segunda-feira, 2 de abril de 2018

LENDAS OBÁ

Obá nasceu e cresceu grandalhona e desajeitada. Devido a isso se tornou tímida fugindo do contato com todos. Para compensar esse lado tão arredio de sua personalidade, tornou-se uma lutadora feroz. Lutava por prazer e nesses momentos se sentia a melhor e mais bonita das mulheres. Os embates em que ela participava eram disputados, todos queriam assisti-la em ação. Não escolhia adversários, derrubava homens e mulheres com a mesma naturalidade. Cada vitória era ovacionada por dezenas de pessoas e assim sua fama de campeã acabou rompendo os limites de sua tribo indo parar em terras distantes. Ogum, o grande guerreiro de terras vizinhas, ficou extremamente perturbado com a fama daquela mulher e resolveu ver de perto se ela realmente merecia o que dela se falava. Disfarçado, pois era muito conhecido nos campos de luta, observou vários desafios enfrentados por Obá e ficou abismado com a facilidade com que ela vencia. Era uma mulher grande sem traços de beleza, mas com uma altivez que mexeu com o rapaz Sem pensar duas vezes desafiou- a. Ela ficou espantada, pois não imaginava uma luta com o grande Ogum conhecido por suas vitórias, mas aceitou sem pestanejar, confiava em si. Marcaram a contenda para alguns dias adiante o que daria tempo a Obá para que descansasse. Novamente disfarçado Ogum seguia o treinamento da moça e a cada vez se espantava mais. Após o terceiro dia começou a temer uma possível derrota, isso seria absurdo e seu nome seria jogado na lama. Incomodado com esses pensamentos resolveu procurar por um babalaô a quem pediu algo que o fizesse ganhar a luta com certeza. O adivinho mandou que ele preparasse muitos quiabos com milho, socasse-os no pilão até formar uma pasta grossa e a levasse para o local. No dia marcado, Ogum chegou bem cedo e no canto destinado a Obá, espalhou a pasta. Cobriu com folhas todo o circulo assim ninguém veria a artimanha empregada. Logo que o dia amanheceu as pessoas começaram a chegar, eram muitas, vindas de diversas partes, ambos ficaram muito conhecidos e seria uma grande luta. A deusa das águas revoltas em minutos mostrou sua superioridade. Era quase certa a derrota de Ogum, este já adivinhando o final, aproveitou-se de um descuido da mulher e levou-a até a pasta preparada. Obá escorregou e caiu. Imediatamente o guerreiro pulou para cima dela e a violentou. A vergonha foi tamanha que ela fugiu e nunca mais foi vista na aldeia. Foi assim que Ogum tornou-se o primeiro homem de Obá e o único a derrotá-la naquilo que ela fazia de melhor.

2-
Obá era uma das mulheres de Xangô, mas ela não era nem aventureira como Iansã, nem dengosa como Oxum; por isso, se sentia desprezada pelo marido. Percebendo que Xangô gostava da comida feita por Oxum, pediu-lhe que a ensinasse a cozinhar. Para enganá-la, Oxum cobriu a cabeça com um pano, fez uma sopa de cogumelos e disse que era o prato preferido de Xangô, uma sopa com suas orelhas. Obá fez uma sopa em que colocou uma de suas orelhas. Quando Xangô chegou, ela o serviu toda contente, mas quando ele viu a orelha, ficou enojado e brigou com ela. Nisso, Oxum tirou o pano da cabeça, mostrando as orelhas perfeitas, e começou a rir. Furiosa, Obá se atirou sobre ela e as duas brigaram até que Xangô explodiu de raiva, fazendo as duas fugirem e se transformarem em rios. É por isso que, ao dançar, Obá cobre uma orelha com o escudo.

