Pomba Gira Maria Farrapo da Calunga: A Rosa que Desabrochou nas Sombras da Calunga
Por uma alma que conhece os caminhos da esquerda com respeito e devoção
Pomba Gira Maria Farrapo da Calunga: A Rosa que Desabrochou nas Sombras da Calunga
Por uma alma que conhece os caminhos da esquerda com respeito e devoção
Num tempo em que o Brasil ainda rangia sob o peso das desigualdades, nasceu Maria Farrapo, filha de um amor proibido entre Dona Lúcia, uma costureira pobre do morro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e Sebastião, um boêmio tocador de violão que vivia entre botequins e promessas não cumpridas. Maria veio ao mundo em uma noite chuvosa de 1923, envolta em um lençol rasgado — daí seu apelido, “Farrapo”, dado com carinho e tristeza por sua mãe, que já sabia que a vida da menina seria feita de retalhos.
Desde cedo, Maria demonstrou um espírito indomável. Tinha olhos que brilhavam como brasas e uma voz que encantava até os mais céticos. Aos treze anos, já ajudava a mãe a costurar vestidos para as moças ricas do centro da cidade, mas sonhava com liberdade — algo raro para mulheres de sua condição naquela época.
Seu único e verdadeiro amor foi Rafael, um jovem marinheiro de olhos verdes e sorriso largo que desembarcava no porto do Rio a cada lua cheia. Conheceram-se num baile de São Pedro, onde ele a convidou para dançar ao som de um violino desafinado. Entre beijos roubados no cais e cartas escritas com tinta desbotada, os dois juraram amor eterno. Rafael prometeu que, na próxima viagem, voltaria para buscá-la e levá-la para longe — para um lugar onde ela não precisaria mais costurar sonhos alheios.
Mas o mar, ciumento e cruel, não devolveu Rafael. Seu navio desapareceu em uma tempestade ao largo de Cabo Frio. Nenhuma carta, nenhum corpo, nenhuma despedida. Só o silêncio do oceano e o eco de um juramento não cumprido.
Maria enterrou seu amor com um lenço vermelho amarrado no pulso e um vazio que nunca mais foi preenchido.
Com o tempo, tornou-se conhecida nos cabarés e casas de jogo do subúrbio carioca. Não era uma mulher vulgar — era uma mulher de poder. Sabia ler os homens como ninguém, e muitos caíam de joelhos diante de sua beleza e astúcia. Tornou-se amante de Coronel Almeida, um homem rico e casado, que lhe prometeu mundos e fundos. Mas, como sempre acontece nas histórias de mulheres como ela, foi traída. Quando engravidou, o coronel negou o filho e a expulsou de sua casa como se fosse lixo.
Sozinha e desesperada, Maria deu à luz uma menina em um cortiço úmido, mas a criança não resistiu à pneumonia. A dor da perda a consumiu. Foi então que, em uma noite de São João, embriagada de dor e cachaça, Maria entrou em um terreiro de umbanda que ficava nos fundos de um boteco. Ali, ouviu uma voz que sussurrava em seu ouvido:
“Filha, você não é lixo. Você é fogo. E o fogo purifica.”
A entidade que falava era Pomba Gira Sete Encruzilhadas, que a acolheu e lhe ensinou os caminhos da esquerda. Maria passou a frequentar os pontos de Calunga, os cemitérios, os becos e as encruzilhadas. Aprendeu a trabalhar com velas, perfumes, espelhos e sangue de galinha. Tornou-se uma feiticeira respeitada, mas também temida.
Mas seu fim foi trágico.
Em 1951, aos 28 anos, Maria Farrapo foi acusada falsamente de enfeitiçar a esposa de um delegado. Naquela época, mulheres como ela eram vistas como ameaças à moral. Foi arrastada pelas ruas, humilhada, e, numa noite sem lua, encontrada morta pendurada em uma árvore próxima ao Cemitério de São Francisco Xavier, com os pulsos cortados e um espelho quebrado aos seus pés. Dizem que, antes de morrer, sussurrou:
“Se não me quiserem viva, me terão eterna.”
E assim nasceu Pomba Gira Maria Farrapo da Calunga.
Quem é Maria Farrapo da Calunga?
Maria Farrapo da Calunga é uma linha de Pomba Gira da esquerda, ligada à Calunga Pequena — o cemitério, o mundo dos mortos, os segredos enterrados. Ela é comandada pelo Orixá Exu, o guardião das encruzilhadas, e trabalha em estreita sintonia com Ogum (na linha de justiça) e Iansã (na linha de transformação e paixão).
