terça-feira, 7 de outubro de 2025

Yèyé Ópàrà: A Oxum Guerreira que Dança com o Vento e o Sangue

 

Yèyé Ópàrà: A Oxum Guerreira que Dança com o Vento e o Sangue



Yèyé Ópàrà: A Oxum Guerreira que Dança com o Vento e o Sangue

Entre os muitos caminhos de Oxum, há um que se destaca pela força, pela dualidade e pela coragem: Yèyé Ópàrà — a Oxum jovem, guerreira, portadora de armas e senhora dos encontros turbulentos das águas.

Diferente das Oxuns associadas à doçura dos rios calmos, Ópàrà habita os lugares onde as águas se chocam: na pororoca, nos encontros de rios, nas correntezas que anunciam transformação. Ela não foge do conflito — ela o comanda.

Ela carrega duas armas sagradas:

  • O abèbè, leque ritual que cega os inimigos na guerra espiritual;
  • Uma adaga, símbolo de sua capacidade de cortar ilusões e defender seu povo.

Mas o que torna Ópàrà única é sua dupla natureza:
Ela pertence a dois dos quatro elementos primordiais da criação:

  • Água, herdada de Oxum — fonte de beleza, intuição, magnetismo e riqueza;
  • Ar, herdado de Oyá (Iansã) — fonte de movimento, liberdade, intelecto e transformação.

Por isso, suas filhas oscilam entre dois arquétipos: ora são doces, sensíveis e generosas como Oxum; ora são impetuosas, diretas e intensas como Oyá.


O Arquétipo das Filhas de Yèyé Ópàrà

Características positivas:

  • Autênticas, de personalidade forte e opinião formada;
  • Profundamente espirituais, com afinidade natural pelo ocultismo;
  • Justas, ponderadas e leais — mesmo quando a verdade dói;
  • Generosas: adoram presentear e cuidar dos que amam;
  • Vaidosas, mas sem egoísmo — sua beleza é oferenda, não armadilha.

Desafios (características negativas):

  • Podem ser dramáticas, chantagistas emocionais ou ciumentas;
  • Tendem à crítica excessiva e ao julgamento alheio;
  • Possessivas, autoritárias e, às vezes, matreiras;
  • Gostam de “dar palpite” nos problemas dos outros — nem sempre bem-vindos.

Mas tudo isso vem de um lugar: a luta constante entre dois mundos dentro de si — a serenidade da água e a fúria do vento.


O Itã Sagrado: Como Oxum Ópàrà Nasceu Guerreira

Conta-se nos Itãs do Ígba Nigeriano que, certa vez, Oxum, em sua forma mais soberana e individualista, desejava criar suas próprias joias e armas — mas Ogum Alabèdè, o ferreiro celeste e senhor dos metais, estava sempre ausente, guerreando mundo afora.

Furiosa por não ser atendida, Oxum tramou um plano.

Certo dia, Ogum retornava da batalha coberto de sangue humano (asó èjé), quase perdido na loucura da guerra. Ao passar por um rio, ouviu uma voz suave chamá-lo:

Ogum… venha até minhas águas. Deixe-me aliviar-te deste manto de sangue que te consome.

Era Oxum, em toda sua sedução. Com palavras doces e águas cristalinas, convidou o guerreiro a se banhar. Ogum, encantado, cedeu. Ao tocar a água, foi envolto por um redemoinho luminoso — as gotas, banhadas pelo sol poente, refletiam como ouro líquido.

Naquele encontro de fogo, sangue, água e luz, nasceu uma aliança profunda: sexo, amor, poder e magia se fundiram.

Naquele instante, Oxum absorveu parte do axé guerreiro de Ogum — e foi fecundada.

Nove luas depois, deu à luz um menino: Ogum Waris, o Senhor dos Metais Amarelos. Criou-o com luxo, joias e ensinamentos, tornando-o um grande ferreiro em seu próprio palácio.

Quando Waris cresceu, Oxum, agora Ópàrà — “Aquela que sustenta o sangue no corpo” — decidiu apresentá-lo ao pai. Chegou à cidade de Irê dançando, sacudindo seus idés, erguendo seu abèbè e sua espada, cantando:

Yèyé ô murêjô, jinguelê, jinguelê murêjô!
Yèyé ô murêjô, jinguelê, jinguelê murêjô!

Ogum Alabèdè, surpreso, perguntou o motivo daquela entrada triunfal. Com ironia e dignidade, Oxum respondeu:

Lembras-te de como me fizeste correr atrás de teus serviços e não me respondeste? Pois bem… daquela tarde nasceu teu filho, Ogum Waris. Ele é meu ferreiro agora. Não preciso mais de ti.

