quarta-feira, 12 de julho de 2017

INICIAÇÃO DE SANTO

Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não no Candomblé, o Babalorixá ou Iyalorixáconsulta o jogo de búzios no merindilogun onde terá as respostas. Essa é uma das formas de saber, a outra é quando uma pessoa vai assistir uma festa de candomblé e entra em transe profundo, esse transe é chamado de "Bolar no Santo" é a declaração em público do Orixá que quer a iniciação de seu filho, nesse caso obabalorixá vai consultar o jogo de búzios para saber qual é o Orixá e suas condições, se pode esperar ou se caso de urgência. Normalmente são feitos acordos com os Orixás para que aguardem até o filho ter condições financeiras e de férias para poder se recolher.
A primeira fase da iniciação ou feitura de santona nação Ketu é de 21 dias, onde a pessoa fica em retiro longe da vida profana e da família, devendo desligar-se de tudo e dedicar-se totalmente aos ritos de passagem, salientando-se que todo o ritual da iniciação não é público. Salientando também que essa iniciação só pode ser feita por uma pessoa iniciada, segundo as normas do candomblé só pode transmitir o Axéquem os recebeu de alguém iniciado naobrigação de odu ejé.
Quanto ao fato da pessoa ser recolhida para serIaôOgan ou Ekedi, essa questão só é resolvida durante a iniciação, se a pessoa entrar em transe será um Iaô elegun, se não entrar em transe e for homem, será um Ogan, se for mulher será uma Ekedi.

Barco de Iaô

iniciação pode ser de apenas um Iaô ou pode ser de muitos nesse caso recebe o nome de "Barco de Iaô". Quando entra para fazer o santo sozinho será chamado de Dofono (homem) ouDofona (mulher), por ser o primeiro e único.
No caso do barco o primeiro Iaô será chamado de Dofono, o segundo dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho, quinto de Gamo, sexto de Gamutinho, sétimo deVimo, Oitavo de Vimutinho, nono de Gremo, decimo Gremutinho, decimo primeiro de Caçulae daí por diante, essa sequência de nomes são usadas na maioria das casas de candomblé decultura Jeje-nagô.
Já houve barcos com quinze Iaôs que se tem notícia, mas isso é muito raro, pois implica muito trabalho e dedicação de muitas pessoas para cuidar dos Iaôs, a maioria das casas recolhem no máximo três ou quatro. ExistemOrixás que não podem ser iniciados junto com outros nesse caso será recolhido sozinho.
Iniciação

Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza que serão apurados no jogo de búzios, e tomandobanhos com folhas sagradas e abô, ficará recolhida no roncó (quarto específico de recolhimento), próximo ao peji e será feita a primeira obrigação que é o bori, no final dos três dias é suspenso o bori e passa para as fases seguintes.
Em seguida começa a contar o período de 16 dias, aí tem início o longo aprendizado das rezas, costumes, práticas, lendas, histórias e ainiciação propriamente dita, que consiste emraspar a cabeça, fazer curas (pequenos cortes),assentamento do orixá, serão oferecidosanimais, comida ritual, flores e frutas.
Saída de Iaô
Segunda saída de Iaôpintura colorida. No final tem a festa que é chamada de "saída de iaô", essa festa é dividida em 4 partes: A primeira saída no barracão é interna sem a presença do público, somente os membros da casa estarão presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para nação, uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.
Inicia-se o candomblé normalmente despachando o Padê (pode ser despachado durante o dia também, depende da casa) e canta-se algumas cantigas para cada um dosOrixás, enquanto isso os Iaôs estão sendo preparados para a primeira saída no barracão de festas.
Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó(nome dado ao quarto onde ficam recolhidos) para o barracão todo vestido de branco, essa saída é em homenagem a Oxalá, trás na testauma pena vermelha chamada Ekodidé e na parte superior da cabeça o adoxu e pintado comefun, ele vem acompanhado de sua mãe pequena, do Babalorixá ou Iyalorixá e todos que ajudaram na feitura. Nessa saída o Iaô deverásaudar a portaos atabaques o Axé do centro do barracão onde estar o fundamento da casa e aIyalorixá. Em seguida é recolhido para mudar de roupa.
segunda saída pública do Iaô no barracão as roupas são coloridas em homenagem à todos osorixás e a pintura é feita com o pó azul wáji,branco efun, e vermelho osùn. O Iaô sendo deoxalá ou determinados orixás funfuns a roupa não pode ser colorida, predominando o branco, todavia a pintura colorida seja relevante em quantidade discreta.

