Maria Destranca Ruas: A Rosa Encantada das Encruzilhadas
Por uma alma que caminha entre os véus do mundo visível e invisível
Maria Destranca Ruas: A Rosa Encantada das Encruzilhadas
Por uma alma que caminha entre os véus do mundo visível e invisível
Nascida sob o véu da lua cheia
Na pequena cidade de Salvador, na Bahia, por volta do final do século XIX, nasceu Maria Clara dos Anjos, filha de Dona Isaura, uma quituteira devota de Iansã, e de Seu Zé Luiz, um pescador que guardava segredos de encantamentos aprendidos com os velhos do candomar. Desde menina, Maria era diferente: falava com o vento, via espíritos nas sombras das árvores e sentia o cheiro das almas antes mesmo que elas batessem à porta. Seus olhos, grandes e negros como a noite sem luar, pareciam enxergar além do que os outros podiam compreender.
Cresceu entre terreiros, rezas de caboclo e cantigas de umbanda. Aos doze anos, já sabia preparar banhos de descarrego e acender velas para os pretos-velhos. Mas o que mais chamava atenção era sua ligação com as encruzilhadas — lugares onde os caminhos se cruzam, onde o destino se decide. Ali, ela ouvia vozes sussurrando pedidos, promessas e lamentos.
Amores que marcaram sua alma
Maria amou profundamente — e foi amada com intensidade. Seu primeiro amor foi Rafael, um jovem músico de rua que tocava violão sob a luz do luar. Ele prometeu levá-la embora, para o Rio de Janeiro, onde viveriam livres. Mas Rafael desapareceu uma noite após uma briga com um homem ciumento. Nunca mais foi visto.
Depois veio Capitão Alcides, um ex-militar com cicatrizes no rosto e coração partido. Ele a protegia como um leão, mas também a prendia como uma gaiola. Maria sentia-se sufocada. Quando ousou dizer que queria seguir seu caminho espiritual, ele a acusou de bruxaria. A cidade, já cismada com seus dons, começou a sussurrar.
Seu último amor foi Dona Lúcia, uma benzedeira viúva que a acolheu quando todos a rejeitaram. Entre elas floresceu um amor silencioso, feito de olhares, chá de boldo e mãos entrelaçadas durante as rezas. Foi Lúcia quem lhe ensinou os segredos das ervas de demanda e dos pontos riscados. Foi com ela que Maria entendeu que o amor não precisa de nome — só de verdade.
A morte trágica e o nascimento de uma Pomba Gira
Numa noite de São João, quando as fogueiras queimavam e os fogos coloriam o céu, Maria foi acusada de enfeitiçar o filho do coronel da cidade. Uma multidão enfurecida cercou sua casa. Alcides, arrependido, tentou defendê-la, mas foi ferido. Lúcia, desesperada, correu para buscar ajuda — mas não chegou a tempo.
Maria foi arrastada até a encruzilhada mais antiga da região. Ali, sob gritos e pedras, foi apedrejada até perder a consciência. Antes de morrer, ergueu os olhos ao céu e disse:
“Se meu sangue for derramado por injustiça, que eu volte para destrancar os caminhos dos que sofrem como eu.”
Seu corpo foi enterrado às pressas, sem nome na lápide. Mas naquela mesma noite, dizem que uma rosa vermelha brotou do chão da encruzilhada — e que o vento carregou o cheiro de alfazema e pimenta por toda a cidade.
A ascensão como Pomba Gira Maria Destranca Ruas
Após sua morte violenta, a alma de Maria não seguiu para o além. Foi acolhida por Exu, o Senhor das Encruzilhadas, que viu nela coragem, justiça e fúria sagrada. Exu a consagrou como Pomba Gira, uma entidade feminina poderosa que atua na Linha das Almas, mais especificamente na Falange das Sete Encruzilhadas.
Embora muitos pensem que Pombas Giras são “demoníacas”, Maria Destranca Ruas é uma guardiã dos oprimidos, especialmente das mulheres traídas, dos amores impossíveis, dos negócios travados e dos sonhos adormecidos. Ela é comandada diretamente por Exu Tranca Ruas, seu pai espiritual, e tem forte ligação com Iansã, a orixá dos ventos, tempestades e justiça.
Sua energia é feminina, sensual, firme e compassiva. Ela não faz maldade por prazer — mas não hesita em agir com força quando há injustiça.
Como montar o altar de Maria Destranca Ruas
O altar de Maria Destranca Ruas deve ser montado em local limpo, discreto e respeitoso — preferencialmente em uma encruzilhada simbólica dentro de casa (como o canto entre duas paredes) ou em um jardim.
Itens essenciais:
- Vela vermelha (para amor, paixão e força)
- Vela preta (para proteção e corte de demandas)
- Vela branca (para purificação e conexão espiritual)
- Taça com vinho tinto (símbolo de seu sangue e sacrifício)
- Pimenta malagueta seca (símbolo de sua força e fogo interno)
- Rosas vermelhas frescas ou secas
- Perfume de alfazema, jasmim ou patchouli
- Moedas antigas ou atuais (para prosperidade)
- Espelho pequeno (para refletir energias e revelar verdades)
- Imagem ou ponto riscado de Maria Destranca Ruas
Evite colocar imagens de santos católicos diretamente no altar, pois ela é uma entidade de Umbanda e Quimbanda, não de sincretismo forçado — embora alguns a associem a Santa Sara Kali ou à Maria Madalena.
Oferendas para situações específicas
Para destrancar caminhos profissionais:
Ofereça 7 moedas, 1 taça de vinho tinto, 1 vela vermelha e 7 grãos de pimenta na encruzilhada (ou em vaso com terra, se não puder ir à rua). Peça com respeito:
“Maria Destranca Ruas, abre meus caminhos, remove as pedras que me impedem de crescer. Que meu trabalho floresça como tua rosa.”Para reconquistar um amor perdido:
Acenda 1 vela rosa, coloque 1 rosa vermelha e 1 colher de mel no altar. Diga:
“Maria, rainha das almas apaixonadas, traze de volta o coração que me pertence — mas só se for com verdade e respeito.”Para afastar inimigos e inveja:
Use 1 vela preta, sal grosso, 7 folhas de arruda e 1 espelho virado para fora. Ofereça na meia-noite, dizendo:
“Maria Destranca Ruas, espelha o mal de volta a quem o enviou. Que meus inimigos se percam nas encruzilhadas que criaram.”
Magias simples e poderosas
✨ Banho de descarrego e abertura de caminhos:
Ferva alfazema, cravo-da-índia, canela em pau e pétalas de rosa vermelha. Coe e tome banho do pescoço para baixo após o banho comum. Faça às quintas-feiras, dia de Exu e Pombas Giras.
✨ Ponto de chamado para emergências:
Escreva seu nome e o pedido em um papel vermelho. Queime junto com 1 vela vermelha e 1 gota de seu perfume favorito. Diga:
“Maria Destranca Ruas, onde há porta fechada, que se abra! Onde há silêncio, que haja resposta!”
✨ Amuleto de proteção pessoal:
Carregue consigo 1 pimenta seca envolta em pano vermelho e 1 moeda. Renove a cada lua nova.
A mensagem final de Maria
Maria Destranca Ruas não é uma entidade para ser invocada por curiosidade ou vingança. Ela é fogo sagrado, justiça em forma de mulher, rosa que floresce no asfalto da dor. Ela atende quem tem coragem de pedir — mas exige respeito, gratidão e responsabilidade.
Se você a chamar com o coração limpo e a intenção justa, ela virá. Não com trovões, mas com o sussurro de uma rosa desabrochando na escuridão.
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