Reconhecendo o filho, Ogum aceitou a verdade. E Oxum Ópàrà, vitoriosa, voltou para seu reino — não como escrava do desejo alheio, mas como rainha de seu próprio poder.


Por Que Assentar Ópàrà com Oyá, Ogum e Exu?

Porque Ópàrà é ponte:

  • Ogum lhe deu o fogo do metal e a força da guerra;
  • Oyá lhe deu o vento que move o fogo e transforma a alma;
  • Exu abre os caminhos entre esses mundos — sem ele, a aliança não se realiza.

Assim, não se assenta Yèyé Ópàrà sozinha. Ela é aliança viva entre água, ar, fogo e encruzilhada.


🌊 Como Montar seu Altar para Yèyé Ópàrà

Yèyé Ópàrà é Oxum guerreira, que une água e ar, beleza e poder, sedução e justiça. Seu altar reflete essa dualidade: elegância + força.

📍 Local do Altar

  • Escolha um local limpo, tranquilo e elevado (nunca no chão).
  • Pode ser em um quarto, sala ou varanda coberta.
  • Evite banheiros, cozinhas ou locais de passagem constante.

🎨 Cores Principais

  • Amarelo-ouro (riqueza, Oxum)
  • Vermelho-escarlate (sangue, guerra, Oyá)
  • Branco-perolado (pureza espiritual)

🕯️ Itens Essenciais do Altar

  1. Vaso de barro ou cristal com água fresca (renovar diariamente)
  2. Espelho redondo (símbolo de Oxum – coloque no centro)
  3. Abèbè (leque ritual) – pode ser de metal dourado ou feito com penas
  4. Adaga simbólica (não precisa ser afiada – pode ser de madeira ou metal decorativo)
  5. Moedas de ouro ou douradas (5, 7 ou 9)
  6. Pano de seda amarela com detalhes vermelhos
  7. Vela amarela e vela vermelha (acender conforme a necessidade)
  8. Estátua ou imagem de Oxum com traços guerreiros (com espada, coroa, idés)
  9. Oferecimento simbólico a Oyá, Ogum e Exu (em pequenos recipientes separados, ao lado ou abaixo do altar principal)

💡 Dica: Coloque uma miniatura de redemoinho (pode ser um vaso com água e glitter dourado) para representar a fusão entre água (Oxum) e vento (Oyá).


🌹 Oferendas e Magias para Situações Específicas

1. Para Atrair Riqueza com Força e Independência

(Ideal para empreendedoras, artistas, mulheres que querem autonomia financeira)

  • Oferenda:

    • 7 moedas douradas
    • Mel puro
    • Coco verde partido ao meio
    • Pétalas de rosa amarela
    • Um fio de contas douradas
  • Como ofertar:
    Coloque tudo em uma bandeja dourada ou prato branco. Deixe no altar por 24h. Depois, leve ao ponto de água corrente (rio, cachoeira) ou enterre em local limpo, sob uma árvore frutífera.
    Não jogue em lixo comum.

  • Pedido:

    “Yèyé Ópàrà, me dê riqueza que não depende de ninguém. Que meu ouro venha do meu suor, da minha inteligência e do meu axé. Que eu seja soberana do meu destino.”


2. Para Proteção em Conflitos ou Processos Jurídicos

(Justiça, disputas, defesa espiritual)

  • Oferenda:

    • 1 vela vermelha
    • Água de rosas + mel
    • Sal grosso (1 colher)
    • Uma adaga simbólica envolta em pano vermelho
  • Ritual:
    Acenda a vela vermelha. Passe a adaga (simbólica) na fumaça da vela, dizendo:

    “Ópàrà, corta minhas amarras. Cega meus inimigos com teu abèbè. Que minha causa seja justa e minha vitória, certa.”

    Deixe a vela queimar por completo. Enterre os restos com sal grosso em cruz.

⚖️ Importante: Combine com oferenda a Xangô (justiça) e Ogum (guerra justa).


3. Para Equilibrar Emoção e Ação

(Quando você se sente dividida entre o coração e a razão)

  • Banho de Axé:
    Ingredientes:

    • 1 punhado de alfavaca-cravo (para Oxum)
    • 1 punhado de alecrim (para clareza)
    • 7 pétalas de rosa amarela
    • 1 colher de mel
    • Água de nascente ou filtrada

    Ferva as ervas, coe, acrescente o mel. Tome banho normal e jogue esta mistura do pescoço para baixo, sempre após o pôr do sol.

