quinta-feira, 23 de junho de 2022

CABOCLO PEDRA PRETA

 CABOCLO PEDRA PRETA

CABOCLO PEDRA PRETA

Ele teria nascido e se encantado no Brasil, como uma fera, numa pedra de raio que vem à tona sete anos após ter caído e se enterrado, uma pedra preta, brilhosa. É índio, mas se porta como caboclo para o povo entender. Diz que o candomblé não há famílias de caboclos, pois o povo – de – santo só teria se preocupado com os orixás africanos, esquecendo-se do lado caboclo, o que acarretou o fim da continuidade das casas e das famílias de caboclos. Não se considera egum (espírito de morto), mas sua “pajelança” é como de egungum, dos índios mortos que já foram grandes caciques, tuxauas, morubixabas. Teve que entrar no culto da jurema (sem contudo virar mestre) para poder se tornar um verdadeiro chefe. Diz ser pai da cabocla Jandira, Cabocla Lavínia, sendo a Cabocla Iracema e mãe deles. Tem filhos de seu sangue e filhos adotados, reconstituindo-se todo um sentido de família, certamente por influência do tambor – de – mina.

Pode-se verificar em São Paulo que essas entidades brasileiras classificadas como caboclos foram, com o passar do tempo, mudando e se adaptando, percebendo um pouco das origens e características que as definiam.

Muitas casas de umbanda já não mantêm a tradição do caboclo “riscar ponto”, “cantar sua doutrina” e dizer o “que representa”. Gestos que o definem, pois toda a sua história está ali contida, com seu “ponto riscado”, que se repete durante toda a vida. Na umbanda tradicional, quando da “coroação” do médium, o caboclo usa cocar de penas, levando arco e flechas na mão. É subordinado a Oxóssi, o rei da macaia. Com o passar do tempo e dentro de sua evolução, o caboclo se torna chefe da macaia.

Penso que devemos estudar o caboclo com o mesmo carinho que temos pelo orixá, vodum e inquice. Também não vemos nada de errado em cultuar orixá e caboclo numa mesma casa, desde que em separado e sem misturar os rituais. O problema, me parece, é que certas casa de umbanda e candomblé adotam entidades da mina que não sabem cultuar, e então começam todo um processo de invenção ritual, com muita criatividade. O encantado tem cantigas apropriadas para chegar, para dançar enquanto está em terra e para subir, além daquelas que podem ser cantadas sem que esteja presente, mas fazer isso sem conhecimento e sem fundamento, cantar só por cantar, é muito prejudicial à continuidade da verdadeira encantaria.

É tradição na mina maranhense e paraense ter-se num mesmo tambor a presença de voduns, gentis e caboclos – encantados. Na Casa de Tóia Jarina essa prática é condenada, pois entendemos que são energias diferentes, de origens e panteões distintos. Sua mistura deve-se à falta de conhecimento, por deficiência na iniciação dos dirigentes, falta de uma sólida estruturação da casa, como se tudo fosse válido. Fazemos festas separadas até mesmo para as diferentes famílias da encantaria, podendo uma visitar a outra, o que não é regra geral. Para voduns canta-se em língua africana e para encantaria, em português.

Rodrigo D'ogum
Estudos De Umbanda Ofc