Momento mais esperado da iniciação (Orunkó)

Orunkó. Hora do nome do Iaô candomblé. Aterceira saída do Iaô é a mais esperada por todos da comunidade, nota-se um momento de tensão muito grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada iniciação, que pode ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem feito ou não, com o grito triunfal do seu nome. Novamente o Iaô é trazido ao ile axé, desta vez sem a pintura geral, só com uma pintura de wáji no centro da cabeça (cuia de wáji) ou borilé (ritual feito com ejé do pombo branco) e ornado com penas do mesmo. O Orixá dirá seu Orunkó para todos ouvirem, nesse caso é escolhida uma pessoa (normalmente um Babalorixá ou Iyalorixá de outra casa) presente para tomar o nome doOrixá, são feitas algumas cerimônias onde a pessoa pergunta por três vezes o nome do Orixáe na terceira ele grita em voz alta seu Orunkópara todos ouvirem. Depois do nome dado o Iaôé recolhido novamente para trocar a roupa.
quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e ferramentas características de cada Orixá, para dançar e ser homenageado por todos os presentes. No final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.

Ajeum ou Banquete

Banquete no ritual de candomblé. Quando é encerrado o candomblé todas as filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Essebanquete é composto de cabritos assados oucozidosgalinhaspatospomboscanjicamilho cozidoinhamepipocaacaçáacarajé, toda comida ritual servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não permitem bebidas alcoólicas nesse caso é servido o Aluá, nas casas que permitem é servido refrigerante e cerveja.
Algumas casas atualmente não servem comida de santo para os presentes, dependendo das posses do iniciado poderá se contratar um Buffet para o banquete onde serão servidos aos convidados todos os requintes contratados.

Seguimento da iniciação chamado Urupim.
No mesmo dia ou não, dependendo do costume da casa, as luzes elétricas são desligadas, einúmeras velas são acesas, ouve-se um cântico tristonho como nos rituais fúnebres axexê, o Iaôcercado dos mais velhos, Iyaefun, Iyadagan,iyamorôIyabassê Iyakekerê e puxada peloBabalorixá ou Iyalorixá é trazido do peji ao ile axé com um alguidá ou balaio coberto com pano branco e ornado com flores brancas e mariwô, contendo inumeros objetos, comida ritual e ocabelo raspado no inicio da obrigação. Este ritual é denominado pelo povo do santo de carrego de urupim e pode ser assistido por alguns membros da comunidade, mas não chega a ser uma festa pública, fechando um ciclo dorito de passagem de abiã "não nascido" para iaô"noviço ou recém nascido".
Passada a festa o Iaô ficará mais uns dias na roça dependendo do jogo de búzios e a confirmação no merindilogun, depois será levado para sua casa pela Iyalorixá que a entregará a sua família.

Ritual do Panã.
iaô ainda desorientado devido ao longo período de transe e clausura, com os movimentos ainda trôpegos, recebe orientação do seu Babalorixa ou Yalorixa para executar as tarefas que serão usadas em seu dia a dia, tais como varrercosturarlavarpassarsentar-se à mesacozinhar, etc. Numa dramatização muito divertida onde todos da comunidade tem um grande prazer de participar, rindo e até mesmo ajudando o novo iniciado. O ritual de apanã tem a finalidade de fazer com que o noviçoreaprenda as atividades do mundo profano e cotidiano, para que nada lhe seja prejudicial no futuro e também entenda que já é hora de voltar à sua vida normal, apesar de aproveitar mais um pequeno período do seu mundo sobrenatural, estabelecendo neste momento oewo temporário ou permanente, que o noviçoterá a responsabilidade de obedecer, finalizando este ritual com outro rito chamadoKàrô (juramento feito diante do obi e uma quartinha).
Caída de kelê