  • Meditação no altar:
    Acenda vela amarela e vermelha. Sente-se em silêncio e diga:

    “Água que acalma, vento que move — ensinem-me a fluir sem me perder. Que minha beleza não me enfraqueça, e minha força não me endureça.”


4. Para Despertar o Poder Interior (Rituais de Autoiniciação Simbólica)

  • Ofereça:

    • Um espelho pequeno
    • 1 vela dourada
    • Uma flor de lótus ou lírio amarelo
  • Ritual:
    À meia-noite de lua crescente, acenda a vela diante do espelho. Olhe nos seus próprios olhos e diga:

    “Yèyé Ópàrà, revela-me minha face guerreira. Que eu veja em mim a rainha e a tempestade.”

    Deixe a vela queimar. Guarde o espelho como talismã.


🔥 Magias com Cuidado: O Que Evitar

  • Nunca use sangue, ossos ou elementos proibidos sem orientação de um sacerdote.
  • Não misture tradições (ex: velas de Oxum com símbolos de outras religiões) sem entender os fundamentos.
  • Nunca faça magia para prejudicar — Yèyé Ópàrà é justa, não vingativa. O desequilíbrio volta em triplo.

“Yèyé Ópàrà, que minha água seja profunda, meu vento, livre, meu ouro, justo, e minha espada, sempre em nome da verdade.”

Eparrei Yèyé Ópàrà! Odô Iyá! Odô Oxum!

— Texto inspirado no Ígba Nigeriano
— Com respeito às tradições Yorubá, Candomblé e Umbanda


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*YÈYÉ ÓPÀRÀ*

O caminho desta Oxum se difere das demais oxuns por ser a mais jovial, a mais guerreira, também por usar duas armas o abebe, que cega os inimigos na hora da guerra e a adaga.

Onde houver a disputa entre as águas, como na pororoca, nos encontros dos rios... lá vai estar essa oxum.

Não se assenta essa oxum sem que se assente Oya, Ogum e Exu, logo abaixo vou trazer as iton que justificam.

Ela pertence a dois, dos quatros elementos básicos da criação do universo:( terra, água fogo e ar ), nela está presente o elemento água, o que confere em suas filhas o arquétipo de Oxum e também o elemento ás, o que confere a personalidade do orixá do elemento ar, Oya.

O Arquétipo das filhas de Opara:

Ora apresenta o arquétipo do elemento ar ( Iansã) ora do elemento água 9 da própria oxum )

Suas filhas são autenticas e de personalidade forte, carregam consigo as magoas e tristezas da vida, tem poucos amigos e sempre são ponderadas e justas, onde muitas vezes a sua sinceridade chega a machucar. São vaidosas porém não vivem em pró a seu ego. Tem um lado espiritual muito aflorado para o ocultismo e adoram presentear as pessoas.
Características Negativas: chantagistas, choram para ter a piedade dos outros, dramáticos, são matreiros, debochados, possessivos, exigentes, ciumentos, autoritários. Gostam de palpitar sobre os problemas alheios, adoram criticar.

ITAN

Uma das ligações entre Oxum Opara e os caminhos Alagbede e Waris podemos encontrar nesta LENDA
Oxum Opara inventa a jóia:

Diz à lenda que OSUN individualista, tinha que ser soberana e tirar proveito em tudo, com isso ALÁBÈDÉ (Deus da Guerra e da Forja – Ferreiro do Céu), que muitas vezes não eram concretizados, pois OGUN além da forja, guerreava mundo a fora. Com isso, OGUN não dava conta de confeccionar tudo que a Deusa desejava. Furiosa...
OSUN decide se vingar:
Um dia OGUN ALÁBÈDÉ retornava da guerra com o corpo totalmente lavado de sangue(EJÉ) humano, isso estava levando-o a loucura, sua razão não mais existia, seu reconhecimento falho, foi quando ele passando próximo de um rio, e é chamado por uma Senhora.
Era OSUN...
- OGUN...(chama OSUN), venha até minhas águas para que eu te alivie deste Asó Ejé (roupa de sangue) que vos deixa tão mal.
-Venha a mim senhor da Guerra, deixe minhas águas te tocar...

