O PRINCÍPIO CRIADOR: Desvendando o Arquétipo de Baphomet como Símbolo Universal da Força Vital
O PRINCÍPIO CRIADOR: Baphomet como Arquétipo Cósmico da Unidade Primordial
"A verdadeira religião é a sabedoria; a verdadeira magia, a ciência da harmonia universal."
— Éliphas Lévi
Na encruzilhada entre o mito e a metafísica, entre o sagrado e o proibido, ergue-se uma figura que atravessa milênios, culturas e sistemas de crença com uma persistência quase arquetípica: Baphomet. Muito além do bode cornudo dos panfletos medievais ou dos logotipos de bandas de metal, Baphomet é — em sua essência mais pura — um símbolo vivo do Princípio Criador, o motor invisível por trás de toda manifestação no universo.
Mas o que é, afinal, o Princípio Criador?
Não é um deus, nem uma força externa. É o ritmo fundamental da existência: a dança entre o uno e o múltiplo, o vazio e a forma, o caos e a ordem. É aquilo que os antigos chamavam de Logos, Tao, Brahman, Ain Soph, Pneuma — e que a ciência moderna reconhece como simetria quebrada, flutuação quântica, entropia negativa ou autopoiese.
E Baphomet? Baphomet é o rosto simbólico dessa dança.
1. A Gênese do Símbolo: De Templários a Éliphas Lévi
A história de Baphomet começa — ou ao menos entra nos registros ocidentais — com os Cavaleiros Templários, no século XIV. Acusados sob tortura de adorar um “ídolo com cabeça de bode chamado Baphomet”, foram condenados pela Inquisição. Historiadores modernos veem nisso uma campanha política: o rei Filipe IV da França queria destruir a ordem para confiscar suas riquezas. O nome “Baphomet” provavelmente deriva de uma corrupção fonética de “Mahomet” (Maomé), usado pejorativamente, ou talvez de termos gnósticos como Baph-Mēth (“batismo da sabedoria”).
Mas foi só no século XIX que Baphomet ganhou sua forma definitiva — e seu verdadeiro significado — nas mãos do ocultista Alphonse Louis Constant, mais conhecido como Éliphas Lévi. Em Dogma e Ritual da Alta Magia (1856), ele desenhou a figura icônica: um ser andrógino, alado, com cabeça de bode, seios femininos, falo ereto, mãos apontando para cima e para baixo, e o caduceu entre as pernas.
Lévi não estava criando um demônio. Estava codificando a cosmologia hermética em uma única imagem.
"O Baphomet é o símbolo da unidade absoluta, da qual emanam todas as dualidades."
2. Anatomia Simbólica: Cada Detalhe é um Universo
Vamos decifrar essa imagem como um mapa da realidade:
Cabeça de bode: o bode, na antiguidade, era símbolo de fertilidade, instinto e sabedoria telúrica (como o deus grego Pan). Não é o “mal”, mas a força vital bruta da natureza — o élan vital de Bergson.
Seios femininos + falo masculino: a androginia divina. Em Platão (Banquete), os humanos originais eram seres esféricos, andróginos, divididos pelos deuses. Baphomet restaura essa unidade primordial — o que Jung chamaria de anima e animus integrados.
Asas: a aspiração ao divino, a transcendência da matéria. Lembram os anjos, mas também Ícaro — o risco e a glória do voo espiritual.
Mãos: uma aponta para cima (“como acima”), outra para baixo (“assim abaixo”) — a máxima hermética que une microcosmo e macrocosmo.
Luas crescentes nos braços: o ciclo, o tempo, o inconsciente. A lua governa as marés, os ciclos menstruais, os sonhos — o mundo das emoções e do oculto.
Chama na cabeça: a inteligência ativa, a mens agitat molem (a mente que move a matéria). Também ecoa a chama gnóstica — a centelha divina aprisionada na matéria.
“SOLVE ET COAGULA”: o lema da alquimia. Dissolver para recompor. Morrer para renascer. Um princípio que ecoa desde os mistérios de Elêusis até a psicoterapia moderna.
Caduceu entre as pernas: duas serpentes entrelaçadas — como os nadis ida e pingala na ioga, ou o DNA na biologia. A energia vital em espiral, ascendendo pela coluna espiritual.
3. Eco Cósmico: O Mesmo Arquétipo em Todas as Culturas
Baphomet não é uma invenção ocidental. É uma manifestação local de um arquétipo universal — o Criador Androginado.