Porém a Iaô ainda não terminou as obrigaçõesterá ainda que cumprir um resguardonormalmente de três meses e continuar usando o kelê (uma gargantilha de contas) que foi colocada em seu pescoço no início da feitura de santo. Durante esses três meses o Iaôcontinuará dormindo numa esteira, usarároupas brancas e seguir uma série de restrições denominada de ewo. Terminado o período dequelê, é feita a retirada do mesmo e outra festa é feita para comemorar a comumente chamada "caída de quelê".
É o período mais difícil para o Iaô que precisa voltar a trabalhar, muitos se iniciam no período de férias do trabalho e quando termina as férias precisam voltar para um ambiente onde sem dúvida será notado por todos, discriminado por alguns e terá que se manter calado, terá muitos problemas na hora das refeições, pois estáproibido de entrar em bares e restaurantes, terá que levar uma marmita e aceitar os olhares de curiosidade.
Algumas casas atualmente por esse motivo têm feito alguns acordos com os Orixás para que oIaô que precisa trabalhar já saia da roça sem okelê, mas terá que cumprir todos os itens doresguardo nos mínimos detalhes. Nesse caso não precisará usar somente branco, poderá usar roupas de cores bem claras como azulrosa,bejecinza, tudo para não chamar muito a atenção. Existem casos de firmas que o uniforme é pretomarromazul marinho, nesses casos o Orixá permite, não vai querer que seu filho perca o emprego.
Obrigação de um e três anos

Até fazer um ano de feitura ou pagar sua obrigação de um ano (odú Kíní), ainda terá algumas restrições (ewo) temporário. comocortar cabelo, tomar banho mar e outros. Será feita a obrigação de um ano de feitura, uma nova festa para comemorar a data onde serão oferecidos comida ritual, frutas e flores.
Outra obrigação é feita aos três anos de feitura(odú kétà), algumas casas ou nações fazem também uma de cinco anos, mas no candomblé ketu considera-se um anotrês e sete anos. Ele ou ela permanecerá como Iaô até completar ossete anos de feitura e fazer a obrigação de sete anos (odu ejé).
Obrigação de sete anos (odu ejé)

Só quando fizer a obrigação de sete anos Odu ejé é que será considerado um Egbomi.
obrigação de sete anos é tão grande e importante quanto a feitura, nessa obrigação é que será definido se o Egbomi irá abrir uma casa ou não. A Iyalorixá entregará para o Egbomi no ato da festa seus pertences (jogo de búzios, pembas, favas, sementes, tesoura, navalha, tudo que vai precisar para iniciar Iaôs) no Ketué chamdo Odu Ijê com Oyê, em outras nações é chamado de DekáPeneiraCuia, etc.
Caso o Orixá da pessoa não queira abrir uma casa e queira continuar na roça da Iyalorixá, oOrixá depositará os objetos recebidos nos pés da Iyalorixá e sua filha não abrirá uma casa, continuará na roça onde normalmente receberá um posto para ajudar a Iyalorixá.
Quando o Orixá aceita a Egbomi receberá todas as homenagens dos presentes pois está sendo consagrada como uma nova Iyalorixá se for homem Babalorixá. Nesse caso terá que providenciar uma casa para onde será levado seu Orixá e iniciar um novo Ile axé.
Odu ejéorò odún kéje ou odum ejé são nomes pertinentes a obrigação de sete anos, que pode ocorrer a partir dos sete anos de feitura de santo de um eleguniaô ou outro iniciado, desde que estes tenham pago suas obrigações de um (1ano odú Kíní e três anos odú kétà.
Esta obrigação é uma das mais significativas e impotantes na vida de um iniciado, pelo fato de marcar um novo ciclo, adquirindo posição ou statos na hierarquia familiar do candomblé, pois é um rito de passagem de iaô para ebonmi.
Dependendo do espírito de iniciativa, liderança e aptidão, que esta pessoa tenha no ciclo de convivência do povo do santo, pode ser pronunciada a comunidade, pelo seu babalorixáou iyalorixá a continuar no ile axé de iniciação, agora como sacerdote ou sacerdotisa, ocupandocargos como iamorô, iyalaxésarapembê,iyaefun etc. Ordinariamente se ouve dizer que "fulano de tal" recebeu o cargo na obrigação de sete anos.
Neste sagrado ritual, o novo ebonme estará apto também a tornar-se um Babalorixá ou Iyalorixápara fundar o seu próprio ile axe, dependendo da confirmação no jogo de merindilogunconsultado previamente. Daí a obrigação de odu ejé é programado e feito com outro ritual chamado de Oyê.