Obá escolheu a guerra para dar alegria à sua vida. Enfrentava a tudo e a todos, vencendo sempre.Um dia Obá desafiou Ogum, que era um valente guerreiro. O ardiloso Ogum, que sabia da bravura de Obá, foi procurar os adivinhos para que o aconselhassem sobre a melhor maneira de vencer a guerreira. Foi-lhe recomendado oferecer uma gamela contendo espigas de milho e quiabos, tudo bem pilado, formando uma massa viscosa e escorregadia. Ogum preparou a oferenda, colocando-a num canto do lugar onde lutariam.Obá chegou altaneira e em tom desafiador começou a dominar a luta. Lá pelas tantas Ogum levou-a até onde estava a oferenda e Obá, desajeitada, caiu sobre a oferenda escorregando sem parar. Na queda, Ogum aproveitou e possuiu Obá ali mesmo, tornando-se seu primeiro homem.Tempos depois Sango roubou Obá de Ogum.

3-
Obá era uma mulher vigorosa e cheia de coragem. Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento. Mas ela não temia ninguém no mundo. Seu maior prazer era lutar.Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão. Obá saiu vencedora de todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrotou Obatalá, tirou Oxossi de combate, deixou no chão Orunmilá. Oxumaré não resistiu à sua força.Ela desafiou Obaluaê e botou Exú prá correr. Chegou a vez de Ogum!Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta. Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas, compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos. Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia. Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam.Ogum seguiu, fielmente, estas instruções. Na hora da luta, Obá chegou dizendo: "O dia do encontro é chegado".Ogum confirmou: "Nós lutaremos, então, um contra o outro". A luta começou.No início, Obá parecia dominar a situação. Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda. Obá pisou na pasta viscosa e escorregou. Ogum aproveitou para derrubá-la. Rapidamente, libertou-se do seu pano e a possuiu ali mesmo, tornou-se, dessa maneira, seu primeiro marido.Mais tarde, Obá tornou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã que era bela e fascinante. A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum. Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô. Obá procurava, sempre, surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta preparava as refeições de Xangô.Oxum, irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha. Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que, segundo ela, agradava infinitamente a Xangô. Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas.Ela preparava uma sopa para Xangô onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo. Oxum fez crer a Obá que se tratava de suas orelhas, que ela cozinhava, assim, para preparar o prato favorito de Xangô. Este logo chegou, vaidoso e altivo. Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e, galante e apressado, retirou-se com Oxum para o quarto.Na semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa. Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas. Ele achou repugnante o prato que ela lhe preparara. Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço, mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas.Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade. Uma verdadeira luta se seguiu. Xangô, encolerizado, trovejou sua fúria. Apavoradas, Oxum e Obá fugiram e se transformaram em rios.Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas, no lugar de sua confluência, em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.

4-Obá provoca a morte do cavalo de Xangô

Xangô era um conquistador de terras e de mulheres, vivia sempre de um lugar para o outro. Em Cossô fez-se rei e casou-se com Obá. Obá era sua primeira e mais importante esposa, Obá passava o dia cuidando da casa de Xangô, moía a pimenta, cozinhava e deixava tudo limpo.
Xangô era um conquistador de terras e de mulheres. Uma vez Xangô viu Oyá lavando roupa na beira do rio e dela se enamorou perdidamente. Com Oiá se casou, mas Xangô era um conquistador de terra e de mulheres e logo se casou de novo.
Oxum foi a terceira mulher. As três viviam às turras pelo amor do rei, para deixar Xangô feliz, Obá presenteou-lhe um cavalo branco, Xangô gostou muito do cavalo, Tempos depois Xangô saiu para guerrear levando Oiá consigo, seis meses se passaram e Xangô continuava longe, Obá estava desesperada e foi consultar Orunmilá, Orunmilá aconselhou Obá a oferecer em sacrifício um iruquerê, espanta-mosca feito com rabo de um cavalo, mandou pôr o iruquerê no teto da casa.
Para fazer a oferta prescrita pelo oráculo, Obá encomendou a Eleguá um rabo de cavalo, e Eleguá induzido por Oxum, mais que depressa cortou o rabo do cavalo branco de Xangô, mas não cortou somente os pêlos e sim a cauda toda e o cavalo sangrou até morrer.
Quando Xangô voltou da guerra, procurou o cavalo e não encontrou, deparou então com o iruquerê amarrado no teto da casa e reconheceu o rabo do cavalo desaparecido, soube pelas outras mulheres da oferenda feita pela primeira esposa.
Xangô ficou irado e mais uma vez repudiou Obá.