniciativa vai até a panela, onde mergulha as mãos por algum tempo. Em seguida, exibe para todos os pedaços da ave. É um momento de profunda emoção gerando grande comoção por parte dos outros iniciados que respondem aquele ato entrando em estado de transe com seus voduns.
NANÃ
Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: “Respeitável Senhora”.
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral. Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar lâminas em seu culto.
BECÉM
O culto à serpente remonta desde o início dos séculos. Os romanos e os gregos já prestavam culto à cobra, sendo os povos que mais difundiram em séculos passados este culto.
No Egito, a serpente era venerada e encarregada de proteger locais e moradias. Cleópatra era uma sacerdotisa do culto à serpente. Todos os seus pertences e adornos eram em formatos de cobras e similares. Este culto correu através do Rio Nilo as diversas regiões africanas.
No Antigo Dahomé, este culto se intensificou e lá Dan, como é chamada a Serpente Sagrada, transformou-se no maior símbolo de culto daquele povo, também sendo chamado pelo nome de vodun-becém. Já os yorubás chamaram esta mesma entidade de Oxumare ou a Cobra Arco-íris; e os negros Bantos, de Angôro.
Na verdade, aí falamos de uma só divindade com vários nomes dependendo da região em que é cultuada.
Mas, Oxumare, como é mais popularmente conhecido no Brasil, é o Orixá que determina o movimento contínuo, simbolizado pela serpente que morde a própria cauda e enrola-se em volta da terra para impedí-la de se desgovernar. Se Oxumare perder-se a força, a Terra vagaria solta pelo espaço em uma rota a seguir, sendo o fim do nosso Planeta.
É o orixá da riqueza, um dos benefícios mais apreciados não só pelos yorubás como por todos os povos da terra.
Arró-bo-boí!
OFERENDA À BECÉM PARA PROSPERIDADE
Em tempos difíceis, um dos voduns que não pode deixar de ser cultuado é Becém, pois este vodun é o Deus do movimento. Na nação de Ketu, este vodun é assimilado ao Orixá Oxumarê.
Os ingredientes necessários para a comida ou oferenda à Becém, para prosperidade são:
*01 travessa média de barro
*300g de batata doce
*½ k de canjica
*14 moedas correntes
*14 folhas de louro
*14 búzios abertos
*01 colher de açúcar cristal
Como fazer:
*Cozinhar bem a canjica e colocá-la na travessa
*Cozinhar as batatas doces, retirar as cascas e amassá-las bem. Modelar duas cobras de batata doce e colocá-las em cima desta canjica
*Enfiar as folhas de louro nos cantos, em volta da canjica. (Observação: para cada folha, uma moeda e um búzio aberto até completar as 14 folhas, 14 moedas e 14 búzios)
*Espalhar o açúcar cristal por cima de toda esta oferenda e oferecê-la à Becém, em baixo de uma árvore bonita e frondosa com 14 velas em volta, acesas.
Certamente, Sr Acolo Becém irá trazer muita prosperidade para vocês!
AJOIÉ E EKEDI
A palavra “ajoié” é correspondente feminino de ogan pois, a palavra ekedi, ou ekejí, vem do dialeto ewe, falado pelos negros fons ou Jeje.
Portanto, o correspondente yorubá de ekedi é ajoié, onde a palavra ajoié significa “mãe que o orixá escolheu e confirmou”.
Assim como os demais oloyés, uma ajoié tem o direito a uma cadeira no barracão. Deve ser sempre chamada de “mãe”, por todos os componentes da casa de orixá, devendo-se trocar com ela pedidos de bençãos. Os comportamentos determinados para os ogans devem ser seguidos pelas ajoiés.
Em dias de festa, uma ajoié deverá vestir-se com seus trajes rituais, seus fios de contas, um ojá na cabeça e trazendo no ombro sua inseparável toalha, sua principal ferramenta de trabalho no barracão e também símbolo do óyé, ou cargo que ocupa.
A toalha de uma ajoié destina-se, entre outras coisas, a enxugar o rosto dos omo-orixás manifestados. Uma ajoié ainda é responsável pela arrumação e organização das roupas que vestirão os omo-orixás nos dias de festas, como também, pelos ojás que enfeitarão várias partes do barracão nestes dias.
Mas, a tarefa de uma ajoié não se restringe apenas a cuidar dos orixás, roupas e outras coisas. Uma ajoié também é porta-voz do orixá em terra. É ela que em muitas das vezes transmite ao Babalorixá ou Yalorixá o recado deixado pelo próprio orixá da casa.