Oyê, oyè ou ipò. (Deka) cargo de santo ou Àwon Ipò Òrìsà.
Oyêoyè ou ipò são nomes consernentes a um tipo de cargo especifico na cultura Jeje-Nagô, outorgado por um sacerdote do candomblé,babalorixá ou iyalorixá a um elegun, geralmente na obrigação ou depois do odu ejé. Igualmente chamado de Àwon Ipò Òrìsà e Deka no candomblé de angola .

Complexidade

Neste ritual complexo e exaustivo, tem inícioaté mais de um ano retroativo, pois é necessário a construção de um ile axé com a preparação devida de onilefundação de umpeji e vários outros assentamentos de orixás,iniciação ritual dos atabaquesAgogôadjá, etc.





Apetrechos

RumgebeAfro brasileiro.candomblé.No dia propriamente dito da entrega do Oyê, um grande cabaça denominada de igbá, também chamada de cuia de axé é recheada com vários objetos sagrados, que o novo sacerdote vai utilizar durante muito tempo de sua vida sacerdotal, até mesmo na sua ultima obrigaçãochamada de axexê, contendo obiorobôaridanekodidénavalha, facatesouraefunlimo da costa e o importante fio de conta mais cobiçado do povo nagô o Humgebê.

Desfecho

Meridilogun. Sob o igbá encontra-se um opon merindilogun, "Peneira de palha" ornada combúzio e palha da costa, onde está depositado o mais precioso e poderoso instrumento de consulta aos Deuses africanos, chamado demerindilogun. A entrega da cuia de axégeralmente é feita no barracão na presença de todos presentes, logo em seguida o orixá do novo sacerdote responde, confirmando à aceitação, todavia o mesmo é submetido a teste de aprendizado tendo que jogar os búzios na presença dos sacerdotes mais velhos, inclusive de outros terreiros.

Iniciação ou confirmação de Ogans e Ekedis.

Para os cargos ou postos de Ogan e Ekedinormalmente são pessoas escolhidas pelaIyalorixá ou por algum Orixá da casa, serão pessoas de sua inteira confiança, pois ficarão com a responsabilidade de zelador da casa e da festa enquanto a iyalorixá estiver em transe.
Uma vez que não entram em transe, Ogans eEkedis passam por todos os preceitos que passam os Iaôs inicialmente e até um determinado momento, mas durante o desenrolar da obrigação constatado que não entrará em transe, é confirmado através dojogo de búzios no merindilogun o Orixá que trará o Orunkó do Ogan ou da Ekedi na festa.
Se foi escolhido pelo Orixá da Iyalorixá ouBabalorixá ou pelo Orixá de uma das Egbomis da casa, o Orixá que o escolheu é que sairá no barracão acompanhando o iniciado. Nesse caso a festa não terá tantas saídas como as saídas de Iaô. Mas no final terá o mesmo banquete de confraternização entre todos presentes.
Quanto ao resguardo e ewo também não será igual ao do Iaô, será de acordo com o jogo de búzios, mas geralmente é de 21 dias de Quelê e normalmente cumpridos na roça, no caso de impossibilidade por motivo de trabalho, sai de manhã para trabalhar e vem dormir na roça até terminar o período de Quelê.