O interesse de OSUN era conquistar OGUN, no intuito de conseguir o segredo de manipular os metais para a confecção de suas jóias e armas. Tendo este conhecimento a mesma não iria precisar mais dos serviços do Senhor da Guerra e dos Metais.
-Quem sois bela ninfa, o que queres do mim o Grande Guerreiro? Por acaso acha que devo me banhar? Não lhe agrado assim com todo meu asé exposto? O que vês é o que sobrou de meus inimigos! Não sirvo para seu deleite estando vitorioso?
Sutilmente a Senhora das Águas rebate as palavras do Grande Orisá primordial:
-Sou OSUN, Grande Guerreiro... Deforma alguma meu Senhor...., como é que posso me deleitar com sua vitória se tu encontra-se tão longe de mim, não ha lugar melhor do que minhas águas para nosso colóquio...
-Venha, OGUN, venha...
-Venha ver o que de bom tem minhas Águas.
Enfeitiçado pelos encantos de OSUN, OGUN se aproxima das águas límpidas, arfante, olhos esgazeados, vacilava...
- Venha OGUN... Torna OSUN, toque um pouco em minhas águas e verás que está o seu gosto.
OGUN então deixa a ponta de seus pés tocarem as águas, e com um comando de OSUN esta se levanta, como um chafariz, elevando OGUN nas alturas e o lavando de todo o sangue que trazia no corpo...
O Sol, já iniciava sua jornada de repouso, mas seus raios refletiam, sobre OGUN sendo almejava pelas gotículas de água que o envolvia, OGUN então se deixa dominar, pela força da luz do sol daquela tarde, em contra partida as águas do rio que estavam vermelhas, estando também banhadas pelas luzes do Sol, OSUN então encanta e domina OGUN, iniciando um grande laço de sangue, sexo, amor e sedução.

Aproveitando a situação OSUN absorve parte do asé guerreiro de OGUN, e neste instante em que a natureza se encarrega de fazer a sua função unindo a força de ambos que se fundia, situação esta que fez OSUN ser fecundada por OGUN ALÁBÈDÉ. Terminado o ato, OGUN ALÁBÈDÉ segue a estrada rumo a cidade de Irê. Assim a Senhora das Águas calmas recebe o título de Guerreira sob o nome de OSUN OPÁÀRÁ que significa: "Aquela que sustenta (Opá ) o sangue no corpo ( àrá )”.

Passada as nove luas, OSUN OPÁÀRÁ dá a luz a um menino e da lhe o nome de OGUN WARI (o Senhor dos Metais Amarelos). OSUN criou OGUN WARI cercado de mimo, vaidade, jóias e muito luxo. Já adolescente OGUN WARI começa a dar sinais de interesse em manipular os metais, herança genética de seu Pai OGUN ALÁBÈDÉ. OSUN percebendo tal situação começa a estimular cada vez mais OGUN WARI, dando-lhe “toneladas” de ouro, em que o mesmo derretia e transformava em lindas jóias e armas. Tornando-o Grande Ferreiro do Palácio de OSUN. Deslumbrada com tal fato OSUN se sente satisfeita e vingada de OGUN ALÁBÈDÉ e decide levar OGUN WARI até a cidade de Irê para apresentá-lo a seu Pai. Chegando em Irê OSUN adentra a cidade cantando e dançando a seguinte cantiga:

YEYÊ O MUREJÔ, JINGUELÊ, JINGUELÊ MUREJÔ...
YEYÊ O MUREJÔ, JINGUELÊ, JINGUELÊ MUREJÔ...
Dançando, sacudindo, e batendo seus idés, erguendo seu abèbé e sua espada OSUN se apresenta, assustado e sem entender nada OGUN ALÁBÈDÉ se aproxima e pergunta a OSUN o por que de tal afronta. Ironicamente OSUN responde, lembra-te OGUN ALÁBÈDÉ o quanto me humilhei e corri atrás de seus serviços e não fui respondida, pois bem, depois daquela tarde maravilhosa que tivemos, descobri que tinha sido agraciada e que eu esperava um filho teu, chamado de OGUN WARI, que nasceu, esta sendo criado em minha cidade e lá permanecerá.

Em seguida OSUN OPÁÀRÁ chama seu filho OGUN WARI e lhe apresenta a seu pai. OGUN ALÁBÈDÉ reconhece seu filho. Daí OSUN OPÁÀRÁ se vira para OGUN WARI e diz: - Vamos embora meu filho, não temos mais nada para fazer aqui. Logo OSUN OPÁÀRÁ agradece OGUN ALÁBÈDÉ por ter dado a ela
um filho com os mesmos dotes de seu Pai e que graças a isso ela não precisaria mais dele. OGUN ALÁBÈDÉ seguiu em direção a sua casa. OSUN OPÁÀRÁ e OGUN WARI voltaram para a sua cidade
texto: Ígba Nigeriano