No Candomblé do Engenho Velho ou Casa Branca, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de “Iyárobá”. Já na Nação de Angola, é chamada de “makota de angúzo”. Mas, como relatei anteriormente, “ekedi” é nome de origem Jeje mas, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil, seja qual for a Nação.
OS ODÙS NA CULTURA JEJE
Um Babalawo, ou Pai dos segredos (awô) é muito respeitado pela cultura yorubá.
O Babalawo, como o nome diz, é o conhecedor de todos os mistérios e segredos no culto à Orunmilá, sendo portanto sacerdote de ifá. Somente o Babalawo pode manipular o Rosário de ifá que em yorubá recebe o nome de opele-ifá e em ewe, língua da cultura fon ou Jeje tem o nome de agú-magá. Ainda na cultura Jeje, ifá é chamado de Vodun-fá ou Deus do destino e o Babalawo é denominado de Bokunó. Mas, nas duas culturas, tanto o Babalawo dos yorubás quanto o Bokunó dos fons precisam de uma divindade que interprete as caídas do jogo à ifá.
Quem seria essa divindade? Para os yorubás, essa divindade que auxilia o Babalawo a interpretar as caídas do jogo-a-ifá tem o nome de Exu e para os ewes ou fons da cultura Jeje essa mesma divindade é chamada de Legba, que em ewe significa: “Divino esperto”.
Como podemos observar, nas duas culturas o culto à ifá é uma constante na vida destes povos, pois tanto na Nigéria como no antigo Dahomé, o destino individual ou coletivo é motivo de muita atenção(Destino que em yorubá se chama odù e em ewe-fon, aírun-ê), pois os povos Jejes também cultuavam os odùs ou aírun-ê.
Abaixo, encontram-se divulgados alguns nomes dos odùs, em ewe-fon:
*ogudá ou obéogunda em yorubá
*lossô ou yorossun em yorubá
*ruolin ou warin em yorubá
*sá ou ossá em yorubá
Candomblé de Jeje
Assim, como os Nagôs ou Yorubas, os Jejes língua Ewe, língua Fon, língua Mina e os Fanti ashantis, formam grupos sudaneses que englobam a África Ocidental hoje denominada de Nigéria, Benin e Togo. Sua entrada no Brasil ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. Ela fundou:
Um templo para Dan; Kwe Ceja Hundê, mais conhecido como o Roça do Ventura ou Pó Zehen (pó zerrêm) em Cachoeira e São Felix
Um templo para Heviossô Zoogodo Bogun Male Hundô Terreiro do Bogum em Salvador
Um templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo Fon.
O templo de Ajunsun-Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em Cachoeira e São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por Cacunda de Ayá. São os Jeje-Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade Savalu na África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos conquistadores do Daomé. O dialeto dos savalus também é o Fon.
No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de Sergio Ferretti. É com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashante fundada por Euclides Menezes Ferreira (Talabian). Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana, inicialmente teria ligações com a Sitio de Pai Adão Nação Nagô-Egbá.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Pó Dabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo, também conhecida como Ontinha de Oiá (Devodê), que por sua vez foi sucedida por Joana da Cruz de Avimadjé, mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha. Os descendentes do Pó Dabá mais ilustres da atualidade são Glorinha Toqüeno, com terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro e Helena de Dã, com terreiro em Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Depois veio Antonio Pinto de Oliveira. Tata Fomutinho que fundou o Kwe Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de Janeiro.
Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô.
Os Voduns no Jeje são basicamente os da Mitologia Ewe e Fon.
Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon.
Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação.
Loko, É o primogênito dos voduns.dono da joia de mahi que e o rungbe
Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
Sakpatá, Vodun da varíola.
Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.
Agbê, Vodun dono dos mares.
Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
Aguê, Vodun que representa a terra firme.
Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.
Fa , Vodun da adivinhação e do destino.
aziri , vodun das aguas doces.
possun , vodun do po e da terra seca representado pelo tigre.
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos “kpamahin”, e alguns animais que são muito importantes para nós.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em, um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas excessões, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura. Informação de Doté Dorivaldo.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa é longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetido a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Hierarquia
Bokonon – Sacerdote do Vodun Fa equivalente ao Babalawo
Doté Sacerdotes (homens) e Doné Sacerdotisas (mulheres) esse título é usado no Terreiro do Bogum e casas descendentes.
Vodunsi – após 1 ano da iniciação.
Kajekaji – iniciado que ainda não completou o ciclo de obrigações.