Ela é a Pomba Gira das mulheres marginalizadas, das que foram caladas, traídas, abandonadas. É a protetora das prostitutas, das mães solteiras, das que lutam por amor e justiça com as próprias mãos. Seu ponto de força está nos cemitérios, becos escuros, encruzilhadas de terra e baixas de mar.
Como Montar o Altar de Maria Farrapo da Calunga
O altar de Maria Farrapo deve ser simples, mas carregado de simbolismo:
- Local: Um canto escuro da casa, ou ao ar livre em uma encruzilhada (se possível). Pode ser montado sobre uma tábua de madeira envelhecida ou uma pedra.
- Cores: Vermelho-sangue, preto e roxo.
- Itens essenciais:
- Um copo com água de coco (renovação)
- Um prato com melado ou mel (doçura na dor)
- Um espelho quebrado (reflexão das verdades ocultas)
- Sete velas vermelhas ou pretas
- Um pano vermelho rasgado (em homenagem ao seu nome)
- Flores murchas ou secas (rosas vermelhas preferencialmente)
- Uma faca ou punhal de ferro (símbolo de corte e proteção)
- Um charuto ou cigarro de palha
- Uma garrafa de cachaça artesanal
- Uma boneca de pano com vestido rasgado (representação da entidade)
Nunca use plástico, vidro ou objetos novos demais — Maria Farrapo gosta do que já viveu, do que já sangrou.
Oferendas para Situações Específicas
🔥 Para vingança justa ou justiça kármica
- Ofereça: 7 velas pretas, um copo de cachaça, pimenta malagueta e um espelho virado para baixo.
- Local: Encruzilhada à meia-noite.
- Pedido: “Maria Farrapo, que a verdade venha à tona e que o injusto pague com a mesma moeda.”
💔 Para reconquistar um amor perdido
- Ofereça: Rosa vermelha murcha, mel, pétalas de cravo e um lenço vermelho com o nome da pessoa.
- Local: Pé de uma árvore frutífera.
- Pedido: “Maria Farrapo, que ele sinta minha falta como eu sinto a dele. Que o coração dele volte a bater por mim.”
💰 Para abrir caminhos financeiros
- Ofereça: Moedas antigas, melado, vela vermelha e um pão caseiro.
- Local: Porta de casa ou comércio.
- Pedido: “Maria Farrapo, rasga os véus da pobreza e me traga fartura com dignidade.”
Magia Simples: “O Feitiço do Espelho Quebrado”
Objetivo: Revelar traições ou mentiras.
Materiais:
- Um espelho pequeno
- 7 cravos
- Cachaça
- Vela preta
Modo de fazer:
- À meia-noite, acenda a vela preta.
- Espalhe os cravos ao redor do espelho.
- Regue com cachaça e diga:
“Maria Farrapo da Calunga, quebra este espelho da ilusão. Mostre-me a verdade, mesmo que doa.” - Deixe queimar até o fim. No dia seguinte, enterre os restos em um cemitério ou encruzilhada.
Conclusão: A Eterna Farrapo
Maria Farrapo da Calunga não é uma entidade para ser invocada por curiosidade. Ela exige respeito, coragem e verdade. Quem a chama com coração puro e intenção justa, será ouvido. Mas quem brinca com suas chamas, queime-se.
Ela é a voz das que foram silenciadas. A sombra que protege quem não tem teto. A rosa que desabrocha no túmulo. E, nas noites de lua nova, quando o vento sopra frio nos becos do Rio, ainda se ouve seu riso rouco… e o tilintar de seu colar de ossos.
#PombaGiraMariaFarrapoDaCalunga
#UmbandaDeEsquerda
#MagiaComRespeito
#CalungaPequena
#ExuEAsPombasGiras
#EspiritualidadeAfroBrasileira
#MagiaDeEncruzilhada
#MulheresDaEsquerda
#RituaisDeJustiça
#OferendasComSignificado
#HistóriasDeEntidades
#ForçaDasPombasGiras
#MariaFarrapoVive
#EspiritualidadeReal
#MagiaComConsciência
#RespeitoÀsLinhasDeEsquerda
#UmbandaNãoÉBrincadeira
#VozDasMarginalizadas
#FeitiçoComPropósito
#SagradoNaSombra
Que Maria Farrapo da Calunga te abrace nas horas mais escuras… e que você nunca a chame em vão.