Egito Antigo: Atum, o deus autogerado, que se masturba para criar o universo — uma imagem crua, mas poderosa, do Princípio Criador auto-suficiente.
Índia: Ardhanarishvara, a forma de Shiva metade homem, metade mulher — equilíbrio perfeito entre Shiva (consciência) e Shakti (energia).
China: o Taijitu (símbolo do Yin-Yang) — não apenas dualidade, mas interdependência criativa. O ponto preto no branco e vice-versa mostra que cada polo contém a semente do outro.
Gnosticismo: Sophia, a Sabedoria Divina, que desce ao caos e dá origem ao Demiurgo — um mito da criação como erro sagrado, redimido pelo conhecimento (gnosis).
Alquimia Medieval: o Rebis (“dupla coisa”) — ser andrógino nascido da união do Sol (ouro, masculino) e da Lua (prata, feminino). O estágio final da Magnum Opus.
Psicologia Profunda (Jung): o Self — o centro unificador da psique, que integra consciente e inconsciente, luz e sombra, masculino e feminino.
Até a ciência contemporânea confirma: o universo surgiu de uma singularidade simétrica que se quebrou, gerando matéria e antimatéria, forças e partículas. A criação exige diferenciação — mas a unidade permanece subjacente.
4. Por Que Tememos o Criador?
Se Baphomet representa a criação, por que o associamos ao mal?
Porque criar exige destruir.
Porque integrar a sombra é doloroso.
Porque a liberdade assusta mais que a obediência.
A Igreja medieval temia qualquer símbolo que colocasse o poder criativo nas mãos do indivíduo, e não na instituição. A magia, para Lévi, não era invocar demônios — era dominar as leis ocultas da natureza através do autoconhecimento. Isso é revolucionário.
Assim, Baphomet foi demonizado não por ser maligno, mas por ser libertador. Ele lembra que você é co-criador do seu destino — e isso é mais perigoso para os sistemas de controle do que qualquer “diabo”.
5. Baphomet na Era Pós-Moderna: Um Guia para a Integração
Hoje, vivemos em uma era de polarização extrema: esquerda vs. direita, razão vs. emoção, ciência vs. espiritualidade, corpo vs. mente. Estamos fragmentados.
O arquétipo de Baphomet surge como um antídoto cósmico:
- Ele nos convida a abandonar dualismos rígidos.
- A honrar o instinto sem perder a consciência.
- A criar arte, filhos, ideias, negócios — não com ego, mas com sacralidade.
- A entender que a sexualidade, quando consciente, é um ato mágico — uma micro-repetição do ato criador cósmico.
Na prática, isso significa:
- Meditar e agir.
- Sentir e pensar.
- Respeitar a tradição e questioná-la.
- Amar o mundo material sem se perder nele.
Baphomet não é um ídolo. É um espelho.
Quem olha com medo vê o diabo.
Quem olha com coragem vê a própria divindade em potencial.
6. Conclusão: O Retorno do Uno
O Princípio Criador não pertence a nenhuma religião, seita ou ideologia. Ele é anterior a todas elas — e as transcende.
Baphomet, nesse sentido, é um sinal dos tempos: estamos prontos para deixar para trás o medo da dualidade e abraçar a complexidade sagrada da existência.
Você não precisa “acreditar” em Baphomet.
Você só precisa reconhecer que dentro de você há:
- O caos e a ordem,
- O animal e o anjo,
- O silêncio e o grito,
- O vazio e a plenitude.
E é nessa tensão criativa que toda vida nasce.
Assim seja.
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"O PRINCÍPIO CRIADOR"
Na explicação de seu livro “Dogma e Ritual da Alta Magia”, Lévi classifica a imagem de Baphomet como uma figura mágica e panteística, representada pelos seguintes aspectos:
A representação moderna de Baphomet parece ter suas raízes em várias fontes antigas, mas principalmente em deuses pagãos. Baphomet tem semelhanças com deuses de todo o globo, incluindo do Egito, do norte da Europa e da Índia. Na verdade, as mitologias de um grande número de civilizações antigas incluem algum tipo de divindade com chifres. Na teoria junguiana (de Carl Jung), Baphomet é uma continuação do arquétipo deus-com-chifres, pois o conceito de uma divindade com chifres é universalmente presente na psique individual. Será que Cernunnos, Pan, Hathor, o Diabo (como descrito pelo cristãos) e Baphomet têm uma origem comum?
O antigo deus celta Cernunnos é tradicionalmente representado com chifre na cabeça, sentado na “posição de lótus”, semelhante à representação do Baphomet de Eliphas Levi. Embora a história de Cernunnos esteja envolta em mistério, ele é geralmente considerado o deus da fertilidade e da natureza.
-Na Grã-Bretanha, Cernnunos foi nomeado Herne. O deus chifrudo tem as características de Sátiro de Baphomet, acompanhado de sua ênfase no falo.
-Pan era uma divindade de destaque na Grécia. O deus da natureza era muitas vezes representado com chifres na cabeça e a parte inferior do corpo de um bode. Não diferentemente de Cernunnos, Pan é uma divindade fálica. Suas características animalescas são a personificação dos impulsos carnais e de procriação dos homens.
Baphomet é portanto, o símbolo do Grande Trabalho da alquimia onde as forças separados e opostas são unidas em perfeito equilíbrio para gerar a luz Astral. Este processo alquímico é representada na imagem de Eliphas Levi pelos termos ‘Solve’ e ‘Coagula’ nos braços do Baphomet. Enquanto eles realizam resultados opostos, Solve (transformar sólido em líquido) e Coagula (transformar líquido em sólido) são duas etapas necessárias do processo alquímico – que visa transformar pedras em ouro, ou em termos esotéricos, um homem profano em um homem iluminado . As duas etapas estão nos braços apontando em direções opostas, enfatizando sua natureza oposta.
As mãos de Baphomet formam o “sinal de hermetismo” – que é uma representação visual do axioma hermético “O que está em cima é como o que está embaixo”. Este ditado resume todos os ensinamentos e os objetivos do hermetismo, onde o microcosmo (homem) é como o macrocosmo (o universo). Portanto, a compreensão de um é igual à compreensão do outro.
As posições ainda demonstram que tudo que é ligado aqui é também ligado no astral, ou a grosso modo dizendo tudo que fazemos aqui reflete também em outras esferas.
Vemos por fim que muita coisa relacionada a baphomet está ligado a cabala judaica, e muitos outros sistemas de magia e que nada tem a ver com divindades ou mesmo entidades de cultos africanos.
Resumindo:
Baphomet era um ídolo cultuado pelos Cavaleiros Templários. Seu exato significado até hoje é discutido, não existindo concordância entre os historiadores a esse respeito. Era representado pela estátua de uma cabeça barbuda ou uma figura hu-mana com cabeça de bode.
Várias são as interpretações que se fazem desse ícone. A mais conhecida é aquela que foi veiculada pelos inquisidores católicos que instruiram o processo contra a Ordem do Templo. Para eles a figura barbuda que os Templários cultuavam com o nome de Baphomet seria o próprio Satanás, já que o ídolo era bastante semelhante ao bode do Sabath negro que os satanistas costumavam adorar em seus rituais, e tambem lembrava as representações pictóricas que os artistas católicos faziam do demônio.
Na opinião da maioria dos historiadores, no entanto, essa figura tão temida pelos inquisidores católicos, era apenas uma representação do Grande Arcano Mágico, que os iniciados em Cabala e Gnose, e os praticantes de alquimia conheciam tão bem. Esse Arcano Mágico representava o Princípio Criador do Universo, figura bastante conhecida dos praticantes de Tarô, que estava conectada com as forças da natureza, às vezes simbolizada pelo Deus Pã.
Provavelmente as concepções luciferinas divulgadas pela Igreja acerca do ídolo barbudo dos Templários são fruto das lendas e histórias que se contavam sobre esses cavaleiros e suas estranhas práticas, as quais, diga-se de passagem, ninguém sabe ao certo, já que jamais se encontrou qualquer documento escrito que pudesse dar uma idéia do que se passava em uma uma iniciação templária. As acusações de heresia, homosexualismo, satanismo e outras barbaridades a eles atribuidas jamais foram provadas. As supostas provas que constam do processo movido contra os templários foram extraidas sobre tortura e interpretadas de forma unilateral pelos inquisidores, com o claro propósito de condená-los. Isso foi recentemente reconhecido pelo Vaticano, que tardiamente, declarou a inocencia dos cavaleiros templários.
Texto:Magos